Sono. Escuro. Frio. Frio. Cansaço. Escuro. Frio... Quente?

Senti que estava flutuando. Uma sensação de unidade me abateu e eu me sentia em uma paz um pouco assustadora. A água baixou e eu senti que ela estava baixa. Eu estava na costa? Abri os olhos e estranhei um pouco, havia uma grossa neblina e um som de vento.

Cinza, azul claro, cinza, cinza, azul escuro, cinza.

Sentei e observei a minha volta: Não havia costa, somente um eterno lago, que parecia mais uma poça de tão rasa com um cascalho no fundo e um leve chiado.

Eu estava no céu? Estava no inferno? Bem não parecia bonito como céu e nem assustador como inferno, talvez fosse o meio do caminho. Fiquei de pé e olhei em volta, pareciam ter algumas pessoas, de diversas idades, todas pareciam confusas e com dor, tossindo e expelindo a água.

Talvez fosse algum tipo de inferno.

Olhei em volta e comecei a andar, tinha de ter uma saída ou uma entrada ou qualquer outra coisa.

Depois de alguns minutos de caminhada senti que não iria chegar em lugar algum, sentei no chão e pensei em Edward, a dor continuava lá. Não tinha fim? Pensei então em Jake. Droga, ele ia ficar furioso.

Ah não, Charlie e Reneé ficariam arrasados e perdidos, principalmente Reneé que nunca soube muito bem como cuidar de si mesma. Me agarrei na esperança de que cada um encontraria conforto em amigos e companheiros.

Então, comecei a chorar. Não sei quanto tempo fiquei lá chorando, e dessa vez não teria ninguém para me distrair do buraco de dor que agora parecia infinito, olhei em volta e vi que todos que estavam lá pareciam estar na mesma situação. Talvez fosse um inferno para aqueles que fossem fracos como eu.

Deitei em posição fetal e passei muito mais tempo lá. Não havia indicação nenhuma de tempo lá, mas senti que foram dias. Sem fome, sem dor física, sem precisar ir ao banheiro e sem conseguir dormir, o tempo parecia ainda mais lento.

O tempo passava e eu ficava pensando no que teria acontecido. Encontraram meu corpo? Não encontraram? Se não encontraram, Charlie estaria me procurando? Bem, eu sabia que cadáveres flutuavam na água, mas a tempestade deixou a água muito agitada, talvez meu corpo estivesse no fundo, ou flutuando longe da costa. Queria que encontrassem meu corpo rapidamente, pois assim Charlie não iria ficar dias, meses ou anos me procurando, no sofrimento de não saber o que aconteceu comigo. E os policiais poderiam ser duros se pensassem que foi alguém de La Push que sumiu comigo. Ah viraria notícia. Droga. A filha do xerife de Forks sumiu do nada. A filha do xerife de Forks foi encontrada morta no mar após tempestade. Acho que alguém ligaria para avisar Reneé antes da imprensa, mas não para os poucos amigos que fiz. Não para os Cullen. Será que Alice me viu pulando? Será que me viu morta? Ou eles vão saber pelas notícias? E Edward? Não, não queria pensar nele.

Retomei a realidade chata. Parecia que dias haviam se passado quando resolvi levantar. Não que eu pudesse contar, afinal, não anoitecia ali. Nada acontecia na verdade, apenas as pequenas ondas na movimentação das almas doloridas a minha volta. Voltei a andar, já que era uma das poucas coisas que podia fazer.

E então... Algo diferente. Em meio a neblina vi uma luz amarelada se misturando na fumaça. Sai correndo em direção a ela e felizmente nesse estado eu não podia me cansar.

Ao chegar mais perto vi que a luz vinha de uma janela de uma igreja escura.

A construção parecia singela, mas era a única ali e dada a situação, parecia imponente. Resolvi procurar a porta de entrada, que se apresentou na primeira curva. A escadaria talhada em mármore branco levava a uma antiga e pesada porta de madeira, a qual tive de fazer algum esforço para abrir.

O espaço de dentro era pequeno aconchegante, poucos bancos de madeira me lembravam de uma igreja que minha avó me levou quando era pequena. As paredes eram amareladas e as janelas tinham vitrais detalhados, a luz que se esticava através delas era proveniente de lustres e velas.

No espaço do altar tinha uma mulher negra de costas para mim. Seus cabelos eram ondulados e compridos, em um tom que lembrava uma noite sem nuvens.

Ela se virou para mim quando me aproximei e arfei, seus olhos pareciam estrelas e a beleza dela era arrebatadora e angelical, ao ponto de Rosalie parecer comum.

— Olá Isabella - Disse com a voz aveludada e poderosa

— Olá - disse com a voz trêmula. Deus era uma mulher? Naquele momento parecia ser uma verdade absoluta.

— Sei que você está confusa querida - Apesar do choque, senti o calor maternal de suas palavras - Mas tudo vai ficar bem em breve.

— Eu vou sair daqui? - Senti a eletricidade da esperança, algo que não sentia a muito tempo passando pelo meu corpo.

— Sim, você não concluiu sua missão em terra e o conselho chegou à conclusão de que você deveria voltar - Conselho? Me sentia muda e esperei mais alguma informação ou alguma instrução, tinha medo de falar e estragar minha segunda chance. - No entanto, devo lhe alertar de algumas coisas: Sua vida em terra terá um começo muito tranquilo, mas o lugar onde você deu fim à sua vida anterior era sagrado e a magia ancestral que habitava ali vai te seguir, eventualmente pedindo seu retorno. Você aceita?

— Sim, sim, sim - Comecei a repetir como mantra

— Tudo bem então, se vire - Ao ela dizer isso, comecei a sentir um leve vento, ao me virar vi que no lugar na porta havia uma escuridão absoluta. Ela começou a proferir palavras desconhecidas em um tom de voz baixo que mais parecia um trovão chegando.

Comecei a ser sugada para o portal e quando fui arrastada para dentro, tudo apagou de vez.