Would You Be So Kind escrita por isa


Capítulo 1
Can your heart rate rise a little?


Notas iniciais do capítulo

Bom, é madrugada e eu acabei de ver Avatar a Lenda de Korra o que me deixou num estado de completa euforia. É a primeira vez que escrevo uma fanfic a respeito e essa one se passa no mesmo dia narrado no episódio 8, Remembrances, da quarta temporada. Uma parte do diálogo é literalmente uma transcrição do diálogo do episódio. Além disso, há spoilers de tudo que se passou antes desse instante da narrativa.

Eu também usei como inspiração essa musiquinha aqui: https://open.spotify.com/track/3ZiuxcBeRanTjfHzVBuuQe?si=IWDxkjDmRdW4UI01kCn_-A

É isso :) boa leitura!



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Asami colocou os óculos de proteção e pulou para o banco do motorista de seu novo dirigível, concentrando-se nos pequenos gestos mundanos e geralmente automáticos como ligar a chave na ignição, manusear os pedais e trocar de marcha. Nenhuma dessas coisas exigia concentração de verdade, mas era a sua única alternativa no momento.

Se Sato não se atentasse o suficiente no que estava fazendo naquele instante, seus pensamentos quicariam de volta para aquele campo gravitacional cada vez maior e mais intenso que ela apelidara de conjecturas levemente obsessivas sobre Korra, uma categoria mental que havia nascido de maneira inocente há três anos a partir da sua preocupação genuína com a amiga, na época em que ela havia sido envenenada por Zaheer.

Como a aflição inicial ganhou tanta proporção a ponto de a única herdeira das Indústria do Futuro passar boa parte do tempo livre se dedicando a isso agora era um dos muitos mistérios do universo para Asami, mas ela tinha a impressão de que a distância física entre elas tinha influído muito nessa questão.

Não era justo que quando elas finalmente tinham se tornado próximas, depois de toda aquele drama sobre dividirem o mesmo ex namorado, um drama muito maior – envolvendo ameaças ao mundo inteiro e não apenas ao ego das duas envolvidas – tivesse se interposto no caminho, mas esses provavelmente eram os ossos do ofício de estar apaixonada por uma reencarnação da Avatar, ela considerou, suspirando resignada.   

Por que era isso, e agora ela podia dizer com segurança – estava apaixonada por Korra. Havia negado e fugido por dois longos anos de qualquer fio de pensamento que levasse a essa conclusão, no entanto aquela única carta que havia recebido dela e os muitos sentimentos que haviam acendido e pululado dentro de si quando a leu tinham sido dicas o suficiente, mas vê-la fisicamente depois de três anos varreu para longe qualquer vestígio de dúvida.

E tudo bem que as coisas não tinham corrido da maneira mais amena possível naquele primeiro encontro e que nada nas circunstâncias sociais ou pessoais pareciam propicias a romance, mas as coisas eram o que eram e ela não poderia se sentir mais sozinha. Era irônico que Korra era a única pessoa com quem ela queria falar sobre o assunto e, ao mesmo tempo, parecia a pior opção possível.

Apesar disso, às vezes, como agora, enquanto ela estacionava o automóvel nas docas e rumava com o barco em direção a Baia Yue em direção à Ilha Templo do Ar, seu antigo lar temporário (graças a Korra) em outros tempos difíceis, seu peito doía de vontade de apenas dizer algo, sem nenhuma outra pretensão além do alívio físico da despressurização de seus próprios pulmões. Asami estava cansada de não conseguir respirar direito só de pensar na questão.

Quando ela desembarcou em terra firme, suas pernas bambearam um pouco. Não havia nenhuma razão específica para sua visita. Logo seria o pôr do sol e, àquela hora, ela sabia, Pema estaria na cozinha preparando um chá da tarde, aproveitando a ausência dos familiares, acompanhada apenas dos muitos gorgolejos e balbucios do bebê Rohan.

— Oh, olá, querida. Que prazer ver você! – ela a saudou, largando a chaleira como havia premeditado para lhe dar um abraço de boas-vindas.

— Olá, Pema. – Asami sorriu, abraçando-a de volta. Era difícil não sentir uma fisgada no coração com o tratamento maternal que Pema dedicava a ela e a todos os novos dobradores de ar. 

— Você chegou em boa hora. – anunciou, servindo duas xícaras. Preso no sling, Rohan abriu um sorriso banguela para Asami.

— Acredite, foi intencional. – ela admitiu, fazendo a mãe de Rohan rir com vontade. Por mais que adorasse estar com Pema, Asami não conseguiu evitar de complementar: – Korra está por aqui?

O riso se transformou num sorriso bondoso e silencioso. Pema pegou mais uma xícara e apontou pela janela aberta para o coreto de madeira à distância, onde a silhueta da garota sentada sobre a amurada se destacava. Asami se permitiu tirar um instante para apenas observá-la a distância. O corte de cabelo realmente tinha lhe caído bem. Ela parecia muito bonita e frágil, apesar do porte robusto e atlético de sempre.

— Você se importaria se eu levasse um pouco de chá para ela? – Asami murmurou, sem tirar os olhos de Korra, enquanto apontava para a xícara fumegante.

— De maneira alguma. – Pema disse, incentivando-a.

O gazebo onde Korra estava sentada ficava bem na encosta da enorme falésia e de lá se podia observar boa parte da baía, além do mar infinito. Era uma vista bonita, mas a expressão da avatar era dura e ela parecia distante.

— Ei. – Asami murmurou, capturando a atenção da garota. –  Trouxe chá para você. Pensei que você poderia estar com frio aqui fora. – mesmo há muitos metros acima do mar, ventava bastante e o cabelo castanho de Korra dançava em todas as direções, mas ela parecia confortável usando uma regata.

Korra pulou para o chão e abriu um semi sorriso de agradecimento para a amiga, aceitando a xícara.

— Você é tão doce... Obrigada. – ela disse, a expressão abatida tomando conta de seu rosto mais uma vez.

— Korra, você está bem? – era sobre isso que ela vinha querendo lhe perguntar há dias quando estivessem a sós, mas parecia um evento impossível. – Parece um pouco fora de ar.

— Não é nada. – e ao observar a sobrancelha arqueada de Asami, ela suspirou, voltando atrás. – Desculpe, eu apenas estava pensando no que a Toph me disse. – Asami esperou que ela se explicasse, já que não sabia quase nada sobre a peregrinação solitária dela no pântano que havia resultado em seu encontro com uma antiga heroína da guerra dos cem anos. – Ela disse que o mundo não precisa de mim e que é basicamente sem ponto tentar impedir Kuvira.

— Isso é ridículo. – Asami disse sem sequer piscar e algo dentro de Korra se enterneceu, mas não o suficiente para fazer com que ela tirasse a ideia da cabeça.

— Na hora eu também pensei isso. Achei que ela estava sendo apenas a velha rabugenta de sempre, mas começo a achar que ela tem razão.

— Não, ela não tem. O mundo precisa de você. – eu preciso de você, era outra frase igualmente verdadeira, mas ela achou melhor mantê-la para si. – Você é a Avatar.

— É, eu sei. – e foi um esforço não girar os olhos. Tudo que Korra havia desejado durante toda a sua vida era honrar aquele legado de ser uma espécie de super-heroína para o mundo, mas na prática era muito mais difícil do que nas histórias. – Acontece que não importa o que eu faça, o mundo sempre parece estar fora de equilíbrio. – e Korra fez questão de lembrar a Asami tudo o que havia acontecido desde que ela saíra de sua casa, na Tribo da Água do Sul para treinar com o Mestre Tenzin ali na Cidade da República, onde tudo acontecia.

Ela havia lidado com os Igualistas quando eles tentaram uma revolução terrorista contra as pessoas que dobravam elementos e depois travado uma luta com Vatu, a força cósmica do mal que seu tio havia encarnado. Como se isso não fosse o suficiente, Zaheer e sua estranha filosofia de ode ao caos tinha aparecido e agora que ele havia sido capturado e ela ainda estava ferida e machucada em tantos níveis que mal podia contabilizar havia Kuvira e sua tentativa ditadora de criar um Império, aproveitando-se da bagunça que tinha ficado o Reino da Terra depois que Zaheer tinha assassinado a Rainha.

Nada do que ela tinha feito parecia ter dado resultado e ela se sentia cansada. Mas Asami era uma oponente a altura e com a mesma dedicação que Korra tinha usado para a auto depreciação de todos os seus feitos, Asami lembrou que se não fosse por Korra, o movimento igualitário ainda estaria aterrorizando as pessoas e as eleições livres por um presidente não teriam acontecido. Além disso, se ela não tivesse lutado com Vatu e aberto os portais entre o mundo físico e o mundo espiritual, os novos dobradores de ar nunca teriam surgido.

Korra estava pronta para revidar e as duas teriam continuado nessa discussão por horas a fio se Tenzin não tivesse aparecido:

— Korra está certa. – ele disse em seu tom professoral e sério de sempre.

— Ela está? – Asami indagou, surpresa.

— Sim. Sempre haverá novos conflitos e inimigos a enfrentar. – anuiu. – Mas o mais importante é aprender com eles e se melhorar com o tempo. E isso aconteceu com você, Korra. – ele disse, dirigindo-se para sua tutelada. – Você mudou tanto desde que chegou aqui pela primeira vez... Você era cabeça quente e impulsiva, mas se tornou uma jovem consciente que coloca as necessidades dos outros à sua frente. A nova nação do ar é uma prova disso. Você sacrificou tudo para salvá-los. Você é uma inspiração para o mundo.

Com o tempo, parecia mais e mais difícil discutir com o seu mestre. Suspirando, Korra agradeceu a eles pelas palavras e depois de trocar algumas amenidades, Tenzin decidiu deixa-las as sós de novo.

— De 0 a 10, quão bebê chorão eu estava soando para que ele sentisse a necessidade de intervir daquele modo? – ela perguntou para Asami e ela sorriu, feliz em notar que o humor estava de volta em sua voz.

— Entre 7 e 8? – Asami provocou, tentando não pensar muito sobre como os últimos raios de sol faziam a pele escura de Korra brilhar em um tom bonito de canela.

Korra girou os olhos, tomando o chá, antes de lhe dar um empurrão com o ombro, de brincadeira.

— Obrigada por me aturar. – ela disse, ficando séria novamente.

— Você passou por muita coisa. – Asami respondeu, colocando uma mão solidária em seu ombro. Ela sabia que Korra odiaria piedade de forma muito explícita, então apenas concluiu: – Estou feliz com a sua volta. Te darei uma vantagem de mais alguns dias antes de começar a usar xingamentos como recurso nas nossas futuras discussões.

— Você não ousaria. – Korra abriu um sorriso torto, piscando. – É muito educada para isso.

— Há muitas coisas sobre mim que te deixariam surpresa. – Asami rebateu antes que pudesse evitar.

— Ah, é mesmo? Mais do que toda a remodelação urbana que você promoveu na cidade durante o tempo que passei fora? – brincou.

— Muito mais. – a engenheira sorriu, desviando os olhos.

— Então você não me dá opções. – a Avatar declarou. - Insisto para que fique para o jantar. Quem sabe até lá eu não arranco de você uma ou duas coisas secretas? – os olhos azuis de Korra brilharam por cima da xícara. Asami mal teve tempo de registrar o desconforto na boca do estomago, feliz que estava por vê-la implicante e brincalhona novamente.

No fim das contas, Asami ficou mesmo. Não só porque ela não tinha nenhum outro lugar para ir como também porque não havia nenhum outro onde preferia estar. Mesmo com a bagunça que era a convivência no Templo de Ar quando os filhos pequenos de Tenzin e Pema (em especial o prolixo Meelo) e os novos agregados dobradores de ar estavam presentes, a atmosfera era confortável e segura.

E porque Asami sabia que aquilo tinha prazo de validade, ela aproveitou cada segundo, sabendo que muito do seu bem-estar se devia ao fato de que Korra estava ao seu lado e que de vez em quando os braços se tocavam.

— Bom, isso foi... Divertido. – Sato sorriu, depois que todas as louças haviam sido retiradas (e os muitos participantes da ceia também) e ela e Korra estavam a sós, já que haviam se prontificado para cuidar da sujeira.

— Foi. – Korra concordou. – Eu não me lembro a última vez que me senti desse modo. Eu realmente agradeço, Asami.

— Eu estou aqui por você. Você sabe...

— Sei. É para isso que amigas servem, não é? – Asami fez um esforço para não expressar nada.

— Isso.

— Você sabe para o que mais elas servem? – Korra balançou as sobrancelhas como uma criança e Asami foi obrigada a rir e a entrar no jogo:

— Não, Korra, para o que mais?

— Festas de pijama.

— Eu estou certa de que você acabou de inventar esse conceito.

— Sim, mas é ótimo, não? Você passa a noite aqui e será como nos velhos tempos. Além do mais, eu não consegui descobrir nada da sua personalidade selvagem oculta ainda.

— A parte selvagem é por sua conta. – Asami disse, colocando as mãos nos bolsos, antes de morder o lábio, pensativa. – Mas acho que não faz mal passar a noite. Já está mesmo tarde... – ela disse, mirando a lua muito cheia na noite escura que fazia lá fora.

— Ótimo. – Korra a puxou pelo braço em direção aos dormitórios. – Há apenas um pequeno problema. – ela murmurou. – Com todos os novos dobradores de ar, não há quartos vazios disponíveis, o que te deixa presa comigo. – brincou. – Quem diria que o universo finalmente estaria sendo conivente com meus planos, hm?

— Mesmo se houvesse quartos você me diria isso, dá para ver no seu rosto o quanto você está zunindo de curiosidade, mas eu só estava implicando com você, Korra. Não há nada relevante para contar. – mentiu.

— Você está fazendo aquela cara que você faz quando joga Pai Sho. – Korra a analisou quando elas adentraram o seu cômodo pessoal.

— Que cara?

— Uma cara blasé de quem está escondendo a próxima jogada. – alegou, sentando-se sob o colchão com as pernas cruzadas.

— Não sei do que você está falando. – Asami disse, sentindo um principio de arritmia enquanto se sentava também.

— Tudo bem. Eu não vou insistir. Estou apenas muito feliz que você esteja aqui. Desde que você chegou hoje a tarde eu sinto como se pudesse respirar direito. – Korra disse e Asami sorriu da ironia que era aquela fala.

— Eu estou feliz de estar aqui também. – disse, contente de poder ser sincera ao menos sobre isso. Ver Korra andando e sorrindo, ainda que por vezes ela se desconectasse das conversas e ficasse sombria e meio perdida dentro de si, era um consolo. E poder compartilhar um momento como esse, apenas em sua companhia, era algo pelo qual o coração de Asami tinha ansiado muito, ainda que descrente da possibilidade de realização.

— Você lembra quando ficou abrigada conosco aqui no Templo de Ar? – Korra disse, dobrando os joelhos e abraçando-os.

— Lembro. Foi quando Ikki me disse que você tinha sentimentos pelo Mako. – ela sorriu e Korra a seguiu.

— Com a distância de tempo, as coisas naquela época ficam parecendo tão fáceis. – Korra sussurrou e embora Asami discordasse, ela permaneceu em silêncio. – Eu era como um carro desgovernado. Gastei tanta energia apenas tentando entender como as coisas funcionavam na cidade, comigo, com Mako... – ela divagou, franzindo o cenho.

— Eu imagino.

— Você acha que é estranho que eu o veja quase como um irmão agora? – confidenciou.

— Não. Eu não acho. – Asami disse, ignorando o conforto que as palavras lhe trouxeram.

— Olhe só para mim. Era você quem deveria estar me contando os seus segredos.

— Você quer saber um sobre esse mesmo assunto?

— Sim, por favor! É tudo que venho pedindo há horas.

— Além da amizade que nós dois conseguimos construir, a melhor coisa sobre o meu namoro com Mako foi ter conhecido você. – Asami mal pôde crer que as palavras tinham saído de sua boca. Mas elas saíram e houve um silêncio constrangedor enquanto elas se olhavam.

Korra corou, antes de balbuciar finalmente:

— Você está tentando me bajular porque está preocupada com o meu estado psicológico desde que  te contei que não conseguia mais acessar o estado Avatar?

— Você já é grandinha demais para bajulações, Korra. – Asami murmurou, deitando-se de costas para ela. De repente, ela se sentia muito cansada e perigosamente exposta. Quando Korra se deitou ao seu lado, Asami teve certeza que ela pôde observar o modo como todos os pelinhos do seu braço reagiram ao contato.

— Asami?

— Sim? – sussurrou, fechando os olhos.

— Você pode olhar para mim? – Asami precisou de muita força de vontade para atender o pedido. Quando elas ficaram de frente uma para a outra, a proximidade quase permitia que as pontas dos narizes se tocassem.

— Obrigada. – Korra murmurou, colocando uma mão em sua bochecha. Não havia mais traço de humor, apenas um profundo senso de compreensão em seu rosto.

— Por?

— Me contar uma coisa que eu sequer sabia que precisava saber. – murmurou, antes de beijá-la pela primeira vez.

As coisas ainda estavam nebulosas e tanto Korra quanto Asami sabiam que elas ficariam assim por algum tempo. Não haveria espaço para romance nos dias subsequentes e elas não tinham maneira de prever com exatidão os perigos que enfrentariam ou sequer se iriam conseguir escapar deles. Mas por um instante milagroso e silencioso, beijar uma a outra pareceu uma resposta, uma promessa e um vislumbre de um futuro que as duas estavam dispostas a lutar para tornar real.  


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Notas finais do capítulo

Se você chegou até aqui, me conte o que achou, sim? Eu adoraria saber. Um beijo :)



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