Pesadelo escrita por LisMoi


Capítulo 1
OneShot




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Um avião.

E um homem de cabelos grisalhos sentado perto de mim.

Meu abdômen se contrai antes de anunciarem a turbulência – ou será por causa do elegante passageiro ao meu lado?

Ocupando o lugar da janela, meu preferido, olho por esta e só vejo dois paralelos azuis: o céu, meu eterno amante, e o mar, meu pesadelo.

Num instante, o equilíbrio é perdido, e os dois mundos azuis correm para se chocar, tentando formar um só. Parece que estamos num brinquedo radical de algum parque de diversões, e estou tão tonta que vejo inúmeros anjinhos vestidos de amarelo despencarem do teto. Mal temos tempo de usá-los.

Algumas pessoas são mais rápidas em compreender o que se passa e começam a gritar, os timbres de suas vozes diferem, mas se confundem, todas em igual intensidade. Eu, mesmo com o choque aquoso e a levitação repentina, não percebo o que se passa a princípio.

O mundo, a terra, a vida, nunca existiram. Apenas o aqui, o agora. Sempre estivemos nesta imensidão azul, abandonados em meio à tempestade e repletos de carências. Vejo a água escura subir até tampar minha janela com sua penumbra sinistra e agitação incessante.

Então nós ouvimos.

Começaram baixinho, mas se alastraram com uma lentidão rouquenha.

Ondas que desgarravam meus ouvidos e retumbavam em meu peito.

E com ávida desfaçatez aquilo se aproximou, sem nenhum constrangimento ou cautela. Estávamos em seus domínios. Não a víamos, mas a sentíamos chegar.

Talvez estivesse em um princípio só procurando parceiros para acasalar;  num átimo minha mente imaginou a cópula descomunal, e minha mão agarrou a do homem a minha esquerda. Mas o certo era de que aquele som provavelmente detecta a grande obstrução do nosso transporte em seu caminho, e ela não está gostando.

Aquilo me olha pela janelinha. Tenho certeza que me olha.

Poderia fechar a janela, mas meu corpo é abatido por espasmos e minha mão aperta a do homem. Creio que o machuco. Ele finge estar calmo, faz isso muito bem, e segura minha mão com pena. Eu gostaria de ter olhado mais para seu rosto sério e ter-lhe dito o quão bonitos eram seus olhos.

Eu não sei se aquilo é um monstro. É colossal, imponente; tem um sorriso esnobe, como se risse da nossa situação. Camuflada em meio da imensidão azul, parece que o oceano lhe pertence.

O pássaro de metal caiu no inferno marinho e seu peso o faz afundar. Nós afundamos, em profundidade e desespero.


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Notas finais do capítulo

Esta one foi concebida a partir de um pesadelo que tive e de algumas coisas que se relacionam a ele, especialmente medos e fobias meus.



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