Todas as estrelas escrita por Daina Liebe


Capítulo 4
Ou esse sentimento te assusta?




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Apesar de ser um bom leitor dos silêncios de Shura, Aiolia não conseguia decifrar o que exatamente se passava com o espanhol após aquela conversa em Capricórnio. E, pouco tempo depois, percebeu que provavelmente não teria outra chance de tentar descobrir. As estrelas estavam, de fato, se movendo.

“Mascherina” e Afrodite foram os primeiros a deixar o Santuário para realizarem seu treinamento específico para postulantes às armaduras de Câncer e Peixes. Mu foi para um lugar chamado Jamiel com o Grande Mestre, que por conta do treinamento do discípulo, seu ausentaria por um período de Atenas.

Aiolia sabia que chegaria o momento em que os demais aprendizes, especialmente os que vinham de fora, teriam que partir para finalizar seus treinamentos e conquistar suas armaduras. Mas, em seu íntimo, não queria que fosse assim com Shura.

Não queria ficar longe do amigo...

Mas, naquele momento, estava concentrado em outra coisa que mexia com sua curiosidade: Aiolos o chamara para jantarem juntos, em Sagitário. E, apesar do convite feito de maneira alegre pelo irmão, Aiolia não pôde deixar de notar uma pequena nota de tristeza na fala e no semblante do irmão, alguma coisa estava acontecendo.

No horário combinado estava em Sagitário, adentrando a ala privativa da casa sem cerimônias, encontrando o irmão pensativo, terminando de arrumar a mesa da cozinha para os dois. Parecia preocupado com algo.

—Aiolos? – chamou-o para se anunciar, e o irmão então se virou para ele, com um sorriso.

—Chegou cedo, Aiolia... Ainda nem terminei de fazer o jantar!

—Eu te ajudo...

Juntos, terminaram de cozinhar, conversando amenidades e contando algumas piadas, e o mais novo não deixou de notar que tudo parecia um ensaio para o que o rapaz tinha para lhe dizer. Mas o jantar seguiu com o mesmo clima e conversas... Ao menos até o momento da sobremesa. Aiolos tinha comprado sorvete de chocolate em Rodório, serviu-o em duas taças e então sentando-se de volta à mesa, em frente ao irmão, soltou um leve suspiro, mas foi Aiolia quem falou algo primeiro.

—É o sorvete preferido do Shura, sabia? Se sobrar, posso levar um pouco para ele, no alojamento?

—Claro que pode, Aiolia... Até porque... Será a última vez por um bom tempo que poderá fazer isso.

—Como... Como assim, irmão? – Aiolia perguntou, deixando a sobremesa d elado por um momento, encarando o irmão com seus olhos muito curiosos.

—As estrelas fizeram um movimento pelo destino do Shura, Aiolia... E ele foi confirmado como postulante à armadura de Capricórnio.

—Ele poderá ser um cavaleiro de ouro, então?

—Sim, mas, para isso... Ele precisa partir do Santuário. O treinamento final será nos Montes Pirineus, na Espanha.

—Ele vai voltar para sua terra natal? – Aiolos confirmou com a cabeça – Será bom para ele, não é um lugar estranho... Mas eu... Eu ficarei sozinho de novo, não é?

—Eu e Saga não contamos para você, irmão? – Aiolia quis responder à altura, mas Aiolos riu – Eu estou brincando, esquentadinho! Sei que fala dos aprendizes... Bom, é verdade. A armadura de Leão é a única cujo postulante permanece no Santuário por todo treinamento.

—Quando ele irá partir?

—Se tudo correr bem, em dois dias.

A colher que estava na mão de Aiolia acabou caindo sobre a mesa, assustando Aiolos. Dois dias? Ele teria apenas mais dois dias para estar com o amigo e depois... Sabe-se lá quantos anos ficariam separados? Era isso?

—Aiolia, está tudo bem?

—Dois dias... Somente dois dias...

Quando o irmão tentou questionar o que ele queria dizer com aquilo, Aiolia largou colher, sobremesa e sorvete e saiu correndo da casa de Sagitário. Sentia um aperto estranho no peito, os olhos começavam a ficar embaçados, certeza de que estavam lacrimejantes. Shura iria embora, e ele ficaria... Sozinho.

Novamente. Sem seu... Amigo?

Afinal, por que o sentimento que gritava em seu peito parecia ser tão diferente de uma amizade, ou irmandade?

Passou aqueles dois dias estranhamente calado e um tanto recluso, até chegar naquela noite. Na véspera da partida de Shura... Decidido a se despedir da maneira que achava apropriada do espanhol, foi até a vila de Rodório e em uma mercearia, comprou duas latas de cerveja. Aiolos os proibia de tomar qualquer tipo de bebida alcóolica, dizia que não eram “adultos” o suficiente para beber, então seria uma travessura e um segredo de despedida somente deles.

E agora lá estavam os dois juntos, sentados sobre a mureta de um mirante do Santuário que ficava mais afastado e escondido, atrás do templo de Atena. Em silêncio, apenas bebiam e contemplavam o mar à sua frente, e onde estavam parecia até infinito.

—Eu... – Shura finalmente falou, depois de um longo período de silêncio, apenas contemplando a vista e sentido a energia calorosa que vinha de Aiolia – Eu vou sentir falta do Santuário, dos treinos... Até das aulas de latim que o Grande Mestre nos dava.

—Então criou mesmo raízes por aqui, pra sentir falta até da chatice do latim... – O leonino riu, amassando sua latinha vazia com uma das mãos – Vai sentir a minha falta também?

—De você? Não mesmo... – Shura disse, voltando seu olhar muito sério para Aiolia – Você só me deu dor de cabeça desde o dia em que cheguei aqui.

—Como é?

—Ora... Você sempre foi hiperativo, voluntarioso e inquieto, até perdi as contas de quantas brigas me meti por sua causa!

Teve vontade de responder algo, mas calou-se, voltando a olhar para aquele “mar infinito”. De algum modo, Shura tinha razão sobre o que dissera de si.

—Eu vou sentir a sua falta, Shura. Você foi... É, na verdade, o único amigo que realmente tenho e confio nesse Santuário. – ele disse por fim, entre um suspiro e outro.

Desta vez a falta de resposta veio de Shura. No entanto, o silêncio do espanhol uma característica que Aiolia aprendera a ler tão bem, nesse momento o incomodava, e também ao outro. Sentiu-o tocando seu ombro para que se voltasse a ele, e encarou então aqueles olhos negros e seu brilho esverdeado feito farol.

Ao fazer isso, notou um certo desconforto nas orbes de lince. Era como se ele pudesse enxergar além do que as lágrimas que enchiam os olhos do leonino deixavam ver... E, naquele instante, Aiolia queria de fato que ele pudesse enxergar, porque não sabia como verbalizar o que sentia.

Esperou por alguma palavra...

Ou atitude...

Não deixou espaço para que Shura entendesse, ou mesmo questionasse...

Quando deu por si, o espaço existente entre eles havia sido vencido por sua própria impulsividade. Pousou suas mãos sobre os ombros de Shura, não sabia se para evitar que ele fugisse ou para que tivesse coragem. Um encontro afoito e desajeitado de lábios, o bater dos dentes quando o espanhol entreabriu a boca, surpreso. Ele não conseguia esboçar reação alguma ao gesto do leonino, e Aiolia tão pouco sabia como continuar o que fazia...

Então se afastou, o rosto todo vermelho, baixou os olhos com vergonha de encarar Shura nos olhos. Por um instante, xingou-se mentalmente, por que fizera aquilo? Por que deixou-se levar pela confusão de seus sentimentos e beijou Shura? O que ele estaria pensando de si, agora?

As perguntas todas morreram em sua mente, quando sentiu a mão do espanhol sobre sua nuca, puxando seu rosto para mais perto, para outro beijo. Mas, desta vez, sem a surpresa do ato, sem o afobamento de quem ainda não sabe o que fazer... Lábios quentes, línguas se enroscando, o ar ao redor quase a faltar...

A partida na manhã seguinte seria mais dolorosa...

A volta, ao final do treinamento, talvez... Mais doce...


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Notas finais do capítulo

Primeiro beijo dificilmente encaixa logo de cara, né gente?

AioliaxShura? Pode parecer estranho, mas eu gosto! Tem química, tem background, tem jeito...

Esta mesma história é contada sob a perspectiva do Shura em "Poeira ao vento"



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