Antes que você vá escrita por Crik Snape


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Olá, tudo bem?

Esta fic foi um projeto do qual adorei ter participado e desenvolvido a ideia. Sou imensamente grata à oportunidade e espero poder ter transmitido todo o meu amor e sentimento em palavras, e que possam desfrutar tanto quanto eu, enquanto escrevia.

O projeto em questão foi o Desafio de Inverno 2020 do grupo Severo Snape Fanfictions e teve como tema para desenvolvimento da trama o seguinte:

"Severo Snape e a/o (personagem escolhido) ficam presos durante, pelo menos, 30 minutos em um elevador no Ministério da Magia, o que pode acontecer?".

Alguns critérios foram respeitados:
?” eles devem ficar impossibilitados de aparatar;
?” o motivo deles ficarem presos no elevador deve ser abordado e explicado;
?” o motivo tem que ser plausível;
?” limite de palavras: 8.000;
?” em formato one-shot.

O resultado foi este drama/romance com algum toque de sensualidade.

Para a história, eu fiz um video-trailer (nada profissional) e acho que pode ajudar a incorporar a trama. Está disponível no meu Jornal aqui no Spirit e no link do youtube.

| Trailer |
https://www.youtube.com/watch?v=phNqZYlwHpE

Boa leitura!



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2 dias para o julgamento

Aquela sala cheirava a traças, era tudo no que Hermione conseguia pensar enquanto estava ali, sentada, esperando que Harry terminasse de servir o chá que havia lhe oferecido. Como estagiário no Departamento de Aurores no Ministério da Magia, o amigo trabalhava demais e certamente não se dava conta da poeira que estava se acumulando nas estantes de livros.

— Obrigada. – ela agradeceu, tomando para si a xícara fumegante – E então, o que me diz?

Os verdes penetraram nos castanhos a sua frente, mas nada expressaram. Já fazia alguns minutos que estavam tendo aquela conversa.

— Acho uma péssima ideia, se quer saber.

Hermione bufou irritada, devolvendo a xicara sobre a mesa com certa grosseria. Descruzou as pernas e ajeitou a postura na cadeira, nitidamente contrariada.

— Vamos, Harry, por favor. – ela implorou, era tudo o que lhe restava fazer – Consiga este encontro. Com a sua influência, eu sei que consegue, como da última vez.

— Da última vez, Hermione, foi muito mais simples. – foi a vez dele de expressar alguma irritação – Eu só precisei conseguir autorizações de visitantes. E você deve se lembrar de como fomos recebidos por ele em Azkaban.

— Foi porque você estava junto. Se tivesse me deixado ir sozinha, eu teria conseguido. – ela se moveu sobre o assento, inquieta – Ele não simpatiza com você desde Hogwarts.

— Desde que eu nasci, você quer dizer.

Um breve silêncio se instalou entre eles.

— O que você tanto espera conseguir com esse encontro, Hermione?

Ela ponderou o questionamento por alguns segundos, incerta sobre como respondê-lo sem revelar suas verdadeiras intenções nem ser muito vaga, também.

— O mesmo que você, Harry. Convencê-lo a declarar-se inocente perante o tribunal.

— Nós já tentamos isso antes, e não funcionou.

— Eu sei. Mas dessa vez será diferente. – ela parecia convicta – Quero tentar algo novo.

Percebendo a confusão estampada no semblante do amigo, Hermione compreendeu que, caso quisesse a colaboração do rapaz, teria que começar a revelar mais do que tinha planejado.

— Porque há algo que ainda não foi dito, Harry.

— Nós ensaiamos o nosso discurso de defesa juntos. Você nunca mencionou algo novo.

— Eu sei, você está certo. – ela estava começando a ficar embaraçada com aquela conversa – O que tenho a dizer ao Professor Snape jamais poderia ser dito no tribunal.

Novamente, uma nova onda de silêncio se estabeleceu na sala, tornando difícil manter o contato visual sem sentir o peso invisível da atmosfera.

— Se você tem uma informação que pode inocentá-lo, então você precisa dizer no tribunal.

— Eu não posso!

Engolindo em seco, por sorte o amigo não ousou questioná-la. Caso contrário, não obteria nenhuma justificativa plausível. Ninguém seria capaz de extrair dela a verdade que tão bem escondia de todos, aquela que lhe causava tanto mal e que esperava não causar o mesmo mal aos outros, quando descobrissem. Passaram-se alguns segundos, que mais pareceram horas, até que Harry se movimentasse na cadeira e se pusesse de pé atrás da mesa. Àquela altura, o chá já havia esfriado o bastante para ser deixado de lado.

— Eu conheço alguém que pode ajudar.

Em um sobressalto, Hermione jogou-se nos braços do amigo, que a recebeu em um abraço. Dessa vez, diria as palavras certas e poria fim aquele pesadelo que se concretizaria dentro de dois dias, a data marcada para o julgamento de Severo Snape, ex-comensal da morte.

 

O dia do julgamento

Mesmo que tentasse distrair a mente, seu corpo continuava a reagir à aflição do encontro iminente. Ali, de frente para o espelho de corpo inteiro, ela analisava a escolha de roupa para a ocasião. Tinha separado o traje na noite anterior e mesmo assim continuava em dúvida. Alisou o vestido nos quadris para desfazer um amassado quase imperceptível. Preto tinha sido a cor escolhida, porque, em dias como aquele, era a cor que mais lhe caia bem.

Após uma última olhada em seu reflexo, deu-se por satisfeita e apanhou a bolsinha de ombro e o casaco de inverno que estavam pendurados atrás da porta. Seu quarto estava uma bagunça, reflexo do seu próprio eu interior. Quando parou para ver as horas no pequeno relógio de pulso, deu-se conta de que já estava atrasada. Excelente forma de colocar um plano tão arriscado em prática, ela pensou consigo mesma.

Caminhou apressada até a lareira e amaldiçoou a escolha do preto quando jogou o pó de flu e gritou pelo Ministério da Magia. A pequena viagem causou-lhe alguma vertigem, especialmente porque não tinha comido nada desde que acordara. Em dias como aquele, ela raramente sentia qualquer apetite. Como esperado, a barra do vestido ficou suja, mas com as mãos ela abanou o pó para longe assim que saltou do fogo esverdeado para o saguão do Ministério. Quase foi empurrada por um grupo de pessoas apressadas.  

Quando adentrou o saguão dos elevadores, um amplo espaço em abóbada com elevadores chegando e partindo a todo o instante, ouviu ser chamada.

— Hermione! Cinco minutos atrasada.

Ela suspirou, aliviada, quando viu que era Harry que se aproximava.  

— Desculpe. Perdi a hora enquanto me arrumava.

— Pelo menos fez um bom trabalho. – ele sorriu, os dentes muito brancos e uma expressão abobalhada na face quando depositou um beijo no rosto da moça – Você está linda!

Hermione teria agradecido o elogio, se soubesse que a opinião do amigo não estava sofrendo fortes influências lunares.

— E então, qual o plano?

O rapaz abanou a cabeça expulsando as ideias que lhe ocorreram em mente, todas envolvendo a própria amiga. Achou que estivesse ficando louco.

— Estamos diante do plano, na verdade. – disse, ajeitando os óculos sob o nariz.

Apontando com a cabeça, Harry indicou o elevador no qual estavam parados bem em frente. Haviam outros naquele saguão, mas aquele era o único que se encontrava lacrado por uma fita amarela e um notável aviso de “temporariamente sem magia”. Hermione olhou para os lados e, então, voltou-se para o amigo, com uma expressão ferina.

— E quando a equipe de manutenção chega? – ironizou, trocando o peso do corpo nos saltos.

Harry crispou o lábio, controlando o próprio riso.

— Quando as portas abrirem, Hermione, você terá trinta minutos apenas. Nem mais, nem menos que isso. Trate de usar bem esse tempo.

— Se as portas abrirem, você quer dizer, não é? – ela estava impaciente – Isso é sério?

De repente, o elevador ao lado estacionou na plataforma e bruxos começaram a preenchê-lo, no que Harry se apressou para fazer o mesmo.

— Ah, acho que vou nesse. – ele foi se afastando, deixando uma Hermione aflita com as mãos na cintura – Não quero estar aqui quando... você sabe, quando ele chegar.

Hermione andou até o amigo, mas não conseguiu alcançá-lo.

— Harry! – ela exclamou furiosa com o comportamento arredio do rapaz, atraindo algumas atenções para si – Porque está fazendo isso comigo?

— Estou fazendo o que você me pediu, Hermione. – ele disse, segurando-se nos puxadores quando sentiu um movimento embaixo dos pés – Mais tarde, podemos sair para beber uns drinks e comemorar, o que acha? Gina ainda está viajando...

Se o elevador não tivesse partido para longe, naquele momento, Harry teria visto a expressão incrédula da amiga diante do convite nada sutil. Aquele inferno de dia tinha que acabar logo, ela pensou consigo. Hermione expirou o ar dos pulmões e voltou-se para o elevador interditado, negando com a cabeça que aquele plano tivesse qualquer fundamento. Ela não teve tempo de pensar em mais nada quando um ruído estridente lhe obrigou a dar alguns passos para trás.

As portas do elevador se abriram em um estrondo de ferros e metal, para espanto dela, que tinha duvidado daquilo. Revelando o seu interior, havia dois homens de meia idade, imóveis, a encará-la. A julgar pelas vestes surradas, seriam dois trabalhadores humildes, certamente. Sem reação, Hermione permaneceu onde estava, lidando com o misto que era suas emoções naquele momento: o susto e a decepção quando viu que nenhum deles era Severo Snape, aquele que esperava encontrar.

Um dos homens, o mais baixo deles, concedeu uma rápida olhada discreta para o homem ao lado. Alguma comunicação ocorreu entre eles. Em seguida, Hermione o viu aproximar-se, erguer a faixa amarela de interdição sobre a própria cabeça e ultrapassá-la para fora do perímetro.

— Senhorita? – disse o homem de rosto e voz que ela não reconhecia.

Por um segundo inteiro, o ar ficou preso em seus pulmões quando aquele tom de voz e o tratamento dedicado a ela fizeram-na se lembrar de seu professor. Sentiu-se uma tola pela confusão óbvia e quando voltou a respirar, o homem ainda estava de pé, segurando a faixa erguida.

Com uma rápida olhadela no homem mais alto, ainda estático dentro da cabine, Hermione ponderou se devia entrar ou não. Não estava nem um pouco satisfeita em dividir o elevador com um estranho que tinha cara de poucos amigos, que nem mesmo fora capaz de cumprimentá-la. Mas entrou, mesmo assim, passando por baixo da faixa com um singelo agradecimento pela gentileza do outro homem.

 Mal teve tempo de ajeitar-se na cabine quando esta movimentou-se em um solavanco depois que as engrenagens foram acionadas, as portas de ferro se fechando com força atrás dela. Os puxadores eram altos e sua estatura mediana a impediu de segurar-se bem o suficiente, no que acabou batendo com o ombro na parede ao lado.

— Parece que a falta de magia era temporária mesmo. – Hermione reclamou para si.

Com um muxoxo de dor, esfregou o braço e anotou mentalmente que deveria tomar explicações com Harry depois. Era um plano claramente fracassado.

— Senhorita?

A acústica no interior daquela caixa de ferro quase enganou sua audição, que pensou ter ouvido a voz suave e arrastada de Severo Snape chamando-a em tom inquisidor. Lentamente, voltou-se na direção do homem ao lado e começou a examiná-lo a partir dos pés. A primeira certeza que teve era a de o homem não estivera usando roupas tão escuras quando entrou na cabine, nem que eram tão pouco puídas. Continuou subindo o olhar a tempo de ver uma mecha de cabelo castanha transformar-se em uma lisa e negra. A certeza seguinte era a de que estava diante da imponente figura do homem por quem estivera esperando até aquele momento.

— Professor?

Um breve silêncio caiu como manto sobre eles, mas não durou muito pois uma nova sacudidela fez seus corpos desestabilizarem novamente e os ferros rangerem, conforme o elevador ia se afastando na horizontal, até ir freando lentamente com um rangido estridente.

— Mas que diabos está havendo aqui? – ralhou o homem, depois de olhar a si mesmo de volta a aparência habitual – Sabe em que andar estamos?

As palavras simplesmente não deixaram os lábios dela, que permaneceu impassível contra a parede oposta ao homem. No fundo, quase não conseguia acreditar que tinha sido facilmente enganada pela poção Polissuco, logo ela, a bruxa mais nova a tê-la preparado ainda no segundo ano escolar. Sentiu que de repente não conseguia se mover de onde estava e precisou piscar mais vezes do que o normal, a garganta já seca.

— Diga alguma coisa! – ele exigiu, com certa impaciência.

— Não sei, devemos estar parados entre dois níveis. – ela conseguiu dizer, meio nervosa.

Tinha achado estranha a sugestão de disfarce para a sua condução à sala de julgamento no Ministério, mas não pudera opinar. Deixar Azkaban era sempre um evento agitado, cheio de feitiços de monitoramento. Dessa vez, dada a importância e distância, tinha pensado que haveria uma segurança duplamente reforçada. No entanto, Severo fora conduzido de qualquer forma pelo saguão ministerial e ao elevador em que agora se encontrava encarcerado com uma civil.

Quando as portas do elevador se abriram e revelaram a imagem da ex-aluna, Severo mal acreditou na infeliz coincidência e agradeceu mentalmente não poder ser reconhecido por ela. Mas sua satisfação durou tão pouco quanto o efeito da poção Polissuco. Pensando melhor a respeito, começou a achar duvidosa todas aquelas coincidências e deslizes em sua condução até àquele elevador.

— Por que estamos trancados aqui dentro? E sozinhos? – ele quis saber, olhando-a com desconfiança.  

— Foi ideia minha, este encontro. – ela confessou, sentindo as mãos úmidas – Não temos muito tempo, mas há algo sobre o qual precisamos conversar.

Uma fenda se formou entre as sobrancelhas do homem, quando este semicerrou os olhos, em completo estado de confusão. Internamente, não se sentia em condição alguma de ter qualquer conversa, ainda mais com aquela que tanto evitara. Por isso, afastou-se quase fundindo-se à parede às suas costas, evitando qualquer troca de olhar. Mas não foi o suficiente para impedi-la de se aproximar dele.

— Professor, eu sinto muito por isso. Foi a única forma que encontrei de termos esse encontro. – ela quebrou a distância e baixou o olhar para as correntes que atavam os pulsos do homem – Isso deve incomodar, eu imagino. Posso retirá-las? 

— Por que desejaria correr este risco?

— Eu não o considero uma ameaça. Não para mim. – ela o fitou séria.

— Experimente. – ele disse, intimidador, as orbes negras transbordando em fúria quase incontida.

Hermione não se inibiu com a ameaça e puxou a própria varinha da bolsa de ombro, mas com um rápido aceno observou o seu feitiço falhar. Certamente que fazia parte do plano o bloqueio à magia, evitando uma possibilidade de fuga do prisioneiro. Não tentou esconder a surpresa, arrancando um riso de escárnio de Severo.

— Talvez agora mude de opinião, já que se encontra um tanto indefesa nesse momento. – ele disse, com um olhar agora bastante ameaçador - O que planeja com isso? – bradou, afastando-se da parede para obrigá-la a voltar para o lado oposto da cabine – Você esteve em Azkaban com o patético do Potter uma vez, e agora isso. Acaso está me perseguindo, senhorita?

— Estou aqui por outras razões. – ela ia se afastando conforme o corpo altivo do homem a inibia pouco a pouco.

 – Se não está tentando promover a minha fuga no dia do meu julgamento, então ouso pensar que está tentando me incriminar de alguma forma. Se for este último, o caso, desista. Não tocarei em um único fio de seu cabelo.

Com as últimas palavras, Hermione chegou ao limite da cabine e viu-se presa entre a parede e o corpo do homem. Devido à diferença de tamanho, perdeu o contato com os olhos dele. Ali, com toda a hostilidade em volta deles, foi difícil não associar as imagens que guardava de seu professor em sala de aula, rigoroso e mal-humorado.

Ajudava o fato de que o homem vestia exatamente as vestes usuais, negras, pesadas, exceto pela ausência do casaco espalhafatoso. Os cabelos negros caídos em cortina contra a face, exatamente como se lembrava que fossem. Estava bastante diferente de quando o visitara em Azkaban. Sabia que todos os condenados tinham o direito de vestir-se apropriadamente no dia de seus julgamentos.

— Eu sei que hoje é um dia difícil para você. – ela iniciou, novamente – Mas não pretendo prejudicá-lo, se é isso que pensa. – engoliu em seco, erguendo a cabeça para poder fitá-lo a pouca distância que estavam – Espero que saiba que você não estará sozinho, hoje.

Severo afastou-se dela, dando-lhe as costas com um riso nasalado. Em sua cabeça, diversos pensamentos turvaram sua mente, especialmente os mais sombrios.

— Você nos colocou presos nesse elevador para termos esse tipo de conversa? – ele disse, de volta ao lado oposto da cabine, virando-se para ela – Qual será a próxima pauta, senhorita? Vamos falar sobre o quão ansioso estamos para o julgamento ou quem sabe sobr...

Mas ele não teve tempo de concluir sua frase repleta de ironia, pois ela fora mais rápida:

— Por que não revelou em seu depoimento que fui eu quem o salvei do ataque no dia da batalha?

Nada foi dito pelos segundos que se seguiram após aquela indagação. Severo sentia a intensidade do olhar da jovem sobre ele, e só ele sabia o quanto tinha desejado nunca ter que responder àquela pergunta.

— Foi a maior tolice que já cometeu em toda sua infeliz existência. – disse, virando o rosto para que ela não pudesse ver sua expressão nublando. 

— Não perguntei o que achava sobre eu tê-lo salvo. – ela ralhou com ele, fitando-o com determinação – Eu quero saber por que omitiu isso em seu depoimento, alegando que não se lembra de nada?

— Não pretendo ter meu nome associado ao seu, se ainda não percebeu.

Suas palavras atingiram-na com crueldade, mas Hermione não se deixou importar com isso, sabia que era a forma encontrada por ele de afastar as pessoas de si.  

— Todo o meu esforço terá sido em vão se continuar sustentando essa postura egoísta, denegrindo a si mesmo.

— Pois bem, senhorita, ouça com atenção. – ele foi se aproximando dela novamente, as mãos sustentadas no ar, juntas pela amarradura das correntes – Eu não lembro de ter pedido para ser salvo. Eu preferia estar morto a ter sobrevivido àquele ataque.

Hermione não queria acreditar naquele julgamento, pois não compreendia como ele podia recursar-se a dar uma chance a si próprio, quando sabia que era possível. Severo Snape tinha se doado a ambos os lados daquela guerra, como duplo espião, e protegido a mais pessoas a sua volta do que a ele próprio. E mesmo assim, não queria ser lembrado por seus feitos heroicos.

— Aquelas memórias que você emprestou ao Harry no dia da batalha, depois de ter sido ferido... – ela disse, com impaciência na voz - Você precisa mostrá-las durante o julgamento. Só assim conseguirá provar a sua inocência.

— Eu não quero a inocência! – Severo proferiu exacerbado - Olhe para mim! Lembre-se de todos os crimes pelos quais estou sendo acusado. – com um gesto brusco, bateu com as mãos contra o próprio peito, fazendo as correntes rangerem -  Eu sei que você já deve ter lido aquele inquérito o bastante a ponto de tê-lo decorado. Sabe do que fui capaz. Então, deixe-me ser condenado.

Quando terminou de falar, estava quase ofegante. As veias saltadas em seu pescoço exaltavam o nível de esforço que tinha empenhado para tornar clara suas alegações. As mãos algemadas não o ajudavam em nada, inviabilizando seus movimentos. Em um relance, notou algo na mulher que lhe chamou a atenção. Estendeu os braços para buscar alcançar aquilo e ver melhor de perto.

— Agora parece claro para mim todo o seu empenho. – disse, segurando nos dedos o crachá que pendia no pescoço de Hermione, e desdenhou – Parece que está ganhando algo em troca pela minha inocência, senhorita “testemunha de defesa”, senão não teria vindo atrás de mim.  

— Ao contrário, parece que estou perdendo. – ela afastou as mãos do homem para longe, antes sentindo o choque do contato de suas peles – Estou perdendo o meu tempo.

Pelo que pareceram segundos, eles sustentaram seus olhares sem se darem conta da proximidade de seus corpos, a tensão só aumentando.

— Admita, seu plano não saiu como o esperado. Desista de mim, Granger.

— Não posso. – a voz dela escapou como um sussurro – De você, eu sempre carregarei comigo uma lembrança que nunca me permitirá esquecê-lo.

Mesmo não podendo admitir que tinha compreendido a referência, pois Severo sabia de coisas das quais desejava nunca ter tomado conhecimento, acabou exaltando-se, movendo-se para longe novamente.

— Não seja tola, Srta. Granger. Não tente distorcer a realidade só porque estamos há poucas horas de ter a minha sentença final proferida. – disse, tentando transmitir naturalidade – Nós dois sabemos os tipos de lembranças que eu lhe deixarei quando tiver partido. – seu olhar encontrou o dela nesse momento – Você era só uma garotinha estúpida, sempre com a resposta certa na ponta da língua. Quanto a mim, um professor que só sabia desdenhar de sua sabedoria.

— Nem sempre fui apenas uma garotinha.

— Para mim, sim.

Um momento de silêncio deu a Hermione tempo para lembrar-se de sua trajetória como aluna em Hogwarts.

— Em algum momento eu cresci. – ela disse, sem saber como se expressar – E mesmo muito jovem, naquela época, eu já era muito madura para a minha idade.

— Francamente. – ele tripudiou, as mãos inquietas, mesmo presas, apoiadas contra o peito – Você era uma criança, o que podia saber sobre amor, afinal?

Hermione prendeu todo o ar nos pulmões e achou que poderia sufocar se não lembrasse de respirar logo. Passou os segundos seguintes tentando compreender de onde ele havia tirado aquela interpretação.

— Como você sabe sobre isso? – ela disse, um tom baixo devido ao constrangimento – Eu nunca disse nad... – sua voz perdeu força, e quando voltou a fitá-lo, quase podia notar a confirmação na expressão do homem.

#Início do flashback

Naquela noite em que Severo fora ferido durante o ataque de Nagini, Hermione e os amigos o encontraram a tempo de Harry ter a chance de ouvir do homem que se acostumara a odiar e desprezar durante anos, que seus olhos eram iguais ao de sua mãe. O moreno saíra de lá com as memórias de Severo Snape em um frasco, e com Ronald em seu encalço, sem nem mesmo perceber que uma Hermione em prantos havia ficado para trás.

Um gemido escapou do homem ferido e, com o esforço, sangue jorrou dos ferimentos em seu pescoço. Instintivamente, Hermione usou as mãos, trêmulas, para estancar o sangramento, em vão. Naquele breve instante, seus olhos encontraram os dele e mesmo que nenhum som tenha deixado seus lábios, ela quase podia ouvi-lo recriminá-la por ter manchado as mãos com seu sangue, com a mesma austeridade de sala de aula, quando ela respondia certo e mesmo assim não ganhava pontos.

— Fique acordado! – ela implorou, vendo as pálpebras do homem falharem na tarefa de mantê-lo de olhos abertos.

O que ela não sabia era que tinha acabado de ganhar muitos pontos com ele, o homem ferido, não mais o seu temido professor de Poções. Ele fechou os olhos e apagou em seguida.

— Eu te amo tanto... tanto. – ela chorou, ainda sentindo o pulso dele em seu pescoço.

Levantou e saiu correndo dali, certa de que tinha que, ao menos, tentar salvá-lo.

#Fim do flashback

— Eu nunca deveria ter dito o que sentia, eu sinto muito. – ela voltou de seu transe, desviando o olhar com vergonha - Mas eu achei que não teria outra oportunidade, você estava morrendo. – uma lágrima fina desprendeu do canto de seus olhos e traçou um trajeto pela sua maçã do rosto, perdendo-se no contorno dos lábios – Talvez tivesse sido só algum sentimento bobo de admiração, é verdade. O que uma menina podia saber sobre amor, afinal? Mas depois, nada mudou. Eu cresci, e esse sentimento cresceu junto comigo. – ela voltou a encará-lo, e tomou coragem para dizer o resto - Ainda hoje, nada mudou.

Um brilho surgiu no olhar de Severo, mas antes mesmo que Hermione pudesse notar, ele desviou sua atenção e afastou-se o quanto podia, visto que a cabine era apertada e não lhe dava muitas escolhas. Não soube como reagir, mas também sabia que não podia permitir que ela continuasse com aquelas ideias tolas.

— Chega. – bradou, mas sem aumentar o tom de voz - Se isso era tudo o que tinha para me dizer.... Agora nos deixe sair.

Com a costa da mão, Hermione limpou o trajeto da lágrima em seu rosto e piscou para afastar as demais que não tiveram tempo de cair. Ela nunca pensou que revelaria seus sentimentos à Severo de forma tão aberta, e agora que tinha feito, mesmo claramente tendo sido rejeitada, sentia-se aliviada.

— Não posso. – ela disse, atraindo a atenção dele novamente - Vamos ter que esperar as portas abrirem novamente.

— Inferno! – Severo resmungou, levando as mãos até a testa e escondendo o rosto entre os cabelos, as correntes rangendo.

Se algum dia lhe dissessem que estaria naquela situação, duvidaria. Poucas vezes na vida Severo tivera a opção de escolher. A mulher que amara não o escolhera, também. Mas ele escolheu proteger ao filho dela, para um dia perder o direito de escolha novamente, quando precisou matar o único homem que verdadeiramente tinha acreditado em seu valor. No dia em que viu sua vida esvaindo-se, Hermione não lhe dera outra escolha a não ser forçá-lo a pensar nela, desde então.

   Era o que vinha fazendo, encarcerado há dois anos em Azkaban, em uma cela fria, desconfortável, úmida e solitária. Nos seus pensamentos, ela não era mais a garotinha que vira crescer em Hogwarts, mas a mulher que, com as próprias mãos, sujou-se com seu sangue. Era bem verdade que ela havia feito muito mais por ele. Ela devolveu-lhe a vida, também. Severo vivia em completa desarmonia consigo mesmo. Ora acreditava merecer a vida, ora achava que devia morrer.

Hermione não sabia precisar quantos minutos tinham se passado desde que entrara naquela cabine de elevador, mas queria que as portas se abrissem logo. Nada do que tinha planejado dizer fora dito, até então. Na sua cabeça, tinha imaginado uma conversa pacífica, onde ela falaria e ele apenas ouviria, concordando, no final, em ceder as próprias memórias à Suprema Corte para ter a inocência concedida. Mas o seu plano fora um fiasco, agora que seus sentimentos estavam uma bagunça.

Quando Severo não ouviu mais a voz de Hermione, abriu os olhos e a encontrou parada na mesma posição, fitando as pontas dos pés enquanto tentava respirar. Ficou um tempo observando o comportamento dela, sem saber se devia intervir. Aos poucos, Hermione foi dando passos para trás até espalmar as costas e a palma das mãos na parede. Ela sentiu o gelado do metal e isso a acalmou um pouco.

— O que está sentindo? – Severo perguntou, o olhar percorrendo-a dos pés à cabeça.

— Nada. – ela conseguiu dizer, em um fio de voz.

Ele não se contentou com a resposta, mas não havia muito o que podia fazer.

— Você está doente?

— Eu já disse, não é nada. – ela aumentou o tom para dar fim àquelas perguntas.

Ela conseguiu controlar a respiração e quando ajustou a postura, encontrou-o olhando-a fixamente com uma fenda no cenho franzido. Era aquela a expressão que mais temia despertar nas pessoas, por isso escondia tão bem seu segredo. Aquele dia, no entanto, tinha sido uma péssima escolha para ser justo o dia do julgamento, obrigando-a a sair de casa naquele estado. Em dias como aquele, Hermione nunca era vista por ninguém, mas agora tinha um par de olhos cor âmbar dedicado a ela, somente para ela.

De repente, uma corrente de ar passou entre eles e deixou uma friagem dispersa. Severo sentiu seus músculos tensos e a vista turvar com um leve arrepio na espinha. Nunca tinha se sentido daquela forma antes, e parecia sob efeito de alguma poção, um gosto doce nos lábios que lembravam Amortentia. Claro que nunca tinha experimentado dela, mas como Mestre, sabia o gosto que ela deveria ter.

— O que está sentindo, professor? - um ar curioso moldou sua feição.

— Nada. – ele cerrou os dentes, sabendo que tinha sido pego no ato.

De todas as vezes em que gastou seu tempo pensando em Hermione, enquanto encarcerado, em nenhuma delas se sentira tão vivo como agora. Já tinha imaginado diversas situações em que consumavam o suposto amor que Hermione dissera nutrir, em seu quase leito de morte. Mas agora, sentia que estava a ponto de pôr tudo em prática. Quando Hermione desviou o olhar, o efeito sumiu e a vista de Severo voltou a focar. E o que viu foi a ex-aluna desfazendo-se do próprio casaco de inverno.

— O que está fazendo? – ele inquiriu, curioso.

Ela não respondeu, apenas largou o sobretudo no chão, claramente sentindo o corpo quente, o que era, no mínimo, curioso, visto que o inverno tinha chegado rigoroso.

— Não fique aí me olhando com essa cara. – ela ralhou com ele, mesmo sabendo que ele não tinha culpa das reações involuntárias que estava tendo – Como se você se importasse comigo. – resmungou, colocando os cachos para trás da orelha – Também estou começando a não me importar. Nem com você, nem comigo.  

Hermione usou o próprio sobretudo para forrar o chão e sentar-se com as costas apoiadas contra a parede. As pernas ela cruzou para o lado, e puxou o vestido para cobrir a pele da coxa que fora exposta. Ainda não se sentia estável, o ar naquele elevador de repente tinha se tornado rarefeito. Ela puxou a bolsinha de ombro e retirou de lá um pequeno embrulho, semelhante a um doce trouxa. Do alto, Severo observava atentamente tudo o que ela fazia, e ficou tentado em fazer uma série de questionamentos novos.

Depois que ela terminou de descascar o papel que envolvia aquilo, depositou-o na boca e sua expressão se contorceu em uma careta. Mas não era por causa do gosto. Era a dor que sentia nas articulações, queimando como brasa, fazendo-a lembrar-se de que era diferente das outras pessoas, agora. Severo notou e em um rompante de consciência achou que tivesse motivos para justificar sua atitude seguinte. Quebrou o espaço que os separava com apenas dois passos e ajoelhou-se na frente dela, um joelho no chão, o outro suspenso. Sem a menor cerimônia, agarrou-lhe um dos braços, obrigando Hermione a sentir o frio do metal das correntes.

— Ei, quem pensa que é para fazer isso? – ela ficou furiosa, e o que quer que tivesse posto na boca, ainda não tinha engolido, com o susto.

— Diga de uma vez, o que ingeriu? – ele estava sério, imaginando um milhão de possibilidades para aquilo em sua boca.  

— Quem se importa com isso?

— Você é tola, mulher! – recriminou-a, puxando-a para cima através do aperto em seu braço, pondo-a de pé – Nada nem ninguém deve valer mais que a sua própria vida.

Antes mesmo que Hermione tivesse tempo de desfazer o engano, já que não tinha tentado se envenenar nem nada do tipo, Severo preencheu o espaço que havia entre eles com seu corpo, imprensando-a contra a parede ao tempo em que capturava os lábios dela com os seus próprios. O primeiro contato pareceu uma carícia, e durou meio segundo, mas uma eternidade para Hermione que sentiu o corpo estremecer com a textura e o sabor. Em seguida, ela sentiu a língua abrindo passagem entre seus lábios, e permitiu de bom grado. Quantas vezes tinha desejado beijá-lo, senti-lo, e agora estava acontecendo.

A emoção não durou o bastante, porque depois que sentiu a própria língua ser sugada, os lábios dele deixaram os dela, assim como seus corpos se afastaram. Na palma das mãos, Severo cuspiu aquilo que ele julgava ser tóxico, e que tinha extraído da própria boca de Hermione sem que ela notasse. Sem acreditar, ela se apoiou contra a parede e pensou em como explicar. Ele olhou da cápsula para ela e respirou o ar que tinha prendido, aliviado. Era algo que ele não reconhecia, de fato, mas ao menos evitara o pior.

— Não é o que pensa. – ela conseguiu dizer – Ao contrário de você, eu ainda luto pela minha vida, mesmo quando me falta humanidade.

Severo não compreendeu, mas não importava. Ele havia ouvido bem e ela não tinha planejado dar cabo a própria vida, isso bastava. Mesmo que tivesse dificuldades em aceitar os sentimentos da mulher, não suportaria perdê-la. Era controverso, impróprio e embaraçoso, mas queria tentar algo novo. Jogou a coisa no chão e quebrou novamente a distância entre eles, dessa vez parando para apreciá-la de perto.

Ergueu as mãos acorrentadas e segurou-lhe o queixo com leveza, percorrendo com os olhos cada mancha em sua pele. Como era perfeita, ele pensou. Quando seus olhos cruzaram com os dela, a corrente de ar eriçou os pelos de ambos e nenhum espaço mais foi visto entre eles. Beijaram-se com a volúpia de um tórrido romance, sentindo-se com urgência e carência. O beijo foi quebrado quando ele se afastou em buscar de ar. Uma rápida olhada para ela deixou claro que ele tinha permissão para continuar. Àquela altura, seus corpos começaram a demonstrar sinais de influência, especialmente o volume contra o quadril de Hermione.

As correntes não lhe ajudavam em nada, mas também não o impediram. Conseguiu fazê-la virar-se de costas para ele, a face dela quase colada à parede. Seus dedos tatearam até o zíper de seu vestido e com a agilidade de quem abotoara inúmeros botões a vida toda, desceu-o pela pele das costas dela, revelando pouco a pouco a visão que o deixou levemente atordoado. Sobre a pele alva, de uma ponta de suas omoplatas descia uma fina cicatriz translúcida, até quase o topo das suas nádegas. Era extensa, mas sutil, e ele reconhecia aquele padrão. Ele parou para observar e Hermione se remexeu desconfortável, virando-se para ele, segurando a parte da frente do vestido com as mãos.

— Eu não queria que tivesse visto isso. – a voz dela quase não saiu – Sinto muito.

— Não peça desculpas pelo seu corpo. Admire-o, independente das marcas que ele carrega. São suas cicatrizes, suas histórias. – ele correu os dedos pelo queixo da mulher – São o que você é, agora.

Hermione soube que ele tinha compreendido, e se surpreendeu mais uma vez pela esperteza do homem. Seu segredo parecia, enfim, revelado, e ela mal precisou dizê-lo.

— Fenrir Greyback? – ele perguntou, os ossos da mandíbula saltando com a força da mordedura, e o pomo de adão movendo-se quando engoliu em seco depois da confirmação – Quando aconteceu?

— Depois que saí em busca do antídoto para o veneno de Nagini, em seu laboratório particular. – ela deixou os ombros caírem – Eu já estava voltando quando fui interceptada por ele. Eu tentei escapar, mas... – ela sentiu uma ardência nos olhos e achou que iria desabar – Eu sabia que ele não iria me matar, então só esperei aquilo acabar.

— Por quê? – havia tanta culpa no olhar de Severo, que Hermione achou que tinha estragado com tudo.

— Porque você precisava de mim, do antídoto. – ela fechou os olhos, detestando a lembrança daquela noite – Quando terminou, eu me arrastei de volta até você e o fiz beber da poção.

— Eu não queria bebê-la. – ele disse, atraindo o olhar dela – Então você disse que era algo que aceleraria a minha morte. Eu acreditei, porque era tudo o que eu queria naquele momento.

Uma lágrima desceu pelo rosto de Hermione, e ela se manteve firme para evitar outras de escaparem. Com um toque, ele a secou e permaneceu acariciando-a no rosto.

— Eu vi sangue em suas roupas. – ele continuou, forçando-a a abrir os olhos para ele – Havia sangue nas suas mãos também. Eu achei que fosse o meu sangue em você. Eu nunca teria desconfiado... Por que não me contou?

— Não era relevante naquele momento. Já estava feito, de qualquer forma. – ela explicou, abraçando-o pela cintura para trazê-lo mais próximo – Eu podia morrer naquele momento, mas eu o queria vivo.

A corrente fria percorreu o ar e causou desejo. A constatação do óbvio veio a ele de repente.

— Hoje começa o ciclo lunar. – ele afirmou, sem desviar dela – Você está sob influência da lua cheia. Seus hormônios estão ativos e por isso sinto-me tão atraído por você.

— Sim. – ela concordou, baixando a cabeça – Você pode controlar, é claro. É só ignorar o efeito disso em seu corpo.

— Desde que não haja sentimentos, é perfeitamente controlável aos homens. É isso que os livros dizem, você deve saber. – ele disse, no que ela concordou – Então não tenho muita escolha, já que controlar não está dentro das minhas possibilidades.

A reação de Hermione foi evidenciada por seu espanto diante da revelação inesperada. Ela abriu os lábios algumas vezes, mas nada escapou deles. Nunca tinha esperado ouvir que o homem por quem lutara pela vida, entregando a sua própria humanidade em troca, tinha sentimentos por ela também. Por sorte, não foi preciso dizer nada, pois seus corpos reagiram melhor unidos em um beijo, novamente acalorado. Ela levou os braços ao redor dos ombros dele e o trouxe para próximo, sentindo seu corpo reagir imediatamente.

Seu vestido escorregou fácil pela extensão de seu corpo, pois nada o impedia disso. A exposição trouxe à tona a feminilidade de Hermione, pois ela usava apenas uma fina peça íntima no quadril. Havia desejo emanando por todos os poros e isso os cegou momentaneamente, dando espaço para uma tórrida troca de beijos e carícias. As mãos de Severo, mesmo limitadas, percorreram os caminhos com ousadia, traçando carinhos e provocando arrepios entre os seios dela, na altura de sua cintura, em suas coxas, e em cada canto possível de ser alcançado.

Quando as mãos o impediram de fazer mais e melhor, ele usou os lábios para depositar beijos e mordidas, arrancando suspiros entrecortados de Hermione. Severo desceu do pescoço em direção aos ombros e demorou-se em um dos seios, sugando, beijando, mordiscando. Ele sentiu sua excitação aumentando à medida que provocava a dela, especialmente quando a sentiu puxar-lhe os cabelos para indicar que estava gostando. Seus beijos desceram com ousadia e no cós da peça íntima que ela vestia, ele repousou os lábios, provocando arrepios na pele de sua barriga, lisa.

Por um momento, Severo pareceu incerto se deveria prosseguir com aquilo, sabendo as circunstâncias em que se encontravam. O choque de realidade o atingiu, deixando um gosto amargo nos lábios, pois sabia que não havia muito o que esperar de um futuro. Hermione notou a insegurança do homem e desejou que ele a colocasse de lado.

— Não posso continuar com isso. – ele disse, os joelhos dobrados, a respiração indo de encontro à pele dela – Não posso lhe oferecer nada em troca.

— Não quero nada em troca, só quero você. – ela acariciou os seus cabelos – Quando as portas desse elevador se abrirem, eu talvez nunca mais o veja.

— É essa a lembrança que quer usar para substituir aquela da sua transformação? Uma transa dentro do elevador lhe parece melhor? – ele subiu o olhar para ter certeza do que veria na expressão dela quando esta respondesse.

— Não. Eu só quero lembrar que um dia lhe dei algum prazer.

As palavras dela foram suficientes para despertarem a compreensão em Severo, que então entendeu que não era sobre dar a ela lembranças suas, mas sim fornecer a ele lembranças com as quais ele poderia se apegar quando fosse julgado. Severo ainda podia lutar pela inocência, e Hermione queria que ele se lembrasse que havia algo pelo qual valia a pena lutar. Com a certeza, ele voltou a beijá-la nos pequenos espaços de seu corpo e, cuidadosamente, agarrou entre os dentes a fina alça de sua calcinha, ao tempo em que com as mãos ia descendo a peça pela alça oposta, revelando a intimidade coberta por uma fina pelugem.

Hermione mal conseguia sentir as próprias pernas, de tão excitada que se encontrava naquele momento. Podia sentir a respiração dele contra sua pele, o nariz roçando à medida que ia tirando dela a peça íntima. Quando ele se deu por satisfeito, voltou-se para ela e deliciou-se com a visão que teve ali de baixo, sentindo seu membro implorar por satisfação própria. Tudo o que aconteceu em seguida foi tão rápido e intenso, que mal houve tempo para assimilar.

Ele ergueu-se novamente e alcançou os lábios da mulher, para em seguida forçá-la a virar-se de costas para ele, novamente. Dessa vez, a cicatriz não era a única imagem que tinha para apreciar, mas as nádegas firmes também. Não teve tempo de querer apalpá-las, porque sentia pressa. Levou as mãos ao cós de sua própria calça e liberou os botões que o impedia de sentir-se mais à vontade. Seu membro saltou através dos tecidos e ele o roçou nas curvas da mulher, provocando uma sucessão de gemidos de antecipação do prazer.

Não precisou ter certeza para saber que Hermione estava pronta para recebê-lo, por isso ajudou-a a inclinar-se na direção dele e a preencheu completamente, sentindo a satisfação que há muito não sentia. Seus corpos tornaram-se um só e o ritmo crescia a cada nova estocada, os gemidos abafados. Ele conseguiu capturar os cabelos dela com as mãos, mesmo que as correntes pesadas atrapalhassem. Com isso, deu ritmo e força aos movimentos. Severo estava muito perto da satisfação, mas retardou o momento para poder senti-la por mais tempo.

Ele guiou uma das mãos dela para a própria intimidade e Hermione se estimulou enquanto era avidamente penetrada. As mãos dele se fecharam em sua nuca e as investidas ficaram mais fortes e profundas. O ápice do prazer chegou primeiro para ela, que deixou claro quando um gemido lhe escapou pelos lábios e o corpo vacilou para baixo. Isso só serviu de estímulo para levá-lo ao próprio prazer. Um urro escapou de sua garganta e ele achou que nunca tinha se sentido tão realizado como agora, depois de jorrar dentro dela.  

Carinhosamente, ele depositou um beijo no topo do ombro dela, subindo por sua nuca e pescoço, à medida que a deixava lentamente, apreciando cada sensação no processo. Hermione virou-se para poder abraçá-lo de frente e foi recebida com um olhar profundo, repleto de esperança para ela. O contato não durou muito, porque era certo que as portas se abririam em breve. Severo subiu as próprias calças, meio desajeitado, e ajudou-a a fechar o vestido nas costas, novamente.

— Você se tornou nisso por minha culpa, Hermione.

Ela tremeu com o som de seu nome deixando os lábios do homem, e mais ainda com o sentindo que ele deu ao fato de que Hermione era uma lobisomem desde o dia da batalha. Não queria aquela reação.

— Eu não me arrependo de nada que tenha feito para salvá-lo. – ela acariciou sua face, depositando um beijo casto nos lábios cerrados do homem - Eu faria tudo novamente se fosse preciso. Nenhum sofrimento em dia de lua cheia é maior que este que sinto dentro de mim, sabendo que eu posso perdê-lo para sempre naquele tribunal.

— Eu passei todo esse tempo remoendo as suas palavras daquele dia, em minha cabeça. – ele revelou seu infortúnio mais secreto – Tudo em que eu conseguia pensar era que, para você, eu tinha sido um assassino frio, um bruxo das trevas e um professor medíocre. Que sentimento era aquele que eu havia despertado em você? – não era um questionamento retórico, então ele a impediu de dizer qualquer coisa levando um dedo aos seus lábios – Eu sei o que vai dizer, e não quero ouvir. Vai listar qualidades que eu sequer serei capaz de reconhecer em mim mesmo. Qualidades que só os seus olhos são capazes de ver e sentir.

Era tão doloroso para ela, quanto tinha sido para Severo no passado, perder a pessoa que tanto amara. Como ela queria mudar aquele destino, pensou.

— Eu deveria ser grato por seus sentimentos, mas só consigo lamentar o sofrimento que lhe causei e certamente se tornará ainda maior depois do que acabamos de fazer aqui.

Antes que tivesse tempo de dizer qualquer coisa, as engrenagens mágicas colocaram o elevador em movimento novamente e seus corpos foram jogados para o lado. Severo ajudou a segurá-la e se afastaram completamente quando o elevador freou bruscamente em um andar qualquer. As portas se abriram em um estrondo característico e não houve tempo para dizer mais nada, pois num rompante haviam Aurores por todos os lados, empunhando suas varinhas na direção deles aos gritos.

— Mantenha as mãos onde possamos ver! – um dos Aurores ordenou.

Na realidade alternativa que era o olhar deles, só havia um elevador e seus corpos, e nada mais. Ali, Severo desejou não ter cometido tantos erros no passado. De repente, ele sentiu um puxão em seu corpo e soube que havia sido contido por um Auror, com alguma violência, era verdade. Não teve tempo de assimilar muita coisa, sua visão foi bloqueada por corpos e feitiços e sentiu um empurrão nas costas. Também conseguia ouvir os pedidos de Hermione para que não o machucassem, mas eram em vão.

O incidente no elevador foi esclarecido antes mesmo do início do julgamento, e Severo não foi incriminado mais do que já estava. Ninguém foi punido, o caso acabou sem explicação. O julgamento começou com trinta minutos de atraso, e foi como todos os outros julgamentos de ex-comensais da morte condenados: exaustivo.

Quando questionado sobre seus crimes, Severo foi ouvido.

— O que o senhor tem a declarar sobre as acusações das quais veio à réu neste tribunal?

O silêncio se fez presente naquele salão imenso, e de repente todos tornaram-se conscientes de suas próprias respirações. Severo percorreu os olhos pelas cadeiras do júri e sua visão encontrou a única pessoa naquele tribunal que lhe importava, agora. Uma troca de olhar entre eles despertou curiosidade nos mais atenciosos, mas o Ministro exigiu uma resposta, no que ele a deu.

— Culpado.

Ela teria mentido se dissesse que não esperava por isso. Ela sempre soube que ele não iria facilmente ceder à culpa e remorso que nutria pelos erros do passado, aqueles que cometera em prol de uma causa. Mesmo com a testemunha dela e dos demais, nenhuma prova foi considerada conclusiva o suficiente.

— Sendo assim, iremos deliberar a sentença do Sr. Severo Prince Snape a partir de agora.

Uma agitação se fez presente e foi necessário pedir silêncio por duas vezes. Sentada, ali, Hermione relembrou todas as experiências vividas dentro do elevador e alegrou-se pela simples possibilidade de tê-las consigo, independente do que acontecesse a partir de agora. Ela queria ser forte, mas não conseguiria, por isso optou em deixar o salão, com um último olhar ao homem a quem dedicara todo o seu amor. Lá fora, ela desabou longe das vistas das pessoas.

— Sr. Ministro?

— Sim? – o Ministro respondeu, procurando a origem do chamado e encontrando-a quando todo o salão voltou a silenciar-se.

— Não nego a culpa das acusações das quais fui intimado, mas tenho algumas memórias que gostaria que fossem vistas.

O Ministro mostrou-se surpreso, estava prestes a dar o caso por encerrado. Suspirando cansado, anunciou que as memórias seriam periciadas. Passaram-se mais duas horas até o parecer final.

— Inocente das acusações. – deliberou, e deu por encerrado.

Tudo havia sido esclarecido, afinal. Mas apesar da inocência, havia sido privado da liberdade por dois anos antes daquele julgamento e como punição extra, determinado a cumprir acompanhamento psicológico por período não estipulado. De todas as punições, a pior delas foi não poder sair dali correndo para procurar por Hermione e dizer a ela que estava livre e vivo, graças a ela.

Como esperado, já era noite quando Severo foi autorizado a deixar o Ministério na nova condição de absolvido. Ele não sabia para onde ir ou o que fazer de sua vida, mas Harry Potter o procurou e lhe entregou um bilhete. Severo quase o rejeitou numa lixeira, mas quando leu as primeiras linhas soube para onde deveria ir.

O fragmento de floresta ao Norte tinha sido a escolha de Hermione nos últimos meses para as suas transformações lupinas. Era seguro e tinha uma cabana confortável onde ela passava o dia seguinte, recuperando-se. Naquela noite, a licantropia em Hermione não a incomodou tanto. Quando a transformação acabou, nos primeiros raios solares, Severo já esperava por ela na cabana, e havia um delicioso cheiro de café e torradas.

— Você veio. – ela sorriu, cobrindo o corpo com hematomas da transformação com um manto – Sei que não sou a melhor visão nesse momento... – ela se referia ao estado de completa desordem dos cabelos, as maçãs do rosto coradas – Mas gostaria que me aceitasse como sou, agora.

— Não há nada de errado com a sua aparência... ou com você. – ele disse, aproximando-se para um abraço – Sou eu quem espera que me aceite como sou, de verdade. Uma completa confusão de sentimentos e reações. – afagou os cabelos dela quando sua face repousou em seu peito – Eu não sei como fazer nada disso, mas quero tentar com você.   

— Eu nunca vou machucá-lo, eu garanto. – ela sentiu uma lágrima anunciar um pranto, estava feliz, agora que o tinha de verdade e completamente.

Ali, só havia eles, uma cabana e os efeitos lunares.


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Notas finais do capítulo

E então? Eu adorei ter escrito. Me deixem saber o que acharam!!
Um beijo!!!



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