O conto de mais um dia escrita por Galatea


Capítulo 1
Chance de mudança


Notas iniciais do capítulo

Nunca fui muito de ter sonhos mas este foi interessante. Acordei sem entender nada, discuti com alguns amigos e percebi que nasceram várias teorias interessantes. Convido você, caro leitor, a desvender o mistério que minha cabeça fez comigo hahahahaha
Boa leitura!



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Poderia ser só mais um dia comum.

 

O céu estava limpo e o sol brilhava fazendo toda a natureza sorrir de volta ao seu resplendor.

 

Poderia ser um dia como qualquer outro.

 

Pássaros cantavam anunciando o ciclo da vida e flores desabrocharam revelando seu resplendor.

 

Poderia ser mas um dia normal, mas hoje ela iria dar um basta em tudo.

 

Angústias provindas de ansiedade, estresse e um toque de depressão estavam consumindo a mulher. Nada mais fazia sentido para ela, por que ainda tentava? Acreditava estar já no modo automático, uma programação pré estabelecida pelo universo onde ela apenas continuaria seguindo mas sem se importar como.

 

Mas não, ela estava cansada. Cansada de ser uma máquina quebrada e cansada do sofrimento invisível. Invisível, seria mesmo? 

 

Olhou se no espelho, a mulher dentro dele era pálida e tinha olheiras profundas e escuras. Embora o cabelo fosse liso, alguns fios rebeldes denunciam a falta de cuidado. Mesmo o corte estilo chanel não não tornou a tarefa de cuidá-lo mais fácil. 

 

Ela suspirou e vestiu seu cardigan completando seu visual neutro e quase monocromático de tons cinzas. Suas roupas pareciam estar ali a vidas e vidas mas ela não parecia notar. Pegou suas chaves e carteira e partiu para sua pequena aventura.

 

“O dia está lindo… Como sempre. Deve estar realmente cedo, ninguém está na rua ainda.” A mulher olha em volta e confirma que sua vizinhança não parecia ter acordado ainda. Um tanto estranho, mas daria este desconto para o dia de folga de todos. 

 

Entrou silenciosamente em seu velho carro e partiu. Embora o motor fosse barulhento o dia era tão lindo que não parecia ser um problema hoje. Ela dirigia numa velocidade baixa para poder observar um pouco seu bairro, e logo depois na estrada, observaria a natureza em seu esplendor. 

 

Seu destino? Nem ela mesma sabia ao certo. De alguma forma, tinha o endereço em mente, mas por mais que tentasse se lembrar onde o obteve, nunca descobriu.

 

“Na fronteira do estado vizinho, perto do grande rio, um pequeno vilarejo pobre está por lá. Praticamente não há casas de tão poucas pessoas que moram por ali, entretanto, um único e pequeno prédio está ali quase que abandonado. Ali há um senhor que trará a paz para as pessoas, ele te libertará de todos seus sentimentos ruins, você renascerá.”

 

Essa voz sempre se repetia em sua mente. Homem? Mulher? Não sabia dizer. Onde ouviu ela? Talvez no trabalho, não parecia que havia sido dito diretamente para ela mas sentia que deveria ter ouvido isso. De quem? Bem, seria impossível lembrar de um rosto sequer daquela empresa que vivia em rodízio de funcionários.

 

“Sim, somos apenas gados substituíveis.” Ela assentiu consigo mesma. Mas não era hora de filosofar, estava quase chegando.

 

Sua pequena viagem fora surpreendentemente rápida, quase não encontrou com outros carros, talvez fosse mesmo o seu destino que não é tão procurado. Quando se aproximava do tal vilarejo passou por uma estrada bem abandonada, mas isso só fez com que a natureza fosse intocada e visão desse caminho se tornou extremamente bela, trazia uma certa sensação de frescor e alívio da qual ela mesma não sabia explicar.

 

O vilarejo era realmente um lugar inesperado. Se dissesse que havia uma dúzia de casa naquele lugar seria muito. Os sinais de vida estavam lá mas só pôde ver algumas crianças brincando na rua. Aparentemente eram pessoas que sobreviviam mais da pesca no grande rio divisor de estados que era extremamente próximo da cidadela. Era tudo bem simples mas podia dizer que existia certa organização lá. 

 

E de fato não foi difícil ir a encontro de seu objetivo. Havia apenas um único e pequeno prédio lá que se destacava pela estrutura maior que todas as outras, mas era muito simples comparado aos que estava acostumada em ver. Ele era meio amarelado e tinha sinais de ser bem antigo, poucos andares e poucas janelas. A mulher deu um leve sorriso ao ver o cartaz de uma tal “Cigana cartomante” na parede, cidades pequenas possuíam superstições simples.

 

Se surpreendeu ao ver a porta de metal de tranca automática. Embora a porte desse sinais de ser tão velha quanto o edifício, não esperava aquilo na cidade tão minúscula. Ela apertou o botão de campainha e rapidamente um senhor de meia idade abriu a porta. O senhor era todo redondo e barrigudo e tinha uma pele amarelada mas tinha um sorriso simpático, mesmo que parcialmente escondido pelo bigode. O topo de sua cabeça era calva mas os cabelos do lado pareciam perfeitamente cuidado, um visual completo de um senhor comum.

 

Ora ora, seja bem vinda! Você não é daqui certo? Bem, é fácil decorar os moradores daqui! - O senhor tinha uma risada gostosa e aconchegante. Ele deu passagem para que eu entrasse e fechou a porta. - Embora posso adivinhar o motivo, gosto de ouvir de vocês o que veio procurar aqui.

 

Olhando o pequeno Hall de entrada a mulher se surpreendeu com a quantidade de itens variados: Na bancada tinha uma réplica pequena de madeira de uma longa canoa, nas paredes havia um quadro de corvos, outro de uma pomba branca e outro de um estranho pássaro vermelho  preto, era familiar mas não conseguiu se lembrar. Uma grande estante possuía todo de livro, desde de a Divina Comédia e tragédias Shakespearianas à livros de química e biologia avançada, depois ia para Allan Kardec e livros sobre computação. Ela retomou a consciência depois da pergunta do senhor.

 

Ah bem… É engraçado de explicar mas… - Nunca teve tantos problemas em falar com estranhos desde o fundamental, mas agora as palavras pareciam se perder, ela decidiu ir direto ao assunto. - Ouvi dizer que no único prédio na pequena cidade perto ao rio, havia um senhor que libertaria as pessoas de seus sentimentos ruins. - Por algum motivo houve um arrepio em sua espinha e ela suou frio. - Este é você? Você pode realmente fazer isso? Oh céus, eu me sinto tão idiota falando isso em voz alta… 

 

Era como se depois de falar tudo aquilo ela voltasse para o mundo real e se sentiu patética. Deveria ter soado extremamente desesperada para um senhor que parecia ser um pai de família amoroso e sentiu e agora lhe encarava com pena. 

 

Pobre criança… A vida foi dura contigo né? Está tudo bem, este velho pode te ouvir um pouco.

 

A mulher sentiu as lágrimas subirem, mas conseguiu contê-la. Respirou fundo e desabafou com o homem. Não sabia ao certo porque estava fazendo isto com um desconhecido mas com ele ouvindo tudo o que dizia lhe trazia certa sensação de conforto. Disse sobre todas suas angústias que a consumiam e toda sua dor. O homem escutou tudo atentamente apenas assentindo com a cabeça e com um olhar pesaroso. Quando ela acabou, o senhor se levantou e disse em tom calmo:

 

Certamente se sente melhor não? - Ela concordou com a cabeça. - Entretanto, você sabe muito bem como essa sensação é passageira. Você está num estado que a paz não será duradoura, venha.

 

O homem foi para as escadas apenas fazendo um sinal para que ela o seguisse, sem nem olhar em seus olhos, mas ela não viu sentido para não ir. O primeiro andar tinha uma porta aberto e dentro, uma sala escura onde ela pode apenas ver a silhueta de uma mulher misteriosa, deduziu que fosse a cartomante, e seguiu para o segundo andar com o homem. 

 

Pois bem, sim, aqui realmente eu encontrei um método para nos livrarmos de sentimentos ruins, entretanto, se o conteúdo está estragado, a embalagem também está. 

 

Ao abrir a porta ela teve uma visão que nunca esqueceria. Correntes por todo o lado, diversas facas, alicates e qualquer instrumento de corte estavam expostos nas paredes, serras gigantes estavam instaladas no chão e algumas mesas estavam na espalhadas. O cômodo era pequeno e apertado, havia tantas lâminas apontadas para todos os lados que a mulher sentia que iria se cortar só de entrar no ambiente repleto de enormes e redondas serras. Aquela sala mais parecia com um abatedouro do que qualquer outra coisa. O pior de tudo era ver o sangue seco em praticamente todos os cantos do lugar maldito.

 

Sabe, podemos simplesmente pegar seu material genético e criar outra você. Mas você precisa abandonar tudo isso. 

 

Mesmo que a poucos minutos atrás ela não ligasse para a própria vida, naquele momento uma estranha sensação percorre por todo seu corpo: Ela não queria morrer. Talvez um próprio instinto humano gritou dentro de si, mas depois de contorcer-se ela apenas correu. Correu como nunca antes as escadas para chegar ao térreo e parar na porta e foi quando percebeu sua tolice. Do que adiantaria correr neste prédio tão pequeno? Agora a porta de metal fazia sentido e por fim, sentiu que sua vida terminaria ali.

 

Mas não.

 

A porta se abriu. Não soube como nem porque mas ela se abriu. Sem raciocinar direito, ela apenas correu em direção ao carro e saiu em disparada. As crianças que ali brincavam ficaram assustadas com a velocidade repentina do carro que seguiu para qualquer direção. 

 

Respirou fundo. “Material genético? Outra eu? Isso não faz sentido!” A mulher pensava enquanto deixava a adrenalina passar e voltou a raciocinar. Infelizmente, não estava pensando direito quando pegou o carro e fugiu para qualquer direção. Estava perdida e em uma rua ainda mais abandonada e de terra.  Antes que pudesse pensar na estrada, seu pneu havia atolado na lama. 

 

Ela parou e novamente respirou fundo, o quão patética aquela situação era? Os momentos anteriores foram tão insanos que nem conseguiu se irritar com o carro. Debruçou-se no banco e pensou no que faria para sair daquela situação.

 

Quando menos esperava, seu celular tocou. O número era desconhecido mas a adrenalina restante em si, a fez atender e ouvir a suave voz do senhor.

 

Você não quer fazer tudo aquilo? Mas então porque é que já tem uma de você aqui?



A mulher congelou. Uma memória escondida voltou a tona. Tudo fez sentido agora.



Já era final de tarde quando ela voltou para o prédio e o senhor a recebeu sorrindo. Ele estava com a pequena canoa na mão e a colocou de volta no balcão e tomou a mão da mulher.

 

Agora, podemos ir?

 

Ela assentiu com a cabeça mas dessa vez, ele levou ela para baixo. Não havia notado antes as escadas que levariam para baixo. 

 

Uma festa acontecia na sala embaixo. Tinha pouca iluminação só algumas em neon que passavam rapidamente pelo monte de pessoas que haviam ali. A mulher se separou do velho e foi de encontro com um rapaz que a encarava, eles sorriram e conversavam. Ela finalmente se sentiu bem e em paz.

 

A cartomante se aproximou do velho que tinha um rosto triste. 

 

Ela nunca aprende não é mesmo? 

 

Ele riu um pouco sem graça.

 

E de novo você me diz isso?

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Notas finais do capítulo

Terrível não?
Formulei algumas teorias na minha mente e por isso deixei alguns elementos que permitissem diversas interpretações. O que vocês acharam? Adoraria ouvir suas teorias!



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