Hermione socou a ponta da mesa, irritada. Era óbvio que aquilo não era apenas um bloqueio, era mais do que isso, só não sabia como poderia classificar. Havia passado por diversos bloqueios criativos desde que havia começado a escrever. A todo o momento os tinha, seja por algumas horas, por dias, ou meses, ou anos. O problema, naquele momento, não era esse. Talvez estivesse cansada, ou apenas não gostasse mais do que fazia.

Levantou-se e andou até a janela de seu apartamento, frustrada por não conseguir. Cansada de estar daquele jeito. Irritada por saber que já não era ela mesma há séculos.

A paisagem a acalmou consideravelmente, ainda deixando a frustração alavancar em seu peito. Sem conseguir alcançar sua paz, Hermione Granger buscou por seu celular e digitou o número da única pessoa que poderia ajudá-la naquele momento. Seu terapeuta.

— Alô? Hermione? — Ela ouviu a voz mole por trás da linha e soube que o havia acordado.

— Desculpe. Desculpe. Eu realmente preciso de ajuda.

— Como você está? — Sua voz pareceu se recompor rapidamente, fazendo a perguntar soar muito profissional aos seus ouvidos. Hermione sentiu como se estivesse na clínica, completamente confortável.

— Nada bem. Eu não consigo escrever. Parece que me perdi de mim mesma — falou, afastando-se da janela e levando a mão até a têmpora, massageando calmamente enquanto fechava os olhos e buscava as palavras.

— Consegue entender o sentimento? Classifique para mim.

— Sim. Sim! Estou 40% frustrada, 50% irritada e 10% completamente cansada. Psicologicamente. Eu realmente pensei em me jogar da minha janela há alguns segundos — contou, fazendo seus olhos lacrimejarem um pouco.

— Hermione, não se cobre tanto. Fale para mim: por que está irritada?

— Porque estou frustrada.

— E está frustrada por que...?

— Porque não consigo escrever! — Hermione andou de um lado para o outro em seu quarto, buscando controlar sua mente e manter o foco naquele momento.

— E por que não consegue escrever? — ele perguntou, fazendo-a ficar em completo silêncio e parar seus passos, olhando para o teto. Por que não conseguia escrever? — Você mesma respondeu a sua pergunta, assim que pedi para classificar o que está sentindo, Hermione. Você está cansada. Tente descansar de si mesma, pare de se cobrar, deixa a sua vida acontecer, não tente controlar tudo.

Hermione deixou algumas lágrimas caírem e voltou a andar pelo quarto com passos menores. Mesmo que ainda sentisse a frustração em seu peito, sentiu também um misto de agradecimento por saber que sempre o teria quando precisasse. Poderia estar do outro lado do mundo, em uma de suas palestras, ou em alguma convenção, ela sabia que ele sempre estaria ali. Afinal, ele a acalmava em todas as suas crises, e isso só a fazia se apaixonar a cada dia mais pelo homem que escolheu passar a vida.

— Obrigada por estar aqui! Você chega logo?

— Prometo.

— Eu te amo, Malfoy.

Ela escutou o riso abafado no telefone.

— É, eu também, Granger.