"O Mestre aponta o caminho; o discípulo segue sozinho até encontrar novamente o Mestre, mas, desta vez, dentro de si mesmo"

Sentiu-se exausta como há tempos não sentia; os treinos de Tsunade-sama estavam tirando seu coro com uma facilidade surpreendente. Ainda sim, Sakura Haruno estava completamente satisfeita.

Há alguns meses, tendia a se auto sabotar com seus pensamentos traiçoeiros que insistiam em caracterizá-la como fraca e insatisfatória. Também não entendia porquê a Senju havia acatado seu pedido desesperado, mas era eternamente grata pela chance dada. 

Ainda que se sentisse insignificante o suficiente para treinar com uma sannin, Tsunade-sama parecia impressionada com seu exímio domínio de chakra, o que era essencial para se tornar uma médica-nin competente. Sua concentração exacerbada e suas longas noites de estudo também era veemente notadas pela mestra, que tendia a xingá-la pelo esforço excessivo.

Sakura sempre empenhou-se, não importava o quão exausta estava ou o quanto suas juntas protestavam devido a fadiga. Sentia que precisava mostrar-se hábil em algum campo, seja demonstrando força de vontade ou jogando a cara nos grossos livros de anatomia. Vez ou outra, pouco tempo antes do término do treino, acabava adormecendo sob as pilhas de pergaminhos, fazendo com que Tsunade suspirasse frustradamente, antes de deixar escapar um longo sorriso tenro.

Tsunade parecia entender a fibra e dedicação da garota; não era tão simples tornar-se uma médica-ninja, muito menos uma médica eficiente e complacente. No entanto, Sakura parecia preencher todas as lacunas responsáveis por uma notável ninja-médica. Enquanto a observava concentrar chakra nas mãos pequeninas e sadias, notava o quão paciente e habilidosa ela era, além de ser uma jovem compreensiva e carinhosa.  

Nunca a achou franzina ou medíocre, Sakura Haruno era o tipo de ninja comum, sem nascer em um clã glorioso ou poderoso, restava a ela longos anos de muita prática e treinamento, além de uma boa tutora. Para Tsunade, era isso que faltava em Sakura; treinos específicos para seu tipo de habilidade.

Também nunca a viu como incompetente, até porque nunca treinou alguém ou a si mesma que possuísse o mesmo empenho de Sakura, nem mesmo conheceu alguém com uma autocrítica tão danosa e insensível como a Haruno propende a fazer com sua própria pessoa. Entendia que os anos ao lado do time 7 havia modificado seu caráter e seus objetivos, mas não compreendia porquê ser tão dura consigo.

Tentava lhe avisar sobre seus atos de sabotagem, seja com uma longa conversa acompanhada de saquê (o que se tornou muito habitual entre as duas) ou com seus olhares reprovadores. Mesmo assim, Sakura nunca pareceu mudar. Seu amadurecimento veio aos poucos, mas ao longo dos dois anos de treinamento, a Haruno seguia impassível com seus objetivos e sua ânsia em se tornar alguém útil. Nem mesmo seus treinos mais pesados faziam-na desistir ou desanimar, no fim do dia sempre avistava o sorriso cansado e aquele brilho de quem ama aprender e é grata por isso.

A garota também a olhava de maneira muito distinta e única, era semelhante ao jeito que Jiraiya lhe encarava; com respeito, carinho e muita admiração. Ao longo dos primeiros meses, a sua relação com sua aprendiz havia evoluído rápida e assustadoramente; Tsunade jamais criou um laço como aquele, do qual sentia mais necessidade de protegê-la do que de ensiná-la, embora soubesse que Sakura estava longe de precisar de assistência e proteção.

A todo custo tentava não transparecer o sentimento terno e familiar para com a Haruno, não queria amolecê-la ou transmitir um possível “afrouxamento” de seu treino. Tinha conhecimento de que Sakura enxergava sua dura máscara como algo essencial para mantê-la na linha, embora toda sua pose indomada fosse água à baixo após seis doses de saquê na companhia da garota. 

Ainda sim, mesmo com todo seu temperamento arredio e suas constantes críticas, o sentimento crescente pela Haruno fazia com que sentisse tremendo orgulho e satisfação em vê-la crescer mental e fisicamente. Valorizava vê-la se manter fiel a si mesma, agora com mais empenho e também muito mais forte.

Os rápidos dois anos foram como olhar para o espelho; reconheceu em Sakura uma jovem Tsunade que também era bem-disciplinada, engenhosa e dedicada. Ao contrário de si mesma, a Haruno era muito mais atenciosa e gentil com o próximo, revelando desde a primeira semana que Sakura Haruno se tornaria uma ninja e médica muito mais poderosa e afetuosa do que era. 

Não podia sentir-se mais orgulhosa.