Vou Trancar Meu Coração escrita por Crica


Capítulo 1
Capítulo 1




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DISCLAIRMER:  Esta é uma obra de ficção, sem fins lucrativos e nada nem ninguém aqui me pertence.

 

RESUMO:  “Se vou sobreviver a isso, preciso enterrar você, trancar meu coração e jogar fora a chave.”


NOTA DA AUTORA: Ponto de vista de Jo e Ellen sobre a morte de Dean. Mais uma vez, preenchendo espaços vazios.

Yami, flor, essa é pra você. Obrigada pela sugestão. Espero que goste.

 

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VOU TRANCAR MEU CORAÇÃO


O telefone celular vibrou insistentemente sobre o balcão da pequena cozinha do apartamento alugado.

A  mulher deixou o pano de prato de lado e diminuiu a pressão do fogo sob a panela, onde havia um refogado fumegando.

_ Bobby? – Atendeu ao perceber o nome brilhando azulado no ID do pequeno aparelho.

“Olá, Ellen” – a voz conhecida a cumprimentou, mas foi direto ao assunto, com  um certo tom de preocupação _ “Você teve notícias do Sam? Ele apareceu ou ligou por esses dias?”

_ Sam? – Estranhou _  Não falo com nenhum dos rapazes Winchester há meses – Ela puxou o banco alto de madeira e sentou-se, apoiada na bancada _ Ele não está com o Dean?

“Não, não está” – percebeu que seu amigo tinha dificuldade em manter a segurança na voz _ “Obrigado, assim  mesmo.”

_ O que está acontecendo, Bobby?

“ Não é nada” – o caçador tentou desconversar, em vão _ “Se ele fizer contato  me avise, certo?”

_ Não enrola, Robert Singer! – Ellen sentia um aperto no coração _ Se Sam não está com o Dean, algo aconteceu. Eles brigaram outra vez? Porque, se for isso, eu juro  que arranco as orelhas daqueles dois.

Não é nada disso, Ellen” – Ele gaguejou um pouco e limpou a garganta _ “Não houve briga alguma. É que... bem...

_ Você está me deixando nervosa, homem!

É que... Sam sumiu do mapa e não consigo encontrá-lo” – Bobby falou o mais firmemente que conseguiu.

_ Sei...- A mulher era esperta e soube, no exato momento, que o caçador escondia algo _ O Sam já fugiu várias vezes e você nunca me ligou apavorado atrás dele, Bobby. Dean é quem sempre liga louco da vida. E...- um mau pressentimento encheu seu coração _ Bobby, onde está o Dean?

O silêncio do outro lado da linha parecia dizer mais que mil palavras.

A mulher não podia ver os olhos do velho caçador, mas seria capaz de jurar que estavam rasos d’água naquele instante porque, a voz que tentava articular uma sentença soava totalmente batida.

“Ele se foi, Ellen” – o som de um suspiro resvalou no fone do aparelho _ “Nós o perdemos.”

_ Como assim, se foi? – espanto total _ Do que você está falando? Dean jamais deixaria o Sam – E em meio à negação, a dura realidade se descreveu diante de seus olhos _ Oh, meu Deus... Não... O pacto... Meu Deus, não...

“Dean está morto” – Dizer aquelas palavras doía como o inferno no coração do caçador – “E o Sam, bem, as coisas não foram nada fáceis para ele. Não está sendo fácil superar. Para nenhum de nós, na verdade.”

_ Oh, Bobby, eu sinto muito – uma barreira de lágrimas se acumulou, embaçando sua visão _ Eu sinto tanto...

“Eu gostaria de ter ligado antes, mas... Eu não sei... Acho que estava meio perdido também e eu prometi ao Dean que cuidaria do garoto, entende?”

_ Eu entendo – afastou o par de lágrimas que saltavam pelo rosto _ Entendo perfeitamente. Pode ficar sossegado que a qualquer sinal dele, avisarei e vou falar com alguns amigos para ver se encontro uma pista.

Obrigado, querida. Isso será de grande ajuda.”

A ligação terminou e Ellen permaneceu silenciosa, com o olhar preso a algum canto do assoalho, mergulhada em lembranças e sentimentos que sequer sabia que tinha. Seu coração estava partido, inquieto e inconsolável por aqueles dois rapazes.

Em sua mente, ela coletava momentos de recordação onde podia ver sem qualquer sombra de dúvida, os laços que uniam os irmãos Winchester. Laços feitos de sofrimento e dor, de cumplicidade e de uma necessidade de aceitação sem igual. E teve pena de ambos, dos meninos de John, por suas escolhas que os levaram a essa tragédia.

Eles não eram seus. Não eram sua carne ou seu sangue, mas sentiu a dor da perda de seus grandes amigos. Sim, porque a morte de Dean resultaria na morte de Sam.

Ali, na tentativa de re-erguer as muralhas de proteção ao seu redor, Ellen não percebeu a fechadura da porta ser destrancada e só deu por conta da presença da filha, quando esta passou a mão diante de seus olhos, livrando-a do transe momentâneo.Havia esquecido totalmente de Jo.

_ Terra chamando!- alargou o sorriso

_ Olá, meu bem – a voz embargada a denunciava

_ Algum problema? – deixou os pacotes sobre o balcão e aproximou-se da mãe _ Você está esquisita. Andou chorando?

_ O Bobby ligou – Afastou a lágrima que saltou do canto do olho, sem permissão.

_ E?

_ Os Winchester estão com problemas, querida.

_ E qual é a novidade? – a moça sorriu de lado.

_ O Sam sumiu outra vez e Bobby não consegue achá-lo – Ellen não sabia como dizer as palavras, mas sabia que como quer que fosse, faria sua filha sofrer.

_ Qualquer dia, o Dean perde a paciência e arrebenta com a cara do Sam.

_ Venha comigo, amor – tomou a mão da jovem e guiou-a para o sofá.

_ Nossa, mãe, você está mesmo estranha – apertou os olhos inquisidores_ Tem certeza de que é só pela fuga número um zilhão e trocentos do Sam que você está assim tão preocupada?

_ Não, meu bem – a fortaleza daquela mulher sofrida tinha limites e a parede brilhante umedeceu seu olhar novamente _ O Sam desapareceu da cada do Bobby há dois dias porque... bem... ele... ele está sofrendo muito, amor.

_ Sofrendo? – Jo não era burra e sabia que apesar de todas as brigas e diferenças entre aqueles caras, eles se amavam mais que tudo nessa vida e só a perda do outro o tiraria do prumo _ Ai, meu Deus... Mãe...

_ Ele se foi, querida – as lágrimas molharam o cabelo dourado da moça, no abraço de sua mãe _ Nós perdemos o Dean.

As palavras na voz de Ellen entraram pelos tímpanos de Jo, mas não conseguiam desbravar os caminhos até seu cérebro, indo e vindo, sem qualquer sentido, mantendo-a imóvel, estática, incapaz de concatenar as idéias e esboçar qualquer reação física ou emocional. Seu corpo estava em curto.

Ellen estranhou o comportamento de sua filha. Ela sabia que Jo arrastava um caminhão pelos malditos olhos verdes do Winchester e o vazio no olhar da moça não era nada comum a quem perde seu amor.

Jo afastou-se mais da mãe e levantou-se do sofá, apanhando seu casaco sem dizer qualquer palavra. Não havia lágrimas em seus olhos ou desespero em suas feições. Só um grande nada estampado no rosto jovem que se afastava, silencioso.

_ Jo, aonde você vai? – não houve resposta, ainda _ Filha, fala comigo _ tentou segurar o braço da moça, que se desvencilhou facilmente, seguindo para a porta _ Por favor, meu amor, para onde você vai? – a chave girou na fechadura e a porta bateu atrás de sua filha _ Jo! Espera, menina! O que você vai fazer, pelo amor de Deus?

Elen correu atrás da filha, mas esta já havia tomado um táxi e sumido na rua movimentada do centro da cidade.

A caçadora subiu os degraus a galope e alcançou o telefone, digitando o número da filha. Vários toques e nenhuma resposta.

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Trinta e seis horas e muitas milhas de distância levaram a filha dos Harvelle à estrada de terra batida junto à pequena cabana abandonada.

A falta de expressividade ainda estava lá, estampada na face pálida, debaixo de um céu de nuvens ameaçadoramente escuras.

Jo desceu do velho  Fiat ‘emprestado’ pelo caminho e caminhou a passos firmes, vencendo a distância até o imóvel. Circundou a casa e observou atentamente o terreno ao redor.

O mato estava alto. Quase nada do solo se podia ver. A vegetação invadia o espaço entre troncos de árvores, aqui e ali.

Caminhando, afastava o capim crescido com as mãos e seguia sua trilha, numa varredura pelo local ao qual,  tinha decidido encontrar no momento em que percebera o que sua mãe tentava dizer-lhe.

Mais alguns passos e a cruz de madeira improvisada, tocou-lhe a perna direita. Parou, encarando aqueles pedaços de matéria morta atados pelo meio, fincados no chão esquecido.

Sua mãos não resistiram ao ímpeto de arrancar as folhas que cobriam o túmulo. Um túmulo tão pobre e esquecido como a vida daquele que estava sepultado ali.

Pela primeira vez, em muito tempo, seu coração se encheu de uma dor absurda. Uma dor que a atravessou, dobrando-lhe os joelhos, que caíram ao chão.

Jo Harvelle permitiu-se, como poucas vezes em sua breve existência, afogar-se nas lágrimas que desciam teimosas sobre sua face.

O silêncio naquele lugar tornava tudo ainda pior. Tudo muito mais sofrido e desgastante. Tudo intensamente dolorido e palpável.

Naquele silêncio, abriu as janelas de suas memórias aos olhares, aos flertes, às discussões infantis que tivera com Dean. Tudo voltou  de forma arrasadora, como quem sai do olho do furacão e sentiu uma necessidade do tamanho do universo de rever seu sorriso, o brilho daquele olhar e até da insuportável mania de controlar sua vida e dar-lhe ordens. Percebeu que jamais teria nada disso outra vez. Que nunca teria a chance de sentir o gosto de seus lábios ou dizer-lhe o quanto o amava. E  isso era o pior de tudo.

O dia estava chegando ao fim.

Não havia mais lágrimas para chorar. Tinha extinguido todos os soluços e exaurido suas forças, além do que imaginava capaz de suportar.

Lá no fundo de seu coração, desejou que sua vida terminasse, mas um ronco alto e forte de motor na estrada a fez recordar do caminho que percorreram até ali, do trabalho que ainda havia para ser feito, da missão que tinham tomado para si e, principalmente da coragem que sempre admirou em Dean Winchester.

Tomou o ar profundamente e sorriu, ao sussurrar com os olhos fixos na sepultura “Se vou sobreviver a isso, preciso enterrar você, trancar meu coração e jogar fora a chave.”

O celular vibrou  insistente, no bolso do casaco. Por fim, atendeu.

_ Está tudo bem, mãe. Me desculpe. Eu sei que deveria ter atendido, mas está tudo certo agora. Logo estarei em casa, está bem? Temos muito trabalho a fazer.

 

FIM

 


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Notas finais do capítulo

Comentários são sempre bem-vindos e fazem um bem danado à saúde mental dos escritores.
Obrigada, desde já pela paciência e audiência. Bjs!