O Estranho ritual do Milionário e do Idealista escrita por Labi


Capítulo 1
Único ♥


Notas iniciais do capítulo

Tinha sido uma ideia para um roleplay com a minha amada mestra do drama Mrs.Nobody, mas que depois ganhou uma direção diferente porque ela tortura o meu kokoro e tem sempre uma faca pronta para matar os meus feels, é em parte o motivo pela qual amo escrever com ela mesmo depois de todos estes anos-. Então meio que fiz reciclagem de umas partes iniciais e dedico a ela sendo que isto tem o devido crédito e propriedade intelectual sua também, como sempre. O fantástico, maravilhoso e perfeito Haru dela chama ao meu Kambe de playboy e uma coisa levou à outra.

O meu português é de Portugal então o uso de “você” é formal e o de “tu” é informal. O Kambe meio que usa o formal para implicar, mas a piada não iria passar para um leitor ptbr.

Os personagens estão meio OOC, como seria de esperar de mim.



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Daisuke Kambe ouvia aquele mesmo sermão pela terceira vez naquela manhã. Aliás, sempre que o Inspector Katou olhava na sua direção bufava como um gato irritado e qualquer coisa que o detetive fizesse parecia ser o suficiente para piorar.

Perfeito.

Tudo tinha começado porque na tarde anterior ele, fora de serviço, tinha subornado um outro polícia por causa de uma multa do carro mal-estacionado num lugar proibido. Katou tinha avisado que era efetivamente um péssimo lugar para estacionar. Se Kambe tinha ouvido? Não, claro que não.

Se morreu alguém por isso ou se o mundo acabou? Não.  Kambe apenas pagou a multa e deu duas grandes notas ao polícia da segurança municipal -praticamente um estagiário- para que ele não registasse a multa na sua carta de condução.

Se explodiu algum meteoro por isso? Também não, mas a reação de Katou tinha sido tão explosiva que Kambe se questionava se tinha assassinado alguém por acidente e nem reparou.

Foi a viagem toda a ouvir sermão: o dinheiro não compra tudo, não se pode passar por cima da lei só por ter dinheiro, suborno é errado, etc etc e todos os idealismos Haruanos que deixavam o jovem bilionário entediado.

Tinha esperança que no dia seguinte o assunto tivesse morrido (de novo, foi uma multa e um leve suborno que nem a quatro dígitos chegou e não um homicídio em massa) mas estava enganado, muito enganado.

Katou fazia os seus comentários passivo-agressivos sempre que olhava na direção de Kambe e dava um estalido com a língua em irritação.

Os membros da divisão trabalhavam nos seus relatórios e fingiam que não estavam a ouvir – como sempre- e havia uma troca de olhares entre todos que denunciava algo que Katou não reparou e que Kambe não incomodou de tentar perceber.

O trabalho naquela manhã estava a ser lento e quando Kamei comentou que não sabia o que fazer para levar uma “amiga especial” a sair, Kambe sugeriu um restaurante bem no centro de Toquio onde serviam o melhor sushi com sobremesas divinas. Naturalmente Kamei explicou que não tinha forma de fazer isso e naturalmente que Kambe lhe pediu o número da conta para transferir dinheiro, porque nenhuma mulher recusaria um date num lugar daqueles. Sugeriu também um hotel ali perto. Kamei apenas concordou, ainda a processar, mas que também naturalmente isso despertou em Katou a sua raiva idealista ainda não adormecida, levando a mais uma discussão.

Bla bla bla não se pode comprar o amor e afeição das pessoas bla bla bla dinheiro não é tudo na vida bla bla bla

Kambe ouviu toda a lição de moral com uma poker face de todo o tamanho e bebericava o café instantâneo que tinha tirado da máquina, num copo de plástico. Mas que invenção fantástica. Pensava em como era um bom investimento uma máquina daquelas e ouvia só de fundo a voz de Katou.

Como é que alguém que tem uma voz tão agradável só a sabe usar para ser chato e incomodativo?

Katou, percebendo que falava para a parede, pousou as mãos na cintura e rosnou, “Consegues entender o que te estou a dizer?! Não podes simplesmente atirar dinheiro na cara das pessoas e esperar que isso resolva tudo!”

Pela primeira vez desde o começo da conversa, a poker face caiu, sendo trocada por um sorrisinho malicioso, e Kambe comentou calmamente antes de bebericar o seu café, “Inspector Katou. Uma questão.”

“Que foi?”, resmungou.

“Quanto é que tenho de pagar para que cales a boca?”

Pronto, foi o suficiente.

A divisão toda agora já nem sequer fingia não estar a ouvir. Aqueles dois eram praticamente uma novela naquele ponto e todos queriam saber mais sobre o próximo episódio. Havia apostas, o valor ficava cada vez mais alto - Saeki estava até tentada em fechar os dois nalgum lugar só para poder ganhar a sua parte da aposta. Só Chosuke não estava envolvido no interesse, sendo da opinião que Haru era bom demais para um idiota de nariz empinado como Kambe.

Para Kamei, perito em análise, era como observar um documentário da vida selvagem que se alongava fazia semanas. Um ritual de acasalamento muito intenso que provocava vergonha alheia já que nenhum dos envolvidos notava o que fazia.

“Por acaso pensas que me podes comprar, Kambe?! Nem toda a gente se suborna com dinheiro, seu playboy idiota!”

Dito Kambe voltou a sorrir e o simples gesto já mexia com os nervos de Katou. Porque o irritava claro. Apenas isso. Isso e a súbita vontade de lhe arrancar o sorriso implicativo da cara.

"Não insinuei nada disso Inspetor. Não retire conclusões precipitadas."

Ah, Katou queria matá-lo.

"Não precisas de insinuar, já te conheço o suficiente."

"Será? Há muitas coisas sobre mim que não conheces."

"Conheço que chegue!"

"Será?", voltou a repetir e o sorriso aumentou, apesar que ele estava super concentrado em ajustar as suas luvas de pele que lhe assentavam perfeitamente (tinham sido feitas à medida). Ele conseguia imaginar fumo a sair da cabeça do inspetor e isso, só por si, já era o suficiente para animar a sua manhã, "Questiono-me o que exactamente conheces sobre mim para me chamares de playboy. Mas agradeço pelo elogio."

"Não foi um elogio!", Kaitou berrou furioso, vermelho de...raiva, sim raiva. 

Kamei e Saeki trocaram um olhar, a menina logo lhe dando uma goma para ele comer como pipoca, e murmurou num sussurro, "O Daisuke-kun está..."

"No flirt com ele?", Kamei terminou a questão e voltou a olhar para os dois. Oh não, ele tinha apostado que seria Haru a perceber primeiro a tensão!

"Então Inspector?", encarou-o e havia um brilhozinho maléfico no seu olhar, demasiado convencido e implicativo. E Haru não conseguia simplesmente deixar a discussão por ali, a última palavra tinha de ser sua. Começou a balbuciar de raiva, sem que nada lhe saísse coerente, até conseguir dizer alguma frase inteira, "Então foi uma crítica!"

"Ser playboy é uma crítica?”, levantou uma sobrancelha e Haru bufou de novo, "É!"

"Nem toda a gente espera até depois do casamento para poder fornicar com alguém."

Houve outro olhar entre Saeki e Kamei. O loirinho arrastou até a cadeira para mais perto dela para que conseguissem partilhar mais facilmente as pipocas improvisadas.

A este ponto, já todos olhavam para a dupla com um grande e renovado interesse. 

Kambe continuava muito direito, de poker face e com um tom entediado que escondia claramente diversão com a desgraça alheia. Por seu lado, Haru estava mais vermelho que nunca, aos resmungos e não parava quieto de tanta energia acumulada e raiva.

"Isso são maneiras de falar, seu idiota?!" , reclamou de novo e Kambe deu levemente de ombros, "Perdão pela minha linguagem vulgar, inspetor." , respondeu-lhe num falso tom sério e logo voltou a sorrir, "Passo a corrigir para que não fira a sua sensibilidade: Nem todos os indivíduos esperam pelo matrimónio consentido para que possam engajar em ações de coito frequentes." 

E Haru sabia que vinha merda só de ver aquele maldito sorriso aumentar e quase se tornar genuíno.

"Mas o Inspetor não saberia o que isso é, pois não? Afinal, não é casado."  

Algures, no fundo da sala, Kamei fez um barulho de baleia encalhada e começou a rir alto.

Era a primeira vez que ouvia alguém chamar outra pessoa de virgem de forma aristocrática.

A expressão de confusão momentânea do inspetor depressa se tornou numa de pura raiva. Ah ele era tão expressivo! Talvez fosse isso que mexia com Daisuke para implicar com ele.

Haru dizia o que pensava e antes de o dizer, a sua expressão e linguagem corporal denunciava-o.  Não tinha filtros, dizia o que pensava, mas por vezes conseguia faze-lo com uma delicadeza desmedida para não ferir os outros.  Kambe, que sempre era tratado com reverência devido à sua posição social, tinha logo ficado interessado naquele homem desengonçado, de gravata torta e com roupas largar demais, mal este lhe chamou a atenção pelos seus métodos e respondeu torto.

(De seguida, por vingança, deixou-o cair de uma ponte, mas são só pormenores. Fins não justificam meios.)

Talvez fosse por isso que nem precisava de ouvir a resposta de Haru para saber exatamente para que tipo de lugares menos educados ele lhe tencionava mandar.

Voltou a sorrir quando percebeu que Haru o fulminava com o olhar e ponderava em ignora-lo.

Perfeito, era algo que não podia responder alto.

O inspetor virou-se para encarar Kamei, que tentou parar de rir e limpar o olho, “Tu por acaso não tens trabalho para fazer?”

“Por acaso tenho.”, disse e rodou com a cadeira infantilmente, “Mas distraí-me.”

“Então vai trabalhar!”, bufou e ajeitou o seu casaco. O comentário fez com que o escritório inteiro voltasse a fingir que não tinha interesse na discussão e a atenção se tornasse o computador mais uma vez.

Assim que encarou Kambe de novo, rosnou, “Nós depois falamos.”

“Ah sim?”

“Kambe.”

“Desculpe, Inspetor.” , disse num falso tom inocente formal e com um sorriso a combinar. Rodou nos calcanhares para ir buscar mais café, parando à porta, “Mas quando lhe perguntei qual o preço para que se calasse, não foi com segundas intenções.”

“Quais segundas intenções?”

“Sabe Inspetor, um playboy como eu tem métodos para fazer com que se cale gratuitamente, se for o seu fetiche.”, sorriu, piscou o olho e saiu.

No fim dos cinco segundos que durou para o processamento, Haru levantou-se embaraçado e saiu a correr atrás dele, “KAMBE! VOLTA AQUI SEU GRANDE—”

Bateu com a porta a sair e Saeki esticou a mão para Kamei, “Aposto três donuts contigo que eles não aguentam mais uma semana sem se comerem nalgum canto.”

O loiro assentiu e apertou a mão dela, “Dois dias.”


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