Between Memories And Oblivion escrita por Blue Dammerung


Capítulo 2
Capítulo 1: Feelings and Choices


Notas iniciais do capítulo

Oyeh gente, nem demorei muito pra postar esse chap (ou será que demorei? se tiver demorado, peço mil desculpas).
Bem, esse chap me deu trabalho, porque bem na parte Akuroku, fiquei meio que... Ham... desispirada, digamos (se é que essa palavra existe).
Espero que me perdoem se eu tiver cometido o pecado do OC,e se eu tiver mesmo o cometido, por favor, me avisem pra eu poder concertar este estrago.
ENFIM!Tem muito yaoi nesse chap (ou seria shounen-ai?).Espero que gostem.
Boa leitura!



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Logan entrou na tenda, carregando um saco nas costas, vestindo apenas uma roupa comum e não sua típica armadura de bronze. Seu mestre, Altair, estava sentando na cama dentro da tenda, olhando longamente para suas próprias mãos, queimadas por causa do uso da espada Masamune.

 

            -Mestre, está na hora de irmos. -Logan falou, deixando o saco no chão e indo em direção ao seu mestre.

 

            -Já?-Altair perguntou. Fazia algum tempo que tinha parado com aquele jeito antigo de falar. Quem sabe fosse a convivência com os jovens soldados durante tanto tempo...

 

            -Sim. A carruagem o espera. Posso carregar suas coisas?

 

            -Estão sobre a mesa, Logan. Não dormiu bem noite passada?

 

            Logan, que tinha dado dois passos em direção a mesa, se virou para o mais velho, sem entender.

 

            -Mestre?

 

            -Seus olhos estão escuros, você está com olheiras. Você não as tinha. -Altair falou, ainda sentado na cama. Realmente, era mais fácil falar assim, bem mais rápido e prático do que todos aquelas palavras em plural...

 

            -Talvez eu esteja sentindo falta do clima de batalha, mestre. -Logan assumiu, voltando-se para a mesa e pegando um saco com mais adornos que o seu, jogando-o nas costas e depois pegando o seu próprio.

 

            -Sabe, Logan... Talvez aquele moleque tenha razão... -Altair falou, levantando-se e indo em direção a saída da tenda, olhando em volta. -Talvez nem todos os demônios sejam ruins... Ou quem sabe eu esteja ficando velho demais pra essas coisas...

 

            -Acho que é a segunda opção, mestre. De qualquer forma, devemos nos apressar, senão chegaremos em Hillyria depois do por do sol.

 

            Altair deixou a tenda, acompanhado por seu servo e entrou na carruagem perto dali. Não demoraria muito para chegarem a Capital dos Céus. Talvez fosse sentir falta do campo de batalha... Ou não, uma vez que algo estava lhe perturbando... Algo dentro de si não estava bem, e ele temia não saber o que era.

 

            Logan se sentou ao lado do cocheiro, começando a conversar com o mesmo enquanto a viagem começava. Era engraçado como seu mestre tinha realmente notado que ele não dormira bem na noite anterior. Seus olhos, de um azul mais escuro que o normal, deveriam ter denunciado seu cansaço, embora ele tivesse feito de tudo para não deixar transparecer ao mestre.

 

            Logan tinha porte alto, imponente (talvez por tanto andar com seu mestre), mas por dentro era jovem e inexperiente, e de certa forma, prezava por seu tutor. Muitos o enxergavam como alguém frio, duro e autoritário, mas ele também tinha seus momentos de simpatia.

 

            O servo e aprendiz se lembrava bem de como Altair o encontrara e imediatamente o adotara após ele ter voltado de sua primeira missão como anjo da guarda, coisa que funciona como um ritual para aqueles que se tornam anjos: Você só é um anjo depois de ter guardado, pelo menos, uma pessoa. Todos passavam por isso.

 

            Altair tinha lhe ensinado tudo sobre a arte da guerra, inclusive coisas que não devia ter ensinado e táticas desonrosas, mas que iriam servir numa situação apertada. Talvez até o frio dos frios prezasse por alguém que não fosse por ele mesmo.

 

            Duas horas depois, graças ao vento, os cabelos de um negro-azul de Logan (um pouco mais escuros que seus olhos, basicamente), estavam espichados para todos os lados. Normalmente, sua textura lisa batia em seus ombros, mas aqueles ventos impiedosos não ajudavam a mantê-los na ordem.

 

            -Logan. -Altair chamou da cabine da carruagem. Sem mais delongas, Logan subiu no teto da mesma e entrou por uma entrada superior, feita justamente para essas horas. Sentou-se na poltrona em frente ao mestre.

 

            -Onde estão os outros soldados?-Altair perguntou, mais uma vez olhando para suas mãos, agora enfaixadas.

 

            -Partiram bem antes, mestre. Estavam todos ansiosos para reverem suas famílias. -Logan respondeu enquanto tentava, inutilmente, arrumar os cabelos.

 

            -Por que não foi antes?

 

            -Para que, mestre?

 

            -Não tem ninguém que você queira ver na Capital?

 

            Logan olhou para o mais velho, sem entender. Sim, já fazia uns dias que Altair estava... Agindo estranho, desde que a guerra oficialmente acabara, na verdade. Claro que ele nunca fora um poço de simpatia, mas nunca, jamais, tinha se metido ou sequer perguntado sobre a vida pessoal do mais jovem.

 

            -Não... Mestre. Ninguém.

 

            -Ah.

 

            Um silêncio estranho parou no ar, mas quando Logan se levantou para subir pela entrada no teto para voltar ao lado do cocheiro, Altair se opôs.

 

            -Fique aqui, é uma ordem.

 

            -Ham... Claro, mestre.

 

            Altair encostou sua cabeça no vidro da janela. Seus cabelos caíam em cascata pelos ombros. Algo estava lhe incomodando desde que deixaram o acampamento dos anjos... Era um sentimento ruim... Não era aquele que vinha sentindo, o mesmo que despertara dúvidas e mais dúvidas em sua cabeça, mas sim, outro, mais súbito e urgente.

 

            Seus olhos azuis tão claros, completamente opostos ao tom de azul dos de Logan, vasculhavam a planície, procurando por algum sinal, alguma coisa, por mínima que fosse, perturbadora. Algo que não se encaixasse no cenário.

 

            -Algo errado, mestre?-Logan perguntou.

 

            -Shhh... Silêncio.

 

            Era distante, muito distante, mas conseguia ouvir um barulho... Deveras familiar até, passando-lhe um sentimento de nostalgia, que lhe fez lembrar dos primeiros campos de batalha em qual pisou. Foi então que se deu conta da causa daquele barulho.

 

            -LOGAN!

 

            Então tudo simplesmente explodiu.

 

 

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            Kaleo deixou o Palácio Central, acompanhado tanto por Kalleb quanto por Kallil. Era naquele lugar que eles passavam o dia inteiro, resolvendo questões de interesse celestial e tomando várias decisões importantíssimas para os Céus.

 

            Não era algo que gostassem de fazer, mas por já o fazerem a tanto tempo, tinham-se simplesmente acostumado aquilo. Todos os três voaram até sua casa, a algumas ruas do Palácio Central.

 

            Eram os Serafins, um único grupo, com sempre um único partido em todas as decisões. De certa forma, eram um só, então logicamente eles moravam juntos. O que nem sempre dava em boa coisa.

 

            A casa era grande o suficiente para abrigar os três, cada um com seu quarto, confortavelmente, mas mesmo assim, não possuía muito luxo. Tinha dois andares e se assemelhava bastante com as outras casas no quesito arquitetura. No primeiro andar tinha a cozinha, sala de jantar e a sala de estar, enquanto no segundo andar haviam os quartos com seus banheiros.

 

            Kaleo entrou primeiro e ligou as luzes, pois todo o lugar estava escuro devido o horário da noite. Se medissem o tempo conforme os humanos, seria por volta das 22:30.

 

            -O que querem jantar?-Kaleo perguntou, jogando sua bolsa sobre o sofá da sala enquanto ia para a cozinha.

 

            -Qualquer coisa serve para mim. -Kalleb disse, subindo as escadas rapidamente e indo para seu quarto.

 

            -Carne. -Kallil respondeu somente, jogando-se no sofá.

 

            Era sempre assim. Acordavam pouco depois de o sol raiar no horizonte, comiam e iam para o Palácio Central. Então, tarde da noite, voltavam para sua casa. Era comer e dormir, só para acordar no próximo dia e fazerem a mesma coisa novamente.

 

            -Você sabe que não podemos comer carne alguma, Kallil. Também não entendo porque você insiste nisso todos os dias. -Kaleo falou, pegando pratos na dispensa e abrindo a geladeira para pegar algumas frutas e verduras.

 

            -Preciso de algo consistente. Não aguento mais essas merd...

 

            -Epa! Nem pense em falar mal da comida ou sequer citar um de seus palavrões.

 

            -O que? Tipo merda?

 

            -Droga, Kallil... Você faz isso de propósito, não é? Só para me desafiar. Todos os dias é isso... Acho que vou acabar enlouquecendo.

 

            -Novidade...

 

            -Ah, vá pro Inf...

 

            -Kaleo!-Kalleb chamou de seu quarto, com uma voz deveras amedrontada.

 

            -Eu não vou, nem olhe pra mim.-Kallil disse, se espreguiçando no sofá, apesar de não estar sentindo sono nem cansaço.

 

            -Cuide do jantar, então.

 

            Kaleo logo subiu as escadas. Chegou ao largo corredor e se dirigiu para o segundo quarto, o do meio, cujo tinha a porta entreaberta. Adentrou, vendo o cômodo curiosamente arrumado, onde tudo estava no seu lugar (tão completamente diferente do de Kallil...).

 

            -Kalleb? Onde você está?

 

            -No banheiro...

 

            Kaleo seguiu a voz do outro e achou a porta do banheiro totalmente aberta, quase que escondida, na lateral do quarto. Era definitivamente um ponto cego ali. Entrou e encontrou o amigo em cima do vaso sanitário, vestindo apenas uma toalha que ameaçava cair caso não a segurasse todo o tempo.

 

            -O que você... -Começou a perguntar, mas no mesmo instante, Kalleb se jogou para cima dele, abraçando-o fortemente.

 

            -Kaleo, tem um bicho dentro do boxe!-O menor falou, quase que já chorando.-Tira ele daqui, por favor!

 

            -De novo, Kalleb? Por que você mesmo não...

 

            -NÃO! NÃO! NÃO! Por favor! Não!

 

            -Tá, tá, eu faço...

 

            Kaleo ergueu o outro no ar (sendo bem mais alto) e voltou ao quarto, sentando-o na cama. De repente o menor pareceu corar bastante.

 

            -Feche os olhos. -Kalleb pediu, sem olhar nos orbes do maior.

 

            -Ham?

 

            -Apenas feche!

 

            Kaleo obedeceu, sem entender. O que será que... Ah! Kalleb o tinha abraçado com ambos os braços, não era? Então nesse momento ele estava sem a toalha...

 

            -Pronto. Agora vá tirar aquele bicho do boxe, por favor, Kaleo.

 

            O maior sorriu um pouco e voltou ao banheiro, encontrando a toalha no chão. Deixou-a sobre a pia e entrou no boxe, olhando em volta. Não foi difícil encontrar o besouro que tinha lá dentro, próximo ao chuveiro. Tá, o bicho era grandinho, mas mesmo assim... Era apenas um besouro, enquanto Kalleb era um todo poderoso Serafim!

 

            Kaleo pegou o inseto, voltou ao quarto e jogou-o pela janela, voltando-se para o menor, agora enrolado nas cobertas da cama para esconder sua nudez, ainda bastante corado.

 

            -Pode ir tomar banho agora. Não tem mais nada lá.-Kaleo falou, observando o menor se levantar e ir até ele, segurando as cobertas ao seu redor com mais força.

 

            -Obrigado, Kaleo. -Falou, abraçando o maior com somente um braço. Depois correu para o banheiro e se trancou lá. Logo o líder dos Serafins pode ouvir o som da água caindo do chuveiro.

 

            Aquilo realmente acontecia com freqüência por ali, mas ultimamente, Kaleo parecia estar... quase que “esperando” por esses momentos. Momentos onde Kalleb mais iria precisar dele...

 

            Balançou a cabeça e deixou o quarto, voltando a cozinha. Um cheiro de queimado pairava no ar.

 

            -Kallil, o que você... -Começou, entrando no cômodo quando viu que metade da geladeira estava pegando fogo.-Mas o que está havendo aqui?!

 

            -Cala a boca e vai pegar água, inútil!

 

            Esquecendo a ofensa, o líder foi atrás de um balde e depois encheu-o de água, jogando na geladeira em seguida (que infelizmente, ainda estava ligada na tomada, o que acabou dando um pequeno curto circuito na casa inteira, deixando-a sem energia).

 

            Kaleo sempre teve um bom controle sobre si mesmo. Sempre. Nunca se estressou por pouca coisa, como era o caso de Kallil, e nem se deixava se levar pelas emoções, como Kalleb. Mas tinha horas que a raiva minava todo o seu controle. Ficar no escuro, com fome e com frio, eram fatos que ajudavam bastante a aumentar sua raiva.

 

            -Me diz, por que “metade” da geladeira, Kallil?-Perguntou o líder, sentando no chão ao lado de Kallil, ambos ainda na cozinha. Bem, pelo menos o fogo tinha apagado...

 

            -Por que foi onde eu joguei o álcool. Foi sem querer, nem pense em olhar pra mim daquele jeito que eu sei que você faz.

 

            -Estou com fome, com frio, com sono e ainda por cima do escuro. Não faço nem idéia de como Kalleb não começou a gritar ainda.

 

            -Talvez ele...

 

            -AHHH!!!-O grito do menor soou do segundo andar.

 

            -Kallil, você vai me pagar muito por isso.

 

                                                         Uma hora depois...

 

            A energia, felizmente, já tinha voltado. Todos tiveram que comer macarrão instantâneo, já que a geladeira, e grande parte do que tinha dentro dela, tinha ficado estragado (sinceramente, não faço idéia de como a geladeira não explodiu...).

 

            Kallil dormia em seu quarto, o último do corredor. De longe dava para escutar seus roncos.

 

            Kalleb dormia calmamente em seu quarto, com a janela aberta para que a luz da lua entrasse, iluminando o quarto.

 

            Só Kaleo não conseguia dormir, mais uma vez. Estava tendo insônias com freqüência agora, cuja causa não tinha conhecimento. Não sabia nem quando exatamente as insônias começaram, mas tinha certeza de que não fazia tanto tempo.

 

            Deixou seu quarto e foi até o quintal de trás da casa, vestindo apenas sua habitual calça larga, moda entre os anjos durante a noite. Sentou-se na varanda. As tábuas de madeira rangeram sob seu peso. Aquela noite estava especialmente agradável.

 

            Amanhã, teriam que achar o tal Roxas, e também o Invasor de Hillyria, que era como o inquilino estranho estava sendo chamado pelos Serafins. O “Invasor” nada mais era que uma estranha presença na cidade sentida pelos três. Era algo que funcionava muito bem para proteger a cidade de demônios: Toda vez que uma alma não celestial entrava, os Serafins sentiam. Era como ter uma pedra no sapato, e enquanto não tirassem aquela pedra, ela ficaria lhes agonizando.

 

            Kaleo deixou a gravidade ganhar e se deitou no chão da varanda, bastante frio, porém agradável. Seus cabelos, que nem chegavam aos ombros ainda, brilhavam com a luz da lua, graças a sua cor prateada, a mesma de seus olhos.

 

            Era alto, forte, mas não muito musculoso. Tinha com certeza porte atlético e corpo definido, mas jamais tinha feito qualquer esforço físico muito pesado na vida de Serafim.

 

            De certa forma, era quase perfeito. Mais forte que todos os outros tipos de anjos e bem acima do posto de Arcanjo, era superior. Era, de todos eles, o mais próximo do Supremo Senhor.

 

            Mas, quem sabe, fosse também um dos mais imperfeitos.

 

            De todo o reino dos céus, só existiam três Serafins: Kaleo, Kalleb e Kallil. Estes três representavam, principalmente, a humanidade, tendo tanto suas qualidades como seus defeitos.

 

            Por exemplo, Kallil tinha qualidades como a perseverança, a auto-suficiência, a coragem, a força e a iniciativa. Ou seja, ele era o fodão que não precisava de ninguém. Porém, seus defeitos eram a ira, a impaciência, a preguiça, ignorância e o egocentrismo. Ou seja, se ele não tomar cuidado, vai perder as estribeiras e se dar muito mal.

 

            Kalleb, com aquele corpo pequeno, cabelos lisos e loiros caindo nos ombros e olhos de um verde-claro, deixavam bem claro suas qualidades, como a esperança, a confiança, o amor, a bondade e a honestidade, mas tinha defeitos que geralmente ofuscavam tudo isso, como o medo, a insegurança, a tristeza, a solidão e a timidez. Ou seja, era um bom garoto (ou Serafim), mas não conseguiria viver só nem por um dia.

 

            Kaleo era, de longe, o mais perfeito dos três. Suas qualidades eram a inteligência, astúcia, conhecimento, segurança, liderança, a modéstia, a compreensão, a curiosidade, a justiça e entre outros. Apesar de ter mais qualidades que os outros, seus defeitos eram piores, pois ele tinha o egoísmo, a luxúria e até um pouco de inveja. Bem, talvez não fosse tão perfeito assim, depois de tudo.

 

            Os defeitos e qualidades restantes da humanidade estavam distribuídos entre os três de forma igual, o que significava que nenhum seria menos “humano” que o outro.

 

            Kaleo respirou fundo, observando seu próprio peito subir e descer num movimento rítmico e sem paradas. Pouco depois seus olhos começaram a pesar. Sentou-se no chão e olhou ao redor mais uma vez, finalmente vendo Kalleb meio que escondido detrás da porta que dava para a varanda.

 

            -Acordou?-Perguntou Kaleo, deixando claro que o outro já havia sido descoberto.

 

            -Ah...Sim...

 

            -O que faz aqui?

 

            -Vim procurar por você.

 

            -Por mim? Por quê?

 

            -Porque senti sua falta. Eu... Ham... Fiquei com medo e fui pro seu quarto, mas... Não tinha ninguém lá...

 

            Kaleo sorriu. O menor precisava de alguém que o protegesse, alguém que o apoiasse e afastasse seus medos, sempre dizendo que tudo ficaria bem. Era quase impossível resistir a tentação de ir atrás de alguém para protegê-lo, era algo além do seu entendimento, um instinto...

 

            -Venha aqui, Kalleb.

 

            O menor obedeceu e foi até o outro, sendo puxado em seguida. Kaleo apoiou-o sobre seu próprio peito, abraçando-o enquanto afagava seus cabelos. Assim como Kalleb interiormente gritava por proteção, Kaleo exigia carinho. Carinho para dar e receber, e para somente sentir o contato físico com outra pessoa (ou Serafim, dá na mesma).

 

            Durante todo aquele tempo, pouco mais de um século pra falar a verdade (uma vez que eles eram os novos Serafins, pois os antigos haviam aberto mão da imortalidade para renascer em meio aos humanos), Kaleo se controlou.

 

            Nunca olhou demais para Kalleb, nem falou nada comprometedor, mas a vontade estava ficando forte demais para que ele agüentasse. Não dava. Não iria conseguir, mas, bem dentro de si, realmente não queria conseguir.

 

            Segurou o menor com mais força, apertando-o contra seu peito nu (o outro só vestia uma calça larga também). O egoísmo estava aflorando ali. Queria Kalleb só para si. Na verdade, sempre quis, desde o começo, desde quando viu aquele rosto pela primeira vez.

 

            Kallil era diferente, era auto-suficiente e se apostasse, podia viver mil anos sem querer ninguém, diferente tanto de Kalleb quanto de Kaleo. E deve-se citar que os três não eram irmãos nem nada parecido (uma vez que não existem “irmãos” na sociedade dos anjos, pelo menos não de “sangue”). Então nada os impedia de ficarem juntos.

 

            Por que, então, aquilo parecia tão errado?

 

            Kaleo se afastou, abrindo os braços de repente e assustando o menor, que fez menção de chorar, mas o maior sorriu e se levantou, pegando a mão do menor e o puxando para cima para que ficasse de pé.

 

            -Vamos dormir, Kalleb. Já está mais que na hora. -Kaleo falou, puxando o outro carinhosamente em direção a escada que levava ao segundo andar.

 

            Kalleb não falou nada. Apenas deixou-se levar, tentando não fazer barulho ao subir as escadas. Quando chegaram ao corredor dos quartos, o líder soltou a mão do menor e se dirigiu ao seu, abrindo a porta. Tentaria esquecer o que acontecera naquela noite...

 

            -Kaleo. -O menor chamou, com a voz tremendo.

 

            O maior se virou e encontrou os olhos verdes-claros do outro que muito lembravam a primavera.

 

            -Sim?

 

            -Não vou conseguir dormir no meu quarto.

 

            Ah, merda.

 

            Deixando-se levar, o líder abriu mais a porta do quarto e sorriu para o menor, que entrou nos aposentos do outro e se jogou na cama. Kaleo fechou a porta e viu a cena do menor, esparramado, com braços e pernas abertos, deitado desajeitadamente na cama. Seria uma visão engraçada se não fosse tão... Tentadora.

 

            Kaleo se aproximou, se deitando num dos lados da cama de casal quando Kalleb recolheu-se para o outro lado, cobrindo-se com lençóis extras. Somente a luz da lua iluminava todo o quarto.

 

            -Boa noite, Kaleo.

 

            -Boa noite, Kalleb.

 

            O menor não demorou a adormecer, mas o líder nem sequer conseguiu pregar os olhos. Mas nem por isso ficou desapontado, afinal, passou a noite inteira apenas fitando os lábios rosados do menor, imaginando como seria seu sabor...

 

 

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                                       Enquanto isso, na Terra...

 

            Marluxia entrou em casa, jogou as chaves do carro na mesa da cozinha e subiu para o seu quarto, onde começou a se despir. Logo estava tomando um banho rápido para jantar o que tivesse dentro da geladeira.

 

            De todo o esquema de matar e perseguir, aquela era a pior parte de todas. O “desaparecimento”. Era um período de algumas semanas onde ele tinha que evitar encontrar o alvo o máximo que pudesse. Para que, você pergunta? Para que tudo parecesse muito casual. Claro que o alvo acharia estranho caso se eles se encontrassem todo dia...

 

            Mas enfim, o psicopata já não estava agüentando mais. Se as mulheres tinham TPM uma vez por mês, ele tinha aquela fase uma vez por alvo. Precisava ver aquela garota, estudar suas reações e saber tudo sobre sua vida. Então bolaria o melhor jeito de matá-la, a forma mais prazerosa possível. Depois disso era só terminar o trabalho.

 

            Desceu as escadas e voltou a cozinha, abrindo a geladeira com raiva e pegando um cacho de uvas roxas para comer enquanto assistia televisão na sala. Uma pessoa normal, pensando normalmente, acharia aquilo bastante normal: Um cara de cabelos rosa e de mau humor comendo uvas com caroço e tudo por pura raiva enquanto apertava agonizantemente os botões do controle da televisão. Normal. Se não fosse o ar de desespero ali.

 

            Mas era só mais aquela noite... Na manhã seguinte voltaria a sua rotina de observar, estudar e mapear tudo que o alvo, ou a garota, Naminé, fazia. Pelo menos já tinha realmente arranjado um emprego numa floricultura perto do colégio da garota, o que tornaria tudo um pouco mais verdadeiro.

 

            Depois de duas horas vendo um documentário sobre pingüins, você já fica estressado. Agora imagine o que isso faz com um psicopata em abstinência...

 

            -Chega. -Falou Marluxia consigo mesmo, levantando-se e jogando o resto das uvas no chão. Calçou seu sapato, sem meias por causa da pressa, vestiu um sobretudo preto, já tendo uma camisa de mangas longas pretas e uma calça de mesma cor, pegou as chaves do carro e deixou a casa novamente.

 

            Entrou no carro e logo estava dirigindo pela rodovia principal, em alta velocidade apesar da neve que caía insistentemente. Respirou uma vez, duas, três... Precisava se acalmar. Precisava usar a cabeça e não se deixar levar pelas emoções. Era um calculista, e cometer um erro, por mínimo que fosse, graças àquela raiva causada pela abstinência era algo que não podia se dar ao luxo de cometer. Não, nem em seus sonhos (ou pesadelos) ele pensaria nisso.

 

            Tinha que ficar longe do seu alvo, mas por que não arrumar um temporário? Somente para aliviar a tensão? Não seria uma má idéia...

 

            Marluxia sorriu, mais calmo e voltando ao seu estado natural. Frio, calculista, manipulador e um enorme mentiroso. Eram apenas lindas qualidades que recebera ao longo dos anos.

 

            O russo continuou dirigindo até se afastar de Twilight Town, continuando pela rodovia principal sem parar. Não sabia quem seria sua vítima, nem queria saber. Não era um verdadeiro alvo, era apenas uma espécie de calmante que serviria para aplacar sua ansiedade.

 

            A estrada, por já ser meio tarde, estava vazia. A neve dificultava muito a visão, mas Marluxia não demorou a ver uma pessoa pedindo carona numa das bordas da estrada, já quase dando na estadual.

 

            O russo parou o carro bem próximo a pessoa e abriu a porta. Um homem, bêbado e vestindo roupas sujas, o que sugeria que ele era um mendigo, entrou no carro, arrotando um pouco enquanto Marluxia aumentava a velocidade e ia em caminho a estadual.

 

            -Puxa cara, valeu. Ninguém parecia parar, e olhe que eu tava de pé ali a cinco horas!-O homem deu um soluço baixo e sorriu, com dentes amarelados a mostra.

 

            Marluxia sorriu simpaticamente e disse:

 

            -Sem problemas, amigo.

 

            -Então, como é seu nome? *hic* -o homem perguntou entre um soluço e outro.

 

            -Marluxia.

 

            -Marluxia?! Marly?! Haha! Parece nome de mulher! Meu nome é Johnny. Você não é daqui, é? *hic*

 

            -Não, não. Venho de longe.

 

            -Pois eu venho da Califórnia! Lugar muito legal lá, mas claro que eu, pelo menos, prefiro Nova York, sabe? *hic*

 

            -Para onde você vai, amigo?-Perguntou Marluxia, tentando manter o ar simpático. Não ia com a cara de bêbados, muito menos quando eles tiravam sarro do seu nome.

 

            -Qualquer lugar, sendo uma cidade, serve. *hic*

 

            Marluxia riu internamente, tomando uma estrada que daria numa região rural não muito longe dali, rodeada por florestas, fazendas e rios. Um lugar perfeito para cometer um assassinato.

 

            Pouco mais de três minutos depois, o homem tinha caído no sono, e nem os piores solavancos que o carro dava pareciam acordá-lo. Não demorou muito a chegar na região, de qualquer forma. Os montes brancos de neve foram substituídos por altas árvores de um lado e grandes extensões de terras de fazenda do outro.

 

            Diminuiu a velocidade e parou o carro, olhando ao redor. Ainda bem que sua visão sempre fora bastante boa e aguçada, o que lhe garantiu a certeza de que a estrada, naquela hora e naquele dia, estivesse vazia.

 

            Desceu do carro, apertando a roupa contra si por causa do frio, e foi até a caçamba do seu carro, que era uma caminhonete azul, mas que, por comodidade, era uma das menores caminhonetes do mercado. Enfim, é um bom carro para se carregar corpos.

 

            Olhou dentro da caçamba qual era seu arsenal. Desde que começara a matar nos EUA, sempre manteve um arsenal aparentemente não fatal na caçamba do seu carro, como qualquer tipo de instrumento cortante, coisas que tivessem vidro, caixas de ferramentas (com martelos, pregos e coisas desse tipo dentro... Ah é, já fizera um bom trabalho com essas ferramentas uma vez...), abajures e até coisas de jardinagem como potes de barro (fazem um grande estrago se você bater com força suficiente), uma pá grande e várias daquelas pequenas...

 

            Mas não havia nada do tipo em seu arsenal naquela noite fria. Não. Aquilo que usaria seria algo mais mortal e que sempre tivera vontade de usar. Uma foice. Uma foice com uma lâmina prateada e com um longo cabo negro. Claro que, por ser uma “arma” de longo alcance, não era boa para o tipo de morte que pretendia fazer, mas o cara estava bêbado, desorientado, cansado e fisicamente abatido (quem sabe o tanto que ele bebeu, afinal?). De tempo em tempos valia a pena fazer o que queria, mesmo que a morte ficasse mais difícil com isso.

 

            Marluxia entrou no carro novamente e o ligou, estacionando-o o mais dentro que conseguiu na floresta. Saiu, cobriu o automóvel com um pouco de neve e galhos soltos. A pintura escura do carro faria o resto.

 

            Adentrou a floresta e escolheu um cenário: Uma clareira onde bem próximo corria um rio agitado. O barulho da água abafaria qualquer grito, além de que era útil caso quisesse se limpar depois da diversão, mesmo que a água estivesse horrivelmente gelada.

 

            Voltou ao carro e, com uma das mãos segurando a foice, abriu a porta do lado onde o homem dormia e puxou-o, derrubando-o no chão. O bêbado no mesmo instante se pôs de pé, mas voltou a cair no chão por causa do efeito do álcool.

 

            -O que diabos... Hey! Hey! Me solte!

 

            Marluxia agarrou o casaco rasgado do homem e o arrastou até a clareira, que não era lá muito longe. Uma vez rodeado apenas por árvores, jogou o homem no chão e apontou-lhe a foice, sorrindo ameaçadoramente.

 

            -Quem é que tem nome de mulher aqui agora, hã?

 

            Meia hora depois, gritos e mais gritos ecoavam pela floresta, mas sem serem ouvidos.

 

                          -------------------------------------------------------

 

 

            Roxas olhava-se no espelho, sem entender como seu reflexo estava daquele jeito. Se o reflexo mostra nossa própria imagem, então ele deveria estar mesmo muito ruim. Estava repleto de olheiras, e só seu rosto já implorava por descanso de tão cansado. Bem, talvez fosse por causa de todas aquelas semanas sem dormir no manicômio. Todas aquelas semanas “desligado”.

 

 

O loiro terminou de se enxugar e se enrolou com a toalha, mais uma vez voltando a olhar-se no espelho. Seu corpo estava coberto de cicatrizes por causa das lutas na guerra. Será que finalmente a guerra tinha acabado? Ou ainda continuava? Roxas sabia que Sora e Riku estavam aqui, mesmo que não se lembrasse, seu subconsciente dizia isso. Como estaria aquele idiota do Altair?

 

O loiro até riu um pouco em se lembrar do Arcanjo, autoritário, com aquele jeito antigo e aquela fala mais tosca e antiquada ainda. Será que ele ainda falava daquele jeito? Precisava urgentemente em se atualizar.

 

Roxas ouviu batidas na porta e esta se abriu, mostrando Axel trazendo consigo uma camisa e calça brancas.

 

-Hey, loirinho, aqui tem umas roupas...-O ruivo começou, mas não terminou, pois seus olhos foram parar no corpo do menor.

 

Ele poderia ter olhado para a fisionomia de Roxas, com seu corpo pequeno, mas músculos altamente definidos. Poderia ter olhado para a toalha e ter levado em consideração que o loiro estava seminu bem perto dele. Mas não foi nada disso que chamou a atenção do ruivo.

 

Axel entrou no banheiro, deixando as roupas sobre a pia, e se aproximou do loiro, sem deixar de olhar para seu peito a mostra. Uma enorme cicatriz adornava aquela região do corpo do menor, e ela ainda estava bastante vermelha, o que significava que o estrago não havia sido a muito tempo.

 

O ruivo estendeu uma mão e tocou a cicatriz, sem entender. Pelo tamanho da cicatriz, o corte deveria ter basicamente matado o loiro. Como, então, ele estava vivo? Roxas parecia ser tão... Fraco, tão criança, tão vulnerável...

 

-Como você... –Axel perguntou, interrompido no meio da frase pelo loiro, que fitava os olhos do maior.

 

-Tentei me matar.

 

-Por quê?

 

-Porque você tinha morrido.

 

O ruivo recolheu a mão e deixou o banheiro sem falar mais nada. Aquele loirinho lhe surpreendia a cada segundo, sempre inventando coisas e mais coisas sem sentido...

 

Axel foi ate a cozinha, onde começou a fazer alguma coisa que requeresse sua total atenção, só para esquecer aquela cicatriz do outro, que estava realmente lhe perturbando.

 

Enquanto isso, Roxas se vestia no banheiro. Felizmente, as roupas que Axel lhe arranjara eram bem menores e caíam perfeitamente bem no loiro. Uma vez apresentável, limpo e com os cabelos espichados devidamente arrumados (se é que podia arrumar um cabelo rebelde daquele...), o anjo deixou o banheiro e foi até a cozinha, sentindo um cheiro bastante agradável no ar.

 

-Axel, o que está fazendo?-perguntou, sentando-se na mesa e apoiando o queixo numa das mãos preguiçosamente.

 

-Sopa. É bem simples, então não vá exigindo muito, okay?

 

-Tudo bem. Fico feliz em saber que foi você que fez.

 

O ruivo ignorou o comentário e logo pôs os pratos na mesa, junto com os talheres e a panela que guardava a sopa. Logo ambos estavam comendo silenciosamente.

 

Então Roxas resolveu quebrar o silêncio.

 

-Então... Já fez alguns amigos por aqui?

 

-Alguns.

 

-Algum hobby?

 

-Pensei que você já soubesse tudo sobre mim.

 

-Nunca fiz essa pergunta a você, pelo menos não do que eu me lembre.

 

-Se você não se lembra, então eu tô é lascado.

 

Roxas riu, acompanhado por Axel.

 

-Então... Qual a história da minha vida passada?-Axel perguntou de repente. Tá, tinha que admitir que embora não acreditasse muito nessa história toda que ele “tinha esquecido” e tudo o mais, estava curioso sobre isso. Sabe, não é todo dia que um loirinho aparece pra você dizendo coisas realmente sem sentido como “eu tentei me matar porque você morreu...” e “éramos mais que amigos...”

 

-Ham...

 

Agora era a vez de Roxas hesitar. Tipo, qual é a pessoa que gosta de saber que foi, na vida passada, um demônio, literalmente falando? Mas, bem, se Axel queria saber, então não tinha por que mentir, certo? Além de que, falando logo toda a verdade, talvez ele se lembrasse de algo...

 

-O que foi? Achei que você quisesse me contar. -Axel falou, terminando de comer e colocando os pratos na pia para começar a lavá-los.

 

-Eu... Ham... Não sei se você vai gostar muito da verdade...

 

-Só conte-a.

 

-Okay... Digamos que tinha um cara, um anjo, que vai pra uma guerra entre anjos e demônios. Só que esse cara acaba sendo... Hum... Ham... Sequestrado por outro cara, um demônio, o general deles, na verdade.

 

-Até aí dá pra entender.-Axel falou, lavando os pratos e voltando a mesa para recolher os de Roxas.

 

-Então... Ham... Esse cara, o anjo, se apaixona pelo outro cara, o general demônio, e eles vivem meio que um amor proibido no acampamento dos demônios no meio da guerra...

 

Um barulho alto de louça se quebrando soou por toda a cozinha.

 

-Como é que é?!-Axel exclamou, olhando estupefato para Roxas.

 

-É... Um amor proibido entre os dois... Só que por motivo de força maior, o general é obrigado a mandar o anjo embora e eles se separam e...

 

-Espera, calma aí um minuto... Você tá dizendo que me apaixonei por você perdidamente após você me seqüestrar?

 

-Axel, na verdade, quem era o demônio na história era você... Eu era um simples anjo,e bem, ainda sou.

 

O ruivo, em silêncio, pegou os cacos de cerâmica que antes eram um prato do chão, recolhendo-os para que ninguém se ferisse ali. Juntou-os e jogou-os fora, voltando a lavar a louça.

 

-Você está dizendo que eu era um demônio? Com aqueles chifres, aqueles rabos pontudos e aquelas asas tipo as dos morcegos?

 

-Ah, não. Você era descendente de anjos caídos, então você tinha uma aparência mais... Humana. Sem chifres nem rabos. A única diferença era que suas asas eram mesmo como as dos morcegos.

 

-Que ótimo, Roxas. Bem, eu estava procurando por uma prova que você estava inventando tudo isso, e agora eu já tenho. Bem, eu vou dormir. Durma bem no sofá, amigo.

 

-Mas, Axel...

 

-Olha, cara, loirinho... Apenas vá dormir, okay? Seja um bom hóspede e não quebre nada, também.

 

-Mas...

 

-Tchau, Roxas.-Axel falou, subindo as escadas em direção a seu quarto em seguida, batendo a porta com força quando entrou.

 

 

Sinceramente, não precisava de centenas de anos de vida como anjo para saber que chamar um anjo de demônio era praticamente uma ofensa! Não, praticamente não, ERA uma ofensa, com certeza. Quem aquele... Pirralho pensava que era?! Chegando assim, do nada, e falando coisas sem sentido...

 

O ruivo balançou a cabeça, tentando não se preocupar muito com isso. Amanhã resolveria o assunto. O que importava naquele momento era tomar um bom banho para dormir uma boa noite.

 

Despiu-se e logo estava sob a água gelada, mas reconfortante, do chuveiro. Enxugou-se e vestiu seu pijama: Uma calça larga branca. Não gostava muito daquela cor, na verdade, mas se era moda e se todos os anjos usavam (todos, sem exceção), o que poderia fazer?

 

Desligou as luzes e foi dormir.

 

Ou tentou, se não fossem as pontadas de culpa lhe importunando o tempo todo. O coitado do garoto estava dormindo na sala, no frio, sem cobertores nem travesseiros, além de estar deitado naquele sofá que o ruivo sabia muito bem ser bastante duro (isso porque ele já cochilara nele uma vez a tarde, e quando acordou, estava com torcicolo).

 

-Maldita culpa...

 

Ou talvez o garoto não estivesse tão mal assim. Talvez ele fosse super resistente ao frio, ao desconforto e a sensação de que (Axel tinha quase certeza de que ele estava sentido) fora rejeitado.

 

Tá, tudo bem que a história era bem sem sentido (anjos se agarrando com demônios?! Ah, fala sério! Nem em ficção científica...), mas aquele loirinho realmente parecia estar dizendo a verdade. Então ou ele estava dizendo a verdade, ou ele “achava” que era a verdade ou ele mentia, realmente, muito bem.

 

Enfim, de qualquer forma, talvez fosse bom dar só uma olhada no loirinho...

 

-Só uma olhada, pra eu poder dormir em paz. Maldita culpa...

 

O ruivo se levantou e desceu as escadas sem fazer barulho, ao mesmo tempo que se guiava pelas paredes, já que estava tudo escuro e a única luz que havia pertencia a lua.

 

E lá estava o loiro, sentado, abraçando as pernas, com o queixo encostado nos joelhos. Murmurava alguma coisa...

 

-Vai ver que ele não se lembra mesmo... Ou não quer se lembrar... Vai ver que ele mudou quando virou anjo, mas... Não. Eu não vou desistir, eu não posso. Se ele está vivo, é porque me deram uma segunda chance de tê-lo. Mesmo que ele me odeie... Vou tentar. Afinal, não custa tentar... Certo?

 

Ih, o loirinho falava sozinho... Tá, não era muito diferente do que o ruivo fazia frequentemente, mas aquilo era basicamente um texto inteiro, enquanto ele só falava uma ou duas frases!

 

Mas, e agora? O que fazer? Subir novamente e tentar dormir sabendo que aquele loirinho vai ficar na sua cola mesmo que você não queira? Ou vai falar com ele e pega-lo no flagra tão constrangedoramente?

 

“Maldita culpa, maldita culpa...” ,Axel pensou, descendo mais uns degraus e fazendo mais barulho para que o loiro escutasse. Roxas se virou de repente, caindo no chão com força e batendo a cabeça na mesa que ficava de frente para o sofá.

 

-Ai, droga!-Exclamou, massageando a cabeça.

 

-Hey, loirinho, você tá legal?-Axel perguntou, acendendo as luzes da sala.

 

-Eu... Ham... Sim.

 

-Não está com frio nem nada?

 

-É suportável.

 

-Mas está com frio?

 

-Ham... Sim.

 

-Eu não acredito que vou dizer isso, mas... quando subir, apague as luzes, ouviu?-E dizendo isso, o ruivo voltou a subir as escadas.

 

Roxas demorou uns segundos para entender o que estava acontecendo ali. Axel o convidara para dormir com ele? No bom sentido, ao menos? Ou será que era no mau sentido mesmo? Mas e agora?! Ele sempre fora o passivo! A única coisa que fazia era gemer e... Bem. Detalhes, quem precisa dele? Mas enfim, se fosse pelo mau sentido, ele estaria lascado, com certeza.

 

-Você vem ou não vem?!-Axel exclamou do segundo andar, acordando Roxas de seus pensamentos e fazendo-o subir escada acima (não se esquecendo de apagar as luzes).

 

Ao entrar no quarto do ruivo, Roxas percebeu que tinha um colchão de solteiro no chão, com um travesseiro e um edredom caso fizesse mais frio, apesar de no quarto o clima ser mais quente do que na sala.

 

-Você vai dormir aí, e espero, pelo seu próprio bem, que você não ronque. -Axel falou, deitando-se na cama e observando quando o loiro silenciosamente deitava-se em seu colchão.

 

-Não ronco...

 

-Que bom. Agora vá dormir.

 

-Boa noite, Axel.

 

-Hmpf.

 

Então, livre da culpa, o ruivo não teve dificuldades em adormecer. Mas Roxas teve, uma vez que estava bastante inquieto por estar num quarto, sozinho, com seu único e grande amor.

 

Na verdade, nem estava com sono. Apenas pensava no que iria fazer agora. Certo de que faria de tudo para Axel se lembrar, mas de nada adiantaria se o próprio ruivo não quisesse lembrar. Se ele não quisesse o Roxas e nem nada que o loiro oferecia, a coisas não sairiam do canto.

 

Certo de que também ele estava pronto para desaparecer da vida do ruivo, se ele assim quisesse, mas isso só em último caso. Dessa vez, não abriria mão de seu amor. Dessa vez, faria alguma coisa. E mesmo que não fosse lá muito bem, pretendia, caso relembrar estivesse fora de questão, reconquistar Axel.


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Notas finais do capítulo

Bem, se você chegou até aqui, parabéns! Você ganhou uma estrelinha azul e uma viagem a pé pros EUA.
Ah, e não esqueçam de mandar as reviews. O tio Altair se deu mal, mas ele ainda tá vivo, viuw?? Cuidado não, ele vai pegar vocês,muahahhahahahahaha *apnhatotally*
Enfim, muito obrigada por terem lido.
Kisses!!



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