Live or Death escrita por Kori Hime


Capítulo 1
Live or Death




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Will estava sentado na poltrona do quarto com uma xícara de chá em suas mãos. Ele observava com atenção o marido ajeitar o colete e fechar os botões. Depois, Hannibal vestiu o paletó e virou-se para ele, perguntando como estava. A elegância em seus trajes era sua marca registrada, Will apenas moveu a cabeça e sorriu, dizendo que ele estava ótimo.

Após verificar mais uma vez sua imagem no espelho, ele se aproximou da poltrona e abaixou-se para beijar Will nos lábios.

— Me deseje sorte. — Ele disse, olhando-o por um momento.

— Boa sorte. — Will falou. — Mas, é apenas uma entrevista, você vai se sair bem.

Hannibal concordou e o beijou mais uma vez. Will segurou a xícara com uma das mãos, enquanto a outra puxou a lapela do paletó de Hannibal, o beijo tornou-se mais generoso, os lábios moviam ligeiros e Will sentia o gosto agradável da pasta de dente de menta que Hannibal havia usado.

— Eu preciso ir. — Hannibal disse, mas ainda voltou algumas vezes para beijar Will.

— Então vá logo. — Will falou, entre sorrisos e alguns beijos. Ele finalmente deixou Hannibal ir até o escritório, onde seria realizado a entrevista.

Mesmo que não fosse participar da entrevista, Will acompanharia, ele só precisava de alguns minutinhos para lavar o rosto. Hannibal se apresentaria como convidado especial de um programa diurno no canal doze.

Naquele dia, completava cinco meses desde que as autoridades declararam necessidade da quarentena. Entre as ações negacionistas de algumas autoridades, e os apelos de outros com mais bom senso, a quarentena foi sendo cada vez mais pauta dos jornais e com tanta desinformação circulando, aumentaram os convites de entrevista para Hannibal Lecter.

Will estava naquele dia aguardando o material ser analisado no laboratório, retirado de uma cena de crime. Dessa forma, ficaria em casa, esperando a análise.

Ao sair do banheiro, Will ouviu a voz de Hannibal soar gentil e calma, desejando bom dia. Ele estava no escritório no primeiro andar da casa, enquanto Will ficou no quarto do casal no segundo andar. Will ligou a televisão e colocou no canal doze, vendo a imagem de Hannibal na TV.

Ele deu um sorriso imediatamente.

A entrevista iniciou-se com algumas recomendações de Hannibal sobre a importância da higiene dos alimentos comprados em supermercados, da limpeza da casa e o distanciamento físico. Além dessas recomendações, Hannibal também deu sugestões sobre como as pessoas deveriam encarar aquele momento.

— É importante permanecer em casa, quem puder, mantenha-se seguro. É compreensível que podemos sentir temor sobre o futuro, ansiedade e tristeza. Os medicamentos não são unicamente a forma de manter a mente calma. Você pode criar uma rotina, mesmo que não vá sair de casa. Conversar com pessoas que você gosta, procure ajuda quando não se sentir bem, vou deixar o telefone de algumas organizações que estão fazendo plantões para atender quem precisa.

Will ainda sorria para a televisão, enquanto Hannibal continuava as suas dicas. O telefone celular dele vibrou em seguida e Will atendeu. A análise do laboratório foi comprometida, isso causou uma verdadeira dor de cabeça para o agente. Ele desligou o telefone, irritado. Mas a voz de Hannibal soou em seu ouvido, ele falava sobre a importância de respirar bem e ensinava como fazer isso.

Will olhou novamente para a televisão. A imagem de Hannibal era a de um homem de confiança. Não era à toa que os números de seguidores dele nas redes sociais aumentaram exponencialmente durante aquela pandemia. Hannibal não apenas dava entrevistas, como também fazia vídeos e compartilhava na rede.

Ainda pensando sobre o caso que estava investigando, Will levantou-se da cama e sentou-se na mesa de café perto da janela. Ele manteve a televisão ligada, porque a voz do marido sempre era calmante para ele.

Sem a análise do laboratório, Will não saberia muito sobre o assassino. Mas havia algumas coisas que chamaram sua atenção. Ainda não havia um padrão, eram pessoas completamente diferentes sem nenhuma ligação umas com as outras.

— É importante a utilização de máscaras. — Hannibal falou na televisão, enquanto Will rabiscava o caderno com algumas anotações. As pessoas assassinadas estavam em alguma atividade rotineira do dia. Uma mulher estava saindo do supermercado e foi encontrada morta em seu carro, próximo da floresta. Ela estava com o rosto rasgado.

— Lavar as mãos é sempre importante, é um hábito indispensável para a vida humana. Temos que fazer isso sempre, é há uma forma correta de se lavar as mãos...

Um homem foi encontrado morto num beco de um restaurante, ele era o garçom e suas mãos estavam amarradas e penduradas numa escada de incêndio, o rosto dele ficou intacto, mas as mãos foram queimadas com ácido.

— O distanciamento é extremamente importante, no mínimo um metro de distância...

Outro homem foi preso em uma árvore, como se ele estivesse abraçado seu tronco, o corpo já estava em decomposição quando foi encontrado.

Will jogou a cabeça para trás, mexendo nos cabelos cacheados. Ele virou a cadeira e olhou para o sorriso cativante de Hannibal na televisão, respondendo as dúvidas dos telespectadores.

— O que o senhor recomenda para uma mãe com cinco filhos em casa? Eles não vão mais a escola e nossa casa não é grande, eles também não podem mais ir ao parque jogar, estou ficando cansada.

Enquanto a resposta era dada, Will voltou as anotações. O que ligava aquelas vítimas? Elas foram mortas em intervalos de algumas semanas, mas encontradas todas em tempos diferentes.

— Meu pai acha que essa doença é uma enganação do governo para nos manter em casa e assim eles podem implementar antenas nas ruas para captar nossos dados...

Will balançou a cabeça e deu uma risada sarcástica ouvindo aquele comentário. Ele sabia que Hannibal era muito bom em lidar com esses assuntos que envolviam conspirações do governo.

Ao final da entrevista, Hannibal subiu as escadas e encontrou-se com Will no quarto. Ele olhou a televisão ligada, e sorriu.

— O que achou?

— Você estava ótimo. — Will disse, deixando o caderno de lado. — Não posso dizer o mesmo da audiência desse programa.

Hannibal sorriu, observando o caderno na mesa.

— Eles escolhem essas pessoas propositalmente para criar um clima na televisão. Não é um incomodo, na verdade, é até divertido responder essas perguntas.

— Não dou uma hora até seus fãs publicarem na internet os trechos dessa entrevista.

— Viu? É exatamente por isso que eu não me incomodo. — Ele voltou a olhar o caderno e então Will falou sobre as provas no laboratório comprometidas. — Sinto muito, você trabalhou tanto nesses casos.

Will moveu a cabeça, ele se levantou, perguntando se Hannibal queria comer algo. Os dois acordaram cedo demais e ainda não tomaram o café da manhã que costumavam fazer juntos.

— Acabou o presunto e o bacon. — Will olhou na geladeira. — Também precisamos de pastilhas de sabão para a máquina de lavar louça.

— Vou ao supermercado, fique em casa, por favor. — Hannibal anotou no celular os itens que faltava. Ele subiu até o closet e abriu uma gaveta, havia várias máscaras de tecido costuradas sob medida para ele. Pegou uma que combinava com o terno que vestia e desceu, despedindo-se de Will.

Ele dirigiu alguns quilômetros e entrou num galpão. Hannibal estacionou seu Toyota Camry ao lado de um Honda Civic prateado. Antes de descer do carro, Hannibal pegou um par de luvas descartáveis da caixinha que estava no banco de trás. Ele colocou as luvas, massageando os dedos entre os outros. Caminhou até o Honda Civic e abriu o porta malas.

Hannibal olhou o homem pálido e de lábios ressecados, sem qualquer força para se mexer naquele espaço.

— Como foi a experiência de isolamento social? — Hannibal disse, abrindo uma garrafa de água e jogando sobre a cabeça daquela pessoa que começou a se mexer, virando a cabeça para conseguir beber a água.

— Me ajude... — O homem disse, com uma voz sôfrega.

— Ajudar? — Hannibal inclinou a cabeça, um sorriso iluminou seu rosto, o homem no porta malas sentiu o um tremor percorrer seu corpo. Aquele sorriso estava longe de ser o mesmo sorriso que cativava milhares de pessoas que seguiam suas recomendações. Bem, nem todos. — Eu vou ajudar.

Hannibal o tirou do porta malas, aquele galpão era afastado da cidade, por isso, ele não se preocupou com os gritos que se sucederam em seguida.

***

Will chegou tarde em casa e encontrou Hannibal terminando uma live. Ele mostrava o prato de Terrine de foie gras para os inscritos de sua página, virando a tela do celular para mostrar Will.

— Meu marido acaba de chegar, diga um olá, Will.

— Oi. — Will acenou, um pouco constrangido. Ele costumava ficar as sombras, não era muito fotogênico e ficava tímido com o excesso de elogios que os fãs de Hannibal faziam.

— Eles gostam de você.

— Você gostando, já basta para mim. — Will esperou que Hannibal terminasse.

Assim que desligou o celular, Hannibal percebeu que Will não estava nada bem. Ele abriu uma garrafa de vinho tinto e serviu em sua taça, para Will, Hannibal abriu uma garrafa de cerveja importada e serviu em um copo.

— Eu soube que encontraram mais um corpo. — Hannibal comentou, entregando o copo para Will.

— Sim, estava em um porta mala de um Honda Civic. Dessa vez, nós vamos conseguir pegá-lo. — Will bebeu um gole da cerveja e depois olhou para si mesmo, ele havia deixado os sapatos na garagem e tirou o casaco para não entrar em casa com a roupa que usou na cena do crime. — Vou tomar um banho.

Hannibal apenas sorriu para Will.

— A propósito, terei que fazer uma visita a uma paciente essa noite. — Hannibal comentou, pousando a taça de vinho sobre a mesa. — Não vou entrar em detalhes, mas ela precisa de ajuda.

— Tudo bem, eu esquento algo para comer depois. — Will se aproximou para beijá-lo, mas lembrou-se de que havia acabado de chegar em casa. Ele se afastou, erguendo as mãos para manter a distância e foi para um banho.

Hannibal ainda terminou de beber sua taça de vinho e depois vestiu o sobretudo. Ele olhou no relógio e calculou que levaria menos de uma hora para ir até o departamento de investigação e ainda poderia retornar para assistir com Will um de seus programas favoritos.

Ele sorriu satisfeito, daria tempo, antes de guardar o celular no bolso, verificou as notificações dos comentários de sua publicação. Mais um sorriso satisfeito com os comentários sobre sua comida e sobre Will. No entanto, um comentário desagradável o fez erguer a sobrancelha.

— Harley Cooper? — Hannibal não precisava do sistema do FBI para encontrar essa pessoa em especial. Ele check-in em todos os lugares que frequentava e, julgando pela última publicação, não deveria estar tão longe. — Will! Eu vou me atrasar um pouco mais, minha cliente não parece nada bem.

Hannibal falou parado ao lado da escada, e aguardou a resposta de Will para depois sair. Ele entrou no carro e olhou mais uma vez a fotografia de perfil daquela pessoa.

— Vejamos se você é realmente corajoso pessoalmente.


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Notas finais do capítulo

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