Amigo estou aqui escrita por TC Nagahama


Capítulo 2
Capítulo 2




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Demorou alguns dias para que Qiao Chen saísse do hospital e voltasse aos treinos, e quando finalmente o fez, sua chegada foi acompanhada de mais rumores.

— Estou falando, ele está morando com a treinadora Qi. — Huang Jing.

— Ele é meio velho para ser adotado. — Mu comentou, enquanto o colega Ma Xiawen coçava a cabeça.

— Do que estão fofocando? — Jiale perguntou ao se aproximar dos três depois de terminar sua série.

Os três trocaram olhares entre si.

— Vamos lá, também quero saber. Desembuchem.

— Não pode contar para ninguém.

— Palavra de escoteiro.

— Ouvi que Qiao Chen está morando com a treinadora agora. — Fazendo Jiale arregalar os olhos.

— Eu disse para ele que isso não deve estar certo. — Mu tentou se justificar.

— Não tem porquê ele estar morando com o treinadora. Ele não tem casa? — Xiawen comentou.

Mas Jiale estava pensativo, e ligava mentalmente todos os fatos.

No hospital, a mãe dele saiu possessa e o deixou para trás. A treinadora conversou com ela em seguida, e no quarto ele chorou quando ficou sozinho. Mas por quê?

— Vai ver os rumores são verdadeiros e a mãe dele o expulsou de casa. — Huang Jing palpitou.

Quando Jiale se virou viu que os três o olhavam curiosos.

— Você estava falando em voz alta. — Huang Jing explicou, sorrindo. — Mas faz todo sentido, pensa comigo: a mãe descobre que ele tem um namorado secreto, eles brigam e ela o coloca para fora. 

— Não seja bobo. Por que ela o colocaria contra a parede? Não quer que ele leve o nome da família para frente? — Jiale estranhou. 

Afinal, apesar de haverem homossexuais na China, como em qualquer outro lugar do mundo, tudo era muito velado e dificilmente alguém saía do armário. A família exercia uma pressão absurda e muitos acabavam levando uma vida dupla para levar o nome da família adiante.

— E por quê a treinadora o levaria para casa? — Mu não parecia feliz com a teoria.

— Estamos perto da final. De certo ela não quer desfalcar o time. — Huang Jing deu de ombros.

— E ela é bem velha e sozinha também. — Xiawen afirmou, ganhando um cascudo do amigo.

— Não fale assim da treinadora.

O fato é que a teoria de Huang Jing fazia total sentido para Jiale, que convivia quase diariamente com o amigo. 

Qiao Chen estava sempre brincando e provocando Zhang Baiyang, muitas vezes literalmente batendo as testas um no outro. Outras rolando pelo chão em brigas bobas e infantis.

Jiale era um veterano, mas também ouviu os rumores de que Qiao Chen corava com o mais breve olhar de Baiyang fora da quadra, e que inclusive lhe levara o uniforme lavado e passado. Ele também não fizera muita coisa para acabar com os rumores, e nem nunca mais comentou sobre Xu Xingzi.

Estava certo de que Qiao Chen estava perdido e completamente apaixonado por Baiyang. E ficou triste ao perceber que o amigo sofria por não ser aceito pela mãe.

Naquele momento, Jiale decidiu que apoiaria — mesmo que mais ninguém o fizesse — o relacionamento entre os dois.

— Isso mesmo. Vamos todos apoiar. — Huang Jing suspirou quando viu a expressão chocado do mais velho. — Não devia pensar em voz alta. — Falou, deixando-o sem graça.

— Nem um pio disso para ninguém.

— Levarei para o túmulo.

É claro que poucas horas depois, todos na escola já estavam cientes da teoria.

A treinadora Qi observava o treino de todos, como de costume, mas hoje sua atenção estava em Qiao Chen que não fazia seu treino habitual, mas um mais leve devido a sua hospitalização recente.

Treinava em dupla com Baiyang, e estava errando quase todas as bolas. O que não era uma surpresa já que os últimos dias foram difíceis para o garoto que não conseguia dormir direito no quarto improvisado na sala da casa da treinadora.

Ele não dormia direito, não comia direito. Estranhava o sofá improvisado, a comida, a falta da mãe. E por mais que a treinadora se esforçasse, estava totalmente fora da sua zona de conforto.

Qi Na era independente, ativa e solteira até o último fio de cabelo. Não sabia como cuidar de um filho, mesmo que temporário. Treinar adolescentes era uma coisa, sair com sua sobrinha também era fácil, mas ter um adolescente em crise sob o mesmo teto ou ao lado quase o tempo todo era algo totalmente novo. E piorava ainda mais porque o via quase o dia todo, em casa, no trabalho, às vezes na escola. Não tinham descanso um do outro.

— Qual o seu problema? Está fazendo para irritar? — Baiyang jogou a raquete no chão e partiu para cima do parceiro.

— Não está ajudando. Não tem outro ataque que não seja a Cobra?

— O que disse?! — Gritou, empurrando-o.

Ficou em choque quando o parceiro foi ao chão. Normalmente, Qiao Chen não hesitava em bater de frente e encará-lo,mas lá estava ele estatelado no chão olhando-o com os olhos arregalados.

Antes que pudesse abrir a boca, a treinadora Qi Na apareceu puxando os dois pela orelha.

— Já para a minha sala agora.

O burburinho acompanhou os dois quando saíram.

— Eu já conversei com o Qiao Chen sobre isso, mas não achei que isso fosse afetar a minha quadra.

— Só estou cansado, não precisa fazer isso. — Qiao Chen pediu, sem graça.

— Vocês são novos demais para isso. — Ela chiou, irritada.

— Novos para quê? — Baiyang perguntou confuso.

“Para!”, “Namoro!”, os dois responderam na mesma hora.

Baiyang arregalou os olhos e encostou na cadeira, colocando espaço entre ele e a treinadora.

— Não estamos juntos! — Ambos negaram, Baiyang em voz baixa e o outro totalmente alterado.

— Era só isso? Tenho que treinar. — Baiyang perguntou, não esperou a resposta e saiu com a expressão mais fechada que ambos já tinham visto.

No corredor ele podia ouvir os dois discutindo na sala.

Ambos só voltaram próximo ao fim do treino, e Qiao Chen foi direto arrumar sua bolsa, e saiu quase correndo em seguida sem explicar nada.

Quando ouviu a treinadora chamando-o de volta, levantou a mão e deu tchau chocando a todos e continuou seu caminho.

A treinadora fechou os olhos e suspirou fundo, tentando se acalmar.

— Qi Ying! — Chamou a sobrinha que veio para o seu lado prontamente. — Pode ir atrás dele e lhe dar essas chaves? Diga que eu não tenho hora para voltar e que ele pode ficar à vontade para cozinhar algo.

A menina pegou as chaves e saiu correndo atrás do jogador.

Qi Na então se virou para o time, que a essa altura, a observava calado.

— Qiao Chen está suspenso do time até segunda ordem. — Falou. — Já avisei o capitão de vocês. Yan, você entra oficialmente como titular no lugar dele e fará dupla com Baiyang. Peço que ajuste os treinos de todos.

— Não está sendo muito dura, treinadora? — Jiale perguntou. — Ele é um ótimo jogador.

— Pela atitude demonstrada logo depois que informei da minha decisão, ele deveria ser expulso da minha quadra e tentar outro esporte. — Respondeu dura, calando-o. — Que fique de exemplo para vocês. Não deixem seus problemas pessoais interferirem no seu jogo. Foco.

Quando ela saiu, Jiale suspirou alto.

— Isso não é justo. Por que ele tem ser punido por algo assim?

— Assim como? — Yan Zhiming arrumou os óculos. — As chances de alguém fazer um gesto debochado para a treinadora e ser punido são de 100%.

— Não falo disso. Falo do namoro. Ele já não foi punido pela mãe? Por que tem que ser cortado do time também enquanto o Baiyang continua?

Lu Xia arregalou os olhos e engasgou com a fanta que tomava quando ouviu o que estava implícito. Corou e se escondeu com o boné.

— O que eu tenho a ver com isso? — Baiyang rosnou, não gostando nem um pouco de ser lembrado que Qiao Chen possivelmente estava num relacionamento com outro rapaz que não ele.

— Vocês não estão juntos? — Jiale estranhou. — Porque eu podia jurar que estavam, com todas aquelas brigas bobas o tempo todo. Vocês parecem um casal de velhos. — Explicou, o fazendo corar.

— Não estamos. — Negou com raiva e desviou o olhar quando percebeu que Zhuo Zhi o observava pensativo.

— Um equívoco plausível, já que pelos meus cálculos, a chance de que estivessem juntos era de 75,80%. — Yan comentou.

— Viu?

— Por que calculou isso?!

— Todas as variáveis afetam o resultado final. Eu também tenho aqui a porcentagem de outros membros como Chi Dayong e Tang Jiale, com 97,5% e Mu Siyang e Zhuo Zhi com 23%.

— Apaga isso aí. — Jiale falou, tentando rabiscar o caderno do amigo. Chi Dayong o observava sorrindo, e ele desviou o olhar corando. — Mas se não é você, quem é? — perguntou a Baiyang, que balançou a cabeça irritado.

Pela primeira vez queria que os dados de Yan Zhiming estivessem corretos em suas previsões e que os dois realmente estivessem juntos.

Assim que entrou em seu pequeno apartamento à noite, Qi Na foi quase nocauteada pelo enorme cheiro de gordura e fumaça que vinham da pequena cozinha.

— Você destruiu a minha cozinha. — Reclamou ao acender a luz da sala e avaliar o estrago  que dava para ver da porta da cozinha.

O garoto que estava deitado na cama improvisada no sofá da sala que era pequeno demais para ele se sentou, tentando cobrir os olhos por conta da luz.

— Qi Ying disse que eu podia usar.

— Usar, não destruir.

— Só sei fazer hambúrguer. 

— Fritou uma hamburgueria inteira?

— Eu vou limpar tudo, não se preocupe. Não vai se repetir.

Ela suspirou.

— Preciso que se comporte, Qiao Chen. O que você fez hoje na quadra é inaceitável. Do contrário, é melhor que eu não seja sua tutora.

— Sim, senhora. — Ele abaixou a cabeça e começou a separar os produtos que usaria na limpeza da cozinha.

— Sem mais surtos, explosões ou demonstrações de falta de educação gratuitas. Exijo comportamento exemplar dentro e fora da minha quadra. Não sou sua mãe, sou sua treinadora. Lembra disso.

Ele engoliu em seco a ameaça velada ali. Se a treinadora não ficasse como sua tutora, ele iria para rua.

— Sim, senhora. — Respondeu com a voz baixa.

Suspirou desanimada. Seria bem mais fácil a convivência se fosse algum dos seus veteranos e não um jogador que ela mal conhecia.

— A partir de amanhã você irá comigo para a escola, esteja pronto cedo.

Quando ela acordou no dia seguinte, ele estava sentado aguardando-a no sofá, tudo na sala estava arrumado, as cobertas dobradas sem nenhum sinal de que um adolescente dormiu ali. A cozinha estava brilhando também.

O que ela não percebeu foram as enormes olheiras de cansaço de um adolescente que dormiu menos de duas horas.

Jiale estava se contendo para não sair da sua sala e ir esganar Huang Jing.

Aparentemente, toda a escola sabia que Qiao Chen tinha sido expulso de casa pela mãe e agora morava com a treinadora, e que tinha sido suspenso porque o seu tórrido relacionamento com Baiyang estava minando as chances de Yu Qing ganhar a final do campeonato da província e uma vaga para disputar o campeonato nacional.

E os alunos, que nunca deram muito apoio ao esporte, tornaram-se defensores ferrenhos do time de tênis e dos bons costumes da família tradicional chinesa. Aparentemente, os três nãos (não aprovo, não desaprovo, não promovo) tinham sido deixados de lado com o comportamento de manada.

Ele viu, no pouco tempo até entrar na sua sala, Qiao Chen ser alvo de piadinhas por um número enorme de garotos, que Jiale duvidava que ele sequer soubesse os nomes. 

A coisa se alastrou de tal forma que era impossível não ouvir o nome dele por onde andasse.

E isso era assustador. 

Era como se toda a vida do amigo tivesse sido resumida ao simples fato de que gostava de garotos. Ninguém lembrava de que com a ajuda dele o time nunca esteve tão perto de conseguir disputar o nacional.

— Está tudo bem? — Jiale perguntou ao encontrá-lo no intervalo comendo no pátio, sozinho.

Qiao Chen, bocejou antes de responder.

— Com sono. — Comentou, ao dar uma mordida em um dos hambúrgueres que tinha comprado.

— É bom ver que seu apetite voltou. — Falou ao se sentar ao lado do amigo, que ofereceu o sanduíche. — Não, obrigado. 

Mais alguns minutos se passaram em silêncio. Alguns companheiros se juntaram à eles, e conversavam amenidades entre si para passar o tempo.

Até que o celular de Qiao Chen tocou, chamando a atenção de alguns que o viram desligar assim que identificou que era uma chamada de Xu Xingzi.

— Achei que gostasse dela. — Xinglong estranhou.

— Vai ver finalmente se deu conta de que ela merece coisa melhor. — Baiyang provocou o rival, mas o máximo que conseguiu foi um sorriso triste de canto.

Jiale puxou os cabelos, exasperado.

— O que há com você? Pode conversar com a gente. Aconteceu alguma coisa?

— Não tenho nada para conversar.

— Como assim? Não escutou as gracinhas o dia todo? E você está morando com a treinadora! Só isso já é motivo para arrancar os cabelos.

O garoto amassou o pacote do sanduíche que comeu, e mastigou vagarosamente o último pedaço em sua boca. Parecia pensar no que dizer.

— Morar lá não vai dar certo. 

— Ela te trata mal?

— Não, longe disso. É só que é um local pequeno, e eu sou muito grande. — Riu, apontando para o corpo. — Metade das minhas pernas ficam para fora quando durmo no sofá. E eu acordo todo tordo e dolorido. E nossos hábitos alimentares não batem muito. — Indicou o pacote do sanduíche em suas mãos antes de mirar e atirá-lo no lixo. — Talvez ela se desse melhor com o Yan. — Completou dando de ombros, fazendo-os rir.

— Por isso está quase morrendo sentado? — Baiyang perguntou. Tinha ficado o dia todo analisando o rival, em sala. E ele parecia estar a um passo de dormir em pé.

— Mais ou menos. Eu passei quase a madrugada toda limpando a cozinha. Aparentemente ela odeia hambúrgueres e o cheiro deles. — Riu sem graça e o sinal tocou.

— Bom saber que está melhor. — Zhuo Zhi falou ao passar por ele e tocar seu ombro e ir para sua sala. 

Foi o que os outros membros do time também precisavam de incentivo para fazer o mesmo.

— Está realmente bem? — Baiyang perguntou assim que ficaram sozinhos.

Qiao Chen deu um pulo enorme e colocou a mão no peito.

— Não vi que tinha ficado aí, assombração!

— Idiota. — Retrucou com um sorriso de canto. — Responda a pergunta.

Ele abriu um sorriso enorme e debochado que não lhe chegava aos olhos.

— Não sabia que se importava. — Disse, com a mão no peito fazendo o rival franzir o cenho, irritado.

— É que está estranho desde aquele dia. — Afirmou, referindo-se a briga dos dois de dias atrás, enquanto voltavam para a sala.

— Hummm. — Parecia pensativo.

— Sinto muito por ter te batido naquele dia. 

Qiao Chen se limitou a olhá-lo, mas nada respondeu. Ele passou o resto das aulas olhando a janela totalmente alheio a tudo.

O clima era estranho no treino à tarde. 

Yan tinha feito os ajustes nos treinos e apesar de todos cumprirem à risca, toda a dinâmica do grupo estava totalmente fora sem a presença de Qiao Chen.

— Bizarro treinar sem ouvir os dois quase se engalfinhando. Não consigo me concentrar com o silêncio. — Jiale comentou, e Dayong sorriu.

— E por falar nele, não era para ele estar aqui? Achei que o tinha visto mais cedo treinando com os outros. — Zhuo Zhi estranhou, procurando pelo amigo que não estava recolhendo bolinhas pelas quadras.

— Ah, ele foi buscar bebidas porque está muito quente. — Mu informou, sorrindo.

— Ele é muito atencioso. — Xiawen emendou, ganhando um tapa na cabeça do amigo.

— Ele só quer que façamos o trabalho todo sozinho. — Huang Jing reclamou, e os outros dois pareceram finalmente entender a motivação do ex-titular.

Baiyang balançou a cabeça, aquele tipo de atitude irresponsável era a cara de Qiao Chen. Ele provavelmente estava curtindo e farreando, enquanto todos ali treinavam e cooperavam com o time.

Juntou sua bolsa e foi embora decidido a dar uma chamada no rival porque se continuasse assim não voltaria como titular antes da final, e o achou realmente diante da máquina de bebidas.

O problema é que Qiao Chen não estava sozinho. Diante dele havia um rapaz quase tão alto quanto ele, curvado numa reverência, enquanto ele tinha o rosto todo corado.

— Parece que descobrimos quem é o namorado secreto. — Jiale comentou ao ver os dois.

Zhang Baiyang fechou os punhos com força. Nunca sentiu tanta vontade de quebrar alguém como naquela hora.


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