Filho ilegítimo escrita por Pharah


Capítulo 2
Primeiro


Notas iniciais do capítulo

roi



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/794432/chapter/2

 

Aproximadamente seis anos atrás.

.

Todos os olhares de pessoas que nunca vi, com roupas que não tenho costume. O coração batendo tão rápido que pensei que fosse desmaiar, as mãos apertadas na bainha do vestido. O cheiro de vários perfumes misturados, fazendo com que o meu estômago fique incomodado, além da sensação de ter areia dentro da minha boca. As pessoas do país estrangeiro esperavam ansiosamente a minha resposta sobre o casamento. Alguns deles sabiam que era o irmão mais velho, e mesmo assim continuavam excitados com o que eu tinha para falar. Mal sabiam eles que eu escolheria o mais novo, já informada do furo do contrato.

— Senhoras e senhores — começo a falar já trêmula — estou aqui para me apresentar. Sou Haruno Sakura, o quinto fruto dos Harunos, princesa do país da Primavera. E a nova noiva… de Uchiha Sasuke.

Quando disse isso, foi nítido a surpresa e até mesmo a indignação de inúmeras pessoas. Não era isso que eles foram informados! Mas muitos continuavam felizes, sem saber do que eu tinha acabado de cometer. Embora as reações da população fossem bastante interessantes, o que mais me fez ficar incitada a investigar fora o comportamento de Sasuke. Sua boca estava entreaberta; a pele pálida. Mas o mais incrível eram seus olhos… Arregalados de susto, porém com um brilho intenso. Um brilho de uma criança que nunca havia sido escolhida para nada, um brilho que indicava a felicidade de não ser sempre o segundo, sombra de alguém.

❇✳❇

Acordo, não tão surpresa com o sonho que tive. É estranho chamar uma lembrança de sonho, mas eu revivia esse momento diversas vezes da minha vida. E eu adoro isso. Fora o último dia que eu vira Sasuke, e foi após isso que ele me deu um primeiro abraço. Eu achei que ele ia chorar depois de nos abraçarmos, mas ele piscou e sorriu para mim. E foi desta forma que eu sabia que estava mais do que apaixonada, ainda que fosse uma criança. O sentimento não havia se modificado até hoje, apenas aumentado sua intensidade com o passar dos anos em que não nos víamos, mas conversávamos através de cartas.

Finalmente saio da minha cama, cantarolando de felicidade, após me lembrar que era hoje que minha mãe apareceria na cidade para me visitar. Ela havia renunciado o seu cargo de princesa anos atrás, o que tinha feito com que Tsunade não a perdoasse, mas ela sempre voltava para me ver um dia anterior ao meu aniversário. E isso era o que importava. Na teoria, Mebuki havia sido banida da capital do país, uma forma com que Tsunade havia feito para ambas nunca mais se encontrarem. Ela sabia muito bem que sua filha não honrava o banimento, mas fazia vista grossa por mim, e, no fundo, pela própria filha.

— Vovó, eu vou para a cidade hoje.

A careta de desgosto me fez ter certeza de que ela sabia que hoje eu encontraria com a minha mãe, mas ela não tece nenhum comentário sobre esse encontro, e apenas assente com a cabeça. O amargor de Tsunade com sua filha sempre me deixou um pouco triste, embora minha mãe não desse importância para isso.

— Talvez eu possa chegar um pouco tarde.

— Basta de falar sobre isso e termine de comer. — ela resmunga enquanto ela mesmo sai da sua cadeira e se retira, resmungando coisas como “aquela filha ingrata”.

Rio de seu comportamento rude, porque no fundo sei que ela se importa, apesar de nunca demonstrar para mim, ou muito menos para Mebuki, minha mãe. E nada faria meu humor mudar hoje. Pelo encontro, e pelo maravilhoso sonho-lembrança que tive com Sasuke-kun.

❇✳❇

— Sakura! — minha mãe me abraça, animada. — É bom te ver, minha filha.

Eu sorrio para Mebuki, que mesmo que fosse muito mais nova que Tsunade, tinha uma aparência de uma mulher em seus quarenta e poucos anos. De acordo com a minha avó, ela havia renunciado de seus poderes para viver uma vida normal com seu marido e meu pai, Kizashi. Ele não estava aqui, mas como ele não era banido da cidade me via muito mais vezes. Era possível que estivesse ocupado com outra coisa ou simplesmente havia ficado em sua casa para não atrapalhar os poucos momentos que tinha com minha mãe.

— Também estou encantada de vê-la.

Ela sorri para mim, me analisando minuciosamente. Seus olhos focam atentamente ao meu rosto, e me pergunto sobre o que aquilo se tratava.

— Está muito feliz hoje, querida. Mais que o normal.

— Bem...  — minhas bochechas se coram. — Eu tive um bom sonho com o meu noivo.

Ela dá uma gargalhada gostosa, com os olhos arregalados. Algumas pessoas na rua da cidade param para nos ver, curiosos, e Mebuki afunda o seu rosto em seu capuz para ninguém a reconhecer.

— Não és muito nova para isso?

Mas o que exatamente ela pensa que sonhei? Sinto as minhas bochechas queimarem mais, e o sorrido de Mebuki se intensifica. Ela está achando graça de minha reação, eu tenho certeza.

— Mamãe! — exclamo ainda mais envergonhada. — Foi apenas uma lembrança.

Ela cessa o riso, mas ainda tem um sorriso diferenciado em seus lábios. Ela suspira, um pouco aérea, pensando em algo que não faço ideia e por fim olha para mim novamente.

— Certo. Não tinha conhecimento de que você fosse apaixonada por ele.

É estranho alguém dizer isso a mim. Todas as pessoas as quais tenho contato perceberam, pois eu sempre falo muito de Sasuke-kun e o meu semblante muda quando recebo uma de suas cartas.

— É errado?

Olho para ela ainda envergonhada, mas agora também curiosa. Mebuki havia negado a realeza, e ele fazia parte disso, talvez não gostasse muito da minha escolha. Não que isso fosse mudar os meus sentimentos.

— Não, não! De forma alguma, é até bom demais. Uma das coisas que me fez desistir de ser uma princesa foi não encontrar o meu verdadeiro amor. Sua avó havia me mostrado tantos candidatos para noivos e nenhum deles havia me feito sequer suspirar ou sorrir de um modo sonhador como você acabou de fazer.

Fico assustada com o que ela diz. Como nenhum havia feito ela nem ao menos suspirar? Suspirar não é necessariamente uma declaração de amor… Bem, vovó Tsunade deve ter escolhido alguns pretendentes questionáveis.

— Acho que sou uma pessoa de sorte, então. — respondo a minha mãe com um sorriso de rosto, mas ela não retribui. — Algum problema?

Ela coloca a mão na cabeça, ficando séria de repente, e isso me assusta. Mebuki é uma pessoa calma e divertida, o contrário do que demonstra sua expressão. Deve ser algo sério!

— Bem… Não sei como dizer isso a você, Sakura! — ela retira as mãos de sua testa e me olha nos olhos. — Mas sorte passou longe da sua vida.

— O que você quer dizer com isso?! — indago ainda mais surpresa e até mesmo um pouco irritada.

O que ela poderia saber da minha vida? Me via uma vez por ano, ou seja, havia me visto por apenas catorze vezes contando com essa. Conversávamos o dia todo, mas dificilmente eu contaria dez por cento do que acontecia comigo, afinal de contas, só agora ela percebera a minha paixão pelo Sasuke-kun.

— Sakura… — ela coloca uma de suas mãos em meu ombro esquerdo, demonstrando pena em seu olhar. — Já parou para pensar que você irá parar de envelhecer?

— Bem, isso não é óbvio? Sou uma Haruno. Temos o poder de cura e isso nos permite envelhecer apenas até onde o nosso corpo está no ápice.

Na teoria isso deveria significar que existem milhares de Haruno por aí, mas a minha avó é apenas a terceira geração. Todos os frutos de uma Haruno são mulheres, e elas sempre tiveram apenas uma filha. As outras duas, dizem as lendas, morreram em guerras, e não por velhice ou doença. Até mesmo uma Haruno tem uma limitação em se curar. Se houver ferimentos demais, ou algum irreversível como uma decapitação morremos.

— Sim, sim. Olha, eu não quero estragar o nosso encontro e nem nada, mas se você realmente gostar desse tal príncipe você tem um grande problema em mãos. Ele envelhece e você não… Já parou para pensar nisso? Na dor? Já parou para sequer entender porque a minha mãe — é estranho ouvir Mebuki chamando Tsunade de mãe, era a primeira vez. — é tão amargurada e seca? Sei que ela nunca superou a morte do meu pai. Ainda mais porque ele morreu tão cedo…

De fato, nunca tinha parado para pensar nisso. Mas o fato de ela ser rígida e séria não necessariamente em a ver com o fato de ser uma viúva. E é exatamente isso que tento dizer a ela, mas antes que eu sequer consiga abrir a boca, ela continua a falar.

— Ela não superou. — enfatiza o não. — Caso contrário por que não casar de novo? Por que nunca nem sequer cita o nome do marido?

Mebuki tinha um ponto. Tsunade não citava por nada o nome do marido, ainda que houvesse inúmeros quadros dos dois em seu quarto, e dizem que ela agora dorme no lado que ele dormia em sua enorme cama de casal.

— Eu não sei. E por que está dizendo isso, de qualquer forma? Estás querendo me deixar triste? Demonstraste que não sou tão sortuda sim, mas não há o que se fazer.

Ela volta a abrir um sorriso, mas agora ele é presunçoso. Mebuki mexe em suas madeixas loiras despretensiosamente enquanto me observa divertida.

— Há sim. Faça como eu e renuncie os seus poderes!

Ela está maluca? Tsunade é tudo para mim, não posso simplesmente renunciar e largar a minha avó… Ela me criou, me amou, fez tudo por mim!

— Jamais trairia a vovó desse jeito! Não sabes o quão triste ela é por ter perdido a filha! — decido jogar na cara, irritada.

É verdade. Foram poucas vezes, mas já presenciei minha avó chorando em seu quarto com uma foto de Mebuki. Ela poderia achar sua fuga romântica e para os dois deve ter sido mesmo, mas não para Tsunade. Nunca para as pessoas que ficam para trás.

— Ela não me perdeu, foi escolha dela eu ser exilada. Eu apenas não quis o meu poder.

Mebuki tenta se justificar, mas não acredito em sua desculpa. Isso é apenas algo que ela colocou em sua cabeça para fazer uma escolha egoísta com a própria mãe.

— E renunciou a própria família fugindo com seu amado. E me deixando no castelo depois de engravidar.

Sim… Ela não largou apenas Tsunade. Ela renunciou a mim. E quanto mais eu cresço, mais raiva eu tenho disso. O que eu tinha feito de errado? Eu era um estorvo para ser largada pelos meus próprios pais?! Kizashi me visitava muito, é verdade, mas nunca me criou como deveria ter feito.

— Eu não saberia lidar com os seus poderes e não poderia simplesmente deixar Tsunade sem uma herdeira, não é mesmo? E você também pode fazer isso. É apenas renunciar os poderes, não precisa de fugir, afinal ele também é um príncipe. Tenha a sua filha e ela será a próxima quase imortal.

A proposta me tenta um pouco, mas não serei a terceira pessoa que Tsunade mais ama e perde. Não mesmo.

— Eu… Não posso fazer isso.

Acho que Mebuki vê minha hesitação, pois seu sorriso se alarga e ela fica mais animada.

— Tente apenas por um dia. Irei te ajudar a renunciar hoje e no seu aniversário apareço para reclamá-los de novo, se quiser! — sua animação é tanta que ela começa a gesticular.

— Isso é possível? — fico em dúvida.

Só um dia… Se ela me ensinasse como renunciar os meus poderes, eu saberia para sempre como fazer isso. Sasuke-kun casaria comigo e caso eu percebesse que eu não consigo viver mesmo sem ele eu renuncio novamente! É uma boa.

— Sim. — sua voz é de confiança.

E eu confio nela. Por agora.

— T-tudo bem…

Ela coloca a sua mão no meio de sua testa e pede para que eu repita o processo. Repete algumas palavras de renúncia envolvendo o meu nome e eu repito tudo sem processar muito o que estou fazendo. Sinto uma dor aguda em minha testa e de alguma forma sei que o losango em minha testa desapareceu. Mebuki o refaz de maquiagem, por hora e esquecemos o assunto.

Passo o dia inteiro conversando com minha mãe. Ela é bem mais engraçada do que eu me lembrava e rimos muito. Corremos, comemos, passeamos e até mesmo nadamos em um dos gelados lagos da capital do país da Primavera. Fico com ela até o anoitecer e volto ao castelo. Mebuki não chega muito perto, mas nos despedimos de forma amorosa.

— Até amanhã, filha.

— É a primeira vez que a verei em meu aniversário… Até amanhã! — respondo animada.

Talvez ficando mais tempo ela perceberia a besteira de se afastar da família. E um dia Tsunade perdoaria sua filha, sei disso.

Quando entro no hall do palácio, Tsunade me espera, como em todas as vésperas de meu aniversário, com um sorriso aliviado.

— Você voltou. — ela responde aliviada.

— E como não voltaria? Já viu esse castelo? — brinco e ela faz uma careta.

— Odeio esse senso de humor. — diz azeda e sei que fiz ela se lembrar da própria filha.

Antes que eu sequer possa respondê-la, sinto uma falta de equilíbrio e um frio que nunca senti antes em minha vida. Trêmula, tento chegar perto de Tsunade, mas minha visão escurece e eu desmaio.

❇✳❇

Acordo sentindo o meu corpo queimar, e ainda sinto um frio inacreditável. Minha garganta dói, a visão é turva e qualquer menção de me mexer faz com que eu sinta uma dor horrível, portanto fico parada.

— Mas o losango… — escuto a voz do meu pai falar.

Ele estava aqui? Droga, hoje é o dia do meu aniversário e estou dessa forma… Como eu havia pegado alguma enfermidade tão rápido? Isso era ridículo.

— É a porra de uma tatuagem! Mebuki fez a minha neta suprimir os próprios poderes, Kizashi!

Tsunade já percebe o que está acontecendo comigo e está furiosa. Não consigo enxergá-los muito bem e dói muito forçar a visão, então tento apenas escutá-los.

— Te-tenho certeza de que ela irá voltar para consertar isso… — argumenta Kizashi.

Ouço um estrondo e sei que minha avó deu um soco em alguma coisa de madeira. Minha mesa? Possivelmente. Tudo dói… Ouvir incomoda, pensar cansa...

— Sabes que é uma mentira! É o que ela faz! Vem, manipula as pessoas e vai embora! — a voz de minha avó começa a ficar realmente alta.

— Mas ela pode reverter o processo!

Por um tempo apenas o silêncio. Talvez eu já não estivesse ouvindo mais? Mas escuto a voz de minha avó novamente.

— É possível reverter, mas não achas que Mebuki teria feito isso para curar-te quando estava gravemente ferido de sua viagem, dez anos atrás?! Em vez disso correu chorosa ao meu encontro!

Kizashi solta um grito desesperado, sem saber o que responder. Mais um estrondo em minha mesa. Se continuar assim, ela vai se quebrar. E meu ouvido também, com esses barulhos dolorosos. Tento respirar pelo nariz, mas ambos estão congestionados. Pego uma lufada de ar com a boca e sinto minha garganta sendo arranhada como se o ar fosse areia.

— Ela vai voltar, Tsunade-sama… — Kizashi fala, convicto.

— Não, não vai. — Tsunade fala com ainda mais firmeza, e com um pouco de raiva.

— Então a cure.

Tsunade jamais me deixaria dessa forma se pudesse, então imagino que tenha algo sobre essa doença... Ou sobre como estou?

— Não posso! O corpo de Sakura está rejeitando o poder, seja o dela ou o meu.

O que ela queria dizer com isso? Meu corpo não aceitava mais os poderes de uma Haruno? Tsunade diz ser reversível, mas teria ela certeza disso?

— De qualquer forma Mebuki conseguiu criar uma imunidade boa com o passar dos anos.

Escuto uma porta sendo aberta, e sei que alguns curandeiros entram. Fecho os meus olhos e finjo que estou dormindo. Quero ouvir o fim dessa discussão.

— Sakura não é Mebuki! E, além do mais, está na época do resfriado mais severo do país e ela tem todos os sintomas! Sua esposa matou a minha filha! — Tsunade acusa irada.

— Ela não é sua filha, Tsunade. É a NOSSA filha.

A voz de Kizashi agora também fica raivosa, visto que Tsunade clama ser minha mãe. E eu concordo com ela. Sempre que eu precisei de qualquer coisa, qualquer apoio, era ela quem estava lá. E ainda está, pelo visto.

— Não, não é. Vocês não a criaram. — Tsunade respira fundo. — Vá embora, Kizashi. Imediatamente, ou não irei me segurar com as consequências.

Quando escuto meu pai ir embora do quarto, volto a adormecer, sentindo-me ainda pior que quando havia despertado.

❇✳❇

Acordo, vendo Tsunade chorando enquanto alisa o meu rosto. Tento falar, mas não consigo. Durmo de novo, após ouvir mais um soluço dela.

❇✳❇

Agora há tantas pessoas no meu quarto que não faz mais sentido algum. Vejo Tsunade, Mebuki, Kizashi e até mesmo Sasuke-kun… E eu? Mas nós dois estamos mais novos, brincando no castelo dos Uchiha, como antigamente. O que está acontecendo? Estou tendo alucinações pela febre?

— Sasuke-kun… — sussurro, quando o vejo correndo e desaparecendo lentamente. — Não vá…

Tanto barulho, tanta dor… Não sei se vou conseguir.

❇✳❇

— Sakura! — reconheço a voz e acordo imediatamente.

É a voz de Sasuke, mas mais grossa. Abro os olhos, cansada, e o vejo na minha frente. Sei que é real, pois ele tem a minha idade e eu jamais iria conseguir imaginá-lo com tamanha perfeição. Sua expressão é da mais pura preocupação, deixando seu cenho franzido e os olhos com uma pupila o menos dilatada possível. Ele está do lado da minha cama, e parece ter crescido bastante.

— S-sasuke-kun… — sussurro, rouca.

— Eu vim para o seu aniversário, mas pegamos uma chuva e me atrasei por uma semana… — eu já estava nesse estado há tanto tempo? — Você precisa reagir!

Seus olhos começam a ficar vermelhos e sei que sua preocupação é tamanha a ponto de ele querer chorar. Não, não posso fazer com que ele magoe tanto assim. Preciso ficar bem, por Sasuke-kun. E pela minha avó, também.

— Eu… Não quero morrer. — digo.

— Você não vai. — ele afirma com tanta convicção que eu começo a acreditar.

Sim. Eu não posso e não vou morrer. Eu tenho muito o que fazer ainda, e não posso ficar mais magoar minha avó e nem o Sasuke-kun. Sinto as suas mãos cálidas tocarem a minha e algo dentro de mim se esquenta. O meu corpo todo fica ainda mais quente do que nunca, e por alguns milésimos de segundos penso que vou até entrar em combustão. Mas algo em mim sabe que não é nada disso, mas o meu poder acordando novamente.

❇✳❇

— Sakura. — minha avó me acorda com um sorriso aliviado.

Pela primeira vez vejo Tsunade com olheiras. Ela está cansada e sei que quase não dormiu enquanto eu estava acamada. Seu rosto me dizia isso. Sinto-me culpada imediatamente por ter cedido ao pedido de minha mãe.

— Vovó… — eu sussurro, ainda um pouco cansada. — Me desculpa.

Olho para ela envergonhada, mas não vejo nem ao menos um pingo de raiva, apenas alívio por eu estar bem agora. A única coisa que eu precisaria seria de algumas boas noites de sonos sem interrupção.

— Está tudo bem.

— Ela disse que era só um dia.

Sei que Tsunade sabe do que estou falando. Ela não se irrita, mas não olha nos meus olhos. Agora há um tom de mágoa em seu rosto.

— É o que Mebuki faz.

— Ela ao menos apareceu aqui? — indago.

Mebuki disse que iria para reverter o processo. Talvez ela não tivesse conseguido? Mas Tsunade fica em silêncio enquanto aperta as duas mãos.

— Sasuke já está indo embora. Ele excedeu o tempo de estadia combinado. — ela muda de assunto e isso significa que ela nem se deu o trabalho de aparecer. — Fugaku pode ficar ainda mais furioso.

Droga… Gostaria de passar um tempo com ele. Depois daquele mês nunca mais havíamos nos visto, mantendo contato apenas com várias cartas. Eu havia ficado surpresa com o tamanho que Sasuke havia atingido. Podia estar acamada no dia, mas eu observei bem ele. Sempre fiz.

— Eu posso vê-lo?

Ela assente, agora mais serena.

— Vou chamá-lo. — ela diz, mas antes de sair do quarto me olha sorrindo. — E Sakura? Sabe qual a diferença sua e de Mebuki? Ela desistiu dos poderes e da vida dela por medo de sofrer. Você recuperou o seu justamente por medo de fazer as outras pessoas sofrerem.

Não sei bem o que dizer, no entanto isso me deixa muito feliz. Minha avó não é uma pessoa que transmite muita emoção o tempo todo, mesmo que ela tenha, ainda mais para elogiar abertamente uma pessoa.

— Oh. — é o que sai dos meus lábios.

— Temo que se Sasuke não viesse você poderia ainda estar em estado crítico. Suponho que devo agradecê-lo. — ela diz, emburrada.

Quase rio da expresão dela. Tsunade odeia agradecer alguém. Algumas pessoas podem dizer que é algo da realeza ou falta de educação, mas sei que é apenas vergonha. E não tem nada de errado nisso. Ela sai do quarto deixando a porta aberta e só agora que me lembro: fiquei cerca de oito dias doente, se não mais, e não devo ter tomado banho e arrumado de uma forma geral. Meu cabelo está desgrenhado, meu corpo mais magro que o normal, mas antes que sequer dê algum tempo para me arrumar Sasuke aparece no quarto.

— Sakura. — ele diz.

Não está surpreso por me ver acordada ou melhor. Isso faz-me sentir bem, pois ele acreditou em mim.

— Sasuke-kun! — eu digo, feliz, mas ainda muito encabulada. — Droga, não queria que você me visse dessa forma…— penso alto.

Fico vermelha imediatamente. Por que eu falei isso em voz alta mesmo?!

— Acho que vou cancelar o noivado. — ele diz.

— Eu… O quê?! — olho estupefata mas ele dá uma risada anasalada. — Ah, droga Sasuke-kun, não me assuste dessa forma. Obrigada por vir.

Sasuke não tem o costume de fazer brincadeiras ou rir. Imagino que esteja de bom humor por eu ter melhorado, ou fez isso apenas para que eu me sinta bem ou com menos vergonha.

— Não tem o que agradecer.

— Já está indo embora, não é? Não quero que o Fugaku-sama se irrite com você. —olho para ele preocupada.

Sei como seu pai é e não tem dó nem piedade de seu filho. O vi várias vezes no ano em que passei um mês no castelo dos Uchiha. Severo não é uma palavra forte o suficiente para a criação que Sasuke tinha. Somado ao “medicamento” que ele tomava… Muito suspeito. Sinto que minha avó sabe mais sobre isso, mas ela diz que não tem o que me falar ainda.

— Ele já vai, de qualquer forma, mas não é culpa sua. Eu quis vir. Por algum motivo eu sabia que tinha que vir dessa vez. Quando ele descobriu que fui sem a sua permissão deve ter ficado enfurecido.

Olho assustada para Sasuke-kun. Ele não está preocupado, mesmo que saiba que seu pai não o perdoaria tão fácil.

— A vovó sabe?

Ela não tinha dito isso para mim. Talvez fosse comentar mais tarde, quando eu tivesse melhor. Ou então imaginou que eu não fosse pedir para vê-lo, com medo de incomodar. Tsunade sempre olha para uma situação favorável para mim... Ela é a melhor avó que eu poderia ter.

— Sim. — ele afirma. — Mas Tsunade não queria te preocupar.

Não acredito que seja por isso, pois ela sabe como sou, mas não há tempo para explicar que ela apenas gostaria de fazer um favor para mim que era vê-lo denovo... Não, seria embaraçoso demais.

— Eu me preocuparia de qualquer forma. — respondo. — Então… Nos vemos depois?

Decido não prolongar a visita. Sasuke-kun deve ir embora o mais rápido, pois não duvido que apareça algum guarda de Fugaku na fronteira do nosso país a sua espera. Ele assente a minha pergunta, e eu me levanto para dar-lhe um abraço.

Engraçado… Na primeira vez que nos vimos era ele quem estava doente e eu havia o ajudado, agora acontecera o inverso. Sasuke-kun também está bem mais alto, me ultrapassando por alguns poucos sentidos.

— Até a próxima vez.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Esse foi o último capítulo do "passado". O próximo se passará quando ambos estiverem 20 anos. Espero que tenham gostado, e até o próximo cap ;)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Filho ilegítimo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.