Dark End Of The Street escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 25
Corda-Bamba




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Com as mãos no bolso, Barry andou de um lado a outro pela calçada à frente do prédio de Caitlin. Apesar de ter passado a tarde toda no Tribunal com Cecile, sua cabeça estava naquela possível nova descoberta e na forma como isso o apertava por dentro. Se havia alguma pequena chance de Bart ser seu, em sua própria realidade, não queria ser o responsável por miná-la.

No fim das contas, era uma escolha a se fazer e o fato de não poder falar com ninguém o martirizava por dentro. Apesar de não se sentir cansado fisicamente, sentia-se mentalmente exausto por tudo o que vinha lhe acontecendo e não somente por não conseguir dormir direito. Todos os dias pareciam uma corda-bamba, onde vinha tentando se equilibrar a tempo demais e, por isso, se sentia prestes a cair.

— Barry.

A voz de Caitlin o despertou e levantou a cabeça para vê-la se aproximar rapidamente em seus saltos muito altos, cabelos castanhos ondulados e um vestido completamente branco de seda, que moldava todo o seu corpo até o meio das panturrilhas. Ela carregava uma pasta num dos ombros, algumas chaves e o celular na mão e abriu um sorriso assim que o analisou de cima abaixo.

— Uau, você está lindo. – A doutora se aproximou o suficiente para segurar os dois lados de seu terno aberto e abotoá-lo tranquilamente, parecendo impressionada. – Não sabia que viria assim.

— Tive que ir ao Tribunal hoje. – Segurou os pulsos dela e a puxou para mais perto, rodeando sua cintura antes que se afastasse demais e encaixando uma das mãos no pescoço quente de Cait, que apenas acompanhava os movimentos, agora brincando com a lapela de seu terno escuro. –Você é sempre linda.

Os olhos dela ganharam um brilho bonito sob a luz do poste acima deles e Caitlin se esticou um pouco para colar os lábios nos dele, inicialmente de forma calma em um cumprimento. A superficialidade, no entanto, não parecia mais ser suficiente, por isso os braços dela foram ao seu pescoço, se apoiando de vez contra ele, apenas aproveitando o ritmo lento agora conhecido.

Beijá-la se tornava mais e mais natural à medida que o fazia. Seu corpo já sabia como recebê-la e como reagir a cada movimento da língua macia contra a sua, instintivamente, como se fizessem isso há muito tempo, embora só fizesse uma semana e houvesse ido a Princeton apenas duas vezes depois disso. Gostava também de senti-la em suas mãos, o corpo claramente distensionado confortável junto ao seu e a pele macia de sua nuca sob os cabelos brilhantes, fascinantes desde o início.

— Estamos nos acostumando a isso tão fácil. – Ela comentou quando se afastaram apenas para respirar, ambos se recusando a se distanciarem realmente. Barry apenas concordou com um murmúrio, depositando um beijo simples no canto dos lábios corados. – Sobre o que queria falar?

— Hum?

Caitlin sorriu e se afastou um pouco mais dessa vez, para encará-lo de verdade, analisando seu rosto detidamente, como era de costume.

— Você disse que precisávamos conversar, na mensagem. Parecia algo sério.

Barry percorreu todo o conjunto quase perfeito das feições dela, desde a pele bem cuidada e os cílios espessos pela maquiagem até os lábios, usando o dedo que estava próximo para acariciá-los lentamente, memorizando a textura naquele toque. Tinha que contar a ela e, enquanto a esperava, ensaiara várias formas de fazê-lo, mas agora que Cait estava ali, ao alcance de sua mão e de seus lábios, tão perto que o perfume certamente ficaria em suas roupas, já que sequer precisava de esforço para recordá-lo, não tinha qualquer vontade de dizer algo que poderia chateá-la.  

Era como havia dito ao Dr. Halford: tinha tanto medo de perdê-la, que apenas a ideia de afastá-la por algo que fizera o deixava desnorteado. Assim, respirou fundo e arranjou os cabelos dela ao redor do rosto e desviou o olhar para um ponto qualquer que fosse menos intimidante que os olhos o fitando com atenção.

— Isso pode esperar. – Alcançou a pasta nos ombros dela, a tirando sem dificuldade dali para ajeitá-la ao redor do seu próprio ombro. – Quer ir jantar?

— Ah, desculpe, eu já jantei. Alguém teve a ideia de colocar salgadinhos na reunião mensal dos professores. – Ela deu ombros com uma careta. – Mas posso te acompanhar na sobremesa. Quer pedir no hotel? Eu tenho um restaurante à minha disposição 24 horas por dia, sabia?

— Tem certeza?

— É claro. – Caitlin juntou seus dedos e começou a puxá-lo em direção à entrada do hotel de esquina, andando de costas para fitá-la. – Eles fazem uma torta de chocolate com nozes, não consigo nem começar a descrever.

Barry riu, a observando contar sobre o cardápio do restaurante do hotel. A doutora parecia mais relaxada com aquelas semanas em Princeton. Os olhos dela brilhavam mais e seus ombros pareciam menos tensos do que antes, o que o fez se sentir um pouco culpado ao se lembrar de Carla. Não queria ser um empecilho, se Caitlin sentisse que poderia ser mais feliz ali, sem o seu trabalho com o time.

— Você não vai me deixar escolher outra coisa, não é?

Questionou ao entrarem no elegante e espaçoso hall do hotel, onde ela cumprimentou com familiaridade os recepcionistas, agora caminhando ao seu lado normalmente até chegarem a um dos elevadores. Seus dedos ainda estavam meio entrelaçados, um pouco desajeitadamente, mas firmemente juntos e Caitlin o olhou, como se fosse absurdo.

— É claro que não.

— Eu sabia que tinha escolhido ficar em um hotel por causa do restaurante.

— Mas eu sei que não escolheria outra coisa.

Ela deu de ombros tranquilamente e Barry apenas riu brevemente, quase concordando. Era muito possível que não escolhesse mesmo outra coisa, afinal ela o conhecia bem o suficiente para saber. Enquanto seguiam para o andar da suíte dela, acompanhados de outras três pessoas, Caitlin lhe contou sobre seu dia na Universidade, desde a reunião com outros professores até os trabalhos que estava orientando.

— O projeto daquela garota do outro dia tinha potencial? – Ela estreitou os olhos, a cabeça encostada à parede do elevador, sem entender. – Felicity Smoak da bioengenharia? A do encontro?

— Oh, Carrie! Ela é promissora, sim, na verdade. – Caitlin se lembrou, sorrindo. – Ei, você não acha isso... Estranho?

— O quê? – A viu mordiscar os lábios e ajeitar o cabelo.

— Lembra no laboratório quando tínhamos um problema e, imediatamente, procurávamos o Dr. Wells? Ou Harry? – Barry acenou em concordância. – Princeton é exatamente assim, exceto que... Sou Wells agora. Não é estranho?

— Você sempre pareceu uma professora para mim.

— Cala a boca!

Caitlin lhe deu um tapa na altura do estômago, falsamente zangada, enquanto Barry ria e a luz no painel acendia, indicando o andar onde estava hospedada levando-os a ganhar o corredor largo e bem iluminado.

— Eu falo sério! – Caitlin alcançou um botão lateral da bolsa que ele ainda carregava nos ombros para encontrar o cartão magnético da porta. – Você é como... Aquela professora bonita do colégio, cuja aula nenhum garoto falta só pra te ver. E também é legal, o que só os deixa mais fascinados ainda, imaginando porque a garota que eles gostam não pode ser incrível como você.

Não notara que Caitlin havia estacado seus movimentos, prestando atenção enquanto comentava sem qualquer filtro. Ela, finalmente, agarrou o cartão na bolsa e lhe abriu um sorriso pequeno, parecendo repentinamente sem graça a julgar pelo tom levemente rosado, que atingiu suas bochechas.

— Porquê você tem que ser tão gentil? – A doutora se esticou levemente para beijá-lo, como em um agradecimento.

— Parece que não pode deixar esse aí escapar, Srta. Snow. – Alguém disse atrás deles e Barry se virou para encarar um senhor idoso sair de um dos apartamentos e se aproximar com a ajuda de um andador, risonho e claramente familiarizado com a doutora, que lhe sorria de volta. – Estamos cada vez mais raros.

— Como vai, Sr. Winston?

— Mais que bem, querida. – Ele vestia uma boina avermelhada e um colete marrom sobre a camisa branca bem passada abotoada até os pulsos e, com seus olhos azuis e brilhantes, o examinou de cima abaixo. – E você é...?

— Er... – Caitlin lhe levantou as sobrancelhas e deu espaço para que estendesse a mão para o mais velho. – Barry Allen.

— Barry Allen, é bom que trate essa senhorita muito bem. – O Sr. Winston o avisou, agora mais seriamente, embora não o suficiente para que precisasse segurar. – Tenho anos o suficiente para lhe dizer... Não há ninguém como Caitlin.

Barry olhou do senhor para Caitlin ao seu lado, apertando os lábios para não rir, claramente interessada sobre onde aquela dinâmica com seu vizinho de porta os levaria.

— Eu não poderia concordar mais, Sr. Winston.

Nem precisou se esforçar para concordar, pois sabia que o outro estava completamente certo, mas ainda queria impor alguma autoridade devido à idade.

— Bom, bom, Sr. Allen. Tenho que ir ou vou me atrasar para a noite de bingo do hotel. – Então, ele os dispensou com um gesto de mão. – Suas roupas são boas também.

Barry encarou o próprio conjunto de terno e gravata por um instante, considerando que aquele talvez fosse o único tipo de roupa que ele considerava boa o suficiente para um homem... Ou um homem que estivesse saindo com Caitlin. Contudo, apesar de ela ser sua amiga, não sabia o suficiente para conhecer esse tipo de gosto. Não sabia como ela e Ronnie eram como um casal ou muita coisa sobre ele, antes da explosão do acelerador.

— Boa sorte com o jogo.

Ainda risonha, ela fechou a porta atrás deles após o Sr. Winston começar a, lentamente, caminhar em direção ao elevador.

— O que foi isso?

Barry colocou a bolsa dela sobre uma poltrona próxima à porta e Caitlin seguiu para o cômodo do quarto espaçoso.

— O Sr. Winston mora aqui há quase 10 anos, nós nos conhecemos na minha primeira semana. – Ela voltou do quarto sem os saltos, mais baixa em alguns centímetros. – Ele trabalhava em um estúdio de Hollywood na Era de Ouro, conheceu todos esses atores e atrizes famosos que você é fissurado. Ficaria louco com as histórias dele.

— Ele acabou... De tentar me intimidar. – Barry constatou, como se Caitlin não houvesse estado logo ao seu lado o tempo todo.

— Foi interessante. – Ela tirou os brincos, guardando-os dento de uma caixa delicada sobre a cômoda mais próxima à cama. – Como é a experiência de se ver acuado por um senhor de 90 anos, que não é um metahumano?

— Você está adorando. – A observou dar de ombros, ainda rindo.

— Olhe pelo lado bom: ele é, provavelmente, a única pessoa de quem vai ouvir coisas do tipo.

— Oh, sua mãe me intimida bastante sem precisar dizer isso. – Comentou, guardando as mãos nos bolsos enquanto a via pegar a bolsa, tirar alguns objetos de lá e perambular pelo quarto, organizando suas coisas. – E Cisco... Quando ele souber sobre nós, irá me levar a uma armadilha. Você sabe, “hoje vamos ter uma noite de homens” e passará a noite toda me ameaçando.

— Talvez. Ele é um pouco possessivo. – Caitlin disse após pensar por um momento, meneando a cabeça. – Okay, o telefone está ao lado da cama e o cardápio fica dentro do móvel de cabeceira. Eu, realmente, preciso de um banho. Odeio verão.

Com um beijo rápido, Caitlin sumiu pela porta de onde deveria ser um conjugado de closet e banheiro. Suspirando profundamente, Barry tirou o terno e afrouxou a gravata antes de se sentar na cama e começar a analisar o cardápio, algo que sempre fazia com seriedade. Gostava e precisava comer em grandes quantidades, mas detestava quando a comida não valia a pena.

No entanto, como sabia que não poderia viver de fast-food decidiu pedir um jantar de verdade e a sobremesa que ela “sugerira”. Enquanto esperava, ouvindo a água cair no banheiro, acomodou-se na cama de Caitlin, aproveitando o conforto dos lençóis limpos e do cheiro dela para tentar deixar a tensão de lado por um momento.

Com um suspiro profundo, escondeu os olhos com o braço, consciente da exaustão que o tomava há tanto tempo, afinal fora um dos motivos para deixar que Cisco e Carla lidassem com aquilo tudo – ao menos em algum nível. Contudo, ainda que ela não soubesse de nada, se via pressionado por sua própria intenção ao ir até ali, por todas aquelas semanas em que guardou tudo para si, pelo medo de perdê-la e querer prolongar, ao menos um pouco, aqueles momentos com ela.

Tanto pelo dia corrido, quanto pelas noites de sono mal dormidas, Barry sentiu a cabeça pesar e nem tentou lutar contra, apenas se deixou levar pelo sono, que parecia mais atraente que a comida, que deveria chegar a qualquer instante. Pelo que pareceu ser minutos depois, acordou com o ruído muito baixo dos dedos rápidos de Caitlin correndo pelo teclado de um notebook.

Apenas as luzes próximas à mesa redonda de vidro em que se acomodara estavam ligadas, deixando Barry mais confortável na meia escuridão do quarto. Usando um conjunto de calça e blusa preta de um tecido fino, a doutora tinha os cabelos presos em um coque alto e usava óculos enquanto digitava freneticamente, a face séria e aparentemente muito concentrada.

— Não sabia que usava óculos.

Murmurou assustando-a brevemente por um instante. Se remexeu na cama, limitadamente devido à camisa ainda perfeitamente abotoada, e decidiu se sentar por fim. Percebeu que usava apenas meias nos pés e seus sapatos estavam postos, de maneira organizada, aos pés da cama.

— Há quanto tempo está acordado?

— Acabei de acordar. – Ela fechou o notebook e se aproximou. – Que horas são?

— Já passa de Meia-Noite. – Caitlin se sentou ao seu lado. – Você dormiu tão fácil que achei melhor te deixar aproveitar. Mas o jantar está completamente frio, então... Se quiser pedir para esquentarem...

— Não, eu me viro com isso. – Desabotoou as mangas da camisa, dobrando-as. – Ainda podemos dividir aquela torta, sem ser sobremesa.

— Deus, estava esperando que pedisse! – Ela se levantou e, animadamente, buscou a torta inteira que, na verdade, era do tamanho de um palmo no frigobar, assim como dois garfos. – Então, minha mãe e Cisco lhe deram um diagnóstico...?

Caitlin se acomodou do outro lado da cama e Barry fez o mesmo contra a cabeceira, ombro a ombro, quase que apoiados um no outro.

— Nada do que já não esperávamos. A Força de Aceleração é como um gatilho para o que está acontecendo comigo, mas eles não sabem ainda como cortar essa ligação. Ou mesmo se ela acontece em decorrência de algo que fiz no passado ou por algum outro motivo.

Balançando a cabeça levemente sinalizando sua concentração, a doutora o ouviu com atenção contar tudo, parando apenas ao cortar um pedaço para si próprio. A torta era realmente maravilhosa, como ela havia prometido.

— Não sabia que a Força de Aceleração podia agir de forma tão deliberada. – Ela gesticulou com as mãos em seu jeito característico. – Sempre parti do pressuposto que agia mais no sistema de causa-consequência do que qualquer outra coisa.

— Sim, é como se... – Meneou a cabeça contrariado, voltando a comer para se interromper, mas Caitlin se voltou a ele, com seus típicos olhos estreitos.

— Como o quê?

— Como se a Força de Aceleração tivesse um propósito com isso, eu não sei... – Dessa vez ela se manteve em silêncio, também comendo, mas parecendo pensativa a julgar pelas feições sérias. Levantou uma das mãos para ajeitar os fios, que caíam do coque, ao lado do rosto. – Eles vão trabalhar em uma solução. Sua mãe e Cisco.

— Eu sei, mas... Sinto que estamos deixando algo passar. – A observou ajeitar a postura e respirar fundo, como que espantando algum pensamento enquanto distraidamente mexia na torta com o garfo. Barry sentiu aquele aperto de culpa revirando-se em seu estômago, mas decidiu prolongar o silêncio até que ela o cortasse. – Enfim, como estão as coisas com a Dra. Tannhauser?

Barry soltou um gemido arrastado e contrariado, sem se culpar que se tratasse da mãe dela, pois Caitlin a conhecia muito bem, e se lembrando da conversa que tivera com Carla mais cedo.

— Ela ainda me detesta. – Ouviu o riso rápido meio debochado, quase em concordância. – Mas é um gênio, então... Está em sintonia com Cisco. De qualquer forma, prometi a Iris que tentaria conseguir alguns minutos para uma entrevista, mas não acho que tenho qualquer crédito para isso.  

— Minha mãe não concede uma palavra à imprensa há anos. – A mulher franziu o cenho por um instante, tentando se lembrar. – Se Iris conseguir será um feito e tanto.

— Não pode falar com ela?

— Está brincando, não é? – Caitlin riu como se houvesse contado uma piada, até que Barry deu de ombros, silenciosamente considerando que a relação entre mãe e filha era uma corda muito bamba. Olhando de fora, era como se se importassem muito uma com a outra, mas não a ponto de se darem de verdade e manterem uma convivência saudável. Haviam ficado tanto tempo separadas que era como se fossem incapazes de estar na mesma sintonia e, além de tudo, a personalidade de ambas não ajudava muito. – E você e Iris?

— Er... Ainda é tudo muito... – Fez uma careta. – Delicado. Mas acho que há alguma esperança de que não vamos continuar estranhos para sempre. Nada será como antes, é óbvio, mas...  

— Quer ficar à vontade com ela novamente. E quer que ela também fique com você. – Caitlin constatou sem esforço e Barry não resistiu em concordar muito rapidamente. As palavras estavam praticamente em sua boca.

— Sim, bem... – Respirou fundo, procurando a forma correta de dizer por um momento. – É um pouco dolorido alguém que faz parte da sua vida praticamente desde sempre de repente se afastar assim. Sei que ela está magoada e, no fim das contas, a culpa é toda minha, mas... É estranho não poder agir como sempre agi com ela. Entende?

Caitlin lhe deu um meio sorriso, confirmando, e eles voltaram a comer em silêncio, ambos ocupados com seus próprios pensamentos. Não queria deixá-la desconfortável, especialmente porque Iris e o divórcio sequer eram uma questão em sua cabeça. Àquela altura, havia tanto mais em jogo, a admirava tão infinitamente e era tão grato por ela conhecê-lo o suficiente a ponto de deduzir certas coisas sobre ele, sem qualquer palavra a mais.

— Barry, você não acha um pouco... – Se virou vendo-a morder os lábios, como sempre fazia quando estava nervosa ou incomodada. – Cedo para nós?

Percebeu que a encarou por tempo demais sem dizer qualquer coisa, pois não estava esperando isso vindo, quando Caitlin suspirou, parecendo um pouco arrependida de ter iniciado a questão como um todo e colocando o prato de torta cuidadosamente sobre o travesseiro em seu colo. Sua mante havia estacado. Em questão de tempo, realmente não fazia muito que se separara de Iris oficialmente, mas isso não queria dizer que estavam errados, de alguma forma.  

— Sinceramente? – Caitlin acenara em concordância. – Talvez, mas não pelos motivos que, certamente, está pensando.

— Você... Entende que, por mais de cinco anos, estivemos lutando por sua história com Iris, não é? – Ela estreitou os olhos para ele, finalmente colocando a torta de lado, sobre o móvel de cabeça e se voltando completamente a Barry. Era exatamente a cara dela discutir qualquer assunto, sob todas as vertentes, do modo mais honesto possível e, se estavam mudando o status de sua relação, com eles não seria diferente. – É como se... Vocês dois fossem maiores do que qualquer coisa nessa bagunça de linhas alternativas e então...

— Divórcio? – Sugeriu.

— Exatamente! – Ganhou um olhar um pouco indignado, provavelmente por estar agindo de forma quase indiferentemente à toda a bagagem de uma história que havia sido, sim, realmente intensa em vários sentidos. Ela brincou com os dedos por um instante, decidindo apenas continuar. – Eu apenas... Não quero sentir que estou substituindo Iris em sua vida.

Para Barry, tudo vinha sendo muito diferente do que ela imaginava. Se via inteiramente concentrado na doutora, quando Caitlin estava ao seu lado ou não, e gostava que pudesse se sentir à vontade com ela, que fossem capazes de conversar sobre praticamente qualquer coisa sem desconfortos e silêncios obscuros. A fitou, tão insegura quanto alguém como ela poderia ficar, o mais sincera possível sobre tudo ao seu redor e suspirou, levando uma das mãos ao rosto delicado.

— Cait, você não poderia estar mais longe da realidade.

Viu no olhar dela a falta de entendimento, mas cobriu seus lábios antes que pudesse entrar em muitos detalhes. Seus dedos se infiltraram nos cabelos por aquele caminho macio do pescoço até a nuca e Caitlin suspirou contra sua boca, parecendo relaxar e, consequentemente, causar o mesmo efeito nele.

— Você vai ter que me explicar isso depois. – Ela murmurou contra sua boca, fazendo-o sorrir enquanto concordava.

— Okay.

Adorava beijá-la, assim como se afastar apenas para ver os lábios cheios e perfeitos, completamente inchados por sua própria boca. E Caitlin beijava tão bem, tão em sincronia com seu próprio beijo que, logo, se via completamente distraído de qualquer coisa ao redor.

Encaminhou os beijos pelo pescoço conhecidamente perfumado, ganhando o espaço e o suspiro meio sem fôlego como incentivo. As mãos dela brincavam inquietas com os botões superiores de sua camisa, abrindo-os lentamente, um por um, enquanto cuidava para não marcar – muito – a pele macia na combinação de seus dentes com sua língua.

— Sabe... Tenho uma opinião diferente sobre sua barba. – A sentiu engolir em seco ao comentar, apertando os fios de seu cabelo entre os dedos. Barry estacou para encará-la e Caitlin mordeu os lábios, percorrendo seu rosto com os olhos por um instante, tão perto que podia sentir a vibração de sua voz em um tom tão baixo, quase murmurado. – Acho que agora gosto muito de você com ela.

Sorriu, examinando rapidamente o modo como a pele muito clara da região do pescoço e da clavícula estavam meio avermelhadas pelo roçar de sua barba.

— Espero que goste disso amanhã. – Ela arregalou um pouco os olhos brilhantes e levou uma das mãos ao local, mas Barry concentrou-se do lado direito, onde ainda não havia explorado, fazendo com que ela se encolhesse um pouco pelo contato. Logo, contudo, Caitlin se voltou sua atenção em tirar sua camisa, puxando-a de dentro da calça para, enfim, escorregá-la por seus ombros. Assim que se viu livre do tecido, a puxou para seu colo em busca de mais contato, uma perna de cada lado de sua cintura, o corpo tentadoramente junto ao seu. – Você fica sexy com esses óculos.

Observou um sorriso crescer lentamente nos lábios com gosto de chocolate e Caitlin se afastou só um pouquinho para que a ajudasse a tirar a blusa preta pelos braços, ficando apenas com um sutiã da mesma cor em uma renda de aparência caríssima.

— Como uma professora?

Barry riu novamente, pois aparentemente a referência da professora não seria esquecida tão fácil. Seus dedos percorreram pesadamente toda a extensão de pele da cintura nua e quente até as costas enquanto ela apenas se apoiava em seus ombros, a boca tão junto da sua que se tocavam tentadoramente quando falavam, as respirações se misturando em intimidade.

— Não, como Caitlin.

A língua dela encontrara a sua, macia e mais lasciva do que nunca, rapidamente deixando-os ofegante em busca de mais. Se deitou contra os travesseiros na cabeceira, levando-a consigo em um gemido de ambos. Em momento algum imaginara que a química entre eles seria daquela maneira. Se entendiam sem precisar de palavras nessa liberdade de ser como eram, em todos os sentidos.

Tendo a mão já encaixada na nuca dela, não hesitou em arruinar completamente o coque alto que ainda mantinha, fazendo com que os cabelos de um castanho claro caíssem macios e lisos ao redor deles. Caitlin arrastou as unhas por seu peito, quase distraidamente, e em seus dedos podia sentir os poros arrepiando-se gradativamente a cada centímetro a mais de pele sondado e descoberto.

Então, quando suas mãos lenta e torturantemente adentraram a calça negra de seda, ultrapassando o quadril bem desenhado até chegar a bunda para pressioná-la contra si, no exato momento em que Caitlin gemeu indecentemente contra seu ouvido, notou:

— Está sem calcinha? - Ela voltou a olhá-lo, exasperada por ter, simplesmente, parado para perguntar. 

— Nunca uso calcinha pra dormir.

Examinou a resposta direta nas expressões honestas e repletas de obviedade da mulher, sorrindo entre surpreso e maravilhado. Apesar de gostar do conforto de conhecê-la e confiar nela há muito, começava a apreciar também cada pequena coisa que descobria. Caitlin era surpreendente quando menos se esperava e Barry nunca estava preparado.

— Você não pode ser de verdade.


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