Além daquilo que enxergamos escrita por MiaLuaMF


Capítulo 2
Capítulo Um


Notas iniciais do capítulo

E aqui está o primeiro cap, onde podem ser um pouco melhor apresentados a Atena!



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Primeiro dia de aula e eu estou mais nervosa do que nunca, não importa se são os mesmos professores e os mesmo alunos, sem nunca mudar. Apenas saber que estou avançando mais um ano em minha vida já é motivo o suficiente para me sentir desse modo, contudo, eu havia acabado de definir um novo destino em minha vida: iria estudar em Columbia, o que significa que, mais do que nunca, preciso ser perfeita. Os professores terão de ser ainda mais pacientes comigo e minhas perguntas, ou seja, irão me odiar e agradecer a quem fosse quando eu me formar. Mas eu não me importo, atingirei meu objetivo. Talvez meus pais finalmente passem um dia inteiro comigo sem sermos interrompidos caso eu lhes deixe orgulhosos.

Eu tive sorte: a primeira aula é História, que eu adoro, então estava mais do que pronta para começar a aprender. Entretanto, o diretor teve outra ideia; nem bem o sinal tocou, bateu na porta, acompanhado de mais alguém, um alguém cujo rosto não me era familiar, e interrompeu as boas-vindas da Sra. Monroe. Para minha infelicidade, começou um discurso sobre o quanto o penúltimo ano é importante para nós e como não deveríamos desperdiçá-lo indo a festas e deixando de estudar. Foi praticamente tudo o que ele disse, embora o tenha feito de umas três maneiras diferentes. O Sr. Johnson definitivamente necessita de ajuda para escrever discursos, até quase me ofereci, porém não teria tempo para aquilo se quisesse estudar.

Enquanto isso, ao seu lado, a pessoa que não conhecia se esforçava claramente para não demonstrar o quanto queria estar sentado, mas não conseguia disfarçar; de tempo em tempo, mudava o peso do corpo de uma perna para outra ou ajeitava a mochila no ombro. Sim, é um estudante novo. Sim, do sexo masculino. E apesar de não ter aberto a boca nem por um segundo, já conseguiu toda a atenção para si, tanto do público feminino quanto do masculino. Eu até poderia dizer que deve-se ao fato de quase nunca haver alunos novos em Franklin, Carolina do Norte, porém não estaria sendo sincera. Tudo se deve a sua aparência.

Para começar, ele é asiático ou pelo menos possui descendência. Em seguida, é alto, mas não exageradamente, não passa de 1,80m. Depois, sua roupa é curiosa: uma jaqueta branca manchada – propositalmente, eu acho – de tinta, uma camiseta meio larga também branca, calça jeans rasgada nos joelhos e um tênis preto. Tudo bem, descrevendo assim, não parece tão impressionante, no entanto há uma norma do colégio que só nos permite vestir roupa escura e não abre espaço para rasgos, cortes ou furos, não faz diferença se está ou não na moda. Além disso, a jaqueta realmente não nos deixa desviar o olhar.

Ah, não posso deixar de mencionar que ele possui uma beleza, como dizer... incomum. De verdade, seu rosto é muito simétrico e as feições simplesmente combinam de forma harmônica. Talvez eu possa estar exagerando, mas duvido que você não se chocaria se visse o rosto dele. E tudo isso me faz concluir de uma vez por todas que asiáticos não são como o resto do mundo. Por que tenho essa teoria? Existem vários outros aqui nesta escola; dois, inclusive, estão nesta sala, e são tão lindos quanto. Um fato curioso é que são, na maioria, coreanos, por isso que a minha teoria se foca mais na Coreia do Sul. No entanto, até saber a nacionalidade do novato, terei que abranger o Leste Asiático inteiro.

Enfim o diretor Johnson se lembra de que ele está interrompendo uma aula e que o garoto está sofrendo ali em pé. Pede para que o mesmo se aproxime, até que o novato se encontra a um metro de distância de mim. É, eu sento bem no meio, na primeira carteira; é o melhor lugar para se entender a matéria.

— Bem, já ocupei muito do seu tempo, Sra. Monroe, – que bom que você sabe. – então agora peço para todos recepcionarem bem o aluno novo. Preciso ir, mas, por favor, Sr. Kim, se apresente aos outros. – dito isso, saiu da sala de aula, sem esperar por uma resposta.

Pela cara do garoto, a última coisa que ele quer fazer é se apresentar em frente à turma inteira, todavia, como o diretor pediu/mandou, é o que ele faz.

— Meu nome é Taehyung, Kim Taehyung. Tenho dezesseis anos, nasci na Coreia do Sul mas me mudei para Madison com dez. É de onde eu venho. – fala. Apesar de ter sido a contragosto, sua voz é calma, sem expressar má vontade, e muito mais grave do que imaginei vindo de um adolescente.

A professora lhe diz qual matéria leciona e seu nome, em seguida o manda se sentar. Há duas mesas vazias: uma no final da segunda fileira e outra atrás de mim. Não costumo ser muito simpática, sendo assim, as pessoas se mantêm afastadas. Talvez eu esteja sendo meio insensível, entretanto, é como prefiro que as coisas sejam, pois não posso me permitir ficar distraída e, de qualquer maneira, amizades vêm e vão. Não é como nos livros, onde elas duram a vida inteira. O mundo real é bem mais cruel.

Me surpreendo ao ver que o Kim resolve se sentar atrás de mim. A maioria dos estudantes prefere ficar no fundo para não ser pego usando o celular ou dormindo. Bom, não me importa, desde que ele não me atrapalhe.

—#–

É oficial. Esse tal de Kim Taehyung é insuportável. Em menos de um dia conseguiu me fazer odiá-lo. Eu não gosto de pessoas, isso é óbvio, contudo, nunca cheguei a odiar ninguém do meu convívio, ou seja, o garoto tem um superpoder que o permite saber exatamente do que eu não gosto e reproduzir.

Para ser mais clara, vou lhe apresentar uma lista do que não gosto:

Odeio que não parem quietos na carteira – Confere (ele muda de posição a cada cinco minutos)

Odeio que deixem que caia qualquer coisa repetidamente – Confere (a borracha caiu pelo menos quinze vezes em somente uma aula)

Odeio que me peçam lápis/caneta emprestado – Confere (não comprou o material para o ano letivo?)

Odeio que fiquem conversando – Confere (ele ‘tá falando sozinho)

Odeio que me perguntem “O que está escrito naquele canto?” – Confere (ele é alto, não deveria enxergar?)

E, acima de tudo, odeio que respondam antes de mim – Confere (eu também sei a resposta, é a minha vez)

Muitos podem achar que a insuportável sou eu, entretanto, a escola foi criada para um único propósito, que é aprender, exatamente o que estou tentando fazer e o Kim me impede. Levei anos para fazer com que a turma entendesse que não deveria me incomodar e agora surge esse garoto e tenho de voltar do início. O pior é que além de responder antes de mim, ele responde corretamente e complementa, encantando os professores que nunca ficaram felizes assim quando era eu quem respondia. Não posso deixar que algo assim aconteça, o primeiro lugar do colégio sempre me pertenceu. Diminuir uma posição pode significar no afastamento total dos meus pais e não estou disposta a deixar isso ocorrer.

Decido que cada segundo do meu tempo será dedicado ao estudo, com o mínimo de pausas possível. Afinal, posso comer e me manter hidratada enquanto leio um texto, não é?

O horário do almoço chega e, sem hesitar, me dirijo para a biblioteca da escola, mas sem muita pressa. Vou tanto nela que a bibliotecária, Sra. Dominique, uma mulher mais velha e muito elegante, me deu passe livre para almoçar ali e ninguém nunca soube, já que o local costuma estar vazio, principalmente neste horário.

Mas sou completamente surpreendida ao chegar. Sentado a uma das primeiras mesas, bem visível, está nada mais nada menos que o novato, bem relaxado comendo um sanduíche e usando o celular. Por que ele está aqui? A maioria das pessoas estaria tentando socializar. Me pergunto onde está a Sra. Dominique, porque não é possível que, sem conhecê-lo, ela tenha permitido uma coisa dessas, todavia, não necessito procurar muito. Atrás de seu balcão, onde sempre se encontra, vejo a mesma lendo um livro, como costuma fazer, estando bastante tranquila mesmo que houvesse um desconhecido comendo perto de seus amados livros.

Lembro como demorei para fazê-la confiar em mim e agora eu descubro que o garoto não precisou de cinco minutos. Irritada, passo pela senhora sem cumprimentá-la e me sento no mesmo lugar de todos esses anos: atrás das estantes, escondida do olhar de todos. É onde fico até o momento de voltar para as aulas, remoendo sobre Kim Taehyung e o quanto eu estava bem antes de conhecê-lo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!



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