Até Que A Morte Nos Separe escrita por Haru


Capítulo 1
Capítulo Único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/794570/chapter/1

1# - Till death do us apart.

 Arashi estava nervoso. Faltavam só cinco minutos para a sua entrada na igreja e ainda não tinha conseguido amarrar a gravata — e nem conseguiria, já que nunca aprendeu. Só Yue sabia desse seu problema mas, como mandava a tradição, as amigas da noiva deveriam cuidar da noiva. Gray não pôde vir, seu sogro estava trabalhando. Estava sozinho nessa.

 Porém, não estava desacompanhado naquele closet. Deitada no bercinho com rodinhas que ele mesmo construiu, estava a melhor companhia de todo o universo: a sua pequena filha, que não tinha muito mais que uma semana de idade. Um anjinho, o serzinho mais lindo que já tinha visto. Toda vez que ela sorria, ele chorava. 

 Vamos lá, Arashi, isso é fácil, disse consigo mesmo, disposto a tentar de novo. Errou outra vez, jogou a gravata em cima da estante e sentou na cama. Ouviu Saori se mexer no berço. Ela não parava de sorrir. 

 — Tá rindo de mim, não é? Tudo bem rir do seu pai, ele ganhou o maior tributo intelectual dos doze planetas mas não sabe amarrar uma gravata. Tá certo. — Encarou o teto, em silêncio, por alguns segundos. Tentava imaginar-se subindo o altar de terno mas sem gravata. — Acha que vou ter problemas se entrar sem isso? Ah, vou sim, sua mãe é meio neurótica... ela vai usar isso contra mim algum dia pra me acusar de desleixo. Eu posso dizer que perdi.

 Saori começou a mexer as mãozinhas, quase parecia que ela entendia o que ouvia dele e que estava tentando se comunicar com ele, lhe aconselhar. O guerreiro glacial sorriu. Se por um lado estava se casando sem nenhum amigo por perto, sem seus pais, sem seus irmãos e o seu padrinho fosse o Sora, por outro casaria-se com o amor de sua vida, com a mulher que fez dele um pai, e não poderia estar mais feliz.

 Quando ia desistir da gravata, alguém bateu na porta. Ou era o Sora ou a Kin mandando alguém buscar a Saori, mas achar que o Raikyuu pararia de dar em cima das madrinhas para ir cumprir com as funções de padrinho exigia um montante de fé que Arashi não tinha.

Porque não queria entregar a bebê, ele perguntou:

— Quem é?

— O padrinho, mas não se acostuma. — Aquele momento entrou para os poucos da sua vida em que ficou realmente surpreso. 

— Pode entrar. — Deixou. 

Faltavam dois minutos para a cerimônia começar e Sora estava com mais cara de noivo que ele.

— Tem que colocar a gravata. — Disse, após olhá-lo de cima a baixo.

— Não vá me dizer que você também se importa com isso...

Sora andou até o espelho.

— Aí, eu não me importo com nada. — Disse, olhou o próprio reflexo, ajeitou o smoking. — Só com o meu rosto, e a Yue disse que vai acabar com ele se você entrar lá sem gravata, então mãos na massa. Chega mais. — Chamou o noivo com a mão. 

Arashi levantou o queixo e a gola da camisa para Sora pôr a gravata.

 — Isso é... meio desconfortável. — Confessou.

— É, não é nenhum parque de diversões pra mim também, então, nós vamos manter... só entre a gente... — Concordou Sora. Deu o último nó, esticou o terno dele e apalpou os seus ombros. — Prontinho. Escuta. Sei que não somos muito amigos, mas casamento é uma coisa que eu não desejo nem pro meu pior inimigo, então eu tenho aqui comigo uma passagem de primeira classe. Se quiser fugir, a hora é essa. — Balançou a tal passagem de avião.

— Planejou me oferecer uma chance de fugir?

— Carrego isso comigo em todos os casamentos que vou.

— Hum... — Sorriu. — Melhor padrinho da história. 

— Eu não ouvi um "não"...

— Vou dispensar, mas obrigado.

— Como quiser. — Guardou de novo.

 A bebê começou a chorar, Arashi deixou Sora se admirando no espelho e foi ver o que ela tinha. Disse o que sempre dizia quando queria acalmá-la, mas não funcionou, então a pegou nos braços e a sacudiu como via Kin fazer. Nada a fazia parar.

 Bateram na porta de novo.

— Atende aí. — Pediu ao Sora, que estava mais perto.

— Pode entrar.

Era Naomi. A morena estava usando um vestido azul claro com alças finas e um par de sapatos salto agulha da mesma cor. Seus cabelos, negros, sempre lisos feito linha, estavam amarrados como rabo de cavalo em uma pequena presilha que combinava perfeitamente com suas roupas. 

Sora ficou embasbacado. Nunca a tinha visto tão bonita.

— Foi mal, Arashi. A noiva tá pedindo a filha. 

— E você — Se deixasse de passar uma cantada ou de elogiar de alguma forma, ele não seria Sora Raikyuu. — Está tentando ficar mais gata do que a noiva...

 — Não, Kyoko já me contou da sua aventura com quatro das oito madrinhas, então fica longe de mim por pelo menos vinte e quatro horas...

Arashi deu um beijo na testa da neném.

— Pode levar. — Disse, confiando seu maior tesouro aos caridosos braços da francesa. 

Sora fitou o relógio.

— Tá na hora, noivo. — Apontou a porta com a cabeça, abriu-a para ele e a Naomi saírem e se foi logo atrás deles.

 Naomi entrou no closet de Kin com a filhinha dela nas mãos e avisou:

— O Arashi já entrou. 

— Obrigada, Naomi — Kin nunca esteve tão tensa, o curioso, porém, era que isso só fazia acentuar a beleza natural da qual ela nasceu provida. Kyoko começava a achar que era verdade o que diziam sobre ser impossível a noiva ficar feia no dia do casamento, que mesmo no caso das "maiores barangas", uma mágica acontecia e as tornava parecidas com princesas.

— Toma. — Deixou a criança nas mãos de Kin. — Vamos ver se isso te acalma. Vai fazer a maquiagem?

— Shh, calminha, meu amor... — Sua prioridade era fazer a Saori parar de chorar. — Não, detesto maquiagem. No máximo... um batonzinho.

— Qual cor? — Kyoko, Naomi, Yue e todas as madrinhas usavam vestidos iguais. Ela vasculhou todas as gavetas atrás do melhor batom para a noiva. Se não estava ali para realizar todos os pedidos dela, o convite não teria valido de nada, pior: teria falhado com a cerimônia.

— Vermelho. — Kin respondeu sem demora. Conseguiu, enfim, que a sua menina parasse de chorar. 

— Clássico. Nunca é uma escolha ruim... — Guardou os outros dentro da gaveta em que achou. — Sabe passar?

— Mais ou menos... — Tradução: não. 

Yue deixou uma risada escapar.

— Você e o Arashi são mais parecidos do que pensam... — Comentou. 

— Senta aqui. Vem com a titia Kyoko. — Afofou a cadeira para ela. 

Deixou Saori aos cuidados de Yue e foi.

Alguém tocou a porta — provavelmente era uma das madrinhas que estava com Sora hoje cedo, por isso Naomi pensou duas vezes antes de dizer "pode entrar".

— Quem é? — Indagou, antes.

— É a Hitomi. — Tinha razão. 

Para evitar uma discussão e não ter que passar o dia ouvindo insinuarem que estava com ciúmes, abriu a porta. 

— Achei que estava muito ocupada para vir ajudar aqui... — Se ninguém queria tocar no assunto, Yue quis. 

— F-Ficaram sabendo...? 

— Ele estava se gabando. — Disse Naomi. — Na próxima, escolhe alguém mais sutil. 

 — Foi mal, não deu pra resistir. — E olha que tentou, provavelmente foi a conquista mais difícil do dia. — Ele é tão lindo, tão charmoso... enfim. Estão precisando da minha ajuda? 

— É, eu esqueci meus brincos de cristal na cabana ao lado, traz pra mim? — Foi o pedido da noiva. 

— É pra já. — Foi imediatamente buscar.

No altar, Arashi empunhava no rosto um sorriso inegavelmente genuíno. A aura de alegria que se espalhou por entre os convidados deu um novo brilho ao local onde a cerimônia estava pra ser realizada, um que nem os mais caros enfeites seriam capazes de reproduzir. Respeitando a vontade da própria Kin, a união estava acontecendo à forte luz do meio dia, o calor não recebeu convite, portanto ninguém precisava se preocupar com sair suado ou com ventiladores.

Por fora, aquela bela igreja mais se assemelhava a um castelo, o noivo era um profundo conhecedor e admirador da fase clássica da arquitetura. Ela tinha paredes cinzas e arestas brancas, era adornada pelas obras de artes de alguns dos melhores e mais famosos artistas da história e seu topo, como já era esperável, guardava um grande sino dourado. Seu interior era mais espaçoso, tinha tantos bancos quanto convidados, o piso era branco, as paredes também mas os contornos eram marrons escuros. 

Todos aguardavam pacientemente a entrada da noiva, que viria radiante e derrotaria todas no quesito beleza. Agora que parou para pensar, Arashi viu que nunca esteve em um casamento antes. Era o noivo no primeiro que ia, a segunda pessoa mais importante — sim, a segunda, porque a primeira apareceu na porta ao lado do pai, que pelo visto havia acabado de chegar. 

Os convidados se puseram de pé. Arashi sentiu o coração acelerar, socar o seu peito com força. Kin estava maravilhosa, já ele... parecia um menininho sendo apresentado à babá gata. 

— Cuida bem delas. — Disse Azin, deixando-a no altar.

Ele não teve tempo para responder, mas nem se quisesse conseguiria, a mulher mais linda do planeta estava de pé na sua frente.   

— Oi. — Ela o cumprimentou com um incrível sorriso tímido nos lábios, o que fez ressurgir dentro do peito dele uma paixão muito maior do que a que ele já sentiu por outra mulher. 

— Oi. — Respondeu, tentando manter a compostura. Sentiu, de repente, que havia algo de errado ali, como se alguma coisa estivesse faltando. — Viu o padre Hideyoshi? — Perguntou, num investigativo tom de sussurro. 

 — Agora? Não... a última vez que vi ele foi por volta das nove da manhã. Por quê? 

— Eu tive um... — Interrompendo a fala dele no meio, o padre apareceu. — Deixa pra lá. Você está perfeita. 

— Você também. — Kin sussurrou de volta.

Uma espada, entrando pelas costas, se alojou no coração do padre, que caiu nos braços dos noivos e na presença dos convidados. A cena fez os espectadores recuarem assustados. 

O assassino se revelou a última pessoa que todos esperavam ver naquele dia: o famoso Santsuki.

— Esqueceram de me mandar o convite! — Disse o criminoso, fechando o paletó. — Mas eu vim assim mesmo, entrei de penetra. Espero que não se importem. 

As algemas supressoras ainda estão nas mãos dele, como o primeiro a se dar conta disso, Arashi foi também o primeiro a saltar sobre Santsuki, levá-lo ao chão e agarrar seu pescoço. 

— Yue, Naomi, levem todos para fora! — Ordenou Kin, ao que as duas só assentiram. Santsuki podia estar fraco mas não era estúpido, ele não movia uma peça sem pensar, até aonde sabia todo o mundo estava correndo perigo. 

— Merece palmas por perceber tão rápido que eu ainda não consegui me livrar dessas algemas malditas... 

Arashi esticou a mão e materializou uma espada de gelo.

— Você tem dois segundos pra me dar uma razão para não te matar. Um, dois-

— Arashi, espera! — O pai da noiva gritou.

O noivo adiou a execução, olhou para cima e perguntou:

— O quê? 

— Santsuki não é idiota, ele não viria aqui com essas algemas nas mãos se não estivesse tramando alguma coisa. — Argumentou.

Tem razão, forçado a concordar, saiu de cima dele e se afastou. 

— Acho que é verdade o que dizem sobre o amor. — O assassino sentou-se no chão e ajeitou o terno. — Que ele debilita o amante e fortalece o amado... normalmente você teria chegado a mesma conclusão que seu sogro antes de atacar, o que teria evitado esse showzinho desnecessário. Eu esperava isso da Kin, mas de você...

— Sem enrolações, Santsuki. — Azin se aproximou. — Diga o que quer e rápido, ou eu mesmo cortarei sua cabeça. 

— Seria uma cena horrorosa, sem falar no desrespeito com um ambiente sagrado.

— Você acabou de matar o padre! — Retrucou Kin.

— É, mas eu sou o diabo — Replicou. — Enfim. Dá uma mãozinha pro tio, garoto do gelo. Não? Tudo bem, eu levanto sozinho. — Apalpou as roupas para se livrar da poeira. — Muito bem, onde é que eu tava? Ah, lembrei, eu ia dizer a razão da minha vinda. Que bom que não me matou, senão nunca saberia da bomba. 

— Que bomba? — Arashi ficou ainda mais tenso.

Antes que pudessem responder, uma explosão aconteceu não muito longe dali. 

 — Essa bomba. — Confirmou, sorridente.

Os três, seguidos de Santsuki, correram para a porta da igreja a fim de medir os estragos da detonação. Felizmente, nenhum dos convidados se feriu.

Azin agarrou pela gola da camisa o responsável por aquele susto, atirou-o contra a porta e exigiu respostas:

— Como você fugiu da prisão?!

— Teletransporte cronometrado, longa história, não vem ao caso... o que eu presumo que venha, é a próxima leva de destruição. 

— Próxima... leva... — Arashi começou a procurar por Kyoko, que deveria estar por ali com sua filha nos braços.

— Ela nasceu há uma semana, não é, Kin? Qual nome deram a ela? Deixa eu adivinhar... foi Yume? Não, muito clichê. Deve ter sido... o nome da irmã do Arashi. Eu acertei? Acertei, não acertei? 

Ensandecida, como uma leoa ao ver os filhotes ameaçados, Kin foi para cima dele com tudo o que tinha, mas foi freada a tempo pelo atual líder da Terra de Áries. 

— Não ouse chegar perto da minha filha! Se puser um só dedo nela, você vai implorar pra te matarem depois do que eu fizer com você! Me ouviu? Você me ouviu?! — Rugia. A única coisa que a separava do facínora era Azin. 

— Kin, se acalme...!! Por favor!! — A fúria da loira era tão impressionante que até Azin estava tendo dificuldades para contê-la. 

— O que você fez? — Arashi sustentou uma aparência de calma, embora seu sangue borbulhasse de ódio.

— Ah, isso! Isso aí! Essa era a reação que eu tava esperando! Esse era o casal que eu queria ver! Parece até que eu voltei no tempo e estou diante da Yume e do Azin de novo! Agora eu digo o que fiz, com prazer! O meu presente de casamento pros dois! — Apontou para o pequeno casebre a quinhentos metros dali: ele explodiu em mil pedacinhos, liberando uma espessa nuvem de fumaça no ar. Segundos após, uma mensagem se estendeu sobre os céus:

"Felicidades"

Ao ouvir o choro de um bebê atrás da igreja, Kin e Arashi foram pra lá no mesmo segundo e tudo o que encontraram foram sua filha dentro do carrinho e a Kyoko desmaiada logo ao lado. Estava tudo bem com ela. Com as duas. O miserável só queria pregar uma peça, pior do que isso, mostrar como eles dois ainda eram vulneráveis a ele — mesmo que sem seus poderes. 

"Não se esqueçam de mim", foi o que ele realmente quis dizer, "eu ainda sou o problema de vocês". Que mesmo tendo se casado e formado uma família eles ainda eram crianças contra ele, que talvez nada, nunca fosse mudar isso.

Precisavam fazer alguma coisa. Eles acordaram Kyoko, pegaram a bebê e voltaram para lá com a intenção de matá-lo, mas o desgraçado já tinha fugido. Fez toda a Terra de boba mais uma vez. É, precisavam agir, e rápido. De todos ali, Kin era a que menos queria repetir os erros de Yume.

Continua. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Até Que A Morte Nos Separe" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.