Kabum! escrita por annaoneannatwo


Capítulo 1
Capítulo Único




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—  Tem certeza? Eu posso ligar para a babá. —  ela pergunta pelo que deve ser a milésima vez.

—  Mesmo se eu não tivesse certeza, já tá bem em cima. —  ele responde — Pô, eu sou o herói número 2, você acha que eu não dou conta de uma pirralha?

Ochako o encara por alguns segundos.

—  Você chamar nossa filha de “pirralha” não me deixa lá muito animada, Katsuki.

—  Só tô zoando. —  ele pega no pulso dela e a traz para si gentilmente —  Pode ir sem medo, eu cuido de tudo.

—  Eu sei. —  ela suspira —  Eu confio em você, acho que o problema sou eu mesmo, tô tão nervosa! É tanta pressão em cima de heroínas para voltarem ao trabalho depois de terem filhos e… ela é tão novinha, Katsuki.

—  Você é a Uravity. —  ele a faz olhá-lo nos olhos —  Você é a maior heroína de resgate desse país e esse povo chato pode enfiar a pressão no rabo, e a Mitsuha vai ficar bem, olha de quem ela é filha, porra.

Ela ri levemente, fazendo-o sorrir.

—  Ok, então vamos repassar as regras. Vai!

—  Tablet só até às 8, mamadeira só na hora de dormir.  Nada de falar sobre trabalho perto dela e evitar palavrões.

—  Muito bem! Não esquece de tomar o antibiótico e de lev-

—  E de levantar a cabeceira da cama. Não esqueço. —  ele soa muito mais irritado do que realmente está, ela também sabe disso e sorri, inclinando-se para beijá-lo docemente —  Vou fazer curry no jantar.

—  Hum… deixa um pouco pra mim, tá? —  eles dão um selinho rápido antes de ela se afastar —  Mitsuha, a mamãe já vai!

Passinhos apressados ecoam pela escada e avançam ao corredor, a menina para bem na frente deles com seus enormes olhos castanhos e bochechas redondas, segurando um livro, ugh, esse daí é um que o Quatro-Olhos deu de presente.

—  Mamãe, você não pode ler o livro da princesa Kaguya pra mim?

—  Agora não vai dar porque a mamãe tá indo trabalhar.

—  Mas por que você precisa ir trabalhar? —  ih, lá vão elas de novo.

—  Porque me chamaram e eu preciso ir.

—  Mas eu não quero que você vai! —  ela bate o pé e faz bico.

—  Mitsuha. —  ela se ajoelha diante da garota —  A gente já conversou sobre isso, não foi? Tem pessoas que precisam da mamãe agora. O papai vai ficar aqui com você o dia todo hoje, aí ele pode ler pra você!

—  Mas eu não quero o papai, eu quero você!

—  Mitsuha —  ele usa o mesmo tom da Ochako. Amistoso, porém firme —  Sem birra, você já tá grandinha demais pra isso.

—  Ela não vai fazer birra, né? —  a Ochako pergunta, mas tá mais pra uma confirmação —  Ela entende porque a gente já conversou, não foi? O que que a gente combinou mesmo?

—  A mamãe vai sair pra ajudar as  pessoas, e eu vou ficar em casa pra cuidar do papai.

—  Uhum. Essa é uma missão muito importante, viu? Tô contando com você! —  ela dá um beijo na testa da criança e se levanta, olhando para ele — Qualquer coisa, me dá um toque?

—  Nem fod- —  ela o olha feio, lançando outro breve olhar na direção da Mitsuha —  Não vai ter “qualquer coisa”, pode ficar tranquila, Ochako. — ele anda até a garotinha e a pega no colo —  Eu e a minha parceira vamos cuidar da área, né não? — a garota só assente com a cabeça, sem muito ânimo.

E com certa relutância, Ochako passa pela porta sem olhar pra trás, Katsuki sabe que ela deve estar contendo as lágrimas para que nem ele nem a filha percebam o quanto ela está nervosa e preocupada. Uma parte dele poderia até levar pro lado pessoal e achar que ela não confia nele pra cuidar da casa e da Mitsuha, mas a real é que depois que se tem filho, as coisas mudam muito de figura. Por mais que eles evitem esse sentimento, sempre tem algo que os faz pensar muito antes de se jogar com tudo em uma missão, eles têm uma filha agora, precisam estar lá por ela em todos os momentos importantes, ainda mais nessa idade, com a individualidade podendo despertar a qualquer momento. Para a Ochako, deve ser ainda mais difícil, ela continuou trabalhando até o último mês de gravidez e, mesmo que não assuma, atribui a isso as complicações que teve no parto. A Ryuko é uma puta de uma patroa boa que a deixou apenas com trabalhos internos na agência durante esses quatro anos e só hoje, depois de ter absoluta certeza que a heroína em gravidade zero estava pronta para voltar a missões de campo, chamou-a para um importante trabalho de reconhecimento. Ochako até foi chamada em uma ou outra emergência, claro, mas voltar oficialmente mesmo, é hoje, e Katsuki se sente um bosta por ter se machucado em sua missão mais recente, dando-a mais motivo para se preocupar e esquecer um pouco o quão foda e importante é a volta da Uravity ao mundo heroico.

Mas não é uma lesão no ombro que vai atrapalhá-lo, ele vai cuidar da casa como um mordomo cuidando de um palácio e da princesinha.

—  Faz “kabum”, papai! —  ela se manifesta depois de ver que ficar emburrada não vai trazer a mãe de volta.

—  Que kabum o quê! Vem me ajudar a fazer a janta!

—  Não quero!

Só que a princesinha tá crescendo rápido pra caralho, e embora tenha puxado as feições quase angelicais da mãe e pareça uma versão loira dela, tá mostrando aos poucos que a personalidade é mais parecida com a dele, Katsuki tem certeza disso ao observá-la de braços cruzados e lançando o mesmo olhar atrevido que ele lançava para sua velha quando era criança.

—  Não tô pedindo, tô mandando! —  e na mesma leva, Katsuki tá começando a soar mais e mais como sua velha —  Vem que eu te mostro um jeito legal de cortar maçã.

Marchando em direção ao banquinho que ela usa para alcançar a bancada da cozinha, a garota bufa e fica olhando-o enquanto ele reparte uma maçã, habilidosamente cortando-a na forma de um coelhinho.

—  A da mamãe fica mais bonita. —  ela resmunga enquanto mastiga — E mais gostosa.

—  Tá falando isso, mas não para de mastigar. —  ele retruca — Aqui ó, tempera os legumes pra mim.

—  A mamãe fala que sempre tem que falar “por favor”.

—  A mamãe não tá aqui. —  ele rebate, imediatamente se arrependendo. Ugh… qual dos dois é a criança mesmo?

Katsuki costumava ficar muito com a pirralha quando ela era bebê, Ochako se admirava em como ele a fazia dormir com facilidade, mas agora que ela tá crescendo e começando a desenvolver uma personalidade espantosamente parecida com a dele, os dois vêm se bicando bastante. Claro que ele sabe que ela é só uma criança e que maior parte disso é pirraça, mas no fundo, Katsuki sente sim um pouco da pressão em não ter sua filha tão ligada a ele quanto é à mãe.

Eles jantam e lavam a louça em silêncio, ela continua de cara amarrada, e ele decide que não vai ficar forçando amizade, isso é mais coisa da Ochako, ela adora ficar fazendo graça até a menina não conseguir segurar um sorriso —  a heroína costumava usar o mesmo truque nele quando eles começaram a namorar anos atrás.

—  Agora guarda esses copos aqui. —  ele entrega os copos de plástico pra ela.

—  N-não!

—  Mitsuha.

—  Não vou! Minhas mãos tão doendo! —  ela joga um dos copos longe.

—  Para de graça, garota, e faz o que eu- —  e segundos depois, o copo explode em uma pequena bola de fumaça, tanto ela quanto ele assistem ao monte de plástico fumegado no chão, atônitos —  Mitsuha?

—  Foi sem querer, papai! —  ela faz biquinho e começa a chorar. Katsuki corre para o lado dela e a pega no colo, fazendo pequenos “shhh shhh” para acalentá-la, como ele fazia quando ela era bebê.

—  Tá tudo bem, tá tudo bem. Dá aqui a mão pro papai ver. —  ela estende a mãozinha e Katsuki observa bolinhas nas pontas dos dedos, pareceriam pequenas brotoejas se ele já não estivesse familiarizado com essas bolinhas, a mãe dela também tem.

Ainda com ela no colo, apoiando-a em seu ombro bom, ele a leva até seu escritório e a senta sobre a escrivaninha. Pegando algumas folhas de papel e amassando-as em bolinhas, ele as entrega para a garota de rosto ainda mais inchado depois de chorar.

—  Que isso, papai?

—  Tó, segura uma bolinha, mas deixa um dedinho levantado, que nem a mamãe faz. —  ela surpreendentemente obedece, segurando a bolinha e jogando-a no chão logo depois, nada acontece —  Agora com os cinco dedinhos. — O mesmo processo, e segundos depois, a bolinha de papel se detona em uma pequena explosão. —  Minha menina, porra! — ele a pega no colo e a rodopia no ar, fazendo-a rir.

—  Papai, esse é o meu poder?

—  Uhum! Se você encostar em alguma coisa com os cinco dedos, essa coisa explode. —  ela olha maravilhada para as próprias mãos, exatamente como ele fez quando descobriu sua individualidade e como a Ochako provavelmente deve ter feito também.

—  Olha, papai, eu tenho jujubinhas que nem a mamãe.

—  Tem mesmo. —  ele ri, meio por achar bonitinho ela chamar as bolinhas da Ochako de “jujubinhas”, meio por estar todo abobado de orgulho.

—  Eu vou ter que usar luvas pra dormir também?

—  Hum, será que resolve? Acho que você vai tocar fogo nas luvas se encostar nelas. —  ele pensa um pouco — E se a gente colocar um band-aid em um dedo?

—  Pode ser o band-aid do All Might?

—  Pode, vai lá pegar. —  ele sorri — Por favor.

Ele a observa sair toda feliz, ela devia estar mal-humorada por causa da individualidade prestes a se manifestar, muitos pirralhos ficam assustados e estressados quando isso acontece, mais uma coisa em que Katsuki e sua cria são parecidos: mascaram seu medo por trás de uma expressão zangada.

Os dois também partilham dos mesmos ídolos: o All Might e a Uravity, claro.

 

—-

Ele termina de ler o bendito livro da princesa Kaguya e vê a pestinha lutando para ficar acordada, verdade seja dita, Katsuki também tá começando a sentir suas pálpebras pesadas, os relaxantes musculares o deixam sonolento.

—  Papai, quando seu ombro vai sarar?

—  Daqui a umas semanas. —  ele se ajeita no sofá — Por quê?

—  Quando você melhorar, você me ensina a usar meu poder?

—  Ensino. —  Katsuki sorri —  Você quer ficar boa em usar as jujubinhas igual à mamãe?

—  Quero aprender a fazer “kabum” que nem você! Vou ser forte que nem você, papai! —  ele sente um tranco no coração e se lembra que precisa consultar a bula desses remédios pra ver se vontade repentina de chorar é um efeito colateral.

—  Você vai ser o que quiser ser, pirralha.

 

***

Ochako chega em casa mais cedo do que esperava. Na melhor das hipóteses, ela achou que voltaria para seu lar no meio da madrugada, mas a missão correu bem e não é nem meia-noite. Claro que ela não esperava encontrá-los acordados, então caminha nas pontas dos pés ao entrar, deparando-se com o que deve ser a cena mais adorável desse mundo: Katsuki e Mitsuha dormindo no sofá, ela jogada sobre o peito dele, eles dormem igualzinho, todo espalhados e de boca aberta, babando.

Dormir nessa posição é péssimo pro ombro dele, e algo a diz que a Mitsuha passou e muito da hora de dormir, fora que dá pra ver uns band-aids nos dedos dela, alguma eles aprontaram, mas honestamente, ela está tão feliz de chegar em casa e ver que as duas pessoas mais importantes de sua vida estão bem. É desesperador de certa maneira, e reconfortante em todas as outras, saber que sua garotinha vai ficar bem sem ela por perto o tempo todo, que o mundo não vai parar porque tá na hora de Ochako voltar a assumir o compromisso que fez com os cidadãos quando se tornou heroína, e não que algum dia ela tenha duvidado disso, mas ter um marido maravilhoso que faz as vezes de herói formidável e excelente pai apenas a lembra de que fez uma excelente escolha.

Ochako estende um cobertor sobre eles e dá um beijo na testa de cada um antes de se juntar a eles no sofá.

Mais um dia normal na família Bakugou.


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Notas finais do capítulo

Cuidado com a escritora burra que esqueceu que domingo foi Dia dos Pais e não postou a única fic que fez nesse tema!
Sobre o nome da filhinha deles, não é Mitsiha por causa de Your Name huahushud, tentei fazer como o Horikoshi e escolher um nome que tenha a ver com a personalidade e/ou a individualidade, claro que sem a mesma habilidade já que não tenho tanto conhecimento em kanjis assim, então Mitsuha se escreve 光羽, no qual 光 (mitsu) é "luz" e 羽 (ha) significa "penas", achei que combinaria.
Enfim... feliz Dia dos Pais atrasado! hjhasjhhjashjajh