Half The World Away escrita por isa


Capítulo 1
I can feel the warning signs...


Notas iniciais do capítulo

Olá :)

Essa songfic se passa entre o final da terceira e o início da quarta temporada de Avatar: A lenda de Korra, durante o tempo que a Korra ficou longe da Cidade da República.
O inicio e o final da narração são em terceira pessoa, mas todo o sumo da história é contado através de cartas (enviadas ou não) entre Asami e Korra. Inclusive a única carta realmente enviada pela Korra é uma adaptação livre da única-carta que ela enviou realmente na série :)

Ah, a música de inspiração tem o mesmo título da fanfic e trata-se de uma versão cantada pela Aurora que pode ser conferida aqui: https://open.spotify.com/track/21HfUACOv1lgBiYocruoW8?si=dPNK3ng_Qt2QLeJNYEMPdg

Boa leitura!



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— O jornal, srta. Sato. - Ailfrid anunciou, depositando-o a mesa à frente.

— Obrigada. – a garota murmurou, esforçando-se para abrir um sorriso de agradecimento ao que parecia ser a personificação de sua melhor escolha nos últimos meses: Ailfrid era gentil, compreensivo e sua presença silenciosa como administrador da casa e mordomo tornavam a vida solitária de Asami Sato um pouco menos miserável do que ela de fato era.

Ele devolveu um sorriso bondoso e deslizou para fora do cômodo, permitindo que a jovem pudesse observar o quanto seus cabelos ralos no topo da cabeça indicavam a sua idade avançada. Voltando a atenção para a mesa do café da manhã, Asami terminou o copo de suco que vinha tomando e apanhou o exemplar para ler a página principal do Republic City Times.

OPERAÇÃO DE UNIFICAÇÃO DO REINO DA TERRA SEGUE A TODO VAPOR SOB O COMANDO DE KUVIRA

Asami franziu o cenho, sentindo a comida assentar mal na boca do estômago. Todas as declarações públicas da comandante até então haviam lhe soado perigosamente ufanistas. Ela começava a se preparar para ler o corpo do texto, quando notou que, dividindo espaço com a manchete principal, outra notícia chamava mais atenção. 

UM ANO DE AUSÊNCIA: RUMORES SOBRE O ESTADO DE SAÚDE DA AVATAR KORRA VOLTAM A CIRCULAR PELA CIDADE

Abaixo, havia uma foto antiga de Korra, abatida e em cadeira de rodas, antes de embarcar para a Tribo da Água do Sul. Era o último registro dela na cidade. Suspirando, Asami dobrou o jornal de novo, ciente de que não conseguiria comer mais nada.

Vagando pelo hall de entrada de um lado para o outro, ela pensou sobre o que fazer. Não era a primeira vez – e ela estava certa de que não seria a última – que ela se sentia impelida a fretar um dos muitos dirigíveis aéreos das Indústria Futuro e pousar sem prévio aviso na terra natal de Korra para uma visita.

Respirando fundo, no entanto, ela se obrigou a parar e a reconsiderar, dando voz a sua natureza ponderada e racional. A verdade é que Asami não era dada a arroubos – esse era, para todos os fins, o papel de Korra, e um que ela desempenhava muito bem até o confronto com Zaheer.

Mas desde então, desde o envenenamento e sua partida para tentar se recuperar longe do tumulto da cidade grande, era difícil vislumbrar como a garota agiria, ou que parte cabia a cada um dos membros do Time Avatar, desintegrado como estava naquele instante.

Mako estava tentando com tudo que tinha se manter firme ao compromisso profissional que havia firmado com o Departamento de Polícia sob a supervisão severa de Li Beifong. Não importava o quão ruim ele era em outros tipos de relação, ninguém podia duvidar de sua fidelidade com a corporação. Ele havia aceitado, de forma resignada e admirável, cuidar da segurança pessoal do futuro Rei da Nação da Terra e isso lhe consumia quase todo o tempo.   

Quanto a Bolin, o rapaz estava longe, viajando de um canto a outro pelo Reino da Terra como parte integrante da comitiva de Kuvira. Não importava o modo reticente como Asami via a operação: ela não o julgava. Era uma questão sensível para ele, e ela sabia que o amigo entendia a oportunidade como um chamado para fazer algo pelo local de origem de sua família paterna.

Isso deixava Asami mais sozinha do que jamais havia estado. Com o pai na prisão e sem amigos por perto, ela sentia como se, a cada dia que passava comandando as Indústrias do Futuro contando com nada além do próprio cérebro, ela perdesse uns dez anos de vida. E ali, parada no meio de um saguão estúpido, numa casa gigante e estúpida, com a lembrança da única amiga ferida e fragilizada muito viva na mente, tudo que a cercava – toda a decoração suntuosa e cômodos vazios – ressaltava o quanto, naquele instante, ela não tinha nada.

No fim das contas, depois de ser atingida pela onda forte do sentimento de vazio e impotência, Asami optou pelo que parecia ser a ideia mais segura, e que consistia em se trancar no escritório pessoal com blocos de papel suficiente para o pequeno ritual de escrever para Korra, mesmo sem mais esperanças de que algum dia ela respondesse. 

 

I would like to leave this city... This old town don’t smell too pretty and I can feel the warning signs running around my mind… And when I leave this island, I book myself into a soul asylum, I can feel the warning signs running around my mind.

 

[ASAMI]

Korra,

Saiu uma notícia sua no jornal hoje. De novo. Não sei o que dizer. Ver sua foto me fez pensar se eu deveria ter insistido para que ficasse e se recuperasse aqui. Sei que é horrível e provavelmente egoísta, mas eu sinto a sua falta todos os dias. As coisas seguem cinzas desde que você foi embora. Sinto que nada me prende aqui de verdade. Penso em ir te ver, mas tenho medo de que isso te aborreça e...

*

Querida Korra,

Espero que essa carta – minha segunda tentativa de escrita hoje – te encontre melhor. No mês passado, Tenzin me contou que você segue sob os cuidados de Katara, o que me tranquilizou. As coisas por aqui seguem mais ocupadas e, ao mesmo tempo, mais entediantes do que nunca. Um ano nunca se pareceu tanto com um século. É possível que você mal me reconheça quando voltar a cidade, o que espero sinceramente que aconteça em breve. Tenho medo de que, se eu passar mais uma temporada fazendo negócios com os empresários daqui por conta daquele contrato que consegui para ajudar a reformular a infraestrutura da cidade, um dia eu acorde e perceba que me tornei um deles: um homem alto, com bigode a escovinha, uma barriga levemente protuberante e que olha para o mundo de maneira paternal, arrogante e condescendente.

Eu espero que isso te faça rir, mas a verdade é que se trata de um pesadelo recorrente. A cidade não é a mesma sem você, sem vocês. Eu não sou a mesma sem vocês.

Com carinho e saudades,

Asami.     

***

So here I go. I'm still scratching around in the same old hole... My body feels young, but my mind is very old. So what do you say? You can't give me the dreams that are mine anyway, you're half the world away...

 

[KORRA]

Asami,

Essa é a primeira das muitas cartas mentais que dirijo a você e que de fato escrevo. Sei que não vou enviar, o que me deixa confortável para te contar sobre como me senti como uma boneca de porcelana quebrada nos últimos meses. O tempo não cura nada e, você sabe, eu não sei o que significa ter paciência. Ainda assim, é o que todo mundo repete para mim como um mantra.

Agora que eu sou, de longe, a encarnação mais patética de Avatar – sem conexão com os anteriores e sem mal conseguir me erguer sob os meus próprios pés, me sinto livre para abraçar meu fracasso. Às vezes, abraço tanto que me sinto sufocar. Quando as coisas ficam insuportáveis assim, penso em você no dia em que segurou minha mão e me disse que estaria aqui por mim caso eu precisasse.

Eu sinto muito por nunca ter pedido ajuda. Não é que eu não precise eu apenas não sei como fazer isso. É só muito doloroso. E não sei se é muito justo. Não é como se você pudesse me resgatar de mim, de qualquer modo. Esse é o meu trabalho. E em algum momento... Bom, eu vou realizá-lo.

Eu só quero que você saiba (bom, alguma parte minha pelo menos quer que você saiba, caso contrário eu não estaria escrevendo, mesmo para rasgar depois...) que eu estou pensando em você. E que se me concentrar bastante, consigo sentir o calor da sua mão segurando a minha. E não há nada no mundo que me deixe mais grata.

K.

***

 

So what do you say? You can't give me the dreams that are mine anyway, you're half the world away...

[ASAMI]

 

Querida Korra,

Não vou perguntar como estão as coisas para que você se sinta desobrigada de ter que responder. Já faz muito tempo – dois anos, de acordo com a notícia do jornal que acabei de ler, numa espécie de dejavu esquisito – e agora, quando sento para te escrever, tento me lembrar da sua risada e torço para que, a essa altura, você já a tenha recuperado.

Sinto tanto sua falta que faço pequenas promessas diárias para o universo. Vou descrever uma, caso se sinta tentada: quando você estiver bem e estiver aqui, prometo te deixar dirigir de novo pela cidade inteira. Não importa quantas contravenções de trânsito você cause ou quantas multas eu receba. Eu apenas adoraria passear com você e me exibir um pouquinho a respeito de toda as reformulações urbanas que consegui promover.

Quero que você veja o quanto a cidade ficou mais bonita, mais mágica, com a sua decisão de manter aberto o portal entre o mundo espiritual e o mundo físico. Você está há meio mundo de distância, mas sinto sua presença com cada espirito iridescente que brilha a noite. Estou certa de que a essa altura você já sabe que o Parque Central foi rebatizado com o seu nome. As vezes eu vou até lá e apenas tenho grandes conversas mentais com a sua estátua. Ela é mais calma que a sua versão física, mas menos espirituosa também.

Acho que o que eu estou tentando dizer é o que já disse em todas as outras cartas. Sinto saudades. Fique bem, Korra.

Com amor,

Asami.

***

You're half the world away. I've been lost, I've been found, but I don't feel down.

 

[KORRA]

Cara Asami,

Essa é uma proposta irrecusável e me lembrarei dela quando o momento for propício. Me desculpe por não ter te escrito antes, mas todas as vezes que tentei, nunca soube o que dizer direito. Os dois últimos anos foram os mais difíceis da minha vida, mas as cartas dos meninos e as suas sempre fizeram diferença nos meus longos dias.

Ainda não estou pronta para voltar, mas espero que a estátua esteja te fazendo boa companhia. Já consigo andar muito melhor, mas... Ainda não consigo entrar no estado Avatar. É estranho. Continuo a ter visões de Zaheer e do que aconteceu naquele dia. Katara acredita que seja uma coisa mental, por isso tenho meditado bastante, mas as vezes me preocupo de nunca me recuperar totalmente.

Por favor, não conte ao Mako e ao Bolin que escrevi para você e não para eles. Não quero magoar os sentimentos deles, mas é mais fácil falar sobre isso contigo. Talvez porque eu também tenha alimentado muitas conversas mentais com você, embora não tenha a facilidade de uma estátua de gelo com a sua cara em algum local por perto. Eu só... Não sei se eles entenderiam. Por favor, continue escrevendo, sim? Nós nos veremos.

Sinto sua falta.

Com amor,

K.

***

…I've been lost, I've been found, but I don't feel down.

— Sei que pediu para não ser incomodada, srta. Sato, mas você também instruiu para que eu a interrompesse a qualquer momento se essa correspondência chegasse. – Ailfrid balbuciou, surpreso e constrangido pela carta que tinha na mão.

Asami ergueu os olhos, tão incrédula quanto ele e cruzou a pequena distancia entre os dois numa velocidade recorde. A letra de Korra na assinatura de remetente a atingiu como um soco.

— Obrigada. – ela murmurou, sem conseguir tirar os olhos do envelope.

Asami se sentou e o abriu devagar, como se o papel pudesse se desmaterializar a qualquer movimento brusco ou passo em falso. Ela mal ousou respirar enquanto devorava as linhas com os olhos pela primeira vez. Só na terceira leitura seu coração pareceu voltar a um ritmo mais calmo, seguido pela respiração até então descompassada.

— Está tudo bem? – Ailfrid, que ficara indeciso sobre se manter no cômodo ou sair ao notá-la tão absorta, julgou que finalmente parecia o momento adequado para perguntar.

— Sim. – Asami sorriu de uma maneira que ele nunca tinha visto até então. – Acho que finalmente está começando a ficar.


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Notas finais do capítulo

Eu esqueci de colocar no inicio, mas o personagem Ailfrid é original. Não resisti e coloquei porque isso faria a Asami meio Batman na minha visão e meu senso de humor é ruinzinho assim mesmo, haha.

Se você chegou até aqui me conte o que achou, sim?
Beijo!



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