The Answer Is In The Stars escrita por Foster


Capítulo 2
About advices, predictions and discoveries


Notas iniciais do capítulo

Oieee
Sim a fic tem uma pegada de Heather, mas não é EXATAMENTE Heather. Nesse capítulo temos várias reflexões de Al e algumas revelações... Interessantes!
P.S: Gente é o seguinte: tô tentando postar tudo de uma vez porque eu tô muito ansiosa shdfoiho são cinco capítulos, então não prometo que tudo seja postado hoje - 24/08 -, mas tô me esforçando aqui.
Espero que gostem!



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19 de dezembro - atualmente

 

Eu finalmente tinha digerido e aceitado as três coisas que percebi no fatídico dia três de dezembro.

Primeiro, que eu não era tão diferente que Lily e James, o que certamente me deu uma perspectiva muito diferente deles: mais positiva e menos preconceituosa. Bom, pelo menos a respeito de Lily, que não estava fazendo nada daquilo pelos outros, mas por si. Quanto à James eu ainda tinha minhas dúvidas sobre dar um voto de confiança. Nunca estivemos exatamente em bons termos.

Segundo, que Scorpius Malfoy e Rose Weasley pareciam ser feitos um para o outro, fato que parecia se solidificar a cada dia mais. Nada parecia abalá-los e Rose não parecia minimamente enjoada de Scorpius. 

Terceiro, que os astros mentiram descaradamente para Sibila, que mentiu dolorosamente para mim. Não havia resposta nenhuma na constelação de escorpião. Meu coração não alcançaria meu desejo. Eu era um idiota por acreditar nessas baboseiras. 

E se eu puder colocar um adendo: eu percebi que fazer uma tatuagem em referência ao símbolo de escorpião, que além de ser o seu signo e do seu melhor amigo ainda é relacionado ao nome dele, é uma ideia estúpida, principalmente se você a esconder por semanas. A não ser que você queria uma maneira efetiva de deixar sua amizade esquisita, porque foi exatamente isso que aconteceu. 

— Vocês não estão se falando? — Lysander perguntou indicando Scorpius, que estava de mãos dadas com Rose, provavelmente indo para a aula de Tratos das Criaturas Mágicas, enquanto caminhávamos para o que deveria ser a última aula do semestre antes do recesso de Natal e, ironicamente, da professora Sibila. 

— Mais ou menos. Ele só passa o tempo livre com a Rose. E as aulas também.

— Ou seja, o tempo todo. — deduziu o loiro e eu assenti, sem emoção. 

Nos sentamos na mesa de sempre, deixando um lugar vago para Rigel, que sentava conosco desde o meu aniversário do terceiro ano, mas chegava com uns cinco ou dez minutos de atraso. 

— Hoje falaremos um pouco sobre a relação do destino com o que lemos nas borras de café e folhas de chá. Muitos de vocês me perguntam se o futuro é mutável ou se pode ser interpretado de maneiras diferentes. — ela fez uma pausa exagerada, arregalando os olhos. — E a resposta é sim. É muito difícil mudar totalmente se algo está predestinado a acontecer, mas é possível buscar outras saídas. Muitas vezes a resposta não está na saída mais óbvia.

Eu queria me levantar e chamá-la de charlatã por ter me dito coisas que agora ela basicamente refutava. O que ela estava dizendo então? Que eu interpretei errado? O que mais poderia ser senão aquilo?

— Pra mim ela não passa de uma farsante. — sussurrei em tom baixo para Lysander, que deu uma risadinha, mas Rigel, que havia acabado de chegar e se sentava logo à frente de nós, me olhou com raiva.

— Só porque não aconteceu o que você supunha que aconteceria não significa que ela tenha errado. Significa que você não entendeu errado.

— E o que é que você sabe sobre isso. — eu estava irritado, de braços cruzados e olhos fixos no quadro negro para não precisar ver a expressão retorcida de Thomas-Finnigan ou seus olhos castanhos claros semicerrados. Porém ele não estava disposto em me deixar em paz.

— Sei mais do que você imagina, Potter. Eu sei que tem relação com seu signo. E outras coisas a mais. 

Lancei meu olhar mais ameaçador para ele, pedindo que calasse a boca. Não sei porque diabos continuei sentando na mesma mesa que ele por todos esses anos. Lysander tinha a expressão confusa ao meu lado, como se estivesse caçando na memória alguma ligação que tivesse deixado para trás.

— Não é da sua conta, Thomas.

— É Thomas-Finnigan. — rosnou de volta para mim, aumentando o tom de voz. 

— Desculpe, Rigel enxerido Thomas-Finnigan. 

— Atencioso da sua parte tentar arranjar um novo nome do meio para mim, mas Órion já está de bom tamanho, obrigado. 

— Seu nome inteiro é Rigel Órion Thomas-Finnigan? — ri baixinho, por pura provocação.Isso o irritou profundamente. — Por Merlin, tem certeza que seus pais gostam de você?

— Albus Severus Potter. Tem certeza que seus pais gostam de você?

— Cale a boca.

— Cale a boca você. 

— Você começou.

— Sonha, Potter. 

— Puta merda, vai se foder. — meu tom saiu mais alto do que o seria considerável aceitável. A professora nos encarava com os olhos arregalados, incapaz de acreditar no que estava presenciando. 

Como eu fui de convidado a fazer aulas particulares para aluno em detenção em plena semana pré-recesso natalino com Rigel Órion Thomas-Finnigan? Eu não sabia o que eu havia feito para merecer aquilo, sinceramente.

Limpar as bolas de cristal e as xícaras usadas na leitura de borras era um trabalho muito chato. Ainda mais com Rigel e Sibila tricotando sobre adivinhação como se eu não estivesse ali. 

Quando sem querer deixei uma das xícaras, ainda cheia de café, cair no chão, Sibila me encarou sob os óculos redondos, correndo em minha direção. 

— Um segundo, querido. — ela pegou gentilmente a minha mão  por alguns segundos antes de se agachar e olhar os cacos da xícara. Não era possível que ela iria fazer uma leitura daquela xícara quebrada, era? 

— Você vai ler alguma coisa aí? Isso é possível? — me virei exasperado para olhar para Rigel, que apenas deu de ombros. 

— Não, não. Estou apenas me despedindo. É sempre triste quando perdemos um objeto querido. Minhas xícaras são minhas fiéis companheiras. 

— Me desculpe. Posso fazer um feitiço para consertá-la. — me senti terrivelmente mal por conta do acidente, mas Sibila balançou a cabeça, erguendo-se novamente.

— Quando as coisas quebram, é difícil consertá-las novamente. Se humanos quando são consertados não voltam totalmente à sua normalidade, porque deveríamos sujeitar os objetos ao mesmo? Se a xícara caiu agora, era porque precisava cumprir seu destino. 

— Cumprir o destino? — aquela história toda parecia maluca demais, mas Sibila parecia lúcida e Rigel não estava discordando dela e, acredite, ele teria feito se tivesse algo contra. 

— Talvez tenha um motivo para você e Rigel terem brigado hoje e ficado em detenção comigo. Assim como deve ter uma razão para a xícara ter caído e eu ter lhe falado tudo isso. Talvez isso instigue alguma coisa. 

O olhar que ela me lançou me fez lembrar de toda a frustração que eu vinha sentindo com o relacionamento de Rose e Scorpius e, pior ainda, a enganação dos astros para cima de mim. 

Lancei um olhar furtivo para Rigel, que tinha as mangas arregaçadas, exibindo uma tatuagem no antebraço que agora eu conseguia identificar como sendo de uma constelação que eu não tinha certeza qual era e que parecia reluzir sob a pele negra dele. Ele possuía um sorriso de deboche no canto dos lábios, como se me desafiasse a falar para ela o que eu disse mais cedo para ele. 

Evidentemente que eu não a chamaria de charlatã, mas revelei minhas inseguranças sobre a precisão do que ela havia me falado, e de como a constelação de escorpião não era a resposta, necessariamente, mas o caminho para a resposta. 

— Não sou capaz de lhe dar a resposta completa, querido, só de lhe mostrar por qual caminho seguir. Você está numa caçada longa, mas não eterna. Lembre-se disso. A resposta está aí, em algum lugar. 

Com um afago no meu ombro ela se virou e recolheu os caquinhos da xícara, dizendo que já voltava. Achei tudo aquilo inútil, porque ela sempre havia me dito que as respostas estavam nas estrelas, não em algum lugar. Teria me poupado muitos surtos e delírios, aparentemente.

Rigel pegou um dos livros da estante da professora e se sentou em um dos pufes gigantes da sala em um ponto oposto do qual eu estava parado de pé. Franzi o cenho, indignado que ele fosse me deixar fazer todo o trabalho sozinho.

— Precisamos terminar isso logo. Ainda preciso arrumar meu malão.

— Você ainda tem amanhã o dia inteiro para fazer isso. — falou sem tirar os olhos do mesmo livro que ele havia me emprestado anos atrás e que eu havia devolvido depois de constatar que tudo não passava de uma mentira. — E Sibila disse que não precisávamos nos matar para limpar tudo isso hoje.

— Prefiro terminar logo hoje e não precisar voltar aqui amanhã. — resmunguei de braços cruzados, mas me sentando também, pois se ele não iria fazer nada, eu não seria idiota em continuar sozinho.

— Desesperado para ficar longe de mim, Potter? — finalmente me lançou um olhar divertido com a sobrancelha erguida e eu revirei os olhos.

— Esse livro não me ajudou muito, de qualquer forma. — constatei depois de alguns minutos que estávamos em silêncio. — Sibila não o escolheu muito bem.

— Não foi ela que escolheu. Fui eu. 

Foi minha vez de encará-lo com a sobrancelha erguida. 

— Você me disse que foi ela.

— Isso foi pra que você aceitasse sem suspeitas. 

— Ok… — cruzei os braços, respirando fundo para não perder a paciência com o garoto. — E por que você fez isso? Queria rir do meu desespero?

— Não. Só resolver seu problema. Não sou responsável por você ter entendido tudo errado. 

— E por que queria resolver meu problema?

— Eu tenho te observado há algum tempo. — deu de ombros. — É meio deprimente esse seu amor unilateral pelo Malfoy.

Meu sangue gelou na hora. Lily constatar isso e me inquirir a respeito era uma coisa, pois éramos irmãos e confiávamos um no outro. Mas Rigel era um garoto implicante que certamente não pensaria duas vezes em sair falando isso por aí. 

— Eu não são stalker, ok? Só sou um bom observador. Na época eu imaginei que você tivesse problemas do coração, mas que fossem sobre uma das suas primas na verdade, porque na real nunca te vejo andando com muitas pessoas fora do seu círculo próximo.

— Eu ando com Lysander. — me defendi, ignorando totalmente o assunto da minha paixão por Scorpius.

— Que é filho da melhor amiga dos seus pais. Assim como Alice, que você nem é tão próximo assim. E até mesmo eu.

— Não somos próximos. — rebati com as sobrancelhas unidas em uma expressão raivosa. Rigel riu pelo nariz, dobrando a ponta de uma das páginas do livro e fechando-o. 

— Mas também não somos completos estranhos. Sentamos juntos na mesma aula há três anos. E nossas famílias são amigas.

— Até ontem eu não fazia ideia do seu nome do meio.

— Isso não quer dizer nada. — deu de ombros e eu ri com incredulidade. 

— Está insinuando que nos conhecemos. Ou melhor, que você me conhece bem o suficiente, aparentemente.

— Sei que vive numa competição silenciosa com James e Lily sobre quem é o melhor irmão, além de ser super fechado à aproximação de terceiros e ser extremamente péssimo em esconder emoções.

Não respondi uma palavra, pois não queria dar-lhe o gostinho de estar certo. No entanto, como Rigel mesmo havia dito, eu era péssimo em esconder emoções. Seu sorriso de satisfação apenas confirmava que minha expressão lhe entregara tudo.

— Eu só fui descobrir que você tinha uma paixonite pelo Malfoy no dia do aniversário da Rose. Vi que estava incomodado com o sumiço deles, mas achei que era por ciúmes da Rose. Não do Scorpius. A cena no estúdio do Teddy deixou bem claro, se quer saber.

Seria esse um dos motivos pelos quais Scorpius andava distante? Droga, droga, droga. Se fosse aquilo minha vida realmente havia acabado. Como eu iria passar por cima daquela vergonha? Era o vexame do século!

Respirar estava complicado, de maneira que precisei afrouxar minha gravata. Rigel me observava atento, sem esboçar muita reação, mas parecia estar pensando bastante sobre o que diria na sequência.

— Não vou falar nada, pois sei que não tenho direito algum de fazer isso. Só que me sinto no direito de te falar algumas coisas.

Não tentei nem conter a gargalhada por educação, apenas a despejei sem remorso algum. 

— Ótimo, você está querendo me dar conselhos. Vá em frente.

Me ajeitei no pufe, encarando-o com minha melhor cara de falso interesse. No entanto, Rigel não se abalou por minha pose soberba, como usualmente faria.

— Sei que está agindo dessa maneira por defesa própria, então vou ignorar suas gracinhas. Só hoje e só por esse motivo. — me alertou, ao passo que apenas revirei os olhos. — Eu sei que você está pensando que ele sabe, e provavelmente isso seja verdade. Então, considerando que ele algum dia corresponda você. Você acha isso justo? Que ele saiba e esteja deliberadamente te ignorando? 

Não havia pensado em tal possibilidade, de não estar sendo rejeitado por sequer estar conseguindo dizer qualquer coisa a respeito. Engoli em seco, sem saber muito bem o que dizer, e Rigel saiu de sua pose de sabe tudo pela primeira vez durante nossa conversa, apoiando os cotovelos no joelho e suspirando profundamente enquanto me olhava sem nenhuma pretensão de ser rude ou qualquer coisa do gênero.

— Eu sei que as pessoas muitas vezes ficam confusas com os sentimentos e tentam colocar barreiras invisíveis, mas… Se apegar ao “e se”, no seu caso “e se Scorpius um dia me corresponder” é muito doloroso. E por isso pergunto novamente. E se ele um dia te corresponder? Toda essa espera vai valer a pena? Você precisa se contentar com alguém que te escolheu como uma segunda opção, já que a primeira não deu certo? Te deixando de molho, por não querer abordar o assunto, já que não quer de fato de rejeitar, mas apto a responder um chamado se for necessário?

— Pare. — pedi com a voz fraca. Pigarreei, tentando encontrá-la novamente. — Só pare. Isso não é só sobre amor correspondido. É sobre amizade. Scorpius não está me evitando porque está me cozinhando e sim porque é meu amigo e se importa o suficiente com nossa amizade para não estragá-la. Assim como eu não quero abordar justamente para não estragar nada.

Rigel não revirou os olhos ao detectar que estava errado. Na verdade sorriu, como se eu tivesse falado exatamente o que ele queria que eu falasse.

— Então se amizade também é tão importante para você, por que não faz o mínimo esforço para tentar aceitar o romance dos seus dois melhores amigos?

Abri a boca para responder, mas nada saiu, de fato. 

Scorpius não estava me evitando sozinho. Eu também não o estava procurando. E o mesmo acontecia com Rose. Uma equação que obviamente levava a um resultado óbvio: Rose e Scorpius cada dia mais próximos e eu cada vez mais distante. Não era erro de um ou de outro. Era dos três. E, da parte deles, possivelmente baseado em algo que eles poderiam estar supondo de diversas maneiras diferentes, já que eu não falara abertamente sobre nada. 

Rigel se levantou, dobrando a ponta da página de um livro e entregando-me.

— Acho que aqui tem mais respostas do que você pensa. Só não procurou no lugar certo. E não precisa me responder sobre o que eu te perguntei. Só responda a si mesmo. 

E voltou a limpar as xícaras como se nada tivesse acontecido.

 

20 de dezembro

 

— Onde você esteve ontem? Esperei você voltar da aula, mas acabei dormindo e não vi a hora que você chegou. 

Era a frase mais longa que Scorpius falava para mim em semanas. Não contive uma levantada de sobrancelhas e uma risadinha pelo nariz, mas a situação já estava esquisita demais, então logo me esforcei para responder.

— Tive detenção com Rigel Thomas-Finnigan na sala de Sibila ontem à noite.

— A professora Trelawney deu detenção? O que é que vocês fizeram? Explodiram todas as bolas de cristal delas?

 — Não só… Discutimos. — dei de ombros enquanto arrumava meu malão, ficando de costas para Scorpius. Estava insuportável olhar para ele, ainda mais com aquele chupão ridículo no pescoço. 

— Não sei porque vocês pegam tanto no pé um do outro.

— Ele começou primeiro. — me virei com o dedo em riste, começando a me exaltar. — Ele era quieto e mal falava comigo quando os pais deles iam visitar os meus quando éramos crianças. Achei que em Hogwarts seria igual, mas do nada ele começou a implicar comigo no terceiro ano. Eu só devolvi na mesma moeda. 

— Bem, ele também não é muito gentil comigo. Na verdade ele é agradável com um número seleto de pessoas da casa dele, como Rose e Lily. Até com Dominique e James ele é meio chato. 

— Completamente doido. Mas totalmente compreensível não suportar Dominique e James. — falei retornando à minha tarefa, porém notei que Scorpius estava inquieto. Eu não seria o primeiro a falar nada sobre o assunto. Se ele quisesse saber ou falar alguma coisa, que começasse. 

O que pareceu mais ou menos uma eternidade de uns bons cinco minutos depois ele finalmente pigarreou.

— Eu posso ver?

Mil e uma possibilidades passaram pela minha cabeça quando ele fez aquela pergunta, mas a mais lógica logo bateu na minha porta.

Scorpius queria ver a tatuagem. 

Suspirei largando o moletom que eu estava dobrando de qualquer jeito na cama. Me virei, arregaçando as mangas para ganhar tempo e cruzando os braços. 

— Você achou isso estranho? — eu tive que perguntar. 

Scorpius iria mentir, eu sabia. Ele baixou os olhos e colocou as mãos nos bolsos, o que indicava que estava desconfortável. O fato dele balançar os pés indicava a mentira que estava prestes a sair de sua boca.

— Não. 

— Mentiroso. — acusei balançando a cabeça negativamente, mas desabotoando a camisa para mostrar a ele.

Scorpius arregalou os olhos, talvez pelo meu ato súbito de me despir em sua frente ou por tê-lo chamado tão descaradamente de mentiroso. Eu gostava de pensar que era mais sobre a primeira opção, porque estar habituado a fantasiar te levava à isso. Um momento de deleite antes de voltar para a realidade.

Não desabotoeei tudo, apenas o suficiente para que eu pudesse descer a manga direita da camisa branca. Me virei de costas e exibi meu ombro desnudo. 

A única coisa que eu escutava era minha própria respiração pesada e, se eu me concentrasse o bastante, meu coração acelerado. 

— Mal parece a constelação. — observou um pouco baixo, enquanto se aproximava, e eu ri. Quando senti seus dedos gelados me calei na hora, um pouco chocado. O arrepio inevitável correu minha espinha e eu segurei  respiração, tentando me manter sob controle, o que envolvia definitivamente não me mover. Não sei o que faria se me mexesse um milímetro em falso.

O toque foi embora tão rápido quanto veio e eu voltei a respirar, sentindo o ar pesar em meus pulmões. 

— Estava esperando um enorme escorpião com o nome em latim? 

Tentei descontrair e me virei para encará-lo, deixando a camisa desabotoada por alguns instantes a mais apenas por puro egoísmo de tentar obter algum olhar semelhante ao que ele lançava para Rose. Mas evidente que ele não estava lá. Mantinha os olhos cinzas fixos em meu rosto.

Por que Scorpius me olharia com desejo, sendo que eu não sou nem 50% tão atraente como Rose? E, bem, sendo sincero, provavelmente não era mesmo a preferência sexual de Scorpius. 

Acontece que, por nunca termos falado nem sobre garotas nem sobre garotos, eu sempre assumi que talvez existisse a possibilidade de Scorpius ser gay também, ou ao menos bissexual. Em que eu me baseava para acreditar nisso? Experiência própria. Morria de medo de tentar falar sobre garotas para me “encaixar” e acabar deixando na cara que eu não tinha a mínima vontade de namorá-las. E me assumir ainda estava fora de cogitação, porque havia muito preconceito enraizado na comunidade bruxa. O que fazia mais ou menos que Dean e Seamus Thomas-Finnigan fossem uma espécie de “sensação” do mundo bruxo. 

De repente me ocorreu que Rigel sempre exigia que o chamássemos pelos nomes de seus dois pais. Talvez como uma forma de normalizar que ele era sim filho dos dois e não havia nada de exótico ou errado naquilo. Essa deveria ser a milésima vez em menos de um mês que eu me senti um idiota completo. 

Foi esse pensamento que me fez voltar a abotoar a camiseta, dessa vez olhando diretamente para o chão e não buscando os olhos acinzentados de Scorpius. Quando terminei e voltei a erguer os olhos ele me encarava de uma maneira diferente. 

Não havia raiva, vergonha, estranheza… Só… Curiosidade. No entanto não me permiti analisar nada daquilo. Minhas interpretações nos últimos tempos estavam horríveis demais.

— Sei que não estive muito presente ultimamente, mas… A coisa com Rose… É bem nova e nós nos empolgamos um pouco. — a vergonha agora estava estampada em seu rosto. Revirei os olhos, jogando um tubo de pomada em sua direção.

— Se você chegar com esse roxo enorme em casa amanhã sua mãe vai arrancar seu coro. 

Scorpius riu, concordando com a afirmação, pois aquilo era certamente algo que Astoria Malfoy não chegaria a fazer, mas talvez ameaçasse de leve. 

De uma maneira totalmente clichê eu me senti culpado por estar querendo odiar Rose e Scorpius por estarem naquela bolha de relacionamento, porque minha amizade com Scorpius era antiga e preciosa demais para ser deixada de lado. E percebi tudo isso por conta de um maldito tubo de pomada para tirar roxos de batidas, que agora seria utilizada para cobrir o chupão enorme que estava instalado em seu pescoço e havia sido proporcionado pela minha prima. 

E não qualquer prima, mas a prima que entrou no mesmo ano de Hogwarts que eu, que compartilhou comigo seus medos e inseguranças sobre a escola nova e sobre tantas pressões que sofremos, principalmente nos primeiros anos com Rita Skeeter acompanhando cada passo em falso que dávamos. 

A prima que me salvou de uma detenção muito pior ao assumir parte da culpa e aliviar a situação para nós dois em um acidente das aulas de vôo da Madame Hooch. Que me chamava para suas aventuras para desbravar as passagens secretas de Hogwarts quando roubou o Mapa do Maroto de James pela primeira vez no quinto ano. E que me contava toda vez que tinha um crush platônico em uma pessoa, que passava depois de alguns beijos. E ah, claro, que me passava cola sempre que eu precisava. 

Era quase um crime dizer que ela era ridiculamente perfeita em um tom pejorativo, pois Rose era apenas… Rose. Não era nenhuma entidade superior da qual eu tivesse que me comparar ou me esforçar para me equiparar. Era tão humana quanto eu e, no momento, estava se divertindo na companhia do meu melhor amigo e estava sendo correspondida.

Não havia como ficar no meio daquilo. Rose era especial demais para mim, assim como Scorpius. Mesmo que houvesse alguma possibilidade dele me corresponder, a situação já estava encaminhada. O timing não era aquele. Talvez ele já tivesse passado, caso eu tivesse contado mais cedo sobre pelo menos o fato de eu ser gay. Ou talvez ele nunca tivesse nem existido e Scorpius jamais pensara em ter nada comigo mesmo

Rigel Thomas-Finnigan estava estupidamente certo e eu queria bater nele e ao mesmo tempo dar um prêmio por ter tido a capacidade de me fazer enxergar algo que remoí o mês inteiro. A questão é que eu obviamente não superaria Scorpius do dia para noite e muito menos ficaria totalmente livre de reações físicas indesejadas ao ver os dois juntos. Mas, no Natal, eu poderia tentar começar a me acostumar mais com a ideia, já que passaria mais tempo só com Rose e poderia me reconectar com ela, além de me acostumar melhor ao vê-los em público no aniversário de casamento de vinte e cinco anos de casados dos meus pais que aconteceria na véspera. No fim, tudo acabaria dando certo.

 

21 de dezembro

 

— Al, Lysander está aqui. — James gritou do andar debaixo. 

Guardei o livro de mistério que eu lia e antes mesmo que eu pudesse sair para encontrá-lo ele estava diante de minha porta, me encarando com os olhos azuis esbugalhados. 

— Eu acho que entendi o que está acontecendo. 

E foi assim que mais uma pessoa descobriu o que aparentemente estava escrito na minha cara: eu estava apaixonado por Scorpius Malfoy.

— Parabéns, você foi a terceira pessoa a descobrir isso. Seu prêmio pode ser retirado na loja mais próxima de Albus Fool’s, porque é isso que eu estou me sentindo agora, um grande idiota. 

Me larguei na cama, enquanto lançava um abaffiato para que ninguém descobrisse meu segredinho-nem-tão-secreto assim. 

— Al, você não está entendendo o que eu estou prestes a te contar agora. — ele se aproximou, me olhando intensamente. — Eu acho que Scorpius era apaixonado por você também. 

Aquilo era um absurdo. Se Scorpius Malfoy tivesse, em algum momento, sequer dado algum indício de que gostava de mim, eu teria percebido, pois não tirava os olhos dele!

— Se você está tentando me animar com essa mentira saiba que eu prefiro só ouvir a verdade de que Scorpius é o cara mais hétero de Hogwarts e que isso jamais rolaria, ok? É menos doloroso.

— Não, eu estou falando sério. Bem, Rigel sempre tirava você do sério sempre que podia e, bem, não é segredo para ninguém que ele é gay.

— O quê? — aquela informação era totalmente nova. Como assim? Desde quando isso era um fato popularmente conhecido? 

— Al, você tem uma péssima percepção das pessoas.

— Claro que não.

— Ah não? — Lys arqueou as sobrancelhas e cruzou os braços. — Não percebeu que Rigel é gay e flerta horrores com você, nem que Scorpius gostava de você e nem que ele e Rose começaram a se envolver.

— Ok, você tem um ponto. 

— Claro que tenho. — revirou os olhos, suspirando. — Enfim, Scorpius sempre parecia… Incomodado quando Rigel te provocava e você respondia daquelas maneiras. E, bem, eu já peguei ele te olhando algumas vezes. Achei que fosse loucura, porque logo ele começou a andar mais com a Rose e olhar para ela daquela maneira, então pensei que ele deveria estar só numa fase confusa da vida. Até o aniversário de Rose e a revelação sobre sua tatuagem. 

— Ficou tão óbvio assim? — perguntei enquanto escondia meu rosto e ouvi sua risada soar contida.

— Um pouco. Mas só pra quem reparou muito. O que no caso não foram muitas pessoas. Mas enfim, eu vi como Scorpius te olhou e como passou a olhar nas outras semanas. E não me liguei que era uma coisa correspondida porque minha lerdeza me convenceu de que você só fez a tatuagem do escorpião por fazer. Quando Rigel disse aquilo na aula da Sibilia eu fiquei pensativo, mas a ficha só me caiu ontem. E hoje eu resolvi correr aqui. 

Lysander retomava o fôlego por ter despejado tudo aquilo de uma vez, enquanto eu tentava assimilar todas as informações novas, sentindo que meu chão poderia ceder a qualquer momento.

— Eu não acredito nisso…

— Eu estou te dizendo que é-

— Eu sei que é verdade, eu só não acredito. — rebati irritado. — Faz sentido. Mas não pode fazer sentido.

— Por quê não? Vocês dois se gostam!

— Lysander. — revirei os olhos, me levantando pela necessidade de fazer meu sangue circular um pouco com tanta adrenalina preenchendo cada centímetro do meu corpo. — Rose é minha prima e uma das minhas pessoas favoritas no mundo. Não posso magoá-la. E Scorpius está com ela agora. Ele a escolheu. Não é direito meu interferir nisso. Vamos fingir que isso não aconteceu e pronto. Bola pra frente. Fora que isso foderia minha amizade com ele. Já escolhi superar.

Eu queria esquecer tudo aquilo, mas era impossível. Uma placa neon brilhava todas as vezes que eu fechava os olhos, tentando frustradamente dormir: “Ele gostava de você!”. “Ele talvez ainda goste de você!”. 

No entanto, sabia que aquilo poderia ser só uma impressão equivocada de Lysander, mesmo que ele tivesse a melhor das intenções ao compartilhar a informação.


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Notas finais do capítulo

Eu amo como o Albus se importa com a amizade deles sabe, tanto com Rose e Scorpius. Ele tá no meu coração com toda certeza ♥ Acham que Lysander tem razão ou está viajando na maionese???
Beijos e até!