Não Chores Diante do Meu Túmulo escrita por Carol McGarrett


Capítulo 1
Do not Stand At My Grave And Weep


Notas iniciais do capítulo

Não é longa, é só tristeza e choro. Judgment Day de novo, baseado no poema "Do Not Stand at My Grave and Weep" de Mary Elizabeth Frie.
Não o conhecia até horas atrás quando vi o post de Viola Davis sobre a morte de Chadwick Boseman. Assim que o li, não pude parar de pensar nas palavras.
Nesta oneshot está traduzido, mas a versão original estará na notas finais.
Peço desculpas pelo tema, mas estou realmente chateada com a morte do Eterno Rei de Wakanda, acho que foi o meu modo de por para fora.
Boa leitura.



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Ninguém espera pela morte de braços abertos, mas todos sabem que um dia ela vai chegar.

Ninguém sabe o quando, o onde, e o como, porém, todos sabemos, qualquer dia poderá ser o nosso último dia na Terra.

Ninguém sabe como será a vida, somente temos certeza de que um dia ela termina. Nossos dias estão contados a partir do dia em que nascemos.

Uma vez ouvi em uma música que a morte não nos vence, que nós vencemos a morte porque nascemos.

Sim, teve um dia, ou talvez foi por vários anos, não sei agora, que eu acreditei que a morte era a conclusão de uma vida bem vivida. Que, assim como me falaram quando eu era criança, eu tinha nascido, iria crescer, viver, ser feliz, e, um dia, quando tudo o que tivesse sonhado tivesse se concretizado eu iria deixar esse mundo, deixando um legado para trás.

E nem isso eu vou ter.

Não sou nova, mas também não sou velha demais.

Poderia ter tido tudo. Tudo mesmo. E não tenho nada. Poder, no final das contas não vale para nada!

Achei que talvez, só talvez, quando os meus pecados fossem perdoados, quando eu tivesse me explicado de verdade, eu poderia ter mudado o destino.

Só que algo tinha me esgotado.

O Tempo.

Como eu disse anteriormente, nossos batimentos cardíacos estão contados, e os meus mais ainda.

Nem com quarenta anos e já estou contando os dias. Os dias para a minha morte.

E tinha tanto o que eu queria ter feito para ajustar os meus erros!

Sinto muito. É incurável.

Quanto tempo, Ducky?

Receio que não tanto assim, minha querida.

Preciso de um prazo.

No máximo seis meses.

E como vai ser?

Ducky não me respondeu, respirou fundo, me olhou nos olhos, e ali eu soube.

Doloroso. Triste. Lento. Se eu desse sorte, talvez eu não sentiria nada, pois meu cérebro pararia antes do meu corpo.

Como que me dando um aviso do que estaria por vir, minha mão tremeu e o copo que eu segurava escorregou, lentamente fez seu caminho até que se espatifou no chão em milhares de pequenos pedaços de cristal.

Dentro de mim os sentimentos borbulhavam. Ódio, fúria, rancor, pesar, medo, desespero e arrependimento.

Eu me arrependia de tanto. E temia o futuro.

Em um rompante desespero, me sentei em minha mesa. Tentaria remediar o maior erro da minha vida.

Peguei um pedaço de papel e minha caneta. Minhas mãos ainda tremiam, porém consegui escrever no topo da folha:

Querido Jethro.

E parei.

O que eu escreveria? O que eu falaria? Como poderia pedir perdão quando eu já havia tentado e ele dissera não?

Me pus a pensar no que todos pensariam quando eu tivesse que abrir mão da minha posição. Quando eu saísse pela última vez do prédio e nunca mais voltasse. Quando a minha aposentadoria precoce fosse publicada no Diário da Marinha.

Será que se importariam?

E quando eu me fosse de vez?

Será que alguém notaria? Sentiria minha falta? Ficaria de luto? Se juntaria com outros para celebrar a minha vida e os momentos bons?

Não saberia dizer.

Em minha agonia, sabendo que morreria sozinha e sem ninguém para pensar em mim ou estar ao meu lado nos meus momentos finais, comecei a rabiscar na folha, quando vi, tinha escrito um poema de Mary Elizabeth Frye que eu, por muito tempo, até tive como um de meus favoritos.

Peguei a folha, dobrei ao meio e a pus de lado, decidida a não deixar que o meu fim fosse assim. Se eu ia morrer, eu iria do meu jeito.

Destino.

As moiras do destino definitivamente escreveram um final e tanto para mim.

Menos de dois meses depois do meu diagnóstico macabro, um de meus melhores amigos sofreu um infarto fulminante. Tão inesperado quanto a minha doença.

Will Decker estava morto. E eu o seguiria logo depois.

Voei para Los Angeles, um de meus últimos atos como Diretora. Em duas semanas eu estaria fora.

Prestei minhas homenagens ao meu amigo, ao único que sabia o segredo que eu carregava. O último entre tantos.

A missão de 1999 fracassara por minha culpa e nenhum dos meus superiores sabiam disso. Muito menos Jethro.

O serviço tinha terminado. Bastava assinar o livro de presença e dar as minhas condolências à namorada de Will quando eu ouvi:

Oshimaida.

Foi o que bastou. Decker estava morto, não por ironia do destino, mas porque foi assassinado.

Eu era a próxima e Jethro viria logo em seguida.

Não se eu pudesse evitar.

Não disse que as Moiras sabem como tecer uma boa história?

E, como eu havia prometido, eu iria nos meus termos. Era hora de corrigir um erro.

Já dentro do restaurante, pude pensar na minha vida. Pude pensar nos meus erros e acertos. E ali, eu soube, eu deveria ter escrito aquela carta com mais detalhes, um mero pedido de desculpa era muito pouco. Agora era tarde.

O tic tac do meu relógio de pulso era alto dentro do local deserto.

Eles chegaram, me escondi. Escolhi o melhor lugar, onde me daria a oportunidade de alcançar o melhor resultado com menores danos.

A porta nem foi aberta e um já era.

Dois.

O terceiro me atingiu. No braço, nada que me matasse.

Dois vieram por trás. Atingi um, porém fui atingida também, quando vi onde era, sabia, eu não sairia com vida daquele lugar.

Atingi quem tinha me acertado. Ele caiu no chão. Eu também. Mike Franks apareceu, finalizou-o por mim. Quanto a mim, não havia nada o que se pudesse fazer.

E, por um último momento, eu queria poder dizer para a pessoa com que mais me importei:

Sinto Muito. Mas eu fiz o que tinha que fazer.

Fiz isso para tentar consertar o meu maior erro.

Foi por você Jethro.

Não teve luz no fim do túnel, não teve anjos cantando. Eu não era digna disso.

Foi só a escuridão e o fim.

Apenas isso.

—--------------------------------

Da mansão da família Shepard em Georgetown não sobrou muitas coisas. Um corpo carbonizado. Um erro corrigido. Um álbum de fotos datado de 1999 e uma carta.

O álbum está em meu porão, quando eu quiser vou vê-lo. Mas não por enquanto. Ainda não.

Quanto a carta. Eu devia temer qualquer palavra que ali estivesse escrita. Você era boa em expressar seus sentimentos no papel. Não sei como nunca teve um diário para despejar suas frustrações, raivas e amores em inúmeras páginas. Ou talvez você teve, e agora suas palavras e sentimentos viraram cinza.

Menos essas aqui.

Deixe para ler o que você me escreveu na sua frente, com a esperança de que, dependendo do que fosse, eu poderia te perdoar por ter feito isso, ou talvez, poderia despejar todas as palavras que não tive coragem de dizer quando vi o saco preto onde você estava.

Como você vai me surpreender pela última vez, Jen?

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

“Querido Jethro,

“Não chores diante do meu túmulo

Eu não estou lá

Eu não durmo

Eu sou os mil ventos que sopram

Eu sou o diamante que cintila na neve

Eu sou o sol nos grãos maduros

Eu sou a suave chuva de outono

E quando acordares no silêncio da manhã

Eu sou a prontidão inspiradora

Das aves tranquilas circulando em voo

Eu sou as estrelas que brilham suave na noite

Não chores diante do meu túmulo

Eu não estou lá

Eu não morri.”

Eu sinto muito, eu queria ter tido mais tempo, mas até isso me foi tirado.

Eu te amo.

Para sempre sua,

Jenny.”

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Sim, Jen. Eu vou atender o seu último pedido. Não vou ficar aqui, na frente da sua sepultura e chorar, não porque não posso ou não quero. Porque você merece outro tipo de homenagem. Além do mais, eu sei. Você não está aqui. Não. Você jamais ficaria enclausurada depois de liberta. Porque o corpo morre, o espírito não.

E, sei mais ainda.

Você é, agora, tudo isso que você disse e mais além.

Está eternizada como a primeira mulher diretora.

Está eternizada em cada ato que fez.

Está eternizada em minha memória.

E será para sempre a minha Jen.

Vida Longa à Rainha!


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Notas finais do capítulo

O Poema em seu idioma original:
Do not stand at my grave and weep
I am not there. I do not sleep.
I am a thousand winds that blow.
I am the diamond glints on snow.
I am the sunlight on ripened grain.
I am the gentle autumn rain.
When you awaken in the morning's hush
I am the swift uplifting rush
Of quiet birds in circled flight.
I am the soft stars that shine at night.
Do not stand at my grave and cry;
I am not there. I did not die.

A você que leu, meu muito obrigada.
E só queria dizer:
Descanse em Paz, Chadwick Boseman! Wakanda Forever!



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