Too Late escrita por ro_dollores


Capítulo 12
Capitulo 12




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/794648/chapter/12

O telefone tocou na manhã seguinte e ela atendeu, muito sonolenta,  ainda na cama, achando que fosse Calebe.

“Ei, John Wayne … ficou sem cavalo? Você sumiu!”

“É o Grissom, Sara! Bom dia!”

Ela se sentou depressa, muito sem jeito.

Jesus Cristo!

“Oi … desculpe … achei que fosse outra pessoa.”

“John Wayne … o cowboy?”

“Mais ou menos … aconteceu alguma coisa?”

Ele corou, imaginando que se tratava de Calebe. No fundo a informação lhe fez bem, imaginando que havia dormido sozinha, embora tenha sido mais para estranha, em saber que mesmo a abandonando, parecia bem humorada com ele!”

“Você está bem?”

“Sim … bem … por quê?”

“Preciso saber se posso contar com sua presença para uma nova reunião?”

“Agora?”

“Você tem uma hora!”

“Ok! Preciso avisar Ross que vou me atrasar!”

“Ele está conosco … o Xerife o chamou, por isso pediu para que te avisasse.”

Ela estava estranhando a ideia dele usar um artifício para falar com ela, nem mesmo estava em seu turno, mas tinha sido praticamente obrigado! Ela não sabia se estava feliz ou decepcionada! 

Aquilo era Grissom em sua vida. 

O céu e o inferno!

Calebe olhou para seu telefone dúzia de vezes, precisava ligar para ela, ouvir a voz dela, mas estava apavorado.

Quando o telefone tocou diante de seus olhos naquele instante e a foto dela surgiu na tela com seu sorriso adorável, ele quase o derrubou sobre o chão da cozinha!

“Sara?”

“Oi cowboy, parece assustado.”

“Ia te ligar e … e o telefone tocou no mesmo instante!”

Ele ouviu a risada quase infantil dela e fechou os olhos. Nunca em sua vida imaginou ter tanto remorso! Ele estava se sentindo doente, um verdadeiro canalha.”

“Como foi a festa?”

Ele paralisou.

“Calebe? Ainda está aí? Mas o que há com você? Aconteceu alguma coisa?”

“Aconteceu?”

“Eu é quem estou perguntando, não afirmando!”

“Desculpe …”

‘Eu não vou conseguir, me perdoa Sara, me perdoa por ser um desgraçado!’

“Se desculpando pelo quê?”

“Acho que ainda estou dormindo ... “ - ele tentou disfarçar uma pequena risada, mas parecia um lesado.

“Ah … você está de ressaca … agora entendi.”- ela começou a rir desembestadamente. - “Muita cerveja, foi?”

“Quase isso, pra falar a verdade, uísque.”

“E você dirigiu para casa, bêbado?”

Ele sentiu algo subir até sua garganta, sem precisar o que realmente seria o mal estar, sua consciência ou a ressaca!

“Eu acho que exagerei … um pouco!” 

‘Eu sou um traidor, ingrato e filho da mãe! Por que fui fazer isso? Oh Deus … eu mereço o inferno…’

“Tudo bem … não se puna por isso, tome muita água, coma frutas e refeições leves. Eu terei uma nova reunião daqui a pouco, quando puder, ligo para você, pode ser?”

Era muita informação para ser processada, sua cabeça estava zonza.

“Obrigado … Sara! Vou esperar seu telefonema, ansioso!”

“OK, se cuide!”

Ela estava desligando quando ouviu ele chamar seu nome.

“Sara …”

“Oi …”

“Eu … te amo!”

Ela não sabia como diria o mesmo, precisava ser algo verdadeiro, assim como ele estava sendo. Sem saída, ela respondeu tentando parecer o mais natural possível.

“Que bom!”

Ele se jogou no sofá e chorou até não aguentar mais, enquanto ela pegava seu casaco e trancava seu apartamento, se culpando por não sentir o mesmo. Ela gostava demais dele, mas não era amor!

Sara precisou de seu auto controle quando entrou na sala de convivência, Grissom estava muito bonito com uma camisa azul, da cor de seus olhos, cabelos molhados e a barba bem aparada. Talvez ele tivesse tomado banho no laboratório. 

“Bom dia!”

A resposta foi em uníssono, um coral de vozes masculinas de homens de meia idade. Apenas ela do sexo feminino. 

E foi uma reunião bastante produtiva, mas desgastante. 

Grissom estava de frente a ela e quando não estava falando, direcionando seus olhos a ela, estava a medindo na mais absoluta discrição. Mas com toda sua dissimulação, não conseguiu escapar da sagacidade de Ross. Ele guardou em silêncio suas desconfianças e sentiu pena daquele homem que tanto respeitava! Em sua porção experiente, toda aquele cuidado em não ser notado pelos outros, se transformou em uma grande admissão!

A urgência daquela reunião foi logo esclarecida nas primeiras palavras. Uma garota estava desaparecida, e tudo indicava um novo ataque do suspeito que estavam perseguindo.

Ross e Grissom resolveram mesclar as equipes, onde todas as informações eram centralizadas entre os dois, Sara, por indicação de seu supervisor, seria sua voz de comando na falta dele, assim como Catherine seria de Grissom. 

Sara explanou suas impressões e a maioria complementou sua opinião, seguindo na linha de raciocínio da espetacular CSI.

Um detalhe interessante era que  as garotas eram sempre sequestradas em um carro fúnebre.

Muitas tatuagens com frases, palavras ou anagramas das vítimas foram analisadas individualmente com muito critério e atenção, mas o que estava por trás  das mensagens subliminares era que seria necessário analisar o contexto como um todo. Havia um livro obscuro e raro, Without Control, cujo conhecimento só foi possível através de muita pesquisa e perseverança e até um toque do acaso. Sara estava pesquisando sobre o submundo das mais variadas tatuagens de gangues, e estava há algum tempo on line quando surgiu na tela um aviso com pequenas letras roxas em um fundo preto com login e senha.

“O que será isso? Uma seita?”

Com a dica piscando na tela e a mente borbulhando de muitas possibilidades, ela resolveu pedir permissão ao FBI, onde o serviço secreto autorizava  criar perfis falsos com dados facilmente pesquisáveis, fazendo parecer tão real quanto verdadeiro. E assim ela adentrou no obscuro mundo da comunidade do referido livro macabro!

Foi aí que ela recebeu uma mensagem em um chat. 

O link foi enviado aos operadores do serviço secreto. Um fundo falso e uma imagem montada sobre ele foi apresentado a ela para que participasse sem que sua identidade fosse transgredida.

Totalmente desfocada de sua imagem real, ela se assustou quando a imagem que foi escolhida mais lembrava uma gótica depressiva e muito jovem com os braços tatuados com frases do livro. A princípio seria apenas para se inscrever. O perfil seria analisado e dentro de setenta e duas horas, ela receberia a permissão para participar da referida congregação como era descrita.

Ela descobriu que as tatuagens obedeciam uma sequência fiel ao livro.

O perfil das vítimas, eram praticamente o mesmo. Lindas, saudáveis e bem sucedidas, com idade entre vinte e cinco e trinta e cinco anos. Acreditavam que a cada “sacrifício”, toda a energia vital das vítimas, seriam de certa forma, sugadas para a força interior de seu executor. Os corpos eram deixados exatamente no meio de pontes praticamente desertas e antigas em alusão também ao livro. Lugar inóspito, praticamente abandonados e assustadores. E era exatamente o que remetia a idéia dessas pontes feitas muitas vezes em madeira e um tanto fantasmagóricas.  

Se eram apenas mulheres naquelas condições, e a intenção seria o que estava descrito nas páginas assustadoras daquele livro, algo se acendeu dentro dela.

“É uma mulher!”

Ross estava entrando neste momento e se prostrou atrás dela.

“É uma mulher!” - ela repetiu quase eufórica, girando a cadeira.

Ela descreveu todas as suas atividades e descobertas, acompanhando os passos de seu supervisor, que puxou uma cadeira e estava extasiado com sua perspicácia! Assim que ela terminou, ele continuou a encarando, digerindo cada sílaba de suas explicações.

“Eu não preciso dizer que está  fazendo um ótimo trabalho!” 

“Obrigada, Ross!”

“Bem … acho que você merece um pouco do mundo lá fora, vá para casa, Sara! O noturno vai assumir daqui em diante, mas até que tudo isso se resolva, não se esqueça que se puder estar aqui uma hora mais cedo para as atualizações, te agradeceria, não se preocupe que serão computadas em suas horas extras!”

Ela se levantou e indicou que havia enviado todas as pastas do caso para seu diretório, assim ele poderia repassar à Grissom.

“Vou até a sala dele, qualquer dúvida, peço para falar com você amanhã de manhã. Bom descanso, minha querida!”

Ele reparou que houve uma mudança em sua postura, aquele comentário a deixou um tanto sem jeito, mas logo desviou seus olhos para a tela do computador, imaginando mais uma vez, o sentimento que nutriam um pelo outro. 

Sara estava exausta, mas feliz! Todas as horas de seu dia foram extremamente bem planejadas e aproveitadas. Saber que Ross confiava em seu trabalho e reconhecer a admiração de outros superiores ao respeitar suas impressões, lhe fazia um bem danado.

Isso não a fazia arrogante, jamais seria um sentimento mesquinho, na verdade era uma grande satisfação. Mas havia um pequeno incômodo em seu coração, e ela sabia exatamente o que era. 

Heaven and hell’

Sara parou em frente as portas duplas do Bar de Calebe, reparando seu movimento atrás do balcão.

Ele estava totalmente compenetrado em sua atividade de ajeitar as taças e copos nas prateleiras de vidro, através do espelho ele pode avistar sua namorada. Nervoso, uma das taças escorregou de suas mãos se espatifando na pia.

Ele tinha vivido um dia de inferno, cada vez que seu pensamento se remetia à noite anterior, ele tremia feito um doente febril, uma dor aguda dilacerava seu coração, junto com uma sensação horrível em seu estômago. 

Ele imaginou dezenas de vezes como seria seu encontro com ela, em uma delas, acabou até rindo de seu próprio castigo. A grande maioria dos homens que conhecia não estariam nem aí com a traição, apenas se justificariam que a carne era fraca, mas ele não era assim. 

Sara correu imediatamente até ele.

“Você está bem?”

“Oh sim … não foi nada, só uma taça a menos!”

Ela deu a volta no balcão e foi puxada por Brian.

“Ei … vocês dois, podem sair daí … deixem comigo!”

Os dois se sentaram em uma das mesas, ainda não estava no horário de abertura e ela segurou em suas mãos.

“Preciso falar com você!”

Calebe arregalou os olhos assustados, suas mãos estavam frias, ela percebeu imediatamente.

“Você está bem?”

“O que quer falar comigo?”

“Hei … por que está tão nervoso?”

“Não estou nervoso. Eu … estou bem ..”

“Tem certeza?”

“Tenho … querida!”

“Bem … eu vou precisar de um pouco de compreensão, como você sabe estamos em um caso muito complicado, meus horários podem ficar malucos …”

“Compreendo.” - Ele não sabia se ficava aliviado ou preocupado.

“Mas vamos dar um jeito … não é?”

De repente ele percebeu que precisava aprender a ser mais dissimulado. Contar a ela, nem pensar, ficar como um réu no paredão, só traria dor de cabeça.

“É claro que vamos dar um jeito … sempre demos!”

Ele sorriu e a beijou por cima da mesa, depois outro e outro e mais outro, enquanto Brian balançava a cabeça, imaginando o que deveria estar passando na cabeça dele. Na verdade ele sabia que Calebe era um cara do bem e com certeza estava passando maus bocados.

“Eu vou deixar que trabalhe, preciso ir para casa ajeitar um pouco meu canto e depois dormir, amanhã devo estar mais cedo no laboratório!”

“A união das equipes está dando certo?”

Ele queria perguntar se ela estava vendo Grissom com frequência, mas não teve coragem, quem era ele para exigir algo dela!

“Sim e estamos muito empenhados. Vamos conseguir!”

Ela se despediu dele mais uma vez, acenou para Brian e saiu.

Calebe deitou a cabeça nos braços sobre a mesa e ficou por vários minutos, tentando não chorar feito um bebê.

“Cara … você tá mal …”

“Eu sou um monstro, Brian … eu nunca deveria ter dormido com a Sasha, nunca!”

“O que aconteceu que o fez trair sua namorada gente boa dessa forma?”

“A bebida … umas fraquezas de pirralho, eu ...ah … melhor deixar pra lá!” - Ele gostava de Brian mas contar a ele que estava tão inseguro, não seria uma boa ideia.

“Vai contar a ela?”

“NÃO!” - Ele quase teve um ataque de pânico só de imaginar. Ele tentaria vê-la com menos frequência, já que o trabalho dela exigiria ainda mais que ficasse concentrada e esperaria que o tempo o ajudasse.

Calebe jamais, em nenhum momento poderia imaginar que esconderia algo dela. 

“O que me tornei, Brian?”

“Vai passar, meu amigo … vai passar!”

Os dias seguintes foram passados em sua maioria dentro daquele laboratório, geralmente ela não saía a campo,  se trancafiava na sala de processamento de provas, com sua habilidade em tecnologia da informação e esquecia que existia vida social, uma casa pra voltar e um namorado, mesmo que falasse com ela todos os dias.

No final da mesma semana, ela estava esgotada.

Sempre muito concentrada, não percebeu que um homem alto, de cabelos ruivos e jaqueta de couro estava atravessando os corredores de seu trabalho, procurando-a.

“Olha o que eu achei, Sara!”

Ela levantou os olhos para Greg, que já estava de saída e, ao ver Calebe, seu sorriso se iluminou. Estava sentindo falta dele, mesmo que tendo se falado com ele todas as cinco noites de clausura.

“Que surpresa boa.”

Ele havia se entregado ao trabalho, usado suas horas de folga para acompanhar o curso de barman que havia inscrito seus funcionários e bebido suas doses moderadas de uísque para dormir feito um anjo. Abarrotado de atividade, ele ajudou sua mente a não se punir a cada piscar de olhos. Tinha sido um tempo bom a ele, que o ajudou a amenizar a culpa pelo seu crime hediondo. As crises de desespero haviam diminuído e ele estava quase voltando a ser o cara de sempre.

Seu esforço foi coroado assim que viu seu sorriso iluminado, ela era a luz na sua escuridão.

“Que bom ver você, querida!”

Sara olhou ao redor e esticou a mão para ele, ainda sorrindo.

“Que bom ver você também.”

“Tem um tempo pra gente comer alguma coisa?”

“Vou avisar o Ross e já volto.”

Calebe mexeu em sua jaqueta, depois consultou seu relógio. Ele não estava  a fim de ver Grissom, seria muito melhor para sua saúde.

Graças a algo que ele poderia chamar de anjo da guarda, sua presença ali passou quase despercebida, e em poucos minutos ela estava de volta agarrando seu braço e o puxando para fora dali.

“Onde vamos?”

“Quanto tempo você tem?”

“Pouco mais de uma hora, talvez duas, tenho sido uma boa garota!”

“Ok!”

Ele dirigiu rapidamente pelas ruas até chegar em seu sobrado, abriu a porta para ela e a carregou para dentro.

“Ei … o que está fazendo?”

A mesa estava posta lindamente, ele a colocou no chão e pegou em sua mão, a puxando para ele.

“Me conceda a honra de almoçar comigo, eu mesmo quem preparei!”

Ela estava olhando por cima do ombro dele, louca para devorar seja o que for que ele havia feito.

“Estou morrendo de fome.”

Calebe a puxou de volta em seus braços e a beijou profundamente, depois, com delicadeza, se sentiu sendo levada para o corredor e logo estavam sobre a cama macia do quarto aconchegante no andar de baixo.

Eles namoraram por quase uma hora, em certos momentos, Sara percebeu que ele estava um tanto diferente, a encarando com olhos tristes, outras vezes em um silêncio revelador. Ela atribuiu todas aquelas reações ao fato de ter sentido a falta dela. 

Eles tomaram um banho juntos e foram para a cozinha aquecer a massa com creme de vegetais que ele na verdade precisou da ajuda do vídeos na internet para preparar. Tinha planejado tudo na noite anterior. Se entregar a ela era sempre maravilhoso, mas também havia sido, em certos momentos, uma tortura. A culpa surgia cada vez que olhava em seus olhos, cada sorriso que ela lhe dava. Ele precisava que aquilo passasse logo, a dor havia amenizado, mas não havia conseguido que desaparecesse completamente e ele duvidava que um dia conseguiria.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Too Late" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.