Pesadelo escrita por LisMoi
Um avião.
E um homem de cabelos grisalhos sentado perto de mim.
Meu abdômen se contrai antes de anunciarem a turbulência – ou será por causa do elegante passageiro ao meu lado?
Ocupando o lugar da janela, meu preferido, olho por esta e só vejo dois paralelos azuis: o céu, meu eterno amante, e o mar, meu pesadelo.
Num instante, o equilíbrio é perdido, e os dois mundos azuis correm para se chocar, tentando formar um só. Parece que estamos num brinquedo radical de algum parque de diversões, e estou tão tonta que vejo inúmeros anjinhos vestidos de amarelo despencarem do teto. Mal temos tempo de usá-los.
Algumas pessoas são mais rápidas em compreender o que se passa e começam a gritar, os timbres de suas vozes diferem, mas se confundem, todas em igual intensidade. Eu, mesmo com o choque aquoso e a levitação repentina, não percebo o que se passa a princípio.
O mundo, a terra, a vida, nunca existiram. Apenas o aqui, o agora. Sempre estivemos nesta imensidão azul, abandonados em meio à tempestade e repletos de carências. Vejo a água escura subir até tampar minha janela com sua penumbra sinistra e agitação incessante.
Então nós ouvimos.
Começaram baixinho, mas se alastraram com uma lentidão rouquenha.
Ondas que desgarravam meus ouvidos e retumbavam em meu peito.
E com ávida desfaçatez aquilo se aproximou, sem nenhum constrangimento ou cautela. Estávamos em seus domínios. Não a víamos, mas a sentíamos chegar.
Talvez estivesse em um princípio só procurando parceiros para acasalar; num átimo minha mente imaginou a cópula descomunal, e minha mão agarrou a do homem a minha esquerda. Mas o certo era de que aquele som provavelmente detecta a grande obstrução do nosso transporte em seu caminho, e ela não está gostando.
Aquilo me olha pela janelinha. Tenho certeza que me olha.
Poderia fechar a janela, mas meu corpo é abatido por espasmos e minha mão aperta a do homem. Creio que o machuco. Ele finge estar calmo, faz isso muito bem, e segura minha mão com pena. Eu gostaria de ter olhado mais para seu rosto sério e ter-lhe dito o quão bonitos eram seus olhos.
Eu não sei se aquilo é um monstro. É colossal, imponente; tem um sorriso esnobe, como se risse da nossa situação. Camuflada em meio da imensidão azul, parece que o oceano lhe pertence.
O pássaro de metal caiu no inferno marinho e seu peso o faz afundar. Nós afundamos, em profundidade e desespero.
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Esta one foi concebida a partir de um pesadelo que tive e de algumas coisas que se relacionam a ele, especialmente medos e fobias meus.