Yeah, right escrita por Foster


Capítulo 1
1 — Albus Potter descobre um novo sentimento


Notas iniciais do capítulo

Oieee!
Primeiro quero agradecer ao convite para participar do Pride Month! É uma iniciativa muito incrível, principalmente em meio às polêmicas que envolveram a J.K e que abalaram o fandom. Sentir que podemos ressignificar as coisas incluindo representatividade é muito revigorante, então o Pride não poderia ter vindo em melhor hora!
É minha primeira Scorbus e confesso que não foi fácil kkkkk De início achei que era por ser scorose shipper desde que entrei no mundo das fanfics, mas percebi que era mais a ideia dos dois sempre serem melhores amigos na minha cabeça. Mas no fim, existem melhores amigos que se apaixonam, não é?
Estou adorando escrever sobre outros personagens da new gen e outros casais, além de ler MUITA coisa diferente nas outras fics do Pride (sério, confiram todas as fics, eu tô só esperando a loucura do fim de semestre pra me atualizar em todas).
Se você leu Electric Love (https://fanfiction.com.br/historia/794104/Electric_Love/), minha outra fic do Pride, dessa vez focada na Dominique, vai perceber que eu andei numa fase de escrever personagens que fazem cagadas kkkk Abram o coração pra Dominique (quem for ler Electric Love) e pro Albus daqui, porque cagadas fazem parte da vida e de quem nós somos.
Enfim, boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/794270/chapter/1

— Scorpius, essa história de namoro falso nunca acaba bem.

— Só dá errado pra quem não sabe controlar os sentimentos, Al. 

— E desde de quando a gente consegue controlar o coração, hein? 

— Realmente, não conseguimos. Mas eu sei que não vou me apaixonar nessa encenação, porque já estou apaixonado por outra pessoa. 

— O quê? Como assim? Por quem?

— Só vou dizer se você me contar por quem anda apaixonado.

— Sem chance.

— Então você também não vai saber. Olho por olho, dente por dente.

— Achei que fôssemos melhores amigos, Malfoy.

— Achei que você fosse um pouco mais corajoso e confiasse mais em mim, Potter. 

— Você não entenderia… 

— E vou continuar sem entender se você não falar nada. Mas quer saber? Eu também não quero mais te contar. É melhor assim.  

 

A L B U S

 

O moreno tinha certeza de que o amigo havia ficado louco, definitivamente. Sentia que, apesar de terem saído do ensino médio há dois anos, o ensino médio ainda não havia abandonado Scorpius completamente. E nem Rose, que estava em concordância com aquela loucura.

Al se sentia angustiado. Uma notificação piscou em seu celular e ele não precisou olhar para saber que era do Date It Up. Queria apagar todos os arquivos daquele aplicativo ridículo que ele havia se enfiado no desenvolvimento. Ideia estúpida. Era um absurdo Scorpius estar procurando alguém para encenar um namoro falso por ali, debaixo de seu nariz, sem nem ter lhe falado nada antes. Na realidade, se não fosse um dos desenvolvedores do app, provavelmente só saberia dessa história quando já fosse tarde demais. E a culpa era totalmente de Rose Weasley.



Um mês antes da briga com Scorpius

 

— Eu juro que se o Greg aparecer em mais um lugar que eu estou, bancando o stalker nojento que ele é, vou ser obrigada a gastar meu réu primário. — a ruiva olhava fixamente para a porta do estabelecimento parecendo uma espiã. Ou só uma fugitiva. De qualquer maneira, era um péssimo disfarce, pois os óculos escuros e o boné preto definitivamente não funcionavam em nada para camuflá-la, já que seus cabelos extremamente vermelhos e sua constelação de sardas denunciavam sua identidade de longe.

— Rose, pelo menos disfarce melhor. — Al revirou os olhos, estendendo a própria blusa para ela. — Coloque o capuz do meu moletom. 

— Ela já tá esquisita o suficiente com o óculos e o boné. E quem usa moletom no verão? — Scorpius lançou um olhar divertido para o amigo, que apenas deu de ombros, voltando a ler o cardápio. 

O moletom preto era seu fiel companheiro para todos os climas, já que Londres mudava de clima como Al mudava de humor. Fizesse chuva ou sol, lá estava ele lhe fazendo companhia. E não tinha nenhum arrependimento de ter virado uma espécie de piada entre os amigos, pois todos eles foram salvos ao menos uma vez pelo famoso agasalho. 

O loiro soltou o cabelo que estava preso em um coque e estendeu o laço que sustentava os fios para a garota, que o olhou agradecida.

— Eu reconheceria seu cabelo de fogo a metros de distância. E pelo menos prendendo vai ficar menos suspeito, também. 

— Eu não sei o que eu faria sem vocês. — Rose sorriu animada enquanto se abaixava para prender os cabelos. — E se vocês puderem ficar mais grudados, por favor, eu agradeceria. 

Al iria rebater, porque ele e Scorpius estavam roçando os cotovelos já e aquela proximidade não favorecia um almoço confortável, mas o loiro não tinha objeções e inclusive passou o braço pelo ombro do amigo. Engolindo em seco, Albus pensou que talvez fosse melhor ignorar a sensação que lhe percorreu a espinha. Talvez fosse somente fome.

— Assim está melhor?

— Deus abençoe você e seus ombros largos de nadador, Scorp! — exclamou com um grande sorriso, mas ainda encolhida. De repente Albus ficou consciente do ombro do amigo roçando o seu e precisou ir alguns centímetros para o lado oposto. Scorpius lhe lançou um olhar divertido e o seguiu, voltando a roçar os ombros.

— Já se passaram dez minutos e ele não apareceu, acho que podemos pedir sem medo. — soltou um pouco depressa, erguendo o braço no ar, para chamar o garçom, e sentindo-se aliviado pelo fim do contato. 

Antes mesmo que os pratos pudessem chegar um garoto alto e magro, com os cabelos extremamente escuros, entrou no ambiente. Rose soltou um gemido, afundando-se na cadeira e Scorpius virou-se no reflexo para encarar o homem agitado que aparentemente não havia notado a presença dela. 

— Scorpius, porra, vire pra cá. Talvez Greg nem me veja, está sem os óculos desde que eu quebrei quando dei um soco na cara dele. Mas mesmo assim é melhor não arriscar. — ela sussurrou raivosa, balançando a cabeça e chutando o garoto por debaixo da mesa, mas atingindo Al no lugar, que urrou de dor. — Que exagero, Al, não seja um bebezão e cale a boca ou ele vai nos ver aqui. 

— Rose! Quanto tempo! — a voz estridente de Lorcan Scamander, velho amigo da família Potter-Weasley, que aparentemente era o responsável pela limpeza do ambiente, soou alto pelo ambiente, fazendo com que Rose metesse um grande tapa no próprio rosto em sinal de frustração. 

Evidentemente que Greg havia escutado e não hesitou em correr até a garota.

— Rose, eu estou te procurando há dias! — o estado do rapaz era deplorável, isso Al tinha que admitir. Parecia que não dormia há dias e ainda ostentava um olho roxo, cortesia de Rose Weasley, que agora estava mais puxado para o tom esverdeado. Um enorme corte no lábio, fornecido por Ronald Weasley, que presenciou na porta de sua casa o término, não combinava nada com a fina linha que era sua boca. — Você sumiu!

Scorpius e Al fizeram menção de se levantarem para expulsá-lo dali, mas Rose negou com a cabeça, inspirando fundo e olhando diretamente para o ex-namorado.

— Eu já falei que não temos mais nada, Nott! 

— Fala sério, Rose, não podemos terminar assim. Você ainda me ama, eu sei disso. Ninguém deixa de amar o outro assim do dia pra noite.

— Eu não deixei de amar do dia pra noite, na verdade estava deixando de amar há muito tempo. — ela resmungou, afundando-se ainda mais na cadeira por estar envergonhada pelo show que estavam dando na cafeteria de frente da faculdade, repleta de conhecidos. 

— Não é possível que você simplesmente agora acha que eu sou um babaca. Quando começamos a namorar você não achava isso. 

— É claro que não, você era um falso! Jamais imaginei que você se mostraria um cara tão escroto, preconceituoso e machista. — ela havia ficado em pé e retirado os óculos, para olhá-lo de maneira agressiva que fez o rapaz encolher os ombros. — Na verdade, eu deveria ter terminado muito antes, no primeiro comentário sobre as minhas roupas.

— Qual é, Rose, isso não tem nada a ver. — ele revirou os olhos, se aproximando. — Vamos, deixa de drama. Você não vai arranjar ninguém como eu.

Os dois amigos seguraram a respiração, pois Rose soltou uma exclamação de indignação que ambos sabiam que precedia um estouro perigoso. A garota começou a respirar fundo e abriu um sorriso forçado.

— Você se acha a última bolacha do pacote né? Ainda bem que eu não vou encontrar ninguém tão idiota como você. É um livramento sabia! — ela respirou fundo, com o rosto em tom escarlate. Olhou ao redor e virou-se com um sorriso cínico para o ex-namorado. — E além do mais eu já encontrei alguém muito melhor do que você. 

Antes que qualquer um dos presentes pudesse processar a informação para formular uma frase coerente Rose agarrou Lorcan, que deixou a vassoura cair no chão para envolvê-la em seus braços. 

A imagem era tão trágica quanto cômica. Gregory Nott parecia ter levado um tiro no coração - ou no ego -, enquanto Rose e Lorcan haviam finalmente encontrado um ângulo decente para beijarem, pouco se importando com o fato do loiro ter os óculos tortos no rosto e o boné da ruiva ter caído no chão. 

Scorpius apertou o ombro de Al em excitação, sem conter um sorriso e o moreno pode jurar que uma onda de eletricidade havia percorrido seu corpo, mas preferiu evitar pensar no assunto, ainda mais que, no mesmo instante, Rose se separou de Lorcan, ambos com os lábios borrados de rosa devido ao batom que ela utilizava. 

— Pô… — Greg se aproximou de cabeça baixa enquanto esfregava as mãos. — Desculpa aí, cara, não sabia que ela era sua garota agora. 

Rose fez menção de partir para cima dele, mas surpreendentemente Lorcan foi mais rápido, acertando um soco no nariz do rapaz, que caiu no chão, urrando de dor.

— Você não deve desculpas pra mim, cara. Deve à ela!

O caos estava instaurado na cafeteria e provavelmente o grupo não poderia pisar por ali por um bom tempo, sem contar que o emprego de Lorcan talvez estivesse em jogo, mas a cena de Gregory estirado no chão segurando o nariz não tinha preço, isso Al tinha certeza, e por isso não continha o sorriso largo. 

— Obrigada por isso, mas eu teria feito de qualquer maneira. — Rose agradeceu, acariciando o ombro de Lorcan, que estava estranhamente em silêncio. — Lorcan? O que foi?

— Eu acho que quebrei minha mão. — soltou em um fio de voz, com os olhos se enchendo de lágrimas. 

Após um sermão do dono da cafeteria, que por um triz não demitiu Lorcan, com a condição de que ele e o restante do grupo apenas voltassem ali depois de uma semana, e uma ida à enfermaria da faculdade, que confirmou que não havia nada de errado com a mão de Lorcan - que urrava de dor -, o trio de amigos se reuniu no dormitório de Scorpius para rir da situação. 

— Eu não acredito que o Lorcan realmente topou fingir ser seu namorado, ainda mais depois dele ter quase amputado a mão. — ironizou Albus, relembrando todo o drama do rapaz até o caminho da enfermaria.

— Não fica zoando, ele quase perdeu o emprego por conta disso. — Rose havia assumido um semblante sério enquanto roía as unhas. — Foi sugestão dele, na verdade. — ela colocou os cabelos atrás da orelha, ficando levemente corada. Scorpius e Al se olharam com sorrisos sacanas no rosto. — Ele disse que o Nott era um idiota e que eu deveria garantir que ele não ficasse por perto. E que se isso implicasse nele fingir meu namorado, já que aquele babaca só respeita homens, aparentemente, ele poderia continuar sem problema algum. 

— Prestativo ele. — o loiro comentou com um sorriso enquanto tentava fazer um coque com um lápis. Rose revirou os olhos, soltando os cabelos e lhe entregando o laço. 

— A cada dia que passa você honra cada vez mais o perfil da galera de humanas de Hogwarts. Prende logo esse cabelo ridiculamente bem hidratado que dá de dez a zero no meu, por favor. 

Scorpius revirou os olhos, mas prendeu os cabelos. 

— O segredo pra manter o cabelo bem hidratado é um só: menos é mais. 

— Você não vai tentar me convencer de novo a usar sabonete no meu cabelo, né? Por que isso não vai colar!

— Não é sabonete! É shampoo e condicionador em barra! Muito mais ecológico e eficiente, se quer saber.

— Scorpius, nem parece que você limpa o cabelo direito com esse troço. Não faz espuma nenhuma!

— Não precisa fazer espuma pra indicar que está limpo.

— Precisa sim!

— É óbvio que não precisa! Eu te mandei a porcaria de um link de uma matéria que eu fiz dois meses atrás, Rose! Você leu por acaso?

— Meu Deus, sério, como é que vocês se aguentam há dez anos? — Al perguntou se levantando, para ligar o som e tentar encobrir a ladainha dos amigos. Toda vez era a mesma história: Rose e Scorpius discutindo por coisas sem sentido porque um era mais cabeça dura que o outro. 

— Exatamente porque a gente briga e não deixa nunca de falar o que tá incomodando pro outro.

— Sim, exatamente! O segredo do sucesso de uma amizade é sempre ser sincero. A gente só se exalta mais do que o normal, só isso. — Rose deu de ombros e sorriu para Scorpius, fazendo um high five. 

— E do nada vocês ficam de boa! — o moreno ergueu as mãos para o alto, indignado. — Vocês são muito esquisitos. 

O casal de amigos se olhou, reprimindo um sorriso. 

— Olha só, Scorp, o senhor todo lógico e ranzinza querendo agir como se fosse melhor que a gente.

— Só porque ele é um mega programador e nós dois somos a ralé.

— Um jornalista. — Rose fez como se fosse vomitar.

— Uma designer. — Scorpius fingiu um arrepio forte. — Um sendo o melhor amigo do outro. Nossa, é a morte pro Albus chato Potter.

Sabendo para onde aquele diálogo exagerado dos amigos iria - porque um nunca era diferente do outro - Al apenas se virou para ligar o computador de Scorpius e verificar o site do aplicativo que estava ajudando a desenvolver para créditos extras. 

Quando o barulho de notificação soou pelo quarto Rose e Scorpius se calaram e levantaram imediatamente para ficarem atrás de Albus no computador.

— Agora os enxeridos querem saber das novidades, não é? Seus interesseiros.

— É nossa culpa se você está por trás do aplicativo mais hypado do campus? — o loiro riu sem emoção, arqueando uma sobrancelha. — Eu já cansei de fazer pauta sobre isso pro Hog News, sério. E agora o Profeta Diário encomendou uma matéria nossa.

— Meu Deus, sério isso Scorp? Que sensacional! Você que vai escrever? — a garota pulava de animação, mas Scorpius negou com a cabeça. 

— É uma coisa mais… Empírica. 

O aplicativo que Albus estava ajudando a desenvolver era famoso, mas sem de fato trazer muitas novidades. Era como um Tinder, só que mais seletivo. O usuário colocava tags específicas sobre o que estava buscando: relacionamento sério, aberto, casual, one night stand, date de uma noite e, até mesmo, acompanhantes. Com isso, os usuários visualizavam os perfis que tinham exatamente a ver com o que estavam procurando. E essa era a fórmula de sucesso da coisa. 

Fazer uma matéria empírica sobre o aplicativo consistia em usá-lo e reportar as experiências, como Scorpius havia explicado, para animação de Rose e nojo de Albus. Na opinião dele tudo aquilo era baboseira e se não precisasse tanto da nota extra, já que estava ferrado até o pescoço com várias matérias, ele certamente teria passado longe dessa aberração. 

 

S C O R P I U S

 

Duas semanas antes da briga com Albus

 

— Hyperion, às vezes eu penso que você se esforça para pensar em todas as coisas que me dariam desgosto e escolhe fazê-las por pura vontade de me torturar. — as palavras do avô voaram como facas diretamente em seu coração. 

Havia, finalmente, contado para a família que era bissexual, e, sem nenhuma surpresa, Lucius Malfoy havia sido completamente incompreensivo. Scorpius não era o tipo que pessoa que fazia muito alarde sobre quem era, já que costumava ser extremamente reservado - algo que todas as fofocas rondando sua família lhe ensinou a fazer. Não costumava falar abertamente sobre sua bissexualidade. Apenas investia tanto em homens quanto mulheres e tudo certo. Mas com o discursinho podre que seu avô estava fazendo ele se sentiu na obrigação e dizer que fazia parte do grupo.

— Pai, não fale assim com meu filho. 

— Ele é meu neto, Draco, eu tenho o direito de falar como eu bem entender. Bissexual, que droga é esta? Não basta fazer um curso mequetrefe para se juntar aos urubus que só querem saber de destruir a reputação da nossa família e andar por aí como se fosse um pobretão hiponga, não… Tem que ser anormal

— Lucius! Está sendo preconceituoso. Que mal tem em nosso neto gostar de garotos também?

— Narcisa, o problema não está em gostar de garotos. Está em gostar também. — o patriarca da família se levantou, apoiando-se na bengala e indo em direção ao neto, ostentando um olhar de nojo. — Isso é uma sem vergonhice. Uma fase de promiscuidade porque você está na faculdade, em que os jovens acham descolado beijar qualquer coisa que ande por aí. 

Lucius ergueu o queixo de Scorpius, que mantinha o rosto abaixado desde o começo da discussão. 

— Não vou permitir que meu neto manche ainda mais o nome da família vivendo de uma forma tão vergonhosa. E duvido que você goste de rapazes. Vivia colado na garota Weasley a vida inteira, já trouxe namoradas… Você pode até beijar moleques por aí, mas quando ver um pênis na sua frente, as coisas vão ser diferentes.

— Lucius! — Narcisa se levantou, indo como um furacão em direção ao marido. 

— Tudo bem, vó. — Scorpius a tranquilizou, enquanto se afastava da mão firme do avô em seu queixo. — Acho que se enganou, porque a única pessoa que envergonha a família aqui é você, com todo seu esquema de corrupção. Você é que deveria ter vergonha de viver do jeito que vive. — o som do tapa que Scorpius levou ecoou pela sala de jantar. 

Astoria Malfoy correu até o filho, abraçando-o e olhando com ódio para o sogro, sem perder a pose elegante em momento algum.

— Acredito que a sobremesa ficará para outra ocasião, senhor. Seria de bom tom se todos déssemos a noite por encerrada também. 

O homem riu com desdém, encarando a nora da cabeça aos pés. 

— Que petulância, me expulsando de minha antiga casa!

— Pois é, antiga. — a mulher fez questão de enfatizar, olhando-o de queixo erguido. — Eu, como anfitriã, me sinto no direito de dizer até quando meu convite e minha cortesia se estendem. E acredite, não se manterá assim por muito tempo.

Lucius inspirou pesadamente, erguendo o queixo e trocando a bengala de mão, repelindo a mão de Narcisa em seu ombro com um gesto mais brusco do que o normal.

— Você deveria dar um jeito nessa sua esposa, Draco. Como homem da casa.

— Aqui quem manda é a Astoria, Lucius. — o homem se posicionou ao lado do filho e da esposa, colocando as mãos no bolso. — Acredito que saibam o caminho da porta. — lançou um olhar para a mãe, que pedia desculpas silenciosamente com o olhar.

— Não precisa repetir duas vezes ou sequer chamar um de seus criadinhos incompetentes. — sem dizer mais uma palavra, o casal mais velho saiu do recinto. 

Astoria fez questão de trancar a porta e ao alcançar o marido e o filho soltou o ar que aparentemente segurava há algum tempo, enquanto passava as mãos pelos cabelos castanhos com um fio ou outro acinzentado. 

— Eu juro que estava a um minuto de socar a fuça desse velho. 

Scorpius não podia acreditar que sua mãe estava falando daquela maneira e, por isso, não conteve a risada. Em menos de um minuto os três estavam rindo juntos, como se nada de muito dramático tivesse acabado de acontecer, e Scorpius soube que amava os pais mais do que tudo.

 

Um dia antes da briga com Albus

 

— Eu já disse que eu só estava tentando ser legal. — Rose mantinha a cabeça baixa, evitando o olhar inquisidor de Scorpius. Ele a conhecia há tempo demais para saber que ela estava mentindo descaradamente.

— Você está fazendo a mesma cara de quando beijou escondido de mim quando tínhamos treze anos e a escola inteira sabia. 

— Você nunca vai superar esse acontecimento, não é? 

— Não seja boba, eu não sou rancoroso. Só gosto de lembrar e pontuar as coisas.

Uma mentira deslavada. Scorpius era rancoroso da raiz dos cabelos até a ponta do dedinho do pé. E era exatamente por isso que ele estava conversando com a melhor amiga sobre como fazer seu avô engolir tudo o ele havia dito após sua mãe ter dado com a língua nos dentes. No fim não havia sido de tão ruim, afinal. Falar estava sendo libertador e Rose costumava ter algumas boas ideias. 

— Que saco, Scorpius. Lorcan tem sido um anjo me ajudando com a história do Nott. Eu só quis agradecer, ué..

— Rose, vocês estão saindo juntos pra tudo quanto é lugar.

— É óbvio, estamos tentando convencer o Nott de que estamos juntos.

— Ah claro, porque encontros em cinemas independentes onde Nott e ninguém do círculo de amizades dele frequenta é uma maneira excelente de fazer propaganda desse suposto namoro falso. — o loiro cruzou os braços, olhando seriamente para a amiga que afundou o rosto nas mãos.

— O pior é que a sugestão foi minha… O que eu posso fazer se o Lorcan pela primeira vez parece um cara legal? Eu sempre o vi só como… O filho dos amigos dos meus pais. Sei lá, é quase como se ele fosse da família. Só estou tentando ser legal. Afinal ele quase perdeu o emprego por minha causa. E isso não vai dar nem nada demais porque eu não sinto nada e muito menos ele.

Scorpius queria rir alto, entretanto, em respeito à Rose, não o fez, pois sabia que a amiga não gostava de se sentir uma chacota. Era óbvio que eles estavam trilhando para um caminho perigoso e todo mundo sabia que ele tinha uma queda gigante por ela há anos. 

Quando Lorcan foi transferido para a escola deles no ensino médio já era bem evidente o caminhão que ele arrastava pela Weasley. Tanto que, quando Scorpius finalmente virou amigo de Albus na faculdade - já que os Potter moravam em outra cidade e o pouco contato que eles tiveram durante a vida foram nos aniversários de Rose -, ele não se surpreendeu com a informação de que Lorcan anunciou para todos, quando eles tinham quatro anos, que ainda namoraria Rose Weasley. 

Evidentemente que o discurso não se sustentou no decorrer dos anos, porque o rapaz era extremamente tímido, mas esconder a paixão não era exatamente seu forte. Portanto, nem Albus nem Scorpius se surpreenderam quando a ideia de sugerir a continuidade daquela encenação de namoro tivesse partido dele. Scorpius o admirava, inclusive, por fingir bem até demais e não hesitar em puxá-la para beijos gentis quando o ex stalker aparecia. 

A questão é que Rose era extremamente cética quanto a esses assuntos e não percebia que era ridiculamente endeusada pelo garoto. Não era do feitio de Scorpius se intrometer na vida dos amigos tão descaradamente assim. Achava que era mais eficiente quando eles mesmos chegassem à conclusões sozinhos. Porém, um mês depois Rose ainda estava totalmente alheia, o que fez o rapaz revirar os olhos e segurar os ombros da amiga com força. 

— Ele gosta de você desde os quatro anos de idade, pelo que o Albus me contou.

— Que absurdo, aquilo era coisa de criança. Não é possível que ele goste de mim desde aquela época. — a ruiva começou a rir, mas de repente ficou em silêncio, franzindo o cenho. — Scorpius, você acha…

— Eu tenho certeza.

— Séra?

— Você nunca vai saber se não tentar. — ele deu de ombros, erguendo a mão para chamar o atendente. — Agora podemos, por favor, pedir logo alguma coisa? 

— Tentar o que, Scorpius? Não viaja. Somos só amigos. — Scorpius lhe lançou um olhar de ceticismo que foi fortemente ignorado. — Você já sabe o que eu vou pedir. — respondeu como se fosse óbvio e Scorpius balançou a cabeça. 

Toda vez que iam até aquela sorveteria Rose pedia sempre a mesma coisa: waffles com uma bola de sorvete de baunilha e outra de doce de leite argentino. Sempre. A única coisa que variava - e muito raramente - era a escolha da cobertura. Scorpius já era bem mais eclético: estava quase completando seu objetivo se experimentar todos os cem sabores do estabelecimento. A escolha do dia era amarena, de acordo com seu sorteio às cegas, como sempre fazia. 

Scorpius percebeu que Rose o observava com curiosidade enquanto os dois saboreavam as sobremesas em silêncio. Era um domingo atipicamente quente - e, mesmo se não fosse, não abandonariam a tradição do sorvete. Fizesse chuva ou sol, frio ou calor, eles estavam ali, todos os domingos. O rapaz começou a ficar ligeiramente incomodado com o olhar, pois sabia que ela queria dizer alguma coisa. 

— Tá, fala logo. 

Rose apenas sorriu, esticando a colher para ele.

— Por que você não arranja um namoro falso também? Pra esfregar na cara do seu avô. 

Scorpius ponderou se Rose estava louca, já que Lucius Malfoy era um cara esperto e perceberia que se tratava de um relacionamento falso. Se tinha uma coisa que Scorpius definitivamente não conseguia fazer era fingir gostar de alguém. Talvez fosse por isso que todos os seus relacionamentos estavam sempre fadados ao fracasso. Era o preço que ele pagava por ser apaixonado pela pessoa mais inalcançável que ele poderia ter escolhido e não conseguir se envolver. 

— Não vou elencar muitos motivos pelos quais isso com toda certeza vai dar merda. 

— Não é como se você fosse se apaixonar, já que… Já está. — ela deu de ombros, sorrindo maliciosamente e Scorpius revirou os olhos. — E seria até bom para esquecer isso, já que ele tem um coração de gelo. E provavelmente é hétero, porque nada nunca provou o contrário.

— Não é nem a questão de se apaixonar, porque você sabe que eu consigo desenvolver rolos sem apego sentimental. O problema é que se eu não gostar da pessoa, não vou convencer meu avô. 

— Mas você não precisa exatamente mentir. — Rose balançou as sobrancelhas e Scorpius respirou fundo, cruzando os braços.

— Não vou chamar alguém pra sair e falar depois “hey, pode parecer estranho, porque acabamos de começar isso, mas você poderia ir até à minha casa conhecer meu avô preconceituoso e fingir ser meu namorado?”. Fala sério. 

— Você não sabe mesmo pensar em possibilidades, né?

Conforme ela ia explicando seu plano, Scorpius mal conseguia acreditar que Rose estivesse mesmo propondo que ele praticamente contratasse um date para sair sem compromisso consciente de que fingiria ser seu namorado por um ou dois dias, tudo isso por meio do Date It Up. E pior: não conseguia acreditar que estava realmente gostando da ideia e até mesmo pensando que seria uma excelente contribuição para a matéria do O Profeta Diário. Todos os colaboradores usariam nomes falsos para a experiência e se ele alterasse uma informação crucial ou outra - como o fato de ser tudo culpa do avô preconceituoso -, seria possível redigir o texto tranquilamente.

— Rose Weasley você é um gênio do mal. 

A ruiva apertou a bochecha do amigo, dando uma piscadela enquanto aproveitava para roubar uma colherada do sorvete dele.

 

A L B U S

 O dia da briga com Scorpius

 

Albus sentia que precisava gritar para aliviar toda a raiva crescente que estava sentindo. Seu desempenho ia de mal a pior na faculdade, fazendo-o questionar o que diabos estava fazendo ali. Ao mesmo tempo não sabia exatamente o que queria da vida. Achava interessante a área de programação, mas não sabia se queria realmente investir seu tempo naquilo e, posteriormente, dedicar-se por toda a vida. Cada vez mais percebia a rotina preenchendo seus dias de maneira tediosa: chegar na aula, tentar prestar atenção, ficar com raiva de si mesmo por estar odiando aquilo, pegar seus fones e começar a rabiscar em seu caderno. 

Percebeu que a situação estava ficando mais séria do que ele achava quando estava em uma papelaria e se viu gastando metade da sua mesada com cadernos, canetas e lápis. Ao menos o passatempo o distraía. 

Estava na biblioteca, ouvindo sua playlist de músicas de concentração habituais, já que precisava de muito foco para concluir aquele desenho com perfeição. Gostava de desenhar seus amigos e, na noite passada, havia sonhado com Scorpius e Rose. Estava animado em dar o desenho para os amigos, o primeiro colorido em anos, graças às novas aquisições - por isso havia feito cada um separadamente - então, depois de finalizar o de Rose, estava dedicando-se ao de Scorpius, que estava mais difícil do que ele havia imaginado. 

Nenhuma de suas tentativas ainda havia acertado totalmente o emaranhado de fios que costumava ser o cabelo do amigo, que sempre o prendia de qualquer maneira, e acertar o tom também já estava lhe dando dor de cabeça. 

Foi interrompido por mais uma notificação idiota do Date It Up e quando estava prestes a dispensá-la algo o fez parar. Aquilo não estava certo. Scorpius havia acabado de fazer seu perfil. De repente Al se lembrou da reportagem que havia sido solicitada, talvez o amigo estivesse usando o perfil para isso. Iria simplesmente ignorar e perguntar disso depois, mas algo lhe impulsionou a checar o perfil. 

Scorpius era ridiculamente fotogênico, mas havia enfiado fotos fazendo caretas, na tentativa falha de lhe deixarem menos atraente, junto com uma ou outra mais normal. Notou que a segunda foto escolhida havia sido tirada por ele, bem como a quinta, e não conteve um sorriso. Este, no entanto, logo se desfez, conforme ia lendo um perfil. 

Não sabia exatamente o que havia lhe irritado. Talvez a objetividade de falar que estava querendo somente encenar um namoro falso para a família, mas que aquilo poderia render alguns encontros casuais divertidos. Ou o fato de Scorpius estar procurando um namorado. De alguma maneira aquilo parecia um soco no estômago do moreno com muito mais impacto do que se o perfil em questão estivesse em busca de uma namorada. Ele sabia que o amigo era bisssexual, mas nunca o viu realmente com um garoto antes. Não à luz do dia, saindo junto com eles, como ele costumava fazer com algumas garotas.

Era isso: o choque do amigo finalmente parecer aberto à relacionar-se com o mesmo sexo e a raiva de ter sido justamente pelo aplicativo mais absurdo que Albus tinha o desprazer de ajudar a desenvolver. E além do mais, desde quando Scorpius havia se assumido para a família?

Al se sentia traído de muitas formas e, sem pensar duas vezes, juntou todas as coisas, rumo ao conjunto de prédio das humanas. Antes que pudesse alcançar o de comunicação foi interceptado por Rose, que acabava de sair de seu prédio. 

— O que um programador faz por aqui? Perdido?

— Você por acaso tá sabendo dessa história do Scorpius ter feito cadastro no Date It Up? E do namoro falso? — no fundo Al sabia que era idiotice perguntar aquilo, porque Rose e Scorpius eram unidos como unha e carne. Ele havia entrado no trio somente no início da faculdade e sempre observou a dinâmica próxima dos dois durante os longos anos de amizade dos dois. E, ao que tudo indicava, Al havia sido deixado de fora, mais uma vez. E, quando Rose abriu um sorriso maroto, Albus percebeu que não era o único assunto ao qual ele estava no escuro.

— Eu que sugeri a ideia do namoro falso, porque ele precisa dar um jeito naquele avô preconceituoso. 

— Rose, calma. — ele puxou a prima para sentarem em um banco próximo. — Ele se assumiu pra família?

— Sim! Ele não comentou com você?

— Eu não fazia ideia! — o resmungo que o rapaz deu fez Rose fazer uma careta. Albus queria sacudir os dois por ficarem de segredinhos. Mas, mais do que qualquer coisa, queria sacudir Rose, porque tudo aquilo era culpa dela. Não sabia porque estava tão irritado, só se sentia extremamente pronto para sumir dali e explodir com Scorpius. — Desde quando?

— Bem… — Albus notou que a prima estava hesitando, o que o fez revirar os olhos.

— Agora que você já soltou a bomba, conta tudo. Não vai fazer diferença você ou ele me contarem, são praticamente a mesma pessoa, pelo jeito. 

Al percebeu o olhar de censura da prima, mas pouco se importou em estar parecendo ciumento a respeito do nível de intimidade deles. Apesar da hesitação, Rose concordou.

— Não vou entrar em detalhes porque sinceramente nem comigo ele entrou, mas basicamente o avô dele acha que o Scorpius é algum tipo de promíscuo. E olha que ele é bem comportado, se você parar para analisar o tipo de festa que a gente frequenta. O pessoal dos nossos cursos costuma ser bastante… Intenso. — eufemismo barato para o fato de que todo mundo beijava todo mundo. Literalmente. 

Albus era um frequentador de festas universitárias, pois sentia que era uma excelente válvula de escape, mas geralmente frequentava apenas as de seu curso e, apesar de sempre ter conseguido dar uns beijos, o ambiente em si parecia bem controlado. Não era estranho, na realidade, que exatas e humanas às vezes se juntassem para algumas festas. Era um resultado bem explosivo e a razão pela qual havia apenas uma ou duas durante o ano. Foi em uma dessas que Albus viu um colega de classe dar em cima de Scorpius e ser correspondido. 

— Por quê você está tão afoito? 

— Ele nunca namorou um cara antes. — Al torceu o nariz e Rose o encarou com seriedade.

— Não me diga que você também vai bancar o preconceituoso aqui, Albus. 

O moreno fez uma careta, revirando os olhos.

— Óbvio que não Rose. É só que, sei lá, tô puto com o fato dele ter usado a porcaria do aplicativo e… Não ter falado nada sobre cogitar namorar alguém. Muito menos um cara. 

— O Scorpius já ficou sério com outros caras, não é nenhuma novidade. Você se lembra do Anthony, não é?

Então ele se sentiu como um idiota. Não achou estranho quando o Zabini começou a andar com o trio, apenas considerou que fosse uma tentativa de nova aquisição ou coisa do tipo. Não parou para pensar de fato que eles estavam juntos. 

 — Por que ele não me contou? Sobre… — Al nem sabia ao certo porque estava tão bravo. Não sabia como dizer tudo que estava sentindo à Rose. Então resolveu ir pelo caminho mais fácil. — Sobre o avô.

— Você conhece ele. — a garota suspirou fundo, jogando-se no banco. — Ele é meio reservado. Aliás, bem reservado. Ele nem me contou, pra ser sincera. A mãe dele me mandou uma mensagem, pedindo para eu dar uma animada nele e bem… Scorpius é reservado, mas não hesita em falar quando é perguntado. 

Ambos sorriram com a constação, porque Scorpius era exatamente assim. Não diria nada a não ser que fosse questionado a respeito, mas também não pouparia esforços para contar, mesmo que sem muitos detalhes, caso estivesse desconfortável. Ele ia direto ao ponto e Albus o admirava extremamente por esse controle emocional. Ele, por outro lado, era uma completa negação. Um reservado, também, mas que fazia questão de esconder os sentimentos até onde podia. Escondia a verdade dos amigos e da família e, principalmente, de si mesmo. 

— Mas ele resolver se assumir para a família só agora…

— Não foi algo pensado. — defendeu a garota. — O avô dele estava falando mal desse “novo estilo de vida de pessoas confusas e promíscuas” e aí ele resolveu contar. 

Albus estava estranhamente quieto, o que fez Rose suspirar pesadamente e colocar a mão no ombro do primo, que observava as folhas alaranjadas das árvores caindo ao chão. O outono talvez fosse sua estação favorita, por possuir uma beleza melancólica que ele não conseguia explicar. Talvez aquele cenário rendesse um excelente fundo para o desenho inacabado de Scorpius. Parecia uma atmosfera que casava com a aura do loiro. 

— Não é a cara do Scorpius fazer um grande evento sobre a vida dele. Dá pra imaginar ele ensaiando nervoso no espelho como vai contar aos pais que é bissexual? Ele é a própria impulsividade ambulante.

Segurar o riso foi inevitável. Rose só poderia estar de brincadeira.

— Fazer um perfil no Date It Up com aquela riqueza de detalhes não é bem uma coisa de impulso. Por que você disse para ele fazer isso? 

A ruiva franziu o cenho, observando o rosto do primo com cuidado. Não estava acostumada àquela reação tão exaltada de Al por um simples mal entendido. 

— Bem, meu namoro falso está funcionando. Pra afastar o Greg, no caso. Achei que pudesse funcionar com ele também pra calar a boca do avô podre dele. — ela arregalou os olhos, olhando para os lados. — Não diz pro Scorp que eu falei isso. Mas eu nunca gostei do Lucius e ele muito menos de mim. Não é uma ideia tão ruim, sabe, assim o Scorpius consegue provar pro avô que não tem nada de promíscuo e que ele pode sim se envolver romanticamente com um cara também e ainda sai no lucro de dar uns beijos por aí. E quem sabe realmente surja um relacionamento, ele está precisando. 

Albus não sabia porque, mas estava irritado com Rose, talvez até mais do que com Scorpius, porque o fato do amigo estar ostentando um perfil no pior aplicativo existente era culpa totalmente dela. Ele apenas queria ficar em silêncio, pois estava realmente magoado com a situação, ainda mais com a última frase da prima. Scorpius nunca namorou e a ideia não agradava nada à Albus, que tentava repelir o sentimento que se formava em seu peito. Tinha consciência do olhar pesado de Rose em seu rosto, mas o mantinha baixo para não precisar encará-la e dizer nada. 

Estava prestes a ir embora, pois sequer se sentia capaz de falar com Scorpius naquele momento, quando o loiro parou em sua frente, segurando uma alça da mochila com a mão e olhando com a cabeça tombada para os amigos.

— Que cara de enterro é essa. Alguém morreu?

— Aparentemente sua confiança em mim. — não controlou as palavras e, quando viu, estava de pé encarando o amigo, que agora possuía uma careta de confusão no rosto ridiculamente bonito. Péssima hora para pensar naquilo. 

— Ele viu a notificação do Date It Up e… Me interrogou. — Rose tinha um olhar de desculpas, mas Scorpius apenas assentiu, suspirando pesadamente.

— Achei que você tivesse dito que ia desinstalar o aplicativo por alguns dias. 

— Acredite, eu tentei, mas me disseram que todos os desenvolvedores precisavam ter essa maldita versão de administrador. 

Scorpius coçou a nuca, desconcertado. 

— Eu só não falei nada antes porque não pareceu conveniente. Você sabe como eu sou. 

O problema é que Rose sabia da história enquanto Al não fazia nem ideia. Ele tinha noção de que era um pensamento egoísta, mas aquilo indicava que ele não era tão importante quanto a garota. E o pensamento só o deixava mais irritado, porque sabia o quão infantil era se sentir assim. 

— Scorpius, essa história de namoro falso nunca acaba bem. — foi a única coisa que conseguiu formular e encarou diretamente Rose, que sorriu sem graça.

— Só dá errado pra quem não sabe controlar os sentimentos, Al. 

— E desde de quando a gente consegue controlar o coração, hein? — havia um tom de desespero e urgência que al não entendia muito bem de onde vinha.  

— Realmente, não conseguimos. Mas eu sei que não vou me apaixonar nessa encenação, porque já estou apaixonado por outra pessoa. 

A informação atingiu Albus como uma bomba e até mesmo Rose pareceu chocada.

— O quê? Como assim? Por quem?

— Só vou dizer se você me contar por quem anda apaixonado.

Albus sentiu o chão sumir de seus pés. Não estava apaixonado por ninguém, mas Scorpius já vinha insistindo naquela ideia maluca há meses, logo depois que encontrara alguns rascunhos de desenhos amassados. 

Como nenhum dos dois amigos sabia que Al estava desenhando com frequência, ele achou melhor não contar que andava desenhando os dois, porque isso implicaria em ter que contar sobre seus sonhos. Então Scorpius apenas assumiu que Al vinha desenhando alguma garota de seu curso, dado os cabelos lisos e longos. Mal sabia ele que se tratavam dos cabelos dele mesmo, e, se dependesse de Al, aquela informação não viria à tona.

De repente sentiu um amargor tomar conta de sua boca. Se entregasse os desenhos que vinha colorindo, Scorpius poderia entender errado. Não se sentia muito melhor que o amigo naquele momento, já que vinha escondendo uma coisa também. Mas não iria dar o braço a torcer.

— Sem chance.

— Então você também não vai saber. Olho por olho, dente por dente.

— Achei que fôssemos melhores amigos, Malfoy. — era mais um desabafo do que uma crítica, de fato. Albus até poderia ter bastante amigos em seu curso e gostar muito de dividir quarto com Frank Longbottom II, mas se sentia muito mais confortável na presença de Scorpius, com quem poderia ser ele mesmo. 

— Achei que você fosse um pouco mais corajoso e confiasse mais em mim, Potter. — Al não deixou de reparar que Scorpius não falou nada a respeito do termo “melhores amigos”.

— Você não entenderia… — como explicar que aquilo não era paixão? Afinal, contar que sonhava com a mesma pessoa quase todos os dias nunca era visto de uma maneira muito normal, mesmo que Rose às vezes se enfiasse no meio de tudo também, assim como algumas pessoas que ele interagia no dia a dia. Definitivamente não era paixão.

— E vou continuar sem entender se você não falar nada. Mas quer saber? Eu também não quero mais te contar. É melhor assim. 

Por um instante Albus achou que Scorpius fosse embora, mas o loiro apenas suspirou e os convidou para tomar um café, enquanto amarrava a zona de fios loiros longos em um rabo de cavalo. De repente soube qual tom usaria e quis se bater por estar pensando naquilo em um momento como aquele. Al aceitou, pois sabia que negar seria suspeito, e Rose se enfiou no meio dos dois enquanto caminhavam para tentar ocupar com sua tagarelice o estranho silêncio que havia se instaurado. 

Albus não estava dando a mínima para as reclamações da garota a respeito do estágio novo, pois estava tentando digerir toda a reação que teve. Sentia-se envergonhado, acima de tudo, mas também muito confuso. E, definitivamente, com medo. Não gostava da sensação de aperto no peito, borboletas no estômago e calor nas bochechas que estava sentindo após aquele diálogo. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O Albus tá naquela fase: "putz só porque eu tô sentindo coisas esquisitas e sonhando com você todas as noites não significa que eu estou apaixonado, ok?", mas ele SABE que tem um sentimento novo ali, só não quer assumir que é paixão ahaha Eu arrisquei um Scorpius um pouco diferente do convencional aqui, afinal... Por que não? E Scorose sendo BEST FRIENDS FOREVER é algo que eu sempre quis abordar também.
O próximo deve sair semana que vem, que é quando estarei menos atolada, e o último provavelmente no final da semana que vem também. E dia 26 sai mais uma fic minha (zero controle por aqui), dessa vez focada só no Albus.
Posto algumas informações sobre minhas fanfics - e falo de qualquer coisa em geral kkkk - no twitter @ffosstterr
Espero vocês nos comentários ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Yeah, right" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.