Arisu escrita por JuliaMolinari


Capítulo 14
Capítulo 14: Neve


Notas iniciais do capítulo

Ooi genteee *-* Não demorei muito dessa vez pra escrever, e trago um capítulo super especial para vocês! Espero que gostem ^^

Agradeço à leitora Amu_chan por me dar uma super bronca pelos atrasos. Se não fosse por ela, eu provavelmente ainda estaria enrolando pra escrever

Ah, eu também revisei todos os outro capítulos e corrigi uns errinhos. Agora a fic ta mais bonitinha *-*



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Tudo fazia sentido. O ciúme que sentiu uma vez, a felicidade que era estar com Haruka, a angústia que sentia ao pensar em ficar distante dele... Aquilo era amor.

Como não percebera antes?

...

            Chegou o fatídico dia do vestibular. Arisu acordou com seu despertador programado, levantou-se de supetão, e depois se arrependeu ― sentiu-se zonzo e teve que apoiar-se na escrivaninha.

            Recuperado, arrumou-se veloz e saiu de casa, apenas para recuar logo em seguida. A paisagem estava branca, o chão forrado de macia e gelada neve. Aparentemente, nevara a noite toda, para chegar àquela quantidade nas ruas. Ele entrou novamente, precisava pegar um casaco mais grosso no quarto. Escolheu um bege bem claro, com botões grandes, e jogou um cachecol azul marinho no pescoço.

            Correu novamente para a porta e saiu derrapando de casa.

            A prova estava marcada para ser realizada num colégio da cidade, exatamente às 8h da manhã. Os candidatos deveriam chegar com uma hora de antecedência, portanto enquanto corria na rua, devido à hora, Arisu não cruzou com praticamente nenhuma alma viva.

            Chegou à frente do local arfando um pouco, e sentindo-se aquecido. Alguns garotos já entravam no lugar, uns aparentando estarem nervosos, outros lendo notas, e uns poucos bem sossegados.

            Sentou-se numa mureta, se perguntando se Haruka já havia entrado. Como ainda era bem cedo, esperava que não, desejava que não. Por sorte, obteve sua resposta depois de uns dez minutos: o loiro aparecia virando a esquina, levando uma pasta, vestido com roupas também pesadas.

            Haruka avistou o amigo, e andou a passos largos pra ele.

            ― O que faz aqui?

            ― Vim te dar boa sorte...

            ― Que gracinha.

            Haruka riu seu riso contagiante, e piscou para o garoto.

            ― Não precisava ter acordado tão cedo e saído no frio só por isso. Podia ter me ligado ontem à noite, bobo.

            ― Não...! Eu queria pessoalmente.

            Ele corou um pouco ao dizer isso, e o loiro sentiu-se extremamente feliz. Havia no mundo um incentivo melhor do que aquele? Provavelmente não. Arisu parecia excepcionalmente fofo naquele dia.

            ― Valeu. Não sabe o que isso significa pra mim. ― Ele espanou um pouco de neve que estava acumulada na roupa. ― Tenho que ir agora, se não vou me atrasar.

            ― Certo...

            Haruka acenou se despedindo, e deu as costas para o pequeno. Arisu não se conteve e gritou:

            ― Sempai...!

            Ele olhou novamente para o garoto.

            ― O que foi?

            ― Você vai passar! Com certeza vai passar!

            Haruka riu alto, e sem dizer uma palavra, caminhou calmamente para dentro do prédio.

            Doera demais no peito de Arisu dizer aquilo. Doera pensar que ele realmente passaria, que iria embora. Doía pensar que ele finalmente compreendeu seus sentimentos, no entanto um pouco tarde.

            Sentou-se na mureta novamente. A prova tinha duração de cinco horas, pensou consultando seu relógio. Era bastante tempo... Suspirando, tirou fones de ouvido do bolso, conectou-os à seu celular, e pôs-se a observar os candidatos que chegavam e entravam.

            Depois que os portões se fecharam, ele caminhou até a esquina da rua e comprou uma bebida quente num pequeno café. Bebeu-a devagar, olhando a paisagem branca da cidade. Achava a neve muito bonita, apesar de apreciar mais o mar.

            Lembrou-se de quando foi à praia com Haruka. Divertira-se muito, o lugar era lindo, tinha flores na casa e o clima era agradável. Claro, quase morrera de medo vendo o filme de terror, mas corou ao recordar-se de como o loiro o abraçara. E mesmo quando ele adormeceu, Haruka não fizera nada pervertido... Definitivamente, uma atitude estranha vinda dele.

            Passaram muito tempo juntos. Arisu pensava nas lembranças, enquanto bebericava seu chocolate quente. Cenas engraçadas, cenas confusas, alegres, tristes, cenas cheias de barulho, cheias de sorrisos, cheias das brincadeiras do sempai, cheias de seu olhar divertido.

            Tudo isso acabaria quando ele entrasse para a faculdade? Não, não podiam se separar... Ele fora o primeiro amigo de verdade de Arisu. E agora, o primeiro amor também...

            Alguém importante. Extremamente importante.

            Arisu pagou a loja, e andou por aquela rua por algum tempo, observando os comércios que começavam a abrir. Depois voltou à mureta e sentou-se, refletindo sobre o tempo que passara junto ao amigo.

            A manhã andou lentamente, mas enfim alguns garotos começaram a sair do prédio, comentando sobre a prova. Arisu permaneceu ali, vendo o movimento, ansioso pela chegada de Haruka, o pensamento perdido.

            Então o viu, saía sereno do lugar, ajeitando o casaco. Ele olhou para onde Arisu estava, e arregalou os olhos. Andou rapidamente até lá, olhando perplexo para o garoto.

            ― O que você ainda faz aqui?!

            ― Estava te esperando, oras. ― Respondeu ele dando de ombros.

            ― Nesse frio... Por quê?

            ― Sei lá.

            Haruka abaixou a cabeça e levou a mão ao rosto, pensativo. Arisu levantou-se e sorriu.

            ― Como foi?

            O loiro segurou sua mão e o puxou rua acima, dizendo:

            ― Vem comigo.

            ― P-pra onde?

            ― Eu fui bem. ― Ele apertou a mão de Arisu. ― Vamos comemorar!

            O pequeno corou levemente

            ― Sim!

            Haruka o levou até o parque natural da cidade. Era grande, arborizado, tinha várias trilhas, jardins, um lago e uma roda gigante em sua beira. Pagou o ingresso dos dois e eles entraram no lugar rindo e jogando conversa fora.

            Passearam pela paisagem de inverno. Algumas árvores estavam peladas, outras acumulavam neve em suas folhas grossas, que pendiam pesadamente e às vezes acertavam alguém que passava distraído. O dia estava claro, o local relativamente vazio por causa do clima.

            Eles comeram pipoca, e jogaram alguns grãos de milho no lago esperando ver peixes, mas nenhum apareceu, para a decepção do mais novo. Conforme a tarde passava, o tempo esfriava mais ainda. Quando Arisu mencionou isso, Haruka disse que iria comprar algo quente para eles beberem, e mandou-o esperar, enquanto corria para uma barraquinha.

            Arisu sentou-se num banco da praça, e ficou admirando a superfície cinzenta do lago. Um grupo de jovens se aproximou dele.

            ― Oi fofa, você tá sozinha? ― Perguntou um dos garotos.

            ― Heim? ― O menino levou certo tempo para perceber que era com ele que falavam. Novamente, o confundiam com uma menina. ― Saí fora.

            ― Oras, não seja tão arisca...

            ― Ei!

            Haruka voltava, carregando dois copos fumegantes. Amarrava a cara para os garotos.

            ― O que estão fazendo?

            ― Xii, ela ta acompanhada. Bora gente.

            Eles saíram de perto resmungando decepcionados. Arisu mostrou a língua pra eles, depois suspirou.      

― As pessoas me confundem por causa do cabelo... Talvez eu devesse cortá-lo.

― Hn? Cortar? Por quê? Você é lindo assim. ― Disse Haruka.

― Ah...

― É, e o seu cabelo é tão macio... Seria um desperdício cortar.

Arisu corou, e desviou o olhar de Haruka. Então falou um pouco constrangido:

― E eu achava que você só era um pervertido... Consegue ser romântico também.

Haruka riu

― Mas é claro. Acha que eu conquisto as mulheres só com a beleza? Tem que ter charme também.

― Hunf.

O menino virou-se aborrecido. Lá vinha Haruka de novo falar das mulheres que tanto adorava.

― O que foi, ficou com ciúmes...? ― Perguntou o mais velho se aproximando dele.

― N-não to com ciúmes.

― Ah é? Pois parece que está.

― Não...!

O loiro riu, o pequeno o empurrou aborrecido, e ele quase derrubou as bebidas.

― Olha o que você ta fazendo!

― Ah, desculpa...

Os dois ficaram quietos um instante, depois riram juntos novamente.

― A gente devia ir à roda gigante. ― Falou Haruka apontando o brinquedo na outra margem. ― Aí fugimos um pouco desse frio.

― Pode ser.

Ele respondeu tentando parecer desinteressado, mas na verdade seus olhos brilhavam. Estava doido para subir na roda gigante, ver o pôr do Sol e a cidade toda, fugir do frio, e ficar mais perto de Haruka. No entanto, obviamente, não diria isso em alto e bom som.

Caminharam até a base do gigantesco brinquedo, e logo em frente dele Arisu parou um instante com o olhar perdido, observando as armações amarelas e brancas e as pequenas cabines prateadas.

Haruka, percebendo que o menino ficara para trás, voltou ao lado dele.

― O que foi? Com medo? ― Usava seu tom brincalhão casual.

― Claro que não! Só estou pensando.

― No quê?

Ele ficou quieto um instante.

― Nada, deixa pra lá. ― Suspirou.

― Ok... Vamos, não tem fila.

Eles entraram no brinquedo, sentados um de frente ao outro. A roda começou a girar com um pequeno tranco, e logo estavam subindo bem devagar, vendo o lago ficando abaixo deles. A luz de Sol poente recaia sobre o rosto de Haruka, como se o acariciasse, e dava brilho aos olhos azuis cinzentos normalmente opacos.

O loiro observava o lago alegre, mas Arisu só conseguia olhar para o companheiro. Quando Haruka percebeu, o rosto do pequeno corou levemente, e ele desviou os olhos.

― O que foi? ― Indagou novamente, desta vez sério.

― Nada...

― Olha, você está esquisito hoje. ― Parecia que ele começaria um sermão, mas mudou seu tom de voz para um mais doce ― Ficou se distraindo o dia todo, me esperou naquele frio horrível, fica me olhando quando pensa que não estou prestando atenção. Por acaso quer me dizer alguma coisa?

― Ahn... ― Estava contra a parede, não conseguira disfarçar seus pensamentos. Quer dizer, até conseguira, mas Haruka percebeu que havia algo de errado, algo de incomum no menino. Aquele era o primeiro dia que ele o via, desde que descobrira sobre seus verdadeiros sentimentos, é claro que estava constrangido, e é claro que não sabia lidar com aquilo. Escolheu as palavras com cuidado. ― Estou lembrando de algo que você me disse...

― O quê?

Ele engoliu em seco.

― Aquele dia... Quando eu briguei com você... Por causa da Rika-san...

A compreensão pareceu encher o rosto de Haruka. Ele suspirou e apertou sua têmpora, como quem procura palavras ideais para dizer.

― Só esqueça disso, ok... Eu estava nervoso.

― Quer dizer que era mentira?

O mais velho arregalou os olhos para ele. Que tipo de pergunta era aquela?

― Ah, bom... ― Ele corou levemente, e desviou o olhar para o pôr do Sol. ― Não, não era. Mas você não precisa se preocupar com isso.

― Sempai, por que você não está olhando pra mim?

Novamente, ele se surpreendeu com o que o mais novo dizia. Agora sentiu-se levemente irritado com aquela pressão. Preferia não ter que entrar naquele assunto, era o mesmo que cutucar uma ferida, o lembrar da confissão que lhe escapara.

― Por que você esta fazendo essas perguntas? ― Foi a vez dele questionar, agora com o rosto fitando o chão metálico. ― Não quero falar sobre nada que atrapalhe nossa amizade. Não é importante, só esqueça.

― E... E se eu achar importante?

Haruka ergueu os olhos e percebeu que Arisu também estava corado. No entanto, ele olhava diretamente para o sempai, com aquele ar de determinação acanhada que só ele sabia fazer.

― Como assim...?

― Você me disse uma vez... Que nunca havia se apaixonado.

― Realmente. ― Ele respondeu recordando-se da conversa.

― Mas isso mudou?

― É... Sim...

― E como você se sente agora?

Haruka não pôde deixar de soltar um riso nervoso.

― Constrangido, oras. ― Jamais ele deixava seu lado brincalhão de lado.

― Sempai, você é uma pessoa muito importante pra mim.

O compasso do coração de Haruka pareceu perder o ritmo, até mesmo parar por um instante ao ouvir aquilo.

― Aonde você quer chegar?

― Eu só quero te entender... ― Arisu fechou os olhos, envergonhado. ― Só quero entender o que você sente. Você me confunde! Diz coisas bonitas, e logo depois age como um idiota. Se declara e depois nunca mais fala sobre isso.

― Arisu...

― Por que você é desse jeito?! ― Ele o cortou elevando a voz. ― Por que tenta fugir do assunto? Por que não percebe... Não percebe o quanto você é importante pra mim? Por que nunca percebeu, nunca me disse que o que eu sentia era...

Ele parou, o rosto completamente vermelho, coração acelerado. Haruka permaneceu quieto, surpreso e sem idéia do que dizer. Arisu respirou fundo.

― Por que tem que me fazer dizer isso em voz alta? Eu... Eu gosto...

Haruka começou a rir, e Arisu parou de falar para fitá-lo chocado. Qual era a graça?

Ele continuou rindo, a roda gigante já se aproximava do chão. Pulou do assento que estava à frente de Arisu para o ao lado dele, e bagunçou seu cabelo como sempre fazia, naquela atitude de carinho e proteção. Depois passou o braço pelo ombro dele e disse alegre:

― Não precisa continuar, eu já entendi.

Arisu desistiu da sua determinação e terminou por se entregar ao pejo.

― Sempai idiota!

― Haha, você tá vermelho. Olha, já estamos chegando ao solo.

Ele apontou para fora, e Arisu viu que estavam novamente perto do lago. No final das contas, nem havia apreciado a paisagem do por do Sol, tanto se distraíra com Haruka.

― Ah, certo...

A cabine parou e sua porta abriu. Arisu tentou levantar-se, mas Haruka segurou seu braço e deu-lhe um beijo na testa. Depois, ergueu-se rindo e puxou o menino completamente embaraçado para fora do brinquedo.

Agora já anoitecia. Os dois caminharam em silêncio por um tempo, enquanto as luzes do parque se acendiam e as pessoas começavam a ir embora por causa da temperatura. Alguns flocos de neve rodopiaram no ar, eu um pousou no nariz de Arisu. Haruka riu e o espanou com o polegar antes que o menino pudesse o fazer.

― Sempai... ― Disse o pequeno, quebrando o silêncio.

― O que é?

― Bem... Tem algo me incomodando...

― Diga.

― Quando você for para Tókio... Não vamos mais nos ver?

O mais velho o olhou com ternura.

― Pff. Era com isso que você estava preocupado? Não acredito!

― C-como assim?

Haruka soltou uma gargalhada.

― É claro que vamos nos ver, seu bobo. Minha família ainda mora aqui, e eu viria de qualquer jeito pra te visitar. Só não vamos poder passar todos os dias juntos como agora.

― Aaahh... Ufa.

― Você se preocupa com cada coisa...! ― Haruka resmungava ainda rindo. ― Vem cá.

Ele segurou o queixo do pequeno e o fez erguer o rosto. Inclinou-se para frente, enquanto puxava o corpo magro do menino para perto dele, até que os lábios dos dois se tocassem. Rubro, Arisu fechou os olhos e tremeu levemente. Haruka passou um braço por sua cintura, e com a outra mão afastou um pouco do cabelo castanho que caía no rosto arredondado do garoto.

Com toda a delicadeza do mundo, fez os lábios se abrirem e arrepiou Arisu com sua língua quente. Passava-a pelas bochechas, pelo céu da boca, pelos dentes lisinhos do menino, devagar, apreciando o tato, arrancando um fraco suspiro de Arisu. Deliciava-se com o primeiro beijo de verdade que davam ― sem interesses, sem consolo, sem perversões ― um beijo consentido pelos sentimentos de ambos.

Depois de um tempo afastou-se, para poder ver o rosto de Arisu. Ele estava envergonhado, mas parecia feliz. Haruka sorriu e tomou sua mão, falando baixo em seu ouvido.

― Está frio, vamos voltar.


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Notas finais do capítulo

Tenho uma notícia boa e ruim ao mesmo tempo: o próximo será o último. Mas preparei também alguns extras, e acho que vocês vão gostar ^^
Agradeço todos que me acompanharam até aqui, que não desistiram da fic por causa das minhas demoras para postar os capítulos, e que me incentivaram com reviews e elogios. A fic não teria chegado até aqui se não fossem vocês!
E não se esqueçam de deixar um review bem grandão falando o que acharam u.u



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