Tarab

árabe

O sentimento de estar extremamente envolvido por uma música.

No momento em que o som do boadhrán de seu pai preencheu a clareira, os olhos de Hinata brilharam e a grã-bruxa levantou do trono de madeira e flores que ocupava, retirando as peles que a protegiam do vento gelado e parando em frente ao seu mais novo marido. Os pés desnudos começaram a bater na grama gelada no mesmo ritmo da música que tomava forma enquanto os outros instrumentos iam, um a um, se juntando ao som que seu povo havia tocado tantas outras vezes em comemorações. Ela sorriu abertamente, um sorriso tão brilhante e bonito que parecia a própria representação da Deusa tríplice que todos ali adoravam.

Aquela música era um presente: para ela, para ele, para a Deusa.

Ela dançou em círculos em frente aos tronos, batendo as mãos alegremente e encarando o homem com quem dividiria o resto de sua vida. Os olhos dele brilhavam no que parecia uma promessa, fazendo com que o sorriso dela aumentasse e os passos se tornassem mais ousados. Hinata entregou-se à música, sentindo o coração bater alegremente junto aos instrumentos que tanto amava, junto à melodia que se entrelaçava com sua alma até que ela pudesse sentir a própria Deusa ali, cantando na língua do vento que acariciava sua pele. 

Enquanto a música ainda tocava, a grã-bruxa dos Hyuuga pegou o athame que sempre carregava amarrado em couro na cintura e, pela primeira vez em séculos, traçou um círculo mágico sob os olhos dos outros clãs. Deixou as batidas ritmadas ditarem a forma que ela percorria ao redor da clareira, acendendo as velas posicionadas estrategicamente mais cedo, chamando os elementos para si e sentindo todo o corpo vibrar com aquele poder.

As batidas estavam intensas quando ela chamou pela terra. O elemento a  respondeu tão prontamente que a fez sorrir ainda mais, preenchendo aquele lugar sagrado com o cheiro de terra molhada e grama recém cortada. O ritmo das batidas se  tornaram mais leves, como brisas, enquanto ela fazia sua prece para o ar, preenchendo-os com o vento fresco da noite que, apesar de frio, não incomodou nenhum deles.

Em seguida, ela clamou pelo fogo. O elemento passou a brilhar ardentemente em cada tocha e na fogueira cerimonial que estava ao centro, espantando as sombras dos inimigos e as criaturas terríveis que habitavam as noites. O último elemento, a água, veio ao oeste junto a batidas mais fluidas. Ele lavou a alma da bruxa para que ela seguisse até a fogueira, erguesse seu athame e dissesse as palavras sagradas, invocando a Deusa e o Deus para que a benção naquela união estivesse completa.

A música findou no exato momento em que Sasuke levantou do trono gêmeo ao dela e caminhou lentamente até a bruxa de olhos perolados e cabelos escuros como a noite, os olhos dele agora brilhavam em vermelho — símbolo da herança vampírica que carregava —  e ela não pôde evitar o orgulho que surgiu em seus lábios ao ver a marca prateada, a marca dela, no pescoço pálido do marido. Ele segurou suas mãos com firmeza. Ternura e poder ancestral exalavam dos dois.

Filhos de uma mesma Deusa, mas separados por séculos de intrigas. Tão parecidos, tão diferentes. Herdeiros de seus tronos, líderes de seus povos. Hinata estaria mentindo se dissesse que nunca temeu aquela união, porém, no momento em que colocou seus olhos no herdeiro dos vampiros Uchiha, ela soube. 

Parceiros, amantes. 

Outra música começou a preencher a clareira, o som delicado da harpa da Hyuuga mais nova se mesclava ao violino da matriarca dos Uchiha numa melodia nunca ouvida antes. 

União. 

— Antes separados, agora um — ela começou, sua voz firme ecoando por toda a clareira, chegando aos ouvidos de todos ali presentes. —  Bruxas, druidas, vampiros e lobos. 

— Antes discórdia, agora harmonia — a voz dele trouxe arrepios para a pele feminina, que soltou a mão do companheiro apenas para cortar com firmeza a própria palma direita e entregar a faca cerimonial para ele, que fez o mesmo com a esquerda. 

— Sob o olhar da Deusa e do Deus eu lhe digo as palavras, Sasuke, líder dos vampiros da corte Uchiha — o coração feminino batia acelerado em seu peito quando o sangue quente escorreu por sua palma e pingou na grama verde. — Desse dia em diante, eu sou sua e você é meu. 

— Hinata, líder das bruxas do coven Hyuuga, sob o olhar da Deusa e do Deus eu lhe digo essas palavras. Desse dia em diante eu sou seu e você é minha — ele juntou as mãos deles e o poder fluiu ao redor do casal junto a música que atingia seu ápice. — Eu prometo a você: juntos nós protegeremos nosso povo.

— Separados somos fracos — disseram como um e sorriram quando a marca da parceria brilhou tão forte quanto a lua cheia no céu. — Mas juntos somos fortes.

E juntos eles dançaram o restante daquela música nova e bela que significava a união de todos os filhos da Deusa. Se envolveram naquele som da mesma forma que suas almas se enroscavam uma na outra, dançaram ao redor do círculo que pulsava pela magia daquele laço, mergulharam na bênção que aquela noite trazia e as expectativas de um futuro belo e brilhante para ambos os povos — que agora eram um só.