Tempo Perdido escrita por Haru


Capítulo 1
Capítulo Único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/794885/chapter/1

Tempo Perdido

O coração de Minoru estava confuso. Sua mente assimilou com perfeição as palavras de sua namorada, a única garota que ele já amou na vida, mas seu peito era o palco de um caos emocional infindável. 

Akane olhou no fundo de seus olhos cor de mel e tentou ser mais clara:

 — Minoru, hoje já é sábado. Não teve um dia essa semana que eu não vi a sua cara e que você não viu a minha. 

 Normalmente ela não se importaria de vê-lo todos os dias em uma semana, nem mesmo em um mês, adorava ficar com ele, mas estava uma pilha de nervos por causa de uma prova que fez quinta feira e, enquanto aguardava o resultado dela, qualquer bolinha de neve virava uma avalanche. Seu futuro dependia daquilo. Sentada no sofá vermelho da sala de estar de sua casa, era através do celular que atualizava a página do site umas dez vezes a cada cinco minutos. 

 Minoru estava parado na porta, poucos metros atrás de onde Akane estava sentada. Pensativo, a olhou pôr atrás da orelha uma das mechas dos longos cabelos negros e olhou para os lados. O bronzeado natural do rosto dele adquiriu um leve rubor nas bochechas, seus castanhos e arrepiados cabelos ficaram desarrumados. Sabia que ela estava estressada, o quanto aquela prova era importante, estava ali porque achou que lhe faria bem. Nem passou por sua cabeça que a morena se sentiria assim. A amava de todo o seu coração, e era recíproco, ele sabia, três anos juntos foram o suficiente para consolidar essas certezas no interior dele. 

Conversavam horas e horas sobre todo tipo de assunto, sabiam tudo um sobre o outro, se divertiam juntos. Eram namorados e melhores amigos. Ele sentia que podia contar o que quisesse para ela, ela, igualmente. Daí a razão de sua confusão. Não imaginou que Akane o quereria longe em um momento como aquele. A felicidade dela era o que mais desejava, seu grande sonho, portanto, se ficar longe fosse trazer isso, ele aceitaria sem argumentar. 

Atualizou a página do site mais uma vez. O resultado saiu, conseguiu a nota que queria. Ergueu seus delicados braços alvos e se virou toda contente para comemorar com Minoru, mas ele já tinha saído. Receou que suas palavras o tivessem entristecido, quis ir atrás dele para pedir desculpas e contar a feliz notícia, mas olhou a tela de seu celular novamente e ficou tão alegre que esqueceu.

Correu o piso de madeira da sala até a cozinha, queria festejar com sua mãe, mas descobriu que ela também saiu sem lhe falar. Estava só. Dançou e pulou sozinha em comemoração até sua irmã aparecer, contou à ela o motivo de tanta alegria e então as duas dançaram juntas. Poucas horas depois de pular e de correr a casa até se cansar, de conseguir contar sua conquista a todos que amava, mandou, além das vinte que já tinha mandado, outras trinta mensagens para Minoru. Ele nem sequer as recebeu.  

Após um dia inteiro de brincadeiras e cantorias, a madrugada chegou. Olhou o celular o tempo todo, nenhuma resposta de seu namorado. Até ficou animada quando suas mensagens foram recebidas, mas ficou só nisso. Ele nem as visualizou. Todo mundo que falou com ela perguntou por Minoru, em três anos, os dois se tornaram tão inseparáveis que pareciam uma só pessoa. Aquela era a primeira vez que ela não fazia a menor ideia de onde o garoto estava.  

Dormiu no sofá da sala, com o celular na mão, vestindo a mesma camiseta branca e a mesma saia jeans que usava quando seu amor veio vê-la pela manhã. Esperava uma resposta dele. Acordou assustada pensando que o celular tinha apitado, sentou-se rápida e checou. Nada. De repente sua mãe, a sogra mais amorosa e puxa saco do mundo, chegou na casa. Saiu sem lhe dizer nada, outra vez. 

— Amor... — O tom de voz da dona de casa não foi o brincalhão de sempre, mas a menina não notou. 

— Sabia que o seu genro perfeito não me responde há mais de dez horas? Quando me responder, ele vai ver só! Quero ver se você vai ficar do lado dele dessa vez! — Avisou. 

A mãe, com o rosto molhado de lágrimas, parou na frente da filha. Não precisou nem falar nada para alterar o humor de Akane e fazê-la saber que algo terrível aconteceu. 

— Aconteceu... uma coisa... — Contava, sem saber por onde começar. Sua filha, muito tensa, alçou o rosto e a olhou nos olhos. — O Minoru salvou uma criança que seria atropelada por um caminhão, mas... ele acabou morrendo... 

Akane sentiu como se tivessem arrancado o seu coração de dentro de seu peito, como se tivesse ganhado uma pancada forte na cabeça, imprevisível, e nem escutou o que sua mãe disse depois. Seu coração acelerou como nunca antes, o ar, ao mesmo tempo, começou a fugir de seus pulmões. Não conseguia pensar, parecia que sua mente estava se desfragmentando. O chão sob seus pés sumiu. 

A primeira lembrança que teve dele foi a de uma conversa que tiveram. Falavam sobre "a morte perfeita". Akane sempre o repreendia quando ele falava disso, dizia que eram jovens demais para pensar nesse assunto, que ainda teriam uma longa vida feliz juntos, mas naquela vez o ouviu. Minoru começou dizendo que não tinha medo algum de morrer, e disse que sua "morte dos sonhos" era uma em que se sacrificava para salvar alguém, "talvez uma criança", ele completou. 

Conseguiu a nota que ansiava ao fazer a prova de seus sonhos, mas a pessoa que mais amava no planeta, aquela que mais a incentivava e queria o seu sucesso, partiu sem saber disso. Minoru se foi. Ele se foi, e se foi achando que eu não o queria por perto, seus pensamentos a acusavam obsessivamente, enquanto ela acreditava que iria enlouquecer. Sua mãe e suas irmãs a abraçavam, choravam sobre seus ombros, mas Akane não sentia.

Num dia comemorava seu futuro, no seguinte, perdia a vontade de viver. Ironias da vida. 

Fim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tempo Perdido" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.