Pov Amy:
Assim que acordei estava na enfermaria dos Kabra. Dan, Ian e Natalie olhavam para mim.

—O...Que aconteceu?

Essa era a única coisa que conseguia perguntar.

Eles me contam a história da ponte.

—Amy...Sera que...Podemos conversar? Tenho que te falar algo importante pra você...-Diz Dan.

—Claro sim mas...Queria conversar com a Natalie antes.

—Comigo?-Pergunta Natalie.

—Com ela?-Perguntam Ian e Dan ao mesmo tempo.

—Sim. Vocês dois podem sair por favor?-Pergunto.

—Claro.-Responde Ian.

—Espero que não tente nenhum truque contra a minha irmã Cobra.-Fala Dan.

—Ela me chamou pra conversar e não o contrário. Aliás tchauzinho.

—Como você consegue ser tão desagradável Kabra?

—Eu deveria te perguntar o mesmo. Mas ao contrário de você sou esperta o suficiente pra saber a resposta.

—Dan. Tchau!!

Olho para ele como se dissesse:"Nao preciso da sua proteção."

Ele olha de volta como se dissesse:"Contra um Kabra nunca se sabe. Preciso garantir a sua segurança."

Eu olho de volta como se dissesse:"Segurança? Porque você precisaria me manter segura da minha futura cunhada."

Dan sabia que não podia vencer esse round. De mim ele até podia, mas não da Natalie Kabra.

Ian e Dan saem.

—Natalie...Vou te fazer uma pergunta e quero que seja sincera comigo...

—Claro.

—Natalie...Qual é o meu problema?

—Que bom que você perguntou. Tenho muitas críticas construtivas pra fazer. Seu cabelo está sempre no rabo-de-cavalo ou solto. Tem que ter variedade né? Seu jeans tem um cabimento péssimo que me faz querer vomitar. Seu moletom não te valoriza em nada. Seu tênis me deixa triste. Parece que é só esse tipo de tênis que você usa. Deve ter só esse tênis no seu closet. Você deveria usar alguma joia. O que você chama de mãos estão parecendo patas de cavalo. Você deveria passar uma manicure e parar urgentemente de roe-las. Estao todas desproporcionais. Quase da pra ouvir as suas cutículas berrando e implorando por socorro e...

—Quis dizer meu problema de liderança.

— Bom...O seu problema Amy é que voce é muito supreprotetora aí parece que voce duvida das capacidades de todos e fica querendo fazer as coisas sozinhas. Uma líder tem que acreditar nas habilidades de seus colegas. É como as cartas de um jogo. Algumas tem menos valor do que outras mas todas são importantes. E desastres querendo ou não vão acontecer. É a família Cahill. Mas voce tem que aprender com os erros do passado e do presente para ter acertos no futuro. E ninguém e perfeito. Todo mundo comete erros. E além disso você tem que fazer tudo o que estiver ao seu alcançe e não mais do que você aguenta porque se o líder desmoronar a equipe inteira desmorona junto. E também é preciso ser confiante porque se você não acreditar em si mesmo e no seu próprio potencial quem vai acreditar? E as vezes, você vai precisar dar um ou dois gritos pra mostrar quem é a chefe. A verdadeira patroa. É uma grande responsabilidade.

—Ok...Primeiro:Parece que você é perfeita. Você nunca comete erros e parece que trabalha melhor sob pressão do que com calmaria. E segundo:Tento ser confiante apenas...Nao consigo...

—Amy...Olha eu não sou perfeita. Também erro. E só que a Isabel reparava em cada misero errinho. Aí tento errar o mínimo possível e disfarçar quando erro. Também trabalho mal. É raro? Sim mas...As vezes acontece, porque isso é normal do ser humano, acontece com todo mundo. E segundo:Porque não consegue ser confiante?

—Eu não sei...

—Pensa um pouco.

Suspiro.

—April May.Sinead Starling. Sophie Watson.-Falo pausadamente.-Angelle Summers. Sellene Wood. Nellie Gomez. Você.

—E porque?

—Porque todas vocês são lindas. Confiantes. Seguras de si. Determinadas. Destemidas. Habilidosas. E eu sou só...Eu...

—Amy...Todas nós temos nossas qualidades e defeitos. Você não pode ficar se desmerecendo assim...Posso te contar um segredo?

—Pode.

—Eu também me sinto insuficiente as vezes.

—Serio?

—Sim. Sei que passo uma imagem confiante e na maioria das vezes realmente sou assim mas...Algumas vezes também me sinto insegura.

—Achei que insuficiência é insegurança era algo desconhecido para os Kabra.

—Com a Isabel Kabra como mãe cada dia era uma prova. A cada segundo uma comparacao diferente. Uma repreensão diferente. Um "sua inútil e imbecil" com um tom de voz diferente. Acredite Amy me sentia insuficiente e insegura mais do que você podia imaginar. Só tentava esconder isso das pessoas. Hoje é raro, mas as vezes acontece. Acontece com todo mundo. Foi como quando tive anorexia a um ano atrás. As vezes ficamos tristes do nada. Esses pensamentos aparecem do nada mas...Temos que expulsa-los da nossa mente.

—E como faço isso?

—Fazendo algo que gosta. Eu faço compras. Vou a um karaokê. Treino tiro ao alvo. Analiso campanhas políticas. Pode ir tentar ler algum livro. Beijar o Ian...Alias não precisa se sentir insuficiente com a April. O amor não é recíproco dos dois lados. E as exs do Ian nem eram tão supermodelos da Victoria Secrets assim que nem você pensa. Nenhuma delas chegou a ser mais bonita do que eu. E elas eram todas chatas. Você é até legalzinha. Posso dizer que somos...Quase amigas...

No tempo em que eu e Natalie Kabra éramos arqui-inimigas juradas eu nunca pensei que fossemos ser amigas. Ou quase amigas. Ou fossemos olhar na cara uma da outra e ter uma conversa honesta sem ela me insultar e eu corar de vergonha de mim mesma e procurar algum lugar aonde me enterrar e nunca mais sair de lá.

Mas olha para nós duas agora...

Me lembro exatamente do dia em que conheci Ian e Natalie Kabra. Foi um dia...Quase normal...

Memoria on:

Estava na enorme biblioteca de Grace, procurando um livro bom pra ler. Estava na escadinha pegando um livro bom para eu ler. Dan, meu irmão caçula de três anos lá embaixo balançava a escada. Até que eu caí. Mas alguém me segurou. Eu tinha gritado e meus olhos estavam fechados. Olho rapidamente para a pessoa.

Um menino. O menino mais bonito que eu já tinha visto. Já tinha visto ele por aqui antes. A mãe dele era assustadora mas ele era tão bonito. Estava como sempre o vi. Roupas formais e cabelo arrumado. Um cheiro bom demais pra ser verdade. Sapatos de marca, um belo sorriso. Mas principalmente os olhos ambar mais lindos que existem.

Assim que saio do meu transe, eu volto pro chão rapidamente e me escondo atrás de uma prateleira.

—Ei. Você está bem?-Ele vem em minha direção.

Mudo meu esconderijo mas ele me vê. Ele não se aproxima tanto dessa vez.

—Desculpa se te assustei. Vi que você ia cair. Você poderia ter se machucado.

Continuo sem dizer nada. Apenas olhando para ele. Queria falar alguma coisa mas as palavras simplismente não saiam.

—Você é muda?-Pergunta ele.

Por algum motivo, estava me preocupando em parecer idiota na frente daquele garoto. Fiz que não com a cabeça, com dificuldade.

—Ah...É tímida então...Entendi...Qual livro você queria?

Aponto com as mãos trêmulas para um livro que estava bem alto. Ele sobe na escadinha que Dan não estava mais lá, o pega e me entrega.

—O-O-Obrigada.-Respondo.

—Nao por isso.-Ele diz.

Aí ouvimos gritos. Dan. E outra pessoa. Fomos rapidamente para lá e vemos Dan brigando com uma menina. Uma menina maravilhosa.

Uma garota bochechuda e fofa, mas tão bonita quanto o Ian. Deviam ser irmãos. Com muita maquiagem. Um cabelo longo que estava com uma tiara rosa. Ela usava um vestido branco com detalhes e um casaco rosa. Uma meia calça branca e sapatos dourados e delicados. Ela tinha a pele como a de Ian e olhos também um ambar amarelado, só que um pouco mais escuros, mas igualmente brilhantes.

—O que foi dessa vez, Natalie?-Pergunta Ian.

—Ele pegou minha arma de dardos. Já expliquei pra ele que isso não é brinquedo e é perigoso mas ele fica rindo do meu sotaque falando que eu falo engraçado.

—Voce e tão irritante.-Diz Dan.

—Posso ser irritante mas eu sou educada, diferente de certas pessoas.-Rebate Natalie.

—Parem de brigar. E pode devolver a arma pra minha irmã por favor Daniel? Tem veneno nela.

—É Dan!!!-Meu irmão responde, irritado.

—E c-c-como s-sabe o n-n-n-nome dele?-Pergunto.

—Grace. Ela fala muito de vocês dois, Amy. Aliás eu sou Ian.

Ouvir meu nome dele era tão bom. O sotaque britânico podia ser engraçado mas ele tinha a voz mais linda que eu já ouvi. Senti meu rosto ficando vermelho.

Depois de muito insistir com Dan ele entrega uma pequena arma de dardos para Natalie(mas isso não os impediu de brigar por cada coisinha que aparecia).

Aí aparecem mais pessoas na biblioteca. Confesso que fiquei meio irritada com isso. Normalmente só eu ficava na biblioteca. Lendo em paz. E sozinha. Aí agora tinham um monte de pessoas lá. Eu era muito introvertida e não gostava de pessoas. Começava a gaguejar ao falar com quem não conheço. Os Holt. Eles eu conhecia. Os Holt eram até legais, mas meio fortes e assustadores para a idade. Nunca conversamos muito. Eles vinham mais na reunião de família do que os...Kabra...É Kabras...Esse é o sobrenome deles.

Aí depois aparecem Jonah Wizard, outro com a mãe assustadora, os trigêmeos Starling, e uma garota loira que se chamava Sophie que ficou conversando muito com o Ian(E porque eu me incomodei com isso?). Essa biblioteca estava cheia e isso não era um bom sinal.

Vou para um lugar e tento ler, mas o barulho era insuportável.

—Recomendo que você leia no jardim.-Diz Ian.-La e calmo e tranquilo, diferente daqui.

Ele sorri pra mim. Estava lendo um livro de príncipes e princesas e comecei a pensar se aquele garoto não era meu príncipe encantado. Ele era perfeito.

—Nao q-quero i-ir p-p-para o jardim.-Respondo.

—Porque?-Ele pergunta.

—Nao quero topar com sua mãe. Ela é assustadora.

—Ela não é assustadora...So meio...Incompreendida...

Ouvimos os gritos de Isabel chamando por Ian e Natalie.

—Ian se eu for pra máquina de choque de novo eu morro.-Comenta Natalie.

—O que é uma máquina de choque?-Pergunta Dan.

—Nada.-Respondem Ian e Natalie ao mesmo tempo.

E eles se despedem e saem...

Memoria off.

Nesse dia eles foram legais(Quer dizer pelo menos o Ian foi comigo porque Dan e Natalie estavam mais insuportáveis com as brigas do que estão hoje). Eu tinha uns 8 anos e o Dan uns cinco. Mas aí da outra vez que nos encontramos eles começaram a ser frios e a nos humilharem como sempre fizeram. E aí começou o legado de ódio:Cahills VS Kabras. Me pergunto como esse ódio se transformou em amor...

Acho que se for parar para pensar...Sera que eles tinham escolha? Será que eles não eram maus porque eram obrigados? Pergunto isso a Natalie.

—Nao. Não tínhamos escolha entre sermos do bem e do mal. Tínhamos que ser maus. É o que um Kabra faz afinal. E ela colocou na nossa cabeça tudo o que pensávamos de vocês. E a gente simplismente aceitou e se acostumou com a situação.-Ela responde.

Eu nem queria imaginar por tudo que eles passaram. Natalie ia saindo.

—Ei. Não disse que você podia sair. E se a conversa não tivesse acabado?

—Acaba quando eu disser que acaba.-Diz Natalie, piscando pra mim e se preparando para sair.

—Espera...Ainda vou ser uma líder melhor do que você? Ou...Pelo menos no seu nível?

—Olha Amy...Nao se ofenda com o que eu vou falar mas...Voce e o Dan são os mais precários em habilidades da nossa equipe. Quer dizer vocês não são os mais espertos, ou os mais inteligentes, ou os mais fortes, ou os mais artísticos.

—Mas ei...

—Deixa eu terminar. Olha Amy...Voces não são...Vamos dizer assim..."Tao bons quanto a gente" porque fomos criados para ser do jeito que somos hoje. Vocês não. E isso é bom porque vocês não foram manipulados para ser do jeito que seu clã seria que fosse. Vocês têm personalidade própria. Mas nós treinamos para tudo isso a nossa vida inteira. E vocês treinam a quanto tempo? Três anos? E mesmo que vocês não sejam os mais espertos, os mais inteligentes, os mais fortes ou os mais artísticos, vocês têm muitas habilidades madrigais que ninguém aqui tem. E sempre vai existir alguém melhor do que você em alguma coisa. Eu não sou a melhor líder do mundo. Você também não. E nenhuma de nós nem chega aos pés dele.

—Quem ele é?

—Xavier Darrington. Pelo menos nos Lucian consideramos que seja ele. E eu não acho que os outros clãs tenham tanta moral quanto nos no quesito liderança para decidir isso. E se você ouvir a história desse cara, vai concordar comigo.

—Voce vai me contar?

—Claro. Xavier Darrington era um Lucian diferente. Apesar de rico ele era um homem discreto. Um espião completo para ser mais exato. Ele sempre foi um agente notável mas quando ele assumiu a liderança do clã Lucian, acabou de vez. Ninguém podia nos parar. A era Lucian ascendia cada vez mais. Era um império imparável. E o Xavier era como o Ronald. Ele não era cruel sem necessidade. As vezes precisava tomar medidas drásticas mas ele tinha habilidades que todos invejavam. Uma mente incrivelmente brilhante. Ele tem muitos apelidos no clã e podemos dizer que depois de Luke Cahill, ele é o cara mais aclamado dos Lucians. Um famoso apelido é "O Homem Invisível." De onde acha que os Janus tiraram a inspiração para o filme? Mas chamavam ele assim porque ele era praticamente inalcançável. Quase como se realmente fosse invisível. Ele era quase imortal. Todos tentavam mata-lo. Literalmente todos. E ele sempre escapava. Ele foi o primeiro e único a descobrir uma base Madrigal e a interrogar um Madrigal. Sabe vocês mataram pessoas mas não dá pra culpar vocês. As vezes para vencer de alguém, ou no caso de vocês, manter o equilíbrio de poder entre os clãs, é preciso jogar o jogo deles. Se você não jogassem da mesma maneira que os outros clãs, ficariam para trás. Ele tinha uma pontinha de sangue Kabra. Assim como o Ronald tem. Mas a cada dia os Lucians cresciam mais e na época, os Ekats que estavam bombando, ficaram completamente para trás. Xavier era uma pessoa muito secreta. Não se sabe o dia em que ele nasceu, o dia em que ele morreu ou o do que ele morreu. Só sabemos que ele existiu, que tinha aproximadamente 78 anos quando morreu e que foi o líder que mais permaneceu no poder, um dos melhores espiões do mundo e algumas outras informações vagas. Sabemos que ele não morreu pelos Madrigais ou pelos outros clãs. Deve ter morrido de doença. Foi um grande caçador de pistas. Alguns dizem que eles acharam 36 pistas. Outros dizem que acharam 37. E outros até dizem que acharam todas as 39. E vocês madrigais tem um grande histórico contra os líderes Lucians.

—Nao tenho culpa se vocês Lucians nos dão trabalho desde cedo.

—Mas os Madrigais não eram os únicos. Dizem que os Janus quando o Xavier morreu fizeram uma festança enorme e até mandaram convites pra alguns Lucians como uma armadilha só pra afrontar. Claro que ninguém, principalmente um Lucian, seria estúpido de cair nessa. Mas dizem que até os Ekats, que são conhecidos por acharem festas "banais" e não desperdicarem seu tempo com eles, fizeram festa. Claro que são só boatos. Grande parte da história do Xavier envolve rumores. Ninguém sabe totalmente a verdade sobre nenhum detalhe da vida dele.

—Uau.

—Nenhuma de nós duas vai chegar aos pés dele. Eu duvido alguém chegar. Como eu disse, a gente não tem que tentar fazer mais do que está ao nosso alcance, apenas o que está ao máximo do nosso alcance, mas se for além do alcance, não faça.

—Natalie...Obrigada.

—De Nada.

Natalie sai e Dan entra.

—Amy...

—Dan...

—Olha...Ja faz um tempo que estou pensando nisso e...Nao quero que pense que essa é uma daquelas decisões que tomo por impulso, porque não é. Eu pensei muito sobre isso. É basicamente só sobre isso que eu penso ultimamente. Eu...Nao quero mais ser um Cahill...

—Como?

—Amy...Eu te deixei cair de uma ponte. E ultimamente parece que tudo está dando errado pra mim. E pra todo mundo honestamente mas...

—Dan a gente sempre da um jeito. Sei que as coisas estão difíceis mas sempre encontramos uma maneira de resolver os problemas junt...

—NAO!!! Amy...Dessa vez não dá pra mim. Eu sinto muito. Eu vou enfrentar Pierce com você, porque eu comecei e agora vou terminar. Mas depois...Estou fora...

—Mas você não pode simplismente desistir...

—Fiske fez isso. Renegou a família. Viajou o mundo todo até estiver pronto para voltar.

—Mas com Fiske é diferente. Fiske era um adulto. Você tem quatorze anos!!

—Ok mas...Vou pra algum lugar com a Nellie ou com o Fiske mas...Nao quero mais essa vida Amy. Não quero mais ficar em Attleboro, Londres ou seja lá onde é enfrentar o próximo vilão. Até porque sempre haverá um próximo vilão. Mas diferente do Fiske...Provavelmente não vou voltar atrás na minha decisão.

—Então é isso??? Você vai me deixar???

—Nao Amy. Eu vou deixar essa vida de Cahill maluca. Ela não é pra mim. E não pense que estou sendo covarde. As vezes desistir é um ato de coragem...

E ele sai. Mas...Sem o Dan...Eu ficaria sozinha...Essa é a pior notícia que já recebi...