She escrita por Baby Blackburn


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

A ideia me surgiu a notar como a música Fine Line poderia ser encaixada com a história de Remus e Tonks, o que me fez escutar todas elas novamente e atribuir um casal ou personagem para cada.
She era a única música possível para esse casal hahaha
Vou deixar o link do álbum para aqueles que não conhecem ou os que gostariam de acompanhar a história com uma trilha sonora: https://open.spotify.com/track/6SQLk9HSNketfgs2AyIiMs?si=ppvY09zLRyqvBqCn6O0DEg
Nos vemos lá embaixo ;)



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Nine in the morning, a man drops his kids off at school
And he's thinking of you, like all of us do
Sends his assistant for coffee in the afternoon
Around one thirty two, like he knows what to do

 

As marcas que a Batalha de Hogwarts deixou mudou muitas pessoas por todo o mundo bruxo. As famílias afetadas nunca mais foram as mesmas, para o bem ou mal. Apesar das mudanças provenientes da guerra, a – antes considerada grande e honrosa - família Malfoy parecia resistente a largar seus antigos costumes elitistas. 

Mesmo depois de instaurada a paz e tolerância no mundo bruxo, Lucius e Narcissa Malfoy continuaram com a missão de fazer com que seu único e valioso filho casasse com alguém que fizesse parte dos “Sagrado vinte e oito”. Draco, que nunca conheceu o sentimento de liberdade, não se opôs ao plano dos pais para restaurar a dignidade de seu nome que foi perdida ao se juntar ao lado perdedor na batalha.

Um ano após todos os acontecimentos que ainda o mantinham acordado, seus pais trouxeram até sua casa, com a promessa de um casamento, a jovem Daphne Greengrass acompanhada de perto pelos pais e a irmã mais nova. Era óbvio que conhecia a futura noiva e sua família mas, o que era desconhecido por ele e deixava suas mãos suando e tremendo era a figura ligeiramente mais baixa que era Astoria Greengrass.

Era comum que famílias puro-sangue se conhecessem desde a infância, mas fazia anos que Draco não colocava seus olhos em Astoria. Cansada de toda a história de supremacia bruxa, ela resolveu passar seus anos escolares longe da família e amigos para se tornar uma estudante da Academia de Magia Beauxbatons.

Os anos que passou por lá, se negando a seguir os passos da família fizeram com que ela fosse esquecida pela mesma não fazendo questão de ter sua companhia por perto. Mesmo com todo o descaso que tornava a atmosfera pesado ao redor da família, ela ainda tinha feito questão de comparecer no jantar de noivado da irmã.

Seu sorriso doce, apesar dos constantes ataques do pai, parecia iluminar o ambiente que, há muito, não via algo tão belo. Sabia que deveria se concentrar na história entediante que Daphne contava ao pé de seu ouvido, mas Draco Malfoy não conseguia tirar os olhos da figura solitária e esquecida que era Astoria Greengrass. Tendo a consciência de estar sendo observada, lhe lançou um leve sorriso. Sem notar, ele retribuiu. Aquele havia sido seu primeiro sorriso sincero em anos.

 

She (she), she lives in daydreams with me (she)
She's the first one that I see, and I don't know why
I don't know who she is (she, she)

 

Draco fez de tudo para afastar Astoria de seus pensamentos durante os dias solitários na mansão, sem obter nenhum sucesso. Sabia que deveria se concentrar em Daphne e em seu noivado prematuro, mas os olhos castanhos da irmã mais nova da futura esposa não saiam de sua cabeça. Nos meses que se seguiram, as famílias Greengrass e Malfoy continuaram a se encontrar para almoços e jantares, cujo o objetivo era acertar os detalhes para o casamento e o retorno dos Malfoys para a sociedade. Durante esses encontros, os noivos ficavam o mais afastados possível. Mesmo que o pensamento fosse desagradável, o confortava saber que não era o único a ter a vida controlada. 

Foi em um desses jantares que pareciam não ter fim que Draco teve sua primeira interação com a caçula Greengrass. Estava, obviamente, fugindo de seus futuros sogros e suas intermináveis perguntas sobre o futuro e a guerra quando se viu andando apressado para a frente da casa. A gravata o sufocava e sua cabeça parecia explodir, precisava de um pouco de ar fresco e uma boa dose de paciência para terminar aquela noite sem nenhum dano.

—Oi. – Uma voz suave chegou ao seus ouvidos. Astoria estava sentada nos pés da escadaria que levava até a porta de entrada. Os pés descalços e o vestido caro erguido até os joelhos. Seus olhos que antes encaravam os poucos pavões que sobraram, agora o encaravam intensamente. – Animais engraçados.

He takes a boat out, imagines just sailing away (away, away)
And not telling his mates (not telling his mates)
Wouldn't know what to say (wouldn't know what to say, to say)

Ele continuou a encarando em silêncio. As palavras ficaram entaladas em sua garganta enquanto ele encarava, espantado, a figura bagunçada da mulher na sua frente.

—Por que vocês tem pavões? – Voltou a falar quando o notou paralisado no topo das escadas. – Um gato seria mais comum.

—Meu pai nutre algum tipo de interesse por eles. – Respondeu depois de um tempo em silêncio. Afrouxou a gravata e se pôs a descer as escadas em sua direção. – E minha mãe proibiu a entrada de qualquer outro animal aqui.

—É uma pena.

O silêncio que pairou sobre os dois estava longe de ser pesado e incômodo como o que ele dividia com qualquer outra pessoa. Draco se sentou ao seu lado para observar os pavões, ou ter um pouco mais daquela sensação boa que estar no mesmo ambiente que ela lhe causava. Já havia passado alguns minutos quando sentiu uma pequena e quente mão ser posta sobre a sua gelada como mármore. Seu coração acelerou e teve a sensação de ter sido mergulhado em uma grande banheira de água quente.

—Não quer casar com Daphne. – Afirmou, com a mão ainda sobre a dele e os olhos fixados nos pavões. O olhar do garoto se demorou um pouco em suas mãos juntas antes de voltar seu olhar até a expressão serena de Astória.

She (she), she lives in daydreams with me (she)
She's the first one that I see, and I don't know why
I don't know who she is (she)

—Você não sabe disso. – Respondeu baixinho, com medo de que qualquer movimento ou fala mais brusca a fizesse quebrar o contato de suas mãos.

—Consigo ver em seus olhos o quanto gostaria de fugir desses jantares. – Disse, agora olhando em seus olhos. Um leve sorriso crescer em seu rosto. – Você faz uma cara engraçada toda vez que tem que tocar nela.

—Não faço não. – Se virou, indignado, para a garota que ria abertamente da sua cara.

—Você entorta os lábios e um ruguinha surge no meio das suas sobrancelhas, - Levantou a mão que descansava sobre a de Draco e pôs seu logo e fino dedo na ruga que surgia exatamente no mesmo lugar que ela tinha descrito. Sua mão ficou pressionando o local até que uma risada escapasse dos lábios finos do rapaz.

Ainda olhando em seus olhos, Astória descansou a mão em sua bochecha enquanto acariciava a mesma. Involuntariamente, Draco fechou seus olhos e aproximou seu rosto da palma quente dela.

—Por que está fazendo isso? – Perguntou baixinho,  apoiava a outra mão sobre o peito dele. Exatamente onde o coração pulsava. – Por que está indo em frente com o casamento se ao menos consegue olhar para minha irmã?

—Tenho que fazer isso. – Abriu os olhos e encontrou o olhar doce e preocupado dela o encarando. – Precisamos reerguer nosso nome.

—Você não precisa viver uma vida moldada pelos seus pais. O que você quer fazer?

Houve um minuto de silêncio antes de Draco fechar novamente seus olhos e suspirar.

—Não sei, nunca tive a oportunidade de escolher.

—Talvez esteja na hora de viver sua vida por você, Draco Malfoy. – Disse segurando seu rosto em suas mãos. – Não precisa pagar pelos erros de seus pais.

Antes de ter a chance de responder, os dois foram interrompidos pela grande porta de madeira se abrindo. Narcissa Malfoy, acompanhada de perto pela Sra. Greengrass, apareceram por trás da porta. A garota foi puxada para dentro pela mãe, onde desaparataram. Astoria não voltou a frequentar os jantares na mansão Malfoy.

She (she)
She's the first one that I see (she)
She lives in daydreams with me
And I don't know why
I don't know where she is (she, she)

Já haviam se passado dois meses desde a última vez que ele viu a garota e suas últimas palavras ainda rodavam sua cabeça vez ou outra. Suspirou se olhando no espelho uma última vez. Era o dia de seu casamento e dentro de algumas horas teria que dividir a vida com alguém que nem ao menos olhava em seus olhos.

—Draco? – A voz de sua mãe o chamou da porta. – Estamos prontos.

Ele olhou para o seu reflexo mais uma vez antes de se virar e acompanhar a mãe até os jardins da mansão, onde tudo estava meticulosamente arrumado. Se pôs a esperar a noiva ao lado de seus pais e sogra. Procurou os olhos castanhos da irmã da noiva entre os convidados, mas tudo o que encontrou foram rostos frios e demonstrando indiferença.

A marcha nupcial começou e seu coração acelerou, não pelos motivos certos. A cada passo que Daphne dava em sua direção era uma lembrança de Astoria sorrindo que vinha em sua mente. A mão de seu pai apoiada em seu ombro pesava toneladas.

—Bom trabalho, Draco. – A voz de Lucius chegou em seus ouvidos no momento em que tomou coragem para fazer o que deveria ter feito quando ainda não havia sido marcado. Se desvencilhando da mão do pai e sobre as exclamações de surpresas, ele andou até Daphne.

—Me desculpe, não posso mais fazer isso. - E desaparatou.

Lives for the memory
A woman who's just in his head (just in his head)
And she sleeps in his bed (his bed)
While he plays pretend (pretend)
So pretend (pretend)

Não fazia ideia do por que ter ido parar no Caldeirão Furado, mas algo em sua mente gritava que o motivo era a mais nova moradora do lugar. Passou os olhos pelo lugar praticamente vazio e escolheu uma mesa afastada o suficiente para não ser incomodado por ninguém mas que ainda lhe desse uma bela visão de quem entrava no lugar.

Pediu uma cerveja amanteigada e esperou, mesmo que não soubesse exatamente o que. O barulho da porta se abrindo o despertou de seus pensamentos. Olhou para trás e encontrou os olhos castanhos acompanhados de um leve sorriso. Vestia uma roupa trouxa de inverno, devido ao frio que fazia do lado de fora. Suas mãos estavam escondidas nos bolsos do casaco e os cabelos cobertos pela touca do mesmo. Astoria acompanhou seu olhar até estar sentada na cadeira em sua frente.

—Belo terno. – Disse enquanto apoiava a cabeça nas mãos. – Me parece caro.

—Deve ser.

Eles ficaram alguns momentos em silêncio se olhando. Até que ela soltasse uma risada tirasse a touca que lhe cobria os cabelos.

—Pelas minhas contas, - Começou enquanto esticava a mão para pegar a caneca de cerveja amanteigada do rapaz – Você deveria estar em um casamento.

—Segui seu conselho.

—Ah não. – Respondeu abaixando a caneca, havia um bigode de espuma em seus lábios superiores. – Não me meta nessa história. Apenas falei a verdade e, por isso, fui expulsa da sua casa.

—Vou viver a minha vida da maneira que quiser.

—Seus pais não vão gostar disso. – Ela disse sorrindo enquanto colocava a mão fria do rapaz entre as suas palmas quentes.

—Não posso viver em função de consertar seus erros. – Respondeu sério, olhando para as suas mãos juntas. – Vou reerguer meu sobrenome por mim, pelo meu futuro. Vou fazer minhas escolhas a partir de agora. 

Astória sorriu por cima da caneca quase vazia.

—E o que quer fazer primeiro? – Perguntou segurando sua mão.

She (she)
She lives in daydreams with me (she)
She's the first one that I see
And I don't know why
I don't know who she is (she, she)

Para as famílias de puro sangue casar era mais do que uma união entre dois corações apaixonados, era um negócio. E investir em um negócio que não lhes traria recompensas não valia a pena. Astoria era o negócio sem futuro da família Greengrass. A nuvem negra que ela carregava sob a cabeça pela doença que corria em seu sangue fez com que a dedicação de um futuro promissório fosse todo dado para sua irmã, Daphne. 

Draco deveria ter notado o erro que tinha cometido logo na primeira semana, ao sair da mansão e viajar o mundo com ela. Sua vida reservada e com o peso da morte iminente fez com que a mulher segurasse a mão daquele homem que nem ao menos conhecia direito e abandonasse sua vida monótona para viver uma aventura. Ela sabia, tinha certeza, de que depois de uma semana sem as regalias que lhe eram concedidas a vida toda, Draco Malfoy voltaria para os pais e aquela que deveria ser sua esposa.

Três anos visitando os lugares destruídos pela guerra e tomados pela pobreza foram o suficiente para que Astoria acreditasse que não havia como Draco voltar atrás, e mesmo assim ela pedia que ele voltasse para casa antes que fosse tarde demais.

Astoria Greengrass e Draco Malfoy casaram em um belo dia de verão com os pés na areia de uma praia de um país longínquo e desconhecido pelos pais dos dois. A presença de ambas as famílias foi dispensada, fazendo com que a cerimônia contasse apenas com os dois noivos sorridentes. Scorpius Malfoy nasceu dois anos depois do casamento e, apesar de ter sido a maior felicidade que a mulher já havia experimentado, foi também o aviso de seu tempo curto na terra.

A doença que não pode mais esconder do marido foi o que o impulsionou a retomar seus estudos e se dedicar a vida de curandeiro no mundo bruxo. O orgulho que sentia por estar vendo Draco fazendo algo de sua escolha e sendo feliz ao seu lado e do filho foi aos poucos sendo destruído pela dor que sentia toda vez que o marido lhe abraçava forte e dizia que a amava.

—Vou achar uma cura para isso, Tori. – Ele dizia todas as noite ao se deitar. – Nem que seja a última coisa que eu faça.

Os dois viveram uma vida plena e cheia de alegrias. Viram seu filho nascer e crescer da maneira mais saudável e feliz que uma criança poderia crescer. Eventualmente, deixaram suas aventuras e mudanças drásticas para trás e optaram por um endereço fixo onde poderiam criar seu ponto de felicidade perto dos avós que, apesar de ainda torcerem o rosto ao verem os dois juntos, apreciavam a companhia barulhenta de Scorpius.

She (she)
She lives in daydreams with me (she)
She's the first one that I see
And I don't know why
I don't know who she is (she, she)

Draco nunca soube explicar o que lhe atraia tanto em Astoria. Talvez fosse a maneira simples como ela via as coisas ou o sorriso meigo que lançava para Narcissa e Lucius toda vez que os mesmos lhe diziam algo ofensivo. A calma que ela teve com ele no começo quando ainda estava se recuperando dos velhos hábitos. Como ela lhe dava cotoveladas toda vez que ele falava algo preconceituoso ou como ela beijava sua marca negra, a parte de seu corpo que menos gostava, enquanto dizia não se importar com o que ele tenha feito no passado desde que ele mudasse o futuro. 

Não houve um dia em que viveram juntos no qual não se amaram. Astoria Greengrass o ensinou a amar e depois lhe deu o amor em forma de filho. E talvez esse fosse a razão para ela ter surgido no seu caminho. Ela iluminou seus dias escuros com amor, comidas caseiras e músicas trouxas que grudavam na mente como chiclete e depois se foi.

A promessa que costumava fazer todas as noites levou mais tempo que o esperado e a primeira pessoa a se curar não havia sido sua Tori, mas o sorriso no rosto daqueles que tiveram mais tempo com os que amavam fez com que valesse a pena o sacrifício. No final, Draco Malfoy não pode salvar Astoria Greengrass da maldição que ela carregou a vida toda, mas pode salvar um mundo de pessoas sem esperança.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Me deixem saber o que acharam :)
Até a próxima.

Love always, BB.



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