Diálogos de uma mente perdida escrita por Oluap Odranoel


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Bem, eu não usei travessões nessa fic. Entenda assim: a cada parágrafo é outra ''personalidade''. Lembrando sempre que o transtorno dissociativo de identidade, levemente abordado nessa história, é algo muito sério e que merece uma pesquisa profunda de cada um de nós. Enfim, boa leitura!



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Existe uma música do Coldplay chamada ‘’The Scientist’’ que possui um verso que me vem à mente agora: ‘’Running in circles, chasing our tales, coming back as we are’’. Hoje eu finalmente entendo. Hoje eu finalmente compreendo. No momento em que, propositalmente, eu atirei palavras pontiagudas contra o coração daquela menina, eu comecei a entender. Todos nós vivemos em grandes ciclos. Provavelmente existem centenas de músicas falando sobre como um dia você está por baixo, outro dia você está por cima. Eu discordo. Não é como se existisse um ‘’cima’’, mas sim como se tudo fosse baixo. Porque tudo vai doer, em quantidades diferentes, mas ainda vai doer.

Um dia eu li uma crítica sobre o filme ‘’O Poço’’ que dizia que somente alguém que conhecesse todos os andares do poço poderia entender aquelas pessoas. É engraçado, talvez nós esteja experimentando algo parecido. Um dia você chora por uma pessoa que não sente nada por você, mas sim por um conhecido próximo. Outro dia, você faz uma pessoa chorar por que você não sente nada por ela, mas sim por uma conhecida próxima. A vida dá suas reviravoltas.

Eu sou um cara extremamente cético. Acho que vivemos tempo suficiente pra experimentarmos todas as sensações: a de quem nós ferimos e a de quem é ferido. Eu nunca tinha compreendido a sensação de quem fere. Curiosamente, se essa pessoa já tiver sido ferida antes, ela tem mais chance de se machucar ao ferir alguém. Amor, e todos esses sentimentos, são mecanismos pra mudança ou pra permanência compulsiva. Eles podem te salvar ou te matar, ou os dois ao mesmo tempo.

De certa forma, não há bons e maus nesse ciclo viciado. Há apenas feridos.

A ignorância é uma benção ou a verdade libertadora pode salvar?

Calado.

É icônico e quase cinematográfico como eu entendo ela agora. Eu achava que, de alguma forma, eu poderia te fazer me amar. Em algum cenário em que eu tivesse tomado decisões diferentes, ou em um cenário onde eu tivesse te conhecido em um momento diferente. Mas não, provavelmente não.

É engraçado como você precisa necessitar se tornar um babaca com alguém pra finalmente entender que talvez essas pessoas não sejam tão babacas.

Tudo depende do seu ponto de vista. Você pode se sentir ferido, mas ser quem fere.

Pontos de vista, relatividade.

Uma bela desculpa pra agir como um babaca sem ser julgado por si próprio, Gustavo.

Não tem desculpa pra agir como um babaca. Mas eu reconheço esse sentimento que ela emanava agora.

‘’Não sei por que não gosto de você’’

‘’ciclos’’

As coisa mudam tanto. Mudaram tanto.

Jéssica já pode ter sido a pessoa com quem você falaria sobre Júlia, Gustavo. Hoje é o contrário. Engraçado como esses papéis tendem a mudar rapidamente. Quem sabe o que o enorme ciclo vai nos proporcionar? Talvez Júlia se apaixone por Gustavo, que se apaixone por Jéssica que se apaixone por Júlia. É tudo tão incoerente que isso soa quase possível. Talvez, e muito provavelmente, eu esteja só filosofando em torno de uma enorme coincidência.

Mesmo nas mesmas situações, as pessoas podem agir de maneiras diferentes dependendo de quem são. Nada muda o resultado final (dor), mas interfere no depois. Gustavo não foi suficiente pra Júlia nem pra Jéssica, e depois Jéssica não foi suficiente para Gustavo. O que acontece depois, Júlia se torna insuficiente para Gustavo? Pouco provável levando em conta a intensidade do sentimento, não?

Ou talvez Júlia tenha o próprio ciclo, e esse seja o momento de ela ser a pessoa por cima. Talvez Yan tenha sido a parte ruim dela nesse ciclo. Ou Jonas.

Ué, você não disse agora a pouco que não existe parte boa nesse ciclo?

Talvez tenha sido você.

Bom ponto.

Você acha que existe Karma?

Eu sou ateu, então, não. Acho que tudo foi uma belíssima coincidência, colega.

Você é um babaca.

Por não acreditar em Karma? Não. Por recomendar ao Gustavo se afastar desse jeito de Jéssica? Sim, sou, e não me arrependo. Talvez, tenha sido uma péssima escolha. Ou talvez salve a vida dele. Não temos como saber tão cedo.

Você a fez chorar, seu desgraçado.

Pela segunda vez, pelo motivo diferente. Tecnicamente, ela nos afastou daquela vez. A coincidência só retribuiu o favor.

Não teve coincidência nenhuma, tiveram nossas escolhas. Talvez, devêssemos nos punir por isso.

Um pouco dos dois, colegas. Tenho me sentido excluído da discussão. Vamos lá, vocês dois são babacas, eu sou babaca, o universo e seus ciclos de merda é um grande babaca. E o que fazer a seguir? Esperar que a coisa continuasse? Aproveitarmo-nos da situação?

Eu proponho sentar e chorar. E talvez pular de uma ponte.

Eu proponho nos aproveitarmos da confiança inevitável que vai tomar conta de nós em breve e perdermos o BV.

Qual é, é só isso? Que tal escrevermos um texto sobre esses pensamentos? Vamos lá, vocês são melhores do que isso. Existe muita coisa que se podem fazer com a percepção de que talvez amanhã você se sinta como seu maior objetivo hoje.

Talvez criar uma religião.

Pular de uma ponte.

Vocês não entenderam o cerne da questão.

Pessoas são enlouquecedoras, cara. Tantas emoções. E além de tudo tem as sensações aleatórias que parecem surgir de algum lugar e podem definir o futuro desses seres, como o sentimento de Gustavo sobre Jéssica. Talvez seja algo espiritual tentando tirar os amigos dele. Isso provavelmente acabaria com o Gustavo.

Talvez a gente precise de uns tempos sozinhos.

Não precisamos entrar na internet o tempo todo.

Vocês estão começando a parecer com a mente de MV.

Oh, não. Vamos nos tornar pessoas sentadas na frente de uma televisão que troca de canal aleatoriamente? Ótimo, eu pego a pipoca!

Não tem graça, idiota. Aqui pelo menos temos os livros.

Uma televisão seria bem melhor.

Você também?

Só estou dizendo.

Olha, voltando à questão inicial: o que devemos fazer agora? Talvez pudéssemos sair por um tempo das redes sociais, ver como ele se sai sem Jéssica e se afastando um pouco das redes por uns dias. O twitter pode ser especialmente tóxico.

Os militantes podem ser engraçados às vezes, vai.

Não o suficiente. Geralmente eles são só irritantes.

Vocês sabem, Júlia disse pra gente dormir.

E daí? Não somos escravos dela.

Sim, somos. Aceita que dói menos.

Droga.

Eu já disse que odeio vocês? E ciclos também.

Essa crise já passou, cara. Supera.

Superar. Isso daria um bom questionamento. 

Quem sabe outro dia.


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Notas finais do capítulo

É isso, espero que tenha gostado. Desculpe se você estranhou a falta de travessões, mas foi como eu imaginei os diálogos na mente. Enfim, comente o que achou!



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