O amanhecer dos crisântemos escrita por Amystar


Capítulo 1
Miles Bridgerton x Ruby Cavender




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Oxfordshire, 1845

Ruby Cavender percebeu no instante em que subiu no parapeito da sacada que aquele momento era como a última cena do último capítulo de sua vida. Não que ela fosse dada a romances ou uma fissurada em leitura, mas sempre que pensava na vida de alguém, o que vinha em sua mente era um livro novinho sendo aberto, com o nome e sobrenome da pessoa como título, começando pelo primeiro capítulo, o nascimento, e o último, a morte.

Remexeu os dedos do pé. Já não os sentia mais. Era um dia muito frio de inverno e usava apenas uma camisola fina. Na verdade, talvez até fosse grossa, mas não era o que parecia quando o vendo batia em seu corpo e arrepiava sua pele. Olhou para baixo, agradecida por nunca ter tido medo de altura. Seu quarto ficava no quinto andar, então era muito provável que, ao cair, sua morte seria rápida e a dor, apenas momentânea.

Como lorde e lady Ashbourne reagiriam ao encontrar seu corpo lá, cedo de manhã? Eles não ficariam felizes, certamente. Eram ótimas pessoas, aceitaram ela e seu irmãozinho em sua casa após aparecerem em sua porta, pedindo um emprego de dama de companhia. Lady Ashbourne não a empregou e, há meses, vinha mantendo-a em casa como se fosse sua própria filha. Eles provavelmente ficariam com seu irmão, também. Aaron ficaria bem com o duque e a duquesa. Ainda que eles não o criassem como um filho, ao menos teria uma casa, comida e educação, era tudo o que desejava para ele.

Suspirou. Estava na hora de parar de enrolar. Se não pulasse logo, seria capaz de desistir e acabar morrendo de hipotermia, o que seria muito mais lento e doloroso, além dar trabalho aos outros.

Estava na hora.

Ele pôs o pé direito para frente… E caiu.
 

~

 

Miles Bridgerton estava muito cansado. Estava em Liverpool há três dias discutindo os problemas ferroviários com outros investidores, e, quando finalmente todos os assuntos pendentes foram resolvidos, entrou em sua carruagem e começou seu caminho para Kent, onde toda a família se encontraria. Logo seria natal e lady Bridgerton praticamente o obrigara a prometer que o passaria com a família em Aubrey Hall, ignorando por completo suas contestações.

— Não quero saber se é ou não um homem ocupado. - ela disparou, naquele tom implacável que ele conhecia desde a infância. - quero você presente no natal deste ano, com aqueles com te amam.

Não adiantava contradizer a mãe alegando já ser uma adulto de 28 anos dono da própria vida: ele iria, e ponto final.

Sentiu-se extremamente envergonhado quando, tarde da noite, bateu à porta da gigante mansão que era Westonbirt. Seu plano era parar em uma pousada ali perto, mas já estava lotada e ele se recusava a dormir nos estábulos com os criados. Não porque fosse almofadinha o suficiente para se negar a isso, mas estava simplesmente esgotado e necessitava de uma cama.

A residência do duque e da duquesa de Ashbourne era antiga e majestosa, tão grande que teve certeza de que, mesmo se morasse ali sua vida inteira, ainda se perderia dentro dela. Mesmo de noite, alguns detalhes ainda podia ser vistos: a enorme construção em formato de E, construída por volta de 1500 sob o reinado da Elizabeth I, com fileiras e fileiras de janelas adornando o edifício de aproximadamente cinco andares.

Durante a infância visitara a casa algumas vezes com o irmão, para brincar com William e Julian, os filhos mais velhos de lorde Ashbourne. Ainda tinha uma relação próxima com os dois, - Julian se casara há pouco tempo e William procurava uma esposa - mas não deixava de ser extremamente rude aparecer na porta dos outros às quase onze horas da noite. Porém não havia outra opção a não ser aquilo, considerando que a roda da carruagem dera problema praticamente ali na frente, no meio da madrugada.

— Não se preocupe, Miles, é óbvio que pode passar a noite aqui. - disse William, que descera para encontrá-lo no vestíbulo. Sabia que o amigo dormia tarde, e considerou inteligente da parte do mordomo chamá-lo ao invés de Emma e Alexander, que já deviam estar dormindo a esta hora. - Bazzle, por favor, mande preparar um quarto para ele lá em cima.

O mordomo prontamente obedeceu e, em pouco tempo, já estava num quarto, tirando a casaca e jogando-a em um canto qualquer. Tirou o colarinho, massageando os próprios ombros, e quando se sentou na cama e retirou as botas, reparou que o quarto estava um pouco frio. Olhou em volta, procurando a janela, e como imaginava, estava aberta.

Achou que estava alucinando quando pôs a cabeça para fora da janela e viu uma figura de pé, vestida em uma camisola branca com os longos cabelos soltos balançando conforme o vento. Piscou algumas vezes, desconfiado de estar sonhando e, por alguns instantes, considerou até a possibilidade de ser um fantasma. Mas aquilo era ridículo, fantasmas não existiam e havia sim uma garota de pé no parapeito da sacada do quarto ao lado.

O medo então o pegou de jeito. Se havia uma garota ali, quem era? Por Deus, será que era a irmã mais nova de William? Tinha certeza de que Claire já estava casada e não morava ali, mas ela poderia estar na casa dos pais para um visita, não?

Correu o mais rápido que pôde, sem se importar se estava em poucas roupas ou se acordaria alguém com o barulho. Era claro o que ela planejava fazer, e se ele não fosse rápido, temia que a moça conseguisse. Ainda que não fosse Claire, não conseguiria jamais dormir em paz sabendo que uma pessoa se suicidara em sua frente e ele nada fez para impedir.

Ao abrir de uma vez a porta do outro quarto e entrar em disparada, viu a mulher misteriosa fazer um movimento parecia com um suspiro, e quando ela se inclinou para frente, Miles agradeceu ao pai mentalmente por sempre incentivar que fosse um bom atleta, pois se não tivesse uma boa condição física para correr na velocidade que o fez, jamais teria conseguido alcançar a garota.

Sentiu uma dor terrível no braço esquerdo quando segurou o pulso da garota, que pendia no ar.

— Não…! - ele grunhiu, usando toda a força que tinha para não soltá-la. Sua mão direita o ajudava a se apoiar no parapeito. - não vou deixá-la cair…!

— O que? - a menina murmurou, virando-se para ele de olhos arregalados.

Apenas a luz da lua iluminava os dois, e podia vislumbrar o suficiente do rosto dela para ter certeza de que não se tratava de Claire.

— Me solte! - a mulher misteriosa suplicou, com a expressão angustiada. - eu não quero mais viver dessa forma! Me deixe em paz!

— Segure… Segure minha mão e suba! - Miles suplicou, suando. - ande, suba!

— Não! - com a voz embargada, a mulher negou com a cabeça. - já disse, não quero viver! Não tenho casa, família ou marido! Sou uma solteirona e não quero mais viver dependendo da pena dos outros!

— Não estou mais aguentando, suba logo! - ele gritou, desesperado, mas a mulher nada fez além de continuar a mirá-lo com aqueles enormes olhos brilhantes.

O Bridgerton já sentia a mão ceder, em pouco tempo a mulher cairia, então tinha que ser rápido. Pediu ajuda a Deus, para que o ser todo poderoso lhe concedesse ao menos um pouco mais de força para que ele pudesse ajudar a pobre moça, mas de nada adiantaria se ela não desistisse e subisse de volta.

Apenas uma coisa veio à sua mente, e sua voz saiu estremecida e suplicante quando gritou:

— Eu me casarei com você, inferno! Se desistir disso e segurar minha mão, eu me caso com a senhorita!

As palavras dele surtiram algum efeito nela, pois por alguns instantes, a expressão da moça era de pura surpresa.

— Está falando a verdade? Não está me enganando?

— Juro pela minha vida, dou minha palavra, agora suba! AGORA!

A mulher parou para refletir apenas quando ele gritou, visto que finalmente fechou a mão em volta do pulso dele pôs a outra no piso da sacada, assim finalmente podendo ser levantada por ele e colocada em segurança chão.

Miles sentou-se com ela, ofegando. Seu coração ainda estava disparado, tamanha era a adrenalina que sentia.

— Eu… - a mulher murmurou, abraçando o próprio corpo. - estava falando...-

— Não. Diga. Nada. - ele a cortou, cansado. Ainda sem olhá-la, ele completou: - vista um robe e vá chamar alguém. Acho que meu braço está quebrado.

~
 

Ruby nem acreditou quando desceu as escadas da fachada de Westonbirt ao amanhecer.

Ela estava noiva.

Noiva!

E, para completar sua incredulidade, era de ninguém mais ninguém menos que Miles Bridgerton, o irmão mais velho de sua inimiga, Charlotte Bridgerton!

Após tantos gritos naquela madrugada, quando Ruby fora procurar Bazzle para contar sobre o estado do Sr. Bridgerton, todos os criados já estavam de pé com as lamparinas em mãos, preocupados com a origem dos gritos. Lorde e lady Ashbourne foram acordados e o próprio William Ridgely cavalgara atrás de um médico para seu convidado.

Felizmente o braço do homem não estava quebrado, apenas deslocado. O médico habilmente o pôs de volta no lugar e preparou uma tipoia para que descansasse o braço e o mantivesse imobilizado por algum tempo. Passado o susto, fora terrivelmente difícil explicar a Emma e Alexander Ridgely tudo o que tinha acontecido, até finalmente chegar à parte que estava noiva do Sr. Bridgerton.

— Não consigo concordar com isso. - disse a mulher americana. - gosto de você, Miles, sabe que gosto, mas não podem se casar de uma hora para outra assim, dessa forma!

— Milady, eu sei que é repentino. - disse William enquanto seu valete arrumava suas malas, bem cedo de manhã. Estava com olheiras por conta da noite pernoitada. - mas dei minha palavra, e prometo cumpri-la.

— Agradeço por tudo, lady Ashbourne. - disse Ruby, olhando para a senhora em tom de lamento. - mas é isso que quero.

— Sentirei falta de vocês. - Emma, como ela teimava em insistir para que Ruby a chamasse, tinha sido como uma mãe para ela aqueles meses.

Ruby passara muita confiança para a duquesa, mas a verdade era que a ela própria estava apavorada com tudo aquilo.

Mal conhecia Miles Bridgerton. Ele não costumava frequentar a sociedade salvo raras ocasiões, e tudo o que se sabia sobre ele era que era filho de um visconde. E, claro, que era um homem muito bonito, apesar da aparência cansada. Ele tinha cabelos castanhos ondulados, que na escuridão se tornavam pretos. Seus olhos eram uma mistura muito interessante de castanho-claro com verde. Era alto e atlético, um bom par para qualquer dama, embora não tivesse título por ser o irmão mais novo.

Pegou seu irmão, ainda adormecido, e entrou na carruagem pondo-o em seu colo. Sentiu-se nervosa quando seu noivo entrou na carruagem também. Não tinham conversado muito desde que ele salvara sua vida e queria entender o que se passava na mente dele. Sua expressão indicava que estava muito cansado, e vê-lo bocejar aumentou ainda mais suas suspeitas.

Foi então que ele finalmente reparou na criança em seu colo.

— Quem é esse menino? - ele perguntou apontando para Aaron.

— Meu irmão. - respondeu. - Aaron. Ele tem trê… Quero dizer, quatro anos. - corrigiu-se.

Sr. Bridgerton olhou para ele e depois para ela. Depois para ele de novo, e, por fim, para ela.

— Não são muito parecidos.

Claro que não eram. Aaron era filho apenas de seu pai, fruto de um caso extraconjugal com uma mulher rom que passara por suas terras com um grupo de ciganos, alguns anos atrás. Quando o bebê apareceu em sua casa, quando Ruby tinha dezenove anos, desconfiou da história do pai de que tirara o recém-nascido de um orfanato cheio de pulgas. Sua mãe lhe contara a verdade alguns meses mais tarde: o Aaron tinha sido deixado na porta de sua casa pela avó, pois sua mãe morrera no parto e não tinha como cuidar dele.

Genevive Cavender não era uma mãe carinhosa. Não era cruel e muito menos severa, apenas não ligava o suficiente para sua existência. Já seu pai, por outro lado, era a encarnação do mal quando bebia. Ruby sabia que todas as vezes que ele saía para beber ou até mesmo quando o fazia em casa, era para se preparar, pois ele a procuraria para lhe aplicar castigos por coisas que o próprio inventava em sua cabeça.

Era assim desde que as coisas se tornaram mais difíceis para eles, e Phillip Cavender conseguira falir e acabar com tudo que seu avô construíra em vida. Quando a avó morreu, aos quatro anos, e ninguém mais se importava o suficiente com ela, seu pai passara a vê-la como uma presa fácil para descontar a raiva, aplicando-lhe castigos físicos. Por isso foi uma surpresa para Ruby saber que Phillip aceitara Aaron em sua casa, um menino ilegítimo de pele morena que, curiosamente, ele nunca encostara um dedo.

— Não somos. - concordou calmamente. - Aaron é meu meio-irmão, filho apenas do meu pai. Isso o incomoda?

— Não. - ele negou após pensar por uns instantes. - por que está cuidando dele? Deveria estar com a babá.

— Ele não tem babá, eu cuido dele.

— Contrataremos uma babá depois que nos casarmos.

A menção ao casamento fez Ruby corar, imaginando que planos ele teria para eles. Será que estava arrependido? Para onde ele a levaria? Tinha prometido se casar com ela, mas desde então os dois não tiveram tempo de discutir nada. Grande parte da culpa disso era por causa do braço dele, que, em parte, era culpa dela, mas…

A quem queria enganar? Era totalmente culpa dela.

— Para onde nós vamos? Londres? - ela perguntou quando a carruagem começou a se mover.

— Sim. Conseguirei uma licença especial e nos casaremos rapidamente.

— Mas licenças especiais não são… Especiais? E caras? - acrescentou.

— Não se preocupe com isso, o vigário me deve um favor.

Sua curiosidade se atiçou ao imaginar de que forma o vigário poderia estar em dívida com sr. Bridgerton. A expressão dela deve ter sido um tanto cômica, pois pela primeira vez em horas vira o noivo sorrir, mesmo que de canto.

— Você transparece demais suas emoções. - ele comentou, ajeitando-se para dormir e fechando os olhos. - recomendo que deite o menino no banco e tente dormir também, ou estará exausta quando formos nos casar.

Ruby assentiu, estranhamente tímida. Aquele homem era diferente. Nunca imaginaria que alguém praticamente se jogaria da sacada e deslocaria um braço por ela, principalmente um desconhecido. Será que ele a conhecia? Charlotte deve tê-la mencionado em algum momento, ou até algum outro Bridgerton, visto que todos não gostavam dela.

Fez o que ele sugeriu e pôs Aaron no banco, com a cabeça apoiada em seu colo. Encostou a cabeça no vidro e fechou os olhos, certa de que não conseguiria nem cochilar.

Mas, curiosamente, dormiu.

 

~

 

Como Miles queria, o casamento aconteceu bem rápido, em uma das igrejas mais simples de Londres. Tiveram como testemunha o valete, as duas filhas do vigário e o pequeno Aaron, que não entendia nada do que acontecia e tampouco servia como testemunha. Quando o menino acordou o Bridgerton pôde notar que ao menos os olhos dos dois eram parecidos, ambos em tom azul bem claro.

— Ruby! Ruby! Para onde nós vamos agora? - o menino perguntou, segurando na mão da irmã ao saírem da igreja. - por que está usando um anel?

Ruby sorriu para o menino e mostrou a aliança em seu dedo. Miles queria ter dado algo menos simples para ela, mas na pressa escolhera praticamente a primeira coisa que vira.

— Ela está casada comigo. - explicou Miles, aproximando-se do menino. O garoto se escondeu atrás das saias da irmã, tímido. - você está com fome?

Hesitante, Aaron assentiu devagar, sendo dominado pela ideia de uma bela refeição. Pensando bem, todos deviam estar com fome. Comeram muito cedo naquele mesmo dia, e não ingeriram o suficiente para um café da manhã. Portanto, levou os dois até o hotel Rutledge, já mais descansado e com o humor renovado. Sentia que estava agindo como um velho ranzinza desde que salvara Ruby, e não era isso o que desejava.

Ao se sentarem para comer, veio à mente de Miles que queria conhecer melhor a moça. Quantos anos ela tinha? Não podia ser mais velha que sua irmã, certamente. Tinha cabelos loiros escuros, quase castanhos, presos em um coque simples no alto da cabeça. As roupas dela eram bonitas e com ótima costura, e seus modos eram impecáveis. A nova esposa apenas cometia alguma gafe quando era algo em relação à Aaron, como limpar o rosto dele ou não censurar as falas do menino.

O que ele aprovava, pois acreditava que crianças deviam ser crianças. Ouvira certa vez Charlotte falar algo sobre Ruby, pouco tempo depois de seu debút, mas Miles não escutara o suficiente para entender sobre o que era.

— Onde mora, Sr. Bridgerton? - ela perguntou espetando uma batata.

— Tenho uma residência de solteiro aqui.

— E… Ahn… - pigarreou. - é para lá que iremos?

— Não, acabando aqui vamos voltar para a carruagem e partir para Kent. Eu planejava passar rapidamente por Londres e seguir direto para Kent, mas como os planos mudaram tive que adaptar tudo.

Ela nem sequer perguntou porquê iriam à Kent, o que Miles estranhou. Estava tão acostumado a irmãs e primas bisbilhoteiras que uma dama calma e compreensiva era estranho para ele.

— Que sorte que não foi seu braço direito, não? - ela brincou soturna, indicando seu braço esquerdo apoiado na tipoia. Ele sorriu.

— Ainda seria sorte se eu lhe dissesse que sou canhoto?

— Ah. Sinto muito.

Negou com a cabeça.

— Não ligue para isso, vou me curar. Agora, se me permite… - adquiriu um tom mais sério - quero saber porque fez aquilo.

Ambos olharam de soslaio para Aaron, checando se o menino prestava atenção à conversa dos adultos. O moreninho estava mais ocupado em rolar suas batatas pelo prato do que assunto em questão.

— Eu só… Não aguentava mais. Estava vivendo às custas de lorde e lady Ashbourne, não tinha mais casa, dote e nem marido. Também não sei fazer trabalho braçal, ninguém me contrataria como governanta por ser muito jovem. Simplesmente… Percebi que não tinha mais rumo. - suspirou. - é muito complexo de entender, me desculpe.

Miles assentiu.

— Seu pai não lhe deixou nada?

— Não havia mais nada para deixar. Ele morreu por conta das dívidas, os credores… - olhou novamente para Aaron, que permanecia alheio à conversa. Continuou com a voz baixa: - os credores contrataram matadores de aluguel para executá-lo, e assim o fizeram levando minha mãe junto, há mais de um ano. Me disseram que foram assaltados por bandoleiros, mas eu descobri a verdade.

— Seus parentes não lhe deram assistência?

— Cheguei a morar na casa de um tio por parte de mãe, que mora em Oxfordshire, mas ele nos pôs para fora depois que… - engoliu o seco, estremecendo só de lembrar. - ele tentou me forçar a dar-lhe certas atenções.

Entendeu de imediato o que ela queria dizer, e não gostou.

— E como foi parar em Westonbirt?

— Fui lá atrás de um emprego, e Lady Ashbourne nos acolheu.

Miles virou olhou para baixo, segurando forte o garfo com a mão. Aquilo era absurdo. Como um tio tinha coragem de fazer algo assim com a sobrinha? Tentar abusar de uma moça só no mundo, cuidando de uma criança pequena? Coisas como essa o faziam ter menos fé na humanidade, se é que isso fosse possível. Ruby não merecia aquilo.

Mas as coisas melhorariam para ela a partir de agora. Ela era Ruby Bridgerton, e não Ruby Cavender, e teria uma grande e amorosa família para acolhê-la. Seus pais a aprovariam, certamente. Sua irmã e suas primas deviam ter mais ou menos a idade dela, então todas se dariam bem.

Tudo daria certo, e se viu ansioso para chegarem logo em Aubrey Hall.

 

~
 

Ruby quase desmaiou quando Miles finalmente revelou qual seria o lugar de destino. Sua vontade foi de bater na lateral do carro e pedir ao cocheiro que voltassem imediatamente, mas já era tarde, pois a carruagem já parava em frente a grande construção. Devia um crédito ao marido, era verdade. Ela não perguntara se a casa para onde iriam era mesmo dele, apenas supôs isso. Aubrey Hall era a residência da família, e, segundo ele, seus parentes estavam lá para passar o natal.

— É por isso que tive que vir tão rápido. - ele explicou ajudando-a a descer pelos degraus. - tenho certeza de que vai se dar muito bem com todos.

Tinha certeza que não.

— Venha, rapazinho. - Miles esticou a mão para Aaron, que se enfiara no fundo da carruagem.

— Aaron, desça aqui. - pediu ao irmão, que cedeu, mas sem aceitar a ajuda do homem.

Miles entrou em casa e estranhou não ver ninguém além dos empregados. Perguntou ao mordomo onde estava sua família e ele lhe informou que estavam todos no salão, em uma pequena festa privativa. Esqueceu-se quase que completamente que Violet e Oliver iriam batizar a pequena Rosemary naquela data, para aproveitar a presença da família. Muito provavelmente estavam todos comemorando mais um passo da vida da nova membro da família.

Dispensou o mordomo e ele mesmo levou Ruby e Aaron para onde todos estavam. Sentia saudade deles.

— Um macaco! - ouviu alguém gritar, ainda na metade do corredor. O som das risas era alto.

— Não pode ser um macaco qualquer! - ouviu outra pessoa retrucar.

— Já sei! Já sei! Chimpanzé! Não? Maldição, que difícil!

— Colin! Não pragueje perto das crianças!

— Maldição! Maldição!

— Oh, não, Colin está imitando o Colin!

— Qual Colin está imitando qual? - era uma voz de menininha.

— É óbvio que estamos falando do nosso irmão, idiota!

— Mãe, Benedict está me chamando de idiota!

— Não chame Eloise de idiota, Ben.

— Anthony, faça mais gestos! Assim é difícil de saber!

Miles jamais, em toda sua vida, adivinharia que presenciaria a cena que vira aquele dia. Ninguém percebera ele e a nova esposa parados à porta, todos concentrados em um jogo, o que ele agradeceu profundamente, pois sua expressão deveria ser hilária. Lá estava seu pai, o imponente visconde de Bridgerton.

Pulando e se coçando igual a um primata.

Ele se agachava, com os pulsos no chão, e vez ou outra coçava a cabeça. Parecia que todos os Bridgertons estavam ali, – incluso os por casamento - fixados naquele jogo, com mais ou menos metade de seus membros gritando sugestões.

— Vocês nunca vão saber! - disse sua prima Isabella, com um ar diabólico. - minha ideia foi genial! - ela deu uma gargalhada.

— Lembre-me de lhe pagar mais tarde. - disse seu tio Colin, sentado preguiçosamente na cadeira com um pedaço de bolo em mãos. - essa cena vale cada centavo! - ria ele.

Finalmente alguém o viu, e logo depois, todos pararam para olhar em sua direção. Aproveitou a deixa para adentrar o salão, e pigarreou antes de dizer:

— Érr… Gorila?

— Acertou. - resmungou Isabella.

Todos os homens gritaram em comemoração, abraçando uns aos outros. As mulheres do grupo gemeram, em especial suas tias Eloise e Hyacinth, sempre bastante competitivas. Isabella lançou-lhe um olhar raivoso típico.

— Não vale, Miles não estava jogando!

— Vale sim, ele é homem, estava automaticamente no time dos cavalheiros. - retrucou David.

— Miles? - ouviu a voz da mãe atrás de si. Ela deu a volta nele e olhou diretamente para seu braço apoiado na tipoia. - o que aconteceu? Esta é… srta. Cavender?

O resto do dia passou extremamente lento a cansativo. Seu pai saiu da constrangedora posição de gorila e levou os dois ao seu escritório, para que dessa forma pudessem conversar adequadamente. Aaron finalmente saiu de perto de Ruby, mas isso apenas porque Henry, Thomas e jovem Colin conseguiram contagiá-lo com bolo e uma promessa de travessura.

Sua mãe em especial ficou muito feliz com a notícia se seu casamento, mas bastante irritada por ter sido tão rápido e ela não ter podido participar. Anunciou naquele mesmo instante a Ruby que as duas iriam ao vilarejo preparar-lhe um enxoval decente, e sua esposa apenas assentiu, um tanto acanhada. Já seu pai lhe deu um tapinha nas costas, fazendo uma discurso paternal sobre como ele deveria ser mais dedicado à família a partir de agora.

Isso fez Miles pensar melhor sobre Ruby. Eles estavam casados, mas mal se conheciam. Claro, sabia a história de vida dela, mas quem era ela? Quais eram seus pensamentos? Sua filosofia de vida? Qual era sua cor preferida? Sua flor preferida? Ele não sabia, e desejava saber. Queria que ela fosse feliz a partir de agora, e daria tudo de si para que isso se concretizasse.

 

~
 

Na manhã seguinte, seu marido acordou bem cedo e com bastante disposição. Ruby achou estranho que, estando os dois no mesmo quarto, ele não tivesse se aproximado dela e exigindo o que lhe era de direito: a consumação do casamento. Estava nervosa, claro, considerando que não sabia o que estava por vir, mas então ele viera acalmando-a e dizendo que esperaria até ela estar pronta.

Mas quando estaria pronta? E como ela sabia que estaria?

— Estava pensando em irmos visitar minha irmã. - ele lhe contara no café da manhã, logo cedo. - ela mora aqui perto com o marido. Você a conhece, certo? Devem ter mais ou menos a mesma idade.

Charlotte. Claro que conhecia.

— Sim, já fomos apresentadas. - engoliu o seco. - debutamos na mesma época.

— É mesmo? Não sabia. - fez uma pausa para mastigar bacon. - na verdade, acho que ela já mencionou seu nome… Estava no concerto das Smythe-smiths dois anos atrás? Lembro vagamente de Charlotte me dizendo que derrubou ponche acidentalmente nela.

Não tinha sido acidental. Ruby ficara morrendo de inveja de Charlotte Bridgerton e aquele maravilhoso vestido rosê, e não conseguiu resistir à tentação de estragá-lo. Para seu pesar Melody Smythe-smith fora gentil o suficiente para oferecer um vestido seu emprestado, e Charlotte ficara tão esplêndida nele quanto no outro.

Por fim, resolveram ir a cavalo, devagar o suficiente para que pudessem manter uma conversa amigável.

— O que o senhor faz, sr. Bridgerton?

A pergunta chamou atenção de Miles.

— Como ocupação? - ela assentiu. - basicamente invisto capital com a expectativa de um retorno financeiro futuro. Ultimamente tenho estado à frente da expansão ferroviária.

— Que interessante. - ponderou ela. - nunca conheci um homem que fizesse esse tipo de coisa.

Todos os homens os quais já havia sido apresentada eram aristocratas pomposos que passavam o dia inteiro se divertindo no clube de cavalheiros e em festas em casas de campo, nenhum deles realmente trabalhava.

— É mais emocionante do que parece. - disse ele. - meu pai chegou a considerar comprar uma patente para mim no exército. Tenho uma boa mira, modéstia à parte. Mas minha mãe foi totalmente contra, então o assunto foi encerrado. Fui à Cambridge, e quando me mudei para meu apartamento em Londres, comecei a investir a maior parte da mesada. - sorriu, orgulhoso de si. - dois anos depois, parei de receber. Já não era mais necessária.

— Nunca sentiu vontade de estar no lugar de seu irmão? - perguntou. - de ser o herdeiro do viscondado, cuidar das terras e dos colonos?

— Jamais. Edmund é muito mais preparado para isso do que eu. Além disso, ele logo terá um filho, e espero muitíssimo que seja um menino.

— Reparei que haviam muitas grávidas no salão ontem à noite. - comentou pensativa.

Nenhuma das Bridgertons a havia tratado mal no dia anterior, mas verdade seja dita, nem haviam tido tempo para tal. Se recolheram logo depois da conversa com lorde e lady Bridgerton, e aparentemente nenhuma das damas era madrugadora, pois não estavam com eles no café da manhã.

— Ah, sim. Lily, Amanda e Agatha. Não reparei, mas Charlotte me disse em sua última carta. Bridgertons são terrivelmente férteis, nunca deixei de ter alguém com quem brincar quando era pequeno. - eles finalmente chegaram a uma elegante construção. - ali está a casa de Nate e Lottie. Vamos.

Miles era habilidoso em cavalgar. Mesmo com um braço ruim, ele cavalgava com tanta facilidade que parecia ter nascido em cima de um cavalo, guiando-o com o braço esquerdo. Logo eles alcançaram o estábulo, e entregaram os cavalos a um dos cavalariços.

Ele deu o braço a ela, reparando na expressão da esposa. Ela parecia nervosa e agitada, como uma dama prestes a ser apresentada à rainha.

— Não precisa ficar nervosa, coração. - afastou uma mecha de cabelo da moça, que desprendia do penteado, e pousou-o atrás da orelha. - minha irmã pode parecer ameaçadora, mas é um doce por dentro. Ela e lorde Billington são boas pessoas.

Naquele instante, Ruby percebeu que o toque do marido lhe traziam sensações diferentes. Seu coração saltava, como quando estava ansiosa por algo e não conseguia parar quieta. O simples roçar dos dedos dele lhe causaram um arrepio na pele, e mesmo sendo inverno, sentia o rosto esquentar a uma temperatura sobre-humana.

Nunca se sentia muito à vontade perto de homens. Muito provavelmente culpa de seu pai, que só se aproximava dela para agredi-la. Com o tempo, foi percebendo que os homens se aproximavam dela querendo outros tipos de atenções, roubando um ou dois beijos dela. Porém, quanto à interesses matrimoniais, ela nunca era a primeira escolha. Tinha o cabelo loiro bem escuro, quase castanho, e olhos azuis, mas fora isso, desprovia de características que a tornavam especial.

Isso era frustrante, humilhante, porque Charlotte Bridgerton também não tinha. Ela não era feia, mas de alguma forma, conseguia atrair a atenção de todos os maridos em potencial. Isso causava raiva em Ruby. Se nem ela, com lindos olhos azuis, conseguia um marido, por que Charlotte Bridgerton, com cabelos e olhos castanhos comuns, conseguia? Aquilo não era justo.

Mas agora era uma pessoa diferente. Não sabia como era possível uma pessoa amadurecer tanto em apenas um ano, mas era o que havia acontecido com ela. A dor e a solidão a transformaram, felizmente, em alguém melhor.

Esperava poder demonstrar isso aos Bridgertons.
 

~

 

— Só pode estar de brincadeira.

Miles piscou, espantando com a irritação da irmã. Ela mirava em Ruby com um olhar assassino.

— Quero saber o que está fazendo em minha casa, sua pata-choca! - bateu o pé no chão, tempestuosa. A ação fez Ruby recuar um passo, ficando um pouco atrás de Miles. - Miles, o que faz aqui com… Espere um instante, o que houve com seu braço? - correu até o irmão, passando a mão pela tipoia. - está quebrado?!

— Não, foi só um pequeno acidente.

Miles se desvencilhou de Charlotte, pondo-se na frente de Ruby num rompante. Sabia como ninguém como Lottie era quando estava irritada, ele mesmo já tinha sido atingido por vários de seus famosos socos. Sempre pensou que se a irmã tivesse nascido homem, seria um exímio de pugilista.

— Por que está falando assim com ela? - perguntou.

Na mesma hora Nathaniel apareceu no vestíbulo, preocupado com a barulheira.

— O que está acontecendo aqu- srta. Cavender? Miles? - desceu até o fim das escadas, passando os braços ao redor da esposa para mantê-la longe da outra mulher. - o que fazem aqui juntos?

— Santo Deus. - ele massageou as têmporas. - podemos sentar e tomar chá para conversar como pessoas civilizadas?

— Você pode. - ela declarou. - ela não. Saia da minha casa! Agora!

— Lottie, se controle. - pediu o marido, mas ela não deu ouvidos.

— Ela não vai sair. - Miles respondeu autoritário. - Ruby agora é minha esposa, então se não vai recebê-la em sua casa, também não ficarei.

Aquela fora uma das poucas ocasiões em que viu a irmã mais nova sem palavras.

— Sua o que?! Por acaso enlouqueceu?!

— Não. - cruzou os braços firmemente. - estou certo do que fiz.

— É um tolo. Um completo tolo. - Charlotte soltou-se das mãos do marido. - sabe o que ela fez comigo? Sabe? Não mesmo, você dificilmente frequenta a sociedade, mas eu lhe conto com prazer, irmão. - ela chegou bem perto dele, olhando-o bem nos olhos. - essa moça foi responsável por espalhar boatos sobre mim para toda a sociedade! Se eu não fosse popular ela seria responsável pela minha ruína! E há mais, se quer saber. Não satisfeita em me importunar, essa… Mulherzinha, começou a incomodar Agatha, fazendo comentários cruéis sobre ela. Sobre o peso dela.

O lá estava o momento o qual Ruby esperava: quando Miles descobriria a pessoa que ela era. Não tirava a razão de Charlotte, ela tinha todo o direito de odiá-la, pois isso não respondeu nada.

Mas o olhar de Miles sobre ela doeu. Ele virou-se para ela confuso e triste ao mesmo tempo, como se não acreditasse no que estava ouvindo. Se ele gostara dela no breve intervalo entre o casamento e o momento atual, deixara de gostar naquele momento, quando soube que ela fizera mal à sua família.

Todos sabiam que o clã Bridgerton era muito devoto aos seus. Miles, Edmund, Charles, Alexander, William Bridgerton, David Basset e Oliver Crane eram constantemente visto juntos gozando das festividades de Londres, conversando e rindo como amigos de longa data e não como meros parentes. E as meninas Bridgerton, claro, eram sempre vistas passeando no Hyde Park, tomando sorvete ou gastando suas mesadas em fitas de cabelo. Era óbvio que tinham outros amigos, mas seus melhores amigos eram, quase sempre, seus primos.

E, nesse caso, irmãos. Admirava essa união.

— Com licença. - despediu-se rapidamente, fazendo uma breve mensura e saindo correndo.

Miles a alcançou quando já estava no último degrau da escadaria da fachada. Ele acompanhou seus passos rápidos com facilidade.

— Ruby, se acalme. - ele pediu, segurando a mão dela com o único braço bom. - Ruby? Ruby?

— Eu estou calma. Só não quero ficar nesta casa. - respondeu com a voz entrecortada. Tentava falar o mínimo possível para segurar o choro.

— Ruby, por favor. - ele contornou-a, ficando em sua frente. Ela parou, olhando para o chão. - o que Charlotte disse era verdade?

Deu uma risada amarga.

— Como poderia não ser? Sim, é verdade. - cruzou os braços, na tentativa de parecer forte. - eu fiz aquelas coisas. Não gostava de sua irmã, sou uma pessoa hedionda e ela está certa em me pôr para fora de sua casa.

— Não acredito nisso.

— Como?

Levantou a cabeça, olhando nos olhos dele. Ele tinha uma expressão calma e resoluta.

— Eu não acredito nisso. - repetiu.

— Ouça bem, estou dizendo com todas as palavras! - irritou-se, sentindo os olhos começarem a arder. - é sim, verdade! Eu importunei sim, sua irmã, sua prima e várias outras debutantes! Eu gostava de diminuí-las, de humilhá-las, de fazê-las se sentirem feias! E quer saber por que eu fazia isso? Por que eu tinha raiva! Raiva delas com suas famílias bonitas, suas amigas divertidas e rostos atraentes! Tive raiva de Gillian Kemble, Caroline Bevelstoke, Georgiana Dunford, Olga Valentine e até mesmo de sua prima Agatha! Todas se casaram com ótimos partidos e eu continuei sozinha!

A essa altura, as lágrimas já rolavam. Secou-as com as costas das mãos.

— Mas tudo bem, o senhor não precisa mais ficar casado com um monstro pecador como eu. - disse ela. - recomendo que aproveite que o casamento não foi consumado para conseguir uma anulação. Acho que será o ideal para nós dois, considerando tudo o que-

Então ele a beijou, puxando o corpo dela para junto do seu com o braço direito. Miles agradeceu a Deus por não estar com os dois braços inválidos, ou seria uma ação bem mais difícil. Ela ficou parada por alguns segundos, mas logo sentiu seus lábios se moverem e seu corpo relaxar.

Já beijara várias mulheres em toda sua vida, mas Ruby foi a única que conseguiu com que algo além de excitação crescesse dentro dele. Será que era por que agora era sua esposa? Ouvira falar de homens que perdiam o interesse nas esposas após o casamento, mas o caso dele era o contrário? Se fosse dessa forma, seria um casamento muito feliz.

— Você não é assim, coração… é uma pessoa diferente agora. - deu um beijo em sua testa quando se separaram. - pode ter sido assim antes, mas tudo bem. Todos cometemos erros e nos arrependemos. O que importa é quem você será a partir de agora.

Quando ele a abraçou, Ruby se deu conta de uma coisa: nunca havia sido abraçada. Nem mesmo sua mãe jamais a abraçou. A avó poderia ter feito isso em algum momento durante a primeira infância, mas era nova demais para se lembrar. Miles era alto, grande e bastante quente. Nunca sentira o corpo de um homem daquela maneira.

Se sentia calma e protegida.

Não. Não era essa a palavra.

Ela sentia-se…

Amada. Sim. Era isso.

 

~

 

— Pobre garota.

Alexander, Charles e William olharam para David interessados. Já tarde da noite, Miles teve a ideia de fazer uma visita ao escritório do pai atrás de uma boa bebida. Parecia que seus primos tiveram a mesma ideia, pois estavam os quatro sentados bem à vontade desfrutando de um bom conhaque.

Desde sempre os primos foram seus melhores amigos. David, em específico, era a pessoa com quem tinha mais intimidade. Tinham a mesma idade, com algumas semanas de diferença, e dividiram um quatro nas acomodações de Eton. Isso os tornou ainda mais próximos, de uma forma que um sabia praticamente tudo sobre o outro. Portanto, quando viu o primo ali, preocupado sobre o que o afligia, não pôde deixar de compartilhar o acontecimento anterior.

— Por que diz isso? - indagou.

— Bem, porque… - David fez uma pausa, pensativo. - não gosto de compartilhar informações as quais não tenho certeza, como bem sabe. Mas sobre a srta. Cavender…

— Srta. Bridgerton, agora. - corrigiu William.

— Sim, srta. Bridgerton. Enfim, como ia dizendo, ouvi dizer que o pai dela não era uma boa pessoa. Mais de uma pessoa já me disse que era violento com a esposa e com a filha, e que era por isso que ela sempre era vista com roupas bem largas e nada reveladoras, para esconder as marcar dos machucados.

— O pai dela não era uma boa pessoa. - afirmou Charlie, categoricamente.

— Ah. - Alex entendeu de imediato o que o irmão queria dizer. - de fato.

— O que? Por que dizem isso? - William, o mais novo dos três irmãos, era o único de fora.

Charlie e Alex se entreolharam, e decidiram compartilhar a informação que guardavam com o grupo.

— Antes de papai e mamãe se casarem, Sr. Cavender era patrão de nossa mãe. Na verdade, seus pais eram, mas isso não vem ao caso. A questão é que mamãe era uma criada, e uma vez, quando ele resolveu dar uma festa, tentou tomá-la à força. A sorte dela foi que papai estava lá para salvá-la. - Charlie deu um breve sorriso. - por isso, não duvido que Ruby tenha sofrido nas mãos dele.

— Ele também era fraco com bebidas. - acrescentou Miles. - ela me disse que ele bebia muito, o tempo todo.

— Na minha opinião, ela se livrou de um demônio. - William expressou sua opinião com firmeza.

— Faz sentido que ela tenha se tornado amargurada. - disse David, bebendo o resto do conteúdo de seu copo. - com uma vida assim, até eu ficaria. Charlotte pode ter tido raiva dela anos atrás, por conta das fofocas, mas tudo isso já passou, não? Agora ela está casada, e com um conde, não havia necessidade de tratar a cunhada dessa forma.

— É, Charlotte… - suspirou. - ela é complicada. Mas eu a amo mesmo assim.

— É claro que ama. - o outro sorriu. - todos gostamos de nossas irmãs. Somos apenas orgulhosos demais para admitir.

— Concordo plenamente.

— Eu poderia pedir às minhas irmãs que tentassem conversar com Ruby, quem sabe assim ela se sinta mais à vontade aqui. - ponderou o conde. - embora Amelia e as outras sejam consideravelmente mais velhas que elas.

— Violet não é, vou conversar com ela. - Charles, o único loiro do grupo, levantou-se esticando o corpo. - agora o que mais preciso é de um descanso.

Os outros aproveitaram a deixa e também se levantaram para ir para seus respectivos quartos. Já no corredor, um pouco mais atrás do trio de irmãos, Davey – como era seu apelido de infância – aproximou-se de Miles em voz baixa e perguntou:

— Como é estar casado?

Miles, que só estava casado há pouco mais de um dia, pensou naquilo por um instante.

— Ainda não sei bem. - admitiu. - mas… Sabe, não me arrependo. Acho que fiz a escolha certa. É bom saber que haverá alguém esperando por nós quando chegarmos em casa.

— Compreendo.

— Por que pergunta isso? Está de olho em alguém?

— Não, nada disso. - negou com a cabeça. - é só curiosidade.

— É mesmo, lorde Clyvedon? - deu um leve cotovelada nas costelas do primo. - vai aposentar seus dias como libertino?

Ele riu de canto, sem dar maiores explicações.

Tudo o que Miles desejava era que os primos também fossem felizes, de uma forma ou de outra. Principalmente David, afinal, ele era seu melhor amigo desde sempre.

 

~

 

— Olhe bem, Ruby. - Miles sentou nas cadeiras do lado de fora com ela ao seu lado, em um dia em que o frio lá fora estava suportável. - cada um dos meus primos se dividiu em grupos de sua respectiva idade.

Para ela ainda era difícil distinguir um primo do outro. Todos eram tão parecidos que parecia enxergar tudo multiplicado, mas vinha se esforçando nos últimos dias.

— Ali, está os jovenzinhos. - ele apontou para o grupo que jogava Pall Mall, um pouco ao longe. - do mais velho para o mais novo estão: Katherine, Jane, Isabella, Richard, John, Freddie, Janet, Mary, George, Hermione e Daphne, que já se acha grande demais para brincar com os menores.

Ruby assentiu, rindo. A última menina não podia ter mais de treze anos.

— Eu a entendo, é típico da idade.

— Aqueles ali são os incansáveis. - ele indicou o grupo de meninos, que brincavam com algo que envolvia uma bola e… Gravetos? - Colin! Abaixe isso agora! - gritou ele.

Um dos meninos virou-se para Miles, emburrado.

— Vai machucar a bebê Anne, veja, ela está bem perto de você! - explicou.

Uma das meninas, que fazia um piquenique ao lado dos meninos, pegou a bebê e levou-a de volta ao grupo de meninas.

— Aquelas são Victoria, May, Eloise e Francesca. Recentemente adotaram a pequena Anne ao grupo.

— De quem ela é filha?

— Amelia.

— A viscondessa de Lowestoft?

— Para nós é apenas Amelia. - Miles riu de repente. - quando éramos pequenos, Edmund inventou uma canção infantil que a deixava fumaçando de tanta raiva: “Amelia, amelia, tem nome de velha! ”

Ruby não aguentou, e começou a rir.

— Oh, céus. - secou as lágrimas. - vocês eram terríveis.

— Ela bem que tentou inventar um para Edmund, mas era difícil achar uma palavra que rimasse com seu nome.

Voltaram a se concentrar nas crianças.

— Não me disse o nome deles. - apontou para os garotos em específico. Aaron parecia se divertir no meio deles.

— Aqueles são Anthony, Edward, Ben, Charles, Colin, Henry, Thomas, Mark e Samuel. Esperamos que mais um menino se junte a eles.

— Quem?

— O bebê de Ed. Lily logo dará a luz.

— E se for uma menina?

— Bem, ao menos as meninas ficarão satisfeitas. Se reparar, o time delas está em menor número.

A essa altura, as meninas e os meninos agora estavam todos juntos, de pé, discutindo sobre algo. Provavelmente as regras de um novo jogo.

— Aaron não está mais tão grudado em você desde que chegou. - observou ele.

— Ele tem algo melhor do que eu aqui: amigos da idade dele. Nunca o vi assim tão sorridente e corado, Aubrey Hall fez bem a ele. - disse ela.

Mas então de repente, algo deu errado entre eles. Alguma das meninas – se sua mente na falhava, se chamava Victoria – foi empurrada por Henry, e caiu de costas no chão. Miles se levantou de imediato, indo ver o que acontecia. Foi atrás dele, também preocupada.

— Henry, por que empurrou sua irmã? - Miles perguntou a ele, levantando a menina, que segurava o choro.

— Ela me chamou de menininha! - retrucou o garoto.

— Não chamei não, eu disse que você deveria vir para o nosso time! - defendeu-se ela.

— É a mesma coisa!

— Não é não!

— Se ele não for o time não vai ficar justo. - Anthony, o mais velho do grupo, explicou à Miles, que estava ao seu lado.

— Mesmo se Henry for para o time de vocês, ainda ficará desigual. - Edward observou.

— Podemos chamar Daphne e Hermione para ajudar. - sugeriu Francesca.

— Aquelas duas não vão querer, ela já acham que são damas. - Anthony revirou os olhos.

Eram tantas crianças falando ao mesmo tempo que Ruby quase ficou tonta.

— Esperem, esperem, todos quietos. - pediu Miles, organizando o grupo. - Henry, peça desculpas à sua irmã primeiro.

O menino cruzou os braços, insatisfeito, mas o fez mesmo assim.

— Agora, faremos assim: eu entrarei no time das meninas. - ele tirou a casaca delicadamente, por conta do braço. - dessa forma, o time vai equilibrar.

— Se for assim, eu também quero entrar no time das meninas! - exclamou um dos meninos, ansioso por brincar com o primo. De repente, todos os meninos quiseram entrar para o grupo das meninas.

— O que acham de misturarmos os times? - sugeriu Ruby, entrando no espírito da coisa. - eu posso ser a capitã de um time… - olhou travessa para o marido. - e Sr. Bridgerton será o do outro.

As crianças concordaram animadas, e os times foram sorteados em pequenos papéis. Até a Mark e Samuel, de três anos, e a bebê Anne, de apenas dois, participaram, embora fosse apenas acompanhando a correria.

— Volte aqui, Miles! - Ruby riu quando a bola foi para as suas mãos, correndo atrás do marido. - veja como eu sou forte!

Ela jogou a bola nele, que bateu bem em seu ombro.

— Sua pequena atrevida! Acertando um homem com o braço ruim! - retrucou ele. Pegou a bola e agora ele corria atrás dela, sendo incentivado pelos pequenos de seu time.

— Corre, Ruby! Corre! - Aaron gritava, sorrindo de orelha a orelha.

Aquele foi o dia mais feliz da vida de Ruby. Brincar com aquelas crianças, naquele clima frio, debaixo de um sol que não esquentava e cair na grama verde de bumbum tinha sido uma experiência única, que nunca vivenciara. Como podia aquilo ser tão esplêndido? Agir como uma criança e se entregar ao prazer de uma longa risada? Era um dos mistérios da vida.

Ruby percebeu que era um momento que não viveria se tivesse conseguido acabar com a própria vida. Mentalmente, agradeceu muito a Miles por ter se metido no caminho dela. Ele virara seu mundo de cabeça pra baixo e…

Por Deus, não sabia se fora quando ele caíra no chão, sujando o rosto de terra, mas ela o amava. Sabia disso.

E quando perdeu o fôlego de tanto rir, percebeu também que era muito bom viver.
 

~

 

Os dias seguintes haviam sido perfeitos. Faltando pouco para o natal, suas primas e Ruby fizeram algumas visitas ao vilarejo, algumas paras comprar presentes para os pequenos, outras para preparar um enxoval para Ruby, mas o que importava de verdade era que a esposa finalmente estava se adaptando à nova família, já começando a conversar com todos com mais naturalidade. Agatha, principalmente, era a pessoa com que ela mais conversava. Achou isso um pouco esquisito, considerando o passado entre elas, mas era de Agatha que estava falando. Era uma das primas que menos tinha capacidade de guardar rancor de alguém.

Charlotte, que morava ali perto, aparecia constantemente para um almoço ou chá. Não tratava mal a nova cunhada, mas também não fazia questão de simpatizar com ela. Miles queria que a irmã se desse bem a esposa, porém para isso tinha que dar tempo ao tempo. Sua tia Hyacinth lhe dissera um dia que entendia Charlotte. Ela não gostara de tia Lucy por dois anos após tio Gregory se casar com ela, e agora eram muito amigas.

Quando o natal finalmente chegou, a casa toda já estava decorada e a árvore fora posta para encantar os menores, com decorações em velas em vários ramos. Lacaios preparados com baldes d’água foram postos ali ao lado, “para evitar um possível incêndio” explicara tia Kate. À noite, ceia foi posta e todos conversaram animadamente em suas respectivas mesas. Vovó Violet falava como era bom ter a família toda unida, como um lembrete a Miles de que deveria aparecer mais vezes. Concordava com ela.

A família fora dividida em três mesas: A dos adultos, dos jovenzinhos e das crianças. Os que tivessem mais de dezoito, adultos. Treze ou mais, jovenzinhos e abaixo disso, crianças. Ruby se sentia em casa perto de todos, coisa que não aconteceria antes. Estava sentada próxima a um duque, na mesma mesa que quatro condes, e não estava nervosa. Até chamara lorde Hastings uma vez de “tio Simon” por acidente, e ele gostara do título.

Era maravilhoso ter uma família, mas ainda ressentia-se por Charlotte. Ela ainda a odiava. Procurou-a na extensa mesa que, curiosamente, não estava posta em ordem de importância, como todos os aristocratas faziam. O lugar em que ela estava, ao lado lorde Billington – não muito longe de Ruby – estava vazio.

— Onde está sua irmã? - perguntou a Miles, que estava entretido em uma conversa com David.

— Hm? O que disse?

— Sua irmã. - repetiu. - onde ela foi?

— Se não me engano, ela pediu licença para ir ao banheiro.

Ruby se remexeu um pouco, percebendo que também estava com um pouco de vontade. Isso era bem comum, como quando uma pessoa mencionava piolhos e automaticamente sentia a cabeça coçar. Ou quando… Bem, não conseguia pensar em outro exemplo, o dos piolhos era suficiente.

— Acho que também vou.

Pediu licença a todos e se retirou para o banheiro.

 

~
 

Ao chegar ao banheiro, Ruby se deparou com Charlotte sentada no chão, ofegante. Alguns de seus fios de cabelo desprendiam do penteado, e havia um pouco de vômito no canto da boca. Rapidamente se abaixou até ela, limpando sua boca com um lenço.

— Lady Billington? Está se sentindo mal? - perguntou preocupada.

— Não é nada, foi só um… - ela tomou fôlego. - pequeno enjoo.

— Ah. - Ruby se sentou na frente dela, um pouco acanhada. - meu parabéns.

— Pelo que?

— Está grávida, não?

Charlotte negou com a cabeça, com a expressão frustrada.

— Não. Minhas regras vieram no dia em que você apareceu. - informou. - não me entenda mal, eu só estava irritada aquele dia. Desculpe.

Ruby piscou, desacreditada. Charlotte Wycombe estava lhe pedindo desculpas?

— Exagerei te tratando daquele jeito. - continuou ela. - descontei em você porque… Quero muito um bebê. Muito.

— Pode ser que esteja grávida. - opinou, otimista.

Charlotte a encarou com um olhar que indicava que não acreditava nem um pouco nisso.

— É verdade. - insistiu ela. - quando Amelia engravidou de Anne, suas regras vieram normalmente. Só desconfiou da gravidez quando a barriga começou a ficar aparente.

— Como sabe disso?

— Ela me contou. Sua prima é muito divertida.

— É. - Lottie sorriu de lado. - eu sei que é.

— E mesmo que não esteja grávida agora, ainda é jovem. Tem muitos anos reprodutivos pela frente, não há porquê se apressar.

— Suponho que tenha razão. - disse ela, aceitando a ajuda de Ruby para se levantar. - quando Agatha engravidou, pouco tempo depois de casar, comecei a achar que tinha algo de errado comigo. Estou casada há mais de um ano, e até agora…

— Não se preocupe. - Ruby juntou as mãos às dela, dando um sorriso acalentador. - seu bebê virá na hora certa, tenho certeza disso.

Emocionada, Charlotte abraçou Ruby, que demorou uns segundos até assimilar a situação e abraçá-la de volta.

— Acho que gosto um pouco de você agora, pata-choca. - brincou a condessa.

— É, eu também gosto um pouco de você, srta. Personalidade Terrível.

 

~
 

— Uma bola! - exclamou Aaron com animação, segurando-a no ar com suas mãozinhas morenas.

— Você gostou tanto do nosso jogo aquele dia que achei que gostaria de ter sua própria bola. - explicou Miles, quando o menino abriu seu presente.

Aaron sorriu mais largamente, encantado com o presente.

— E nós vamos brincar sempre? - perguntou ele.

— Com certeza. Quando nos mudarmos adequadamente, será a primeira coisa que faremos.

— Todo dia?

— Todo dia não. - riu. - o que acha de todos os fins de semanas? Quando eu não estiver viajando?

— Preferia todos os dias. - declarou o pequeno. - mas tudo bem, obrigado, pai! Mark! Samuel! Olhem o que eu ganhei!

O menino correu para longe, deixando Miles inexplicavelmente emocionado. Ele acabava de chamá-lo de pai? Era esse o tamanho do afeto que o pequeno Aaron tinha por ele? Os dois tinham brincado e cavalgado muito nos últimos dias, mas em momento algum se referira a ele assim.

Terminada a sessão de presentes, Charles, Alexander e William se organizaram para tocar. Os três herdaram a veia artística de tio Benedict, porém na forma musical. O mais velho tocava piano e os dois mais jovem seguiam com o violino, embora todos os três tocassem qualquer instrumento com perfeição. Era uma quadrilha simples, que alguns dos mais novos já haviam aprendido. Depois, valsaram – seu braço já estava bem melhor, e não necessitava mais da tipoia - mas a essa altura as crianças, já cansadas, foram dormir. Quando o dia finalmente terminou, já no meio da madrugada, todos foram dormir cansados.

Menos Miles e Ruby, que estavam ocupados com outros assuntos.

— Eu… Queria lhe dar um presente de natal, mas não consegui pensar em nada. - disse Ruby tímida, vestida em sua melhor camisola e de cabelos soltos. - pensei que talvez, você… gostasse de ter… a mim.

— Ruby… - murmurou, engolindo o seco. - tem certeza?

— Tenho. - assentiu ela. - quero consumar nosso casamento.

Miles caminhou até ela, selando seus lábios calmamente.

— Sua mãe lhe ensinou o que acontecerá?

— Não.

— Neste caso, terá que confiar em mim. - disse ele, com a voz baixa e profunda. - você confia, coração?

Então ela respondeu, sem hesitar:

— A minha vida.
 

~
 

— Que frio.

Miles se arrepiou na cama. Ruby estava de pé, apoiada na janela admirando o amanhecer. Como ele estava apenas de ceroulas, o vento entrava pela janela atingindo-o em cheio.

— Não sente frio? - perguntou ele, levantando-se da cama e olhando pela janela. Ela estava linda ali de pé, com o queixo apoiado na mão.

— Sinto, mas eu gosto. - respondeu a esposa. - faz sentir que estou viva.

Ele lembrou-se de algo e foi até o quarto de vestir, voltando com uma flor amarela na mão.

— O que é isso? - ela perguntou.

— Um crisântemo. - ele foi até ela, abraçando-a por trás. - comprei um buquê deles para você, mas depois de tudo o que aconteceu, esqueci de entregar.

— É uma flor bonita. - elogiou ela, pegando-a delicadamente pelo caule.

— Ela sempre me lembrou o nascer do sol. - continuou ele, amando aquele momento. - não acha?

— Realmente. - Ruby levantou a flor, colocando-a do lado do sol ao seu ângulo de visão. - eu amei, obrigada.

— Não precisa agradecer, seu presente foi bem melhor.

— Não foi, não. - ela negou. - o seu presente foi melhor.

— Uma flor?

— A flor também. Mas o presente que me refiro foi… ter me salvado. Obrigada, Miles. Obrigada por tudo. Obrigada por permitir te amar, e amar sua família.

— Te amo. - declarou ele.

— Sim, eu sei… Também te amo. 


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Notas finais do capítulo

Participações:
Emma Ridgely ?“ protagonista do livro “Esplêndido”, da série Blydon.
William Ridgely ?“ 1º filho de Emma e Alexander.

Citações:
Gillian Ravenscroft (ex Kemble) 2ª filha de Robert e Victoria.
Caroline Rokesby (ex Bevelstoke) 1ª filha de Turner e Miranda
Georgiana McVie ( ex Dunford) 1ª filha de Dunford e Henry
Olga Ridgely (ex Valentine) 2ª filha de Harry e Olivia.
Melody Smythe-smith 2ª filha de Daniel e Anne.



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