Harry sabia que aquele domingo seria um tanto diferente. Bom, talvez não tanto, já que era acostumado a passar os dias na companhia dos filhos e do afilhado. Era uma coisa normal entre Ginny e Harry, quando um precisava viajar, o outro ficava encarregado de cuidar de seus pestinhas.

As risadinhas no corredor despertaram sua atenção, ouvindo os passos pesados de James e Teddy, assim como os resmungos de Lily, que aparentemente queria invadir seu escritório para que o auror jogasse quadribol com eles.

Guardou as folhas soltas e relatórios que se manteve lendo nas últimas horas da manhã e sorriu, escorando o queixo na palma da mão ao notar o silêncio absoluto que parecia ser um presságio de que algo muito errado estava acontecendo. Harry já imaginava, no entanto, e como se fosse apenas para mostrar-lhe que estava certo sobre sua suposição, três furacões invadiram seu escritório com olhares pidões e mãos unidas como uma prece.

— Paaaaai — começou James, arregalando os olhos como fazia quando era pequeno, para ganhar algo — Você prometeu jogar com a gente hoje! Albus e Remus não querem participar, vamos ficar em desvantagem!

Teddy observava o amigo bater o pé no chão de forma irritadiça, e riu. Passou o braço pelos ombros magros do garoto e bagunçou os cabelos — já naturalmente espetados para todas as direções. Lily soltou um risinho, segurando a vassoura pequenina entre os dedos miúdos.

— É verdade, padrinho. Ontem mesmo quando a tia Ginny saiu e disse que ficaria fora...

—... você prometeu fazer um fim de semana inesquecível. Eu sei garotos, eu sei — disse Harry, se defendendo — Acabei ficando atolado em papéis do Ministério, mas já deixei pra lá. O que acham de panquecas pro almoço?

— Com calda extra? — perguntou uma garotinha eufórica, lambendo os lábios ao imaginar o doce escorrendo pela massa fofinha — Eu quero, papai! Eu quero, eu quero!

Potter se deixou rir, levantando da cadeira para pegar sua filha no colo, apertando a barriga dela com os dedos, fazendo-lhe cócegas. Lily escondeu o rosto na curva do pescoço do mais velho, levando o dedão até os lábios. James pegou a vassoura da irmãzinha e riu, balançando a cabeça.

— Mas e o nosso jogo? — questionou ao estreitar os olhos, passando o braço pela cintura de Lupin — Teddy e eu somos uma dupla, você pode ser a de Lilu.

— Jogamos depois do almoço, que tal? É um dia sem regras, mas também não tanto assim — Harry deu de ombros da melhor forma que conseguiu, sendo escoltado pelos dois garotos até o andar de baixo da casa, onde Albus estava brincando de blocos de montar com o irmão mais novo, Remus Rubeo.

O bebê de dois anos segurava um dos blocos entre os dedos gorduchos e o levava até a boca sem dentes, babando o objeto e soltando risadinhas ao avistar o restante de sua família. Molly havia saído há pouco tempo, deixando tudo arrumado para que o genro não tivesse tanto trabalho.

— Vamos lá princesa, ajude seu irmão e Teddy a ajeitarem a mesa para o almoço.

Lily saiu saltitando após deixar um beijinho na testa dos dois irmãos, segurando nas mãos dos mais velhos, que a levantaram para cima como se passasse por uma ponte. Albus riu, juntando os brinquedos no baú, e Harry sentou no tapete ao lado dele.

— Está melhor? — perguntou, acariciando a testa do garoto, que acenou com a cabeça. Remus já estava distraído com o desenho animado que Teddy colocou na TV antes de ir para a cozinha — Depois podemos fazer um chá com leite, o que me diz?

— Gostei da ideia, pai. Scorpius virá hoje? — perguntou esperançoso.

— Posso ligar para Draco e perguntar, tudo bem? Agora porque não me dá um sorriso daqueles que iluminam tudo? Vamos lá, garotão.

— Tão! Riso! — exclamou o bebê, batendo palminhas.

Albus e Harry riram, e o Potter mais velho sentiu um peso saindo de suas costas ao notar que seu filho já estava sorrindo para si outra vez.

[...]

Havia farinha cobrindo boa parte do balcão e do chão. O piso de linóleo parecendo neve por conta da guerra de farinha que havia acontecido minutos antes. As panquecas estavam prontas, mas os risos não haviam cessado ainda. Os cabelos azuis de Teddy agora pareciam cinza, e o rosto sardento de Lily e Albus estava manchado de calda de chocolate. O bebê soltava gritinhos animados no cadeirão de madeira e Harry tentava controlar a respiração ao notar que James havia sido o grande alvo de todos.

— Sua mãe vai acabar comigo — gemeu em frustração, colocando a filha sentada no balcão para começar a limpar.

— Deixa comigo — disse Teddy, pegando a varinha para realizar um feitiço de limpeza pequeno que havia aprendido com sua avó, Andromeda — Tcharã!

Estava tudo impecável outra vez.

— Agora soldados, vamos atacar!

[...]

Os Potter haviam se dividido para formar um time, acompanhados de Lupin e Malfoy, que havia ido passar o dia lá. Após a ligação de Harry, o pai do garotinho, Draco, riu e disse que o filho estava ansioso para rir. Não demorou até chegar, acompanhado do pai, que agora segurava o Potter mais novo no colo enquanto assistia o jogo acirrado no pequeno campo de Quadribol improvisado no quintal da casa. Ronald e Hermione estavam lá também, com Hugo e Rose.

Lily voava baixo, se divertindo. James, Teddy, Harry, Albus e Scorpius levavam a disputa a sério.

— DEFENDE ISSO, SCORP — gritava Draco, prestando atenção — PRO LADO FILHO, POR MERLIN!

Ron riu.

— Acha que não lembro como jogar, Weasley? — o loiro perguntou sorrindo, sendo retribuído por Ron.

— Acho — deu de ombros, ouvindo a esposa bufar.

— Vão lá, criançonas. Eu cuido de Remus e vigio Lily na vassoura.

Antes mesmo que Hermione pudesse desistir, os dois homens correram até os equipamentos, vestindo-os com agilidade. E então os times ganharam um goleiro e um apanhador novo.

[...]

Os visitantes já haviam ido embora, passavam das dez da noite e as crianças estavam na sala com Harry, assistindo um filme musical. Lily vestia seu tutu cor-de-rosa e uma touca com formato de unicórnio, enquanto desenhava bonecos de palito em uma folha que havia surrupiado do escritório do pai. James e Teddy estavam jogados no tapete, meio dormindo, meio acordados e Albus, após escrever um recadinho na folha que a irmã desenhava, se acomodou no sofá para o beber chá com leite que o pai havia prometido.

Harry estava cansado, aquele dia havia sido produtivo em formas que ele jamais imaginaria ser possível. Todos já estavam cheirosos e com pijamas, haviam feito as refeições no horário certo e até mesmo seu pequeno bebê pareceu contribuir para o descanso, já que dormia tranquilo no berço. Levantou do sofá para ir até a cozinha desligar a luz e limpar a caneca que havia utilizado, voltando minutos depois para encontrar uma cena que ficaria gravada em sua mente por um longo tempo.

Os meninos deitados no tapete agora dormiam embolados em um cobertor infantil com estampa de princesas, Albus havia largado a caneca de chá na mesinha e tinha a bochecha escorada nos joelhos, formando um biquinho enquanto dormia. Lily estava com a cabeça apoiada na mesinha, babando sobre o desenho que havia feito.

Harry, com cuidado, ajeitou a filha para dormir entre Teddy e James, fazendo o mesmo com Albus e então pegou a folha entre os dedos, sentindo os olhos arderem ao notar os quatro bonequinhos de palito representando cada um deles na folha. O rabisco verde indicando a grama e uma pequena dedicatória na caligrafia caprichada de Albus no centro.

"Você tem um amigo na gente, papai. Nós te amamos. 
ps: o Teddy também!"

Lily abriu os olhinhos e encarou o pai por alguns instantes, soltando um bocejo.

— Papai — chamou baixinho, tendo a atenção do mais velho fixa em si — Acabei dormindo antes de desenhar o Rem.

E então Harry riu, balançando a cabeça divertido. Deixou um beijo na testa de cada um, sentindo o coração quase explodir no peito de tanto amor.

— Papai ama vocês, boa noite — sussurrou, observando-os dormir tranquilamente por algum tempo. Logo deitou no sofá, sentindo o cansaço finalmente tomar conta de seu corpo.