Ah, dia de São Valentim. O dia das mulheres demonstrarem o seu amor para as pessoas queridas com doces de chocolate, normalmente, ao leite ou amargo. É a época mais preocupante dos pais de garotas e a mais desejada por elas para agradar aqueles que tanto gostam. O mais desejado para confissões, principalmente para os garotos que ficam na expectativa de receber algum, nem que seja obrigatório. E com certeza, essa é a esperança do Yugi Amane esse ano.

Amane está em frente ao seu armário de sapatos insistindo sua mente para abrir logo de uma vez o local e trocar seus sapatos. Sua mente já criou todo o cenário. Abrirá o armário e em cima dos seus sapatos para usar dentro da Academia conterá uma caixa com deliciosos chocolates que, possivelmente, foi feita por sua tão amada paixão, Yashiro Nene.

— Amane, não acho que ela fosse colocar no seu armário de sapatos aquela coisa. Nós sempre chegamos antes dela — brincou seu irmão gêmeo mais novo, Tsukasa, dando ênfase no possível presente da possível garota. Tentou trazer o seu irmão a realidade após notar a estranha ansiedade de Amane.

— Não preciso que você me diga isso.

O constrangimento de Amane o fez abrir o armário. Tsukasa não o deixaria enquanto não fossem juntos para a sala e já sabia que não teria nada em cima dos seus sapatos. Só queria poder sonhar com essa possibilidade e depois se iludir como nos anos anteriores.

Respirou fundo e trocou o sapato tentando se acalmar para o seu rosto levemente avermelhado não estar dessa forma quando chegasse na sala. Talvez conseguisse se não fosse por seu irmão o abraçando.

— Você acha que ela te dará esse ano? Ou você vai tentar dar um no White Day? — sussurrou Tsukasa, baixo o suficiente para que somente Amane pudesse escutar.

White day, o dia dos garotos darem doces de chocolate branco para as pessoas amadas. Normalmente usado para retribuir os de São Valentim das garotas, e talvez para se confessar? A possibilidade deixou o garoto todo mexido. Já basta as imaginações e expectativas que tira em momentos improváveis e clichês demais para acontecer.

Lidar com seu irmão o provocando não o ajudaria nada.

— Esquece isso e vamos.

E assim o fizeram.

Amane quer a todo custo esquecer do Valentine's Day, ou melhor, quer controlar sua ansiedade e esperanças para não se iludir mais um ano com esse maldito dia. Nunca recebeu chocolate além dos da sua mãe que insiste em fazê-los como um agrado ou comprá-os em um mercado porque estava em promoção e dessa vez, não será diferente. Além disso, a inveja o mata por Tsukasa sempre os receber, mesmo que por obrigação a maioria deles.

Foram um, dois, três chocolates só no caminho para a sala de aula. Como consegue? Eles são idênticos em aparência e mesmo assim é mil vezes mais popular com as garotas do que Amane. E observar as entregas das garotas o faz desejar constantemente que Tsukasa morra com os chocolates que está a receber.

— Você podia se engasgar e morrer logo de uma vez — o ameaçou com olhares mortais.

— Em? — questionou-se Tsukasa estranhando a sinceridade do seu irmão enquanto segura a caixa que acaba de receber. Não que entenda o comportamento do seu irmão, afinal, sempre foi popular e nem fez isso por desejo, mas se importa com ele. Pensou em possíveis garotas que o dariam chocolate e acaba de se lembrar. — Ei, você acha que a Aoi-chan e a Yashiro-chan vão dar alguns chocolates obrigatórios pra gente? — A pergunta fez Amane arquear as sobrancelhas indignado.

— Você quer mais chocolate?

Tsukasa poderia ser sincero e dizer que está pensando no mais velho, mas o estressar é o seu maior divertimento. E também, nem se importa com o dia. Apenas gosta de receber os doces sem precisar dar nada em troca já que, de acordo com as primeristas, Tsukasa não é de ninguém, embora seja de todas elas. Provavelmente uma tentativa de não brigarem ou se enciumarem.

E o amor também nunca foi algo interessante para ele.

— Claro. Quanto mais, melhor!

Um suspiro o mais velho soltou.

— Não sei como você é popular — reclamou Amane e, apesar de ser um simples comentário, Tsukasa sentiu uma alfinetada vindo das palavras.

— É que o Amane é muito tímido e carente. É difícil um cara assim se destacar — retrucou sabendo que esses defeitos são um dos mais preocupantes para o garoto.

— Foi mal aí se eu não faço o tipo das garotas.

Um suspiro soltou notando seus sentimentos negativos. Óbvio que sabe disso e por esse motivo sente inveja de Tsukasa. Ele é legal e fácil de conversar, consegue paquerar qualquer sem problema algum e nem receio tem para fazê-las o que desejam caso necessário. Já Amane sempre está em seu canto com os seus amigos de sempre e mal consegue manter uma conversa com desconhecidos, principalmente quando se trata de mulheres. As únicas que conseguiu foi graças a amizade de infância de Aoi Akane com Akane Aoi e mesmo assim, nem é tão próximo delas.

Entrou na sua classe após avistá-la e sentou-se em seu lugar que é atrás do Yamabuki.

— E aí, estão animados? — perguntou o mesmo olhando para o Amane e pro Akane sem nem o cumprimentar.

— Bom dia pra você também, Yamabuki — Amane suspirou e se ajeitou em sua carteira para o início das aulas — Não. O Tsukasa já recebeu uns quatro só agora e mal começou as aulas. Nem tenho mais esperança de conseguir algum.

Os olhares foram direcionados a Akane que está com um sorriso de orelha a orelha. Se fosse um mangá, juraria que teria corações em seus olhos e corações voando pela sala.

E pra acabar, Amane sabia o motivo.

— Eu recebi um da Ao-chan. Até deixei em casa pra garantir o estado.

Ele continuou a falar da sua tão amada Akane Aoi fazendo os dois se constrangerem pela situação.

Um garoto louco por sua paixão é outro nível.

— Vizinhos são outro nível — comentou Yamabuki trazendo a atenção de Akane de volta para a realidade.

— Acho que a Ao-chan vai te dar um também, Amane. E sabe o que é melhor? — o sorriso malicioso de Akane se abriu fazendo Amane engolir em seco para o que está para dizer — Ela me disse que fez para os amigos junto com a Yashiro.

Isso significa que Amane também receberá? Ela realmente o daria?

— Ei! A Ao-chan é minha. Nem vem! — brigou Akane após observar seu amigo se contrair cada vez mais.

— Acho que nem foi por isso — justificou, Yamabuki tentando fazer o Akane perceber.

O rosto de Amane se avermelha mais a cada segundo que passa e o sorriso ficou tão grande ao ponto de se tornar impossível de desfazer.

Sabia que seus amigos irão o zoar caso notasse como ficou com a possibilidade. O fazem sempre que conseguem, desde o dia em que notaram os sentimentos dele por Yashiro. Mas como se conter sabendo que pode receber algo feito por sua amada?

— Eu não...! — tentou se justificar, mas só conseguiu abaixar a cabeça segurando mais forte a sua calça.

— Será que esse ano vai ter um chocolate de confissão para o Amane? — brincou Yamabuki.

O enorme sorriso malicioso de seus amigos fez seu rosto queimar. Droga, por que tem que ser tão tímido e transparente? Seria muito mais fácil se ele conseguisse esconder suas emoções sabendo que ninguém saberia da existência de sua paixão.

Por Amane ficar concentrado nas suas emoções, nem notou a aproximação de um dos assuntos, Akane Aoi, que está com duas caixas quadradas e pequenas em suas mãos.

— Bom dia, gente — cumprimentou aos três garotos olhando ao redor e logo se focou nos outros dois — Aqui, Yamabuki-kun, Yugi-kun.

A caixa foi entregue na mão de Yamabuki e deixada em cima da mesa do Yugi.

O jeito todo orgulhoso de Akane dizia claramente que seu chocolate é maior e provavelmente melhor, mas isso não fez diferença para nenhum dos dois. Nem Yamabuki ou Amane tem interesse na Aoi, então apenas a agradeceram.

— Espera, Aoi! — gritou Yashiro com os cabelos bagunçados. Veio correndo para tentar acompanhar sua melhor que a deixou para trás.

Ao ver o rosto de Yashiro, o coração de Amane dispara. Não consegue deixar de observar a garota tendo seu cabelo arrumado por sua melhor amiga que pede desculpas por tê-la deixado sozinha. Será que vai receber ao menos um chocolate obrigatório? Algo feito pra ele e pensado nele...

Só a possibilidade faz o rosto do garoto ficar cintilante de esperança.

Passos foram tirando a distância entre eles, fazendo-o abaixar a cabeça e voltar a se contrair mais em sua carteira.

Cada segundo foi um inferno para sua ansiedade.

— Aqui o seu Yamabuki-kun, Akane-kun.

Entregou aos dois podendo ser ouvido os mesmos a agradecer.

Sua vez está a chegar. O que o fez encará-la com muita expectativa.

— Depois eu entrego o seu, Yugi-kun.

Como um cachorro abandonado, abaixou a cabeça apenas concordando. Não ia a forçar, mas por que não deu agora? Deu para os outros, mas por que pra ele não? Ele não é bom o suficiente para receber os seus agora?

Se tivesse orelhas e um rabo de cachorro, provavelmente o seu rabo teria parado de balançar e as orelhas caído em decepção.

— Você acha que... — começou Akane.

— Provavelmente — concordou Yamabuki deixando Amane ainda mais frustrado pelo suspense que os dois estão a fazer.

— Acham o que?

— Isso vai ser um chocolate de confissão? Você é tão sortudo, cara! — comemorou Akane o cobiçando por dentro.

Um chocolate de confissão? Um suspiro decepcionado Amane soltou.

— Ah, provavelmente ela nem fez um pra mim.

— Se você for tão pessimista e passivo, vai continuar solteiro mesmo — Yamabuki o criticou.

Mas o que ele poderia fazer? Ficar pensando na possibilidade e depois se decepcionar? Sem contar que já se acostumou com a ideia de ficar solteiro e nem parece tão ruim quando se nota que nenhuma garota está interessado no mesmo.

As aulas se passaram dando início ao intervalo para o almoço. Amane procura seu almoço dentro da mochila quando uma certa pessoa o interrompe.

— Yugi-kun, podemos conversar em particular?

Pode ouvir o assobio de Yamabuki a sua frente, mas o ignorou e aceitou o pedido de sua amada. Se levantou e a seguiu. Está nervoso, mas sem expectativas. Não quer pensar em nada no momento e só deseja a ouvir para o que quer que ela queira com ele. E foi difícil manter, pois Yashiro não parou de andar.

Onde eles vão? Se questionou vendo o caminho sem fim que está sendo levado. Após chegarem perto da sala do conselho estudantil, concluiu que o objetivo é o terraço, o lugar que muitas coisas podem acontecer já que é bem pouco movimentado, principalmente no almoço.

Eles param ali perto da porta com uma certa distância entre eles. O seu coração palpitou tanto esperançoso pela confissão da garota, que é o que o clima silencioso e o rosto fortemente corado da mesma transparece. Engoliu em seco desejando a ouvi-la logo de uma vez para tirar qualquer dúvida restante.

— Yugi-kun, você aceitaria meus sentimentos?

Os olhos arregalou e o frio na barriga sentiu. Não conseguiu parar de encará-la com a caixa em formato de coração listrada. Seu rosto está tão corado quanto o dele e pode se notar o quão ansiosa está.

Amane apenas segura a caixa e trás para ele.

— Sim.

Foram as únicas palavras que conseguiram sair de sua boca. Parece um sonho, uma grande pegadinha, algo feito somente para iludi-lo.

Após Yashiro sair, ele beliscou sua bochecha tentando garantir de que não vai acordar em seu quarto descobrindo que nada passou de um sonho, mas aquela realmente doeu.

Olhou para a caixa a observando em cada detalhe lembrando do pedido de namoro que a garota acaba de fazer. Sua primeira namorada, seu primeiro chocolate de confissão e ainda tudo vindo da garota ao qual é apaixonado. Seu sorriso vai de orelha a orelha e seu corpo parece flutuar de tão leve que se sente.

Voltou para a sala para ficar com os seus amigos não se importando com mais nada. Amane sabe o quão patético está e se fosse em outro momento, tentaria esconder o melhor possível, só que dessa vez, nada atrapalhará a sua felicidade. Ela se tornou sua namorada! Sua paixão é sua primeira namorada! E pior é que poderia contar para todos o ocorrido. Não com orgulho, mas com enorme felicidade.

Se aproximando dos seus amigos, ouviu um assobio vindo de Yamabuki. Os dois rapazes se amontoam o mais próximo possível após Amane ter se sentado em seu lugar. Nenhum deles possuem dúvidas sobre. A mudança de comportamento e as suas novas expressões dizem tudo, mas estão interessados em certo ponto.

— E então, como foi? — Akane iniciou primeiro.

Akane foi ignorado totalmente fazendo ambos notarem que está perdido em seus pensamentos.

— Acho que perdemos a nossa ida a sorveteria hoje — Yamabuki comentou sério, mas sua voz continha um tom brincalhão.

— É o que parece — Akane concordou.

Ambos riram se divertindo com o novo Amane, mas não conseguem deixar de ficar feliz por ter conseguido o que ele tanto desejou.