Natureza Humana escrita por Last Mafagafo


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá! Eu sei que a fanfic não é nada original, mas eu a encontrei perdida nos meus arquivos e, depois de dar uma revisada, decidi postar aqui. Para esclarecer qualquer dúvida sobre a sinopse, essa é a minha versão do que poderia ter acontecido se Donna fosse a companheira do Doutor durante os acontecimentos de 1913. Espero que você goste!



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O ano era 1913. De todos os anos em que a Tardis poderia ter levado Donna e o Doutor, ela escolheu justo 1913. Com espartilhos, golas altas, regras de conduta, e a falta de Wi-fi. Seria melhor se tivessem pousado nos anos 20, onde pelo menos eles tinham coquetéis (de preferência sem ataques de vespas assassinas) e ela conhecia a Agatha Christie. Donna se perguntou se Agatha estaria viva em 1913. Provavelmente… Mas de que adiantaria saber se ela estava presa num numa escola preparatória de garotos, num vilarejo no coração da Inglaterra? E como se não bastasse ela ainda era a babá de um Senhor do Tempo sem memórias. Maravilhoso!

 Ao menos seu papel naquela farsa seria como secretária do Doutor, vinda direto de Londres para ajudá-lo com seu livro. Mesmo sem um computador, Donna era boa no que fazia e já estava acostumada ao trabalho. Sua vasta experiência em escritórios, assim como a habilidade de digitar cem palavras por minuto finalmente viriam a calhar. Só era uma pena que ela não pudesse esfregar seu enorme talento na cara do Doutor. Além do mais, ela jamais conseguiria ser uma empregada ou professora, por exemplo. Ela acabaria matando um daqueles moleques e seria demitida mais rápido do que qualquer um poderia dizer “Homem do espaço idiota”. Bom, não seria a primeira de Donna sendo expulsa de uma escola.

— Donna? - perguntou uma voz suave e tranquila. Donna se virou para o Doutor. Não! Ele não era mais o Doutor. Agora aquele homem magricelo de cabelos castanhos era o Sr. John Smith, o novo professor de história, e ela precisava se acostumar com aquilo. 

— Bom dia, Sr. Smith - ela sorriu. Donna ainda não tinha se acostumado com a versão humana do doutor. Ela sabia que aquele era o mesmo homem, mas ele parecia diferente. Nada de cabelo espetado ou de terno risca de giz. Ele era só um cara normal de 1913, com uma gravata borboleta e a cara de idiota. Sua personalidade também estava diferente. Silencioso, tímido e delicado. Um perfeito cavalheiro de 1913. Arg! Ela sentia falta da velha personalidade efusiva do Doutor. Até mesmo quando ele se exibia como o sabichão que era, sempre falando daquela vez em que ele beijou a Madame de Pompadour, quando ele teve um casinho com a Cleópatra, ou quando ele perseguiu fantasmas com Charles Dickens no Natal (essa na verdade foi surpreendente para Donna. Quando ela sugeriu aquilo ela estava apenas brincando. Mas claro que o Doutor sendo o Doutor…).

— Está tudo bem? Você parece distraída nesta manhã - ele perguntou, claramente preocupado. 

— Não é nada! Estava só pensando, você sabe como eu sou! - ela disse, voltando a datilografar. Ela precisava ser mais cuidadosa quando estava perto de John. Apesar do Doutor ser seu melhor amigo, ele sempre tinha muita coisa na cabeça e nem sempre prestava atenção nas expressões dela. John, por outro lado, parecia sempre saber o que ela estava sentindo. Talvez fosse porque ele fosse humano - E então, o que você dizia? 

— Ah, sim… É que eu tive um daqueles sonhos de novo - ele disse, sorrindo timidamente.

— É mesmo? Sobre o que? - perguntou Donna, prestando atenção no que ele dizia.

Desde que havia chegado a aquele colégio, o humano John Smith sonhava com suas aventuras como Doutor, mesmo de um tempo em que ele ainda não conhecia Donna. No começo ela ficou preocupada que ele estaria recuperando suas memórias antes do momento certo. Ela checava o relógio de bolso todos os dias, só para ter certeza que ele ainda estava fechado. Mas depois de alguns dias, Donna se acostumou e decidiu se divertir com aquilo. Era tão difícil que o Doutor lhe contasse sobre algo pessoal e realmente importante, que Donna resolveu aproveitar a oportunidade para conhecê-lo melhor.

Um dia ele lhe contou, um pouco embaraçado, que sonhou com uma mulher loira. Ele disse que ela o chamava, mas ele não conseguia alcançá-la. Donna sabia que ele estava falando de Rose. Depois ele lhe contou de Martha e suas aventuras, e apesar de Donna já ter ouvido todas as histórias da própria amiga companheira, era interessante ouvir as mesmas histórias pelo ponto de vista do Doutor. Ela o encorajou a escrever um diário, que se tornou um dos seus únicos prazeres durante aqueles meses.

— Você se lembra do Doutor, não é mesmo? Aquele aventureiro que eu inventei.

— Claro, como poderia esquecer? O lunático dentro da caixa - ela disse, sorrindo. Donna realmente sentia saudades das esquisitices do seu amigo.

— Noite passada eu sonhei que você estava lá… E, bom… - John Smith parou. Ele não sabia bem como continuar a história sem chatear Donna. Na verdade ele mal olhava para ela.

— O que? - ela perguntou, curiosa. Finalmente ele havia chegado às suas aventuras juntos e ela queria descobrir como o Doutor a descreveria. Até então, ele havia feito um maravilhoso trabalho com Rose e Martha, cheio de elogios. Até mesmo um tal de Capitão Jack (que não deve ser confundido com o pirata) e um rapaz chamado Mickey pareciam super-heróis na narrativa de John Smith. Ela estava ansiosa para que chegasse a sua vez. E era melhor que fosse bom, ou ela mataria o Doutor quando ele recuperasse suas memórias.

— Você estava com um vestido de noiva - ele disse, corando. 

John não olhou para ela, esperando qual seria sua reação. Ele era tão fofo! Aquele adulto, um professor (um Senhor do Tempo em segredo), todo sem jeito, como se fosse um dos garotos da escola sendo pego enquanto tenta matar aula, só por causa de um sonho. Não era como se fosse um sonho erótico ou algo do tipo, especialmente se ele havia sonhado com a Imperatriz Racnoss. A menos que ele fosse como Lance e tivesse um fetiche com aranhas. Graças a Deus o Doutor apareceu para estragar seu casamento! Sem aquele palito de nada alienígena, ela teria se tornado comida de aranha.

 - E então, eu estava bonita? - ela perguntou, provocando-o. John corou no mesmo momento. Tão fofo e inocente! Donna sempre se divertia fazendo o Doutor humano corar. Ele era tão fácil… E tão divertido ao mesmo tempo. Ela quase se sentia culpada. Quase.

— Oh, sim… Estava bonita, eu suponho. Noivas são sempre bonitas - ele disse, gaguejando. Donna havia conseguido deixá-lo nervoso. 

— E então, o que mais aconteceu?

— Bom, eu me lembro que… você discutiu comigo. Depois nós estávamos num lugar alto, olhando Londres de cima, e eu… não é importante - ele ficou mais vermelho que antes - Bom... Acho que era Londres… Bom, não exatamente Londres, haviam muitas torres altas, perfurando o céu. Mas o Big Ben estava lá. Isso está ficando estranho, não é? Esquece, é besteira.

— Não! Agora que você começou, me conta até o final - ela pediu. John sorriu, feliz por não ser tratado feito louco.

— Bom, aí apareceu uma aranha enorme. E… eu acho que nós esvaziamos o Tâmisa - ele começou a rir - Isso é ridículo, não é?

— Completamente - ela disse, sorrindo, lembrando de suas aventuras com o Doutor, toda a adrenalina e diversão - A melhor coisa que poderia acontecer! 

— Você acha? - ele perguntou, admirado e aliviado, finalmente olhando para ela - Eu achei que você ficaria irritada.

— Por que? Você finalmente sonhou comigo. Eu estava ansiosa por esse momento.

— É mesmo? - ele riu - Mesmo de vestido de noiva?

— E o que mais eu poderia estar vestindo? - ela perguntou, rindo.

 Donna se lembrava como se fosse ontem do momento em que ela conheceu o Doutor e de como ela o odiou. Ela queria matá-lo por ter estragado seu casamento. Depois de todo o esforço que ela teve para levar Lance para o altar e aquele cara simplesmente aparecia com sua Tardis e acabava com tudo. Mas o Doutor era um homem genial, e ele a salvou tantas vezes que mesmo se ela tivesse outras vidas ela jamais conseguiria retribuí-lo. Era bem verdade que ela teve medo dele, dos aliens e tudo aquilo que ela havia aprendido naquele dia, e por isso ela recusou segui-lo quando ele a convidou, como a idiota burra que ela era. Mas ela se arrependeu e procurou pelo seu alienígena numa caixa azul, por todos os lugares, sempre esperando e olhando para as estrelas, para quem sabe, ver uma Tardis voando pelos céus. Conhecer o Doutor havia sido a melhor coisa da vida dela. 

John corou e se levantou, caminhando pela sala. Ele sempre fazia aquilo quando falava de seus sonhos. Ele ficava algum tempo perdido e Donna pensava por um segundo que ele se lembraria de tudo. Ele então pegava o relógio de bolso sobre a lareira, o revirava nas mãos, mas depois o devolvia ao lugar, como se não fosse importante. E então ele simplesmente mudava de assunto e Donna se lembrava que aquele homem era apenas John, o humano.

— Você já tomou seu café? - ele perguntou, curioso.

— Já. Hoje eu acordei bem cedo.

— Não vá me dizer que você foi até a cozinha de novo - ele disse, cruzando os braços.

— É claro que eu fui! Onde mais eu poderia tomar o meu café? 

— Donna, nós já falamos sobre isso, eu não acho certo que você se misture com os criados. As pessoas têm reparado que você tem andado próxima com aquela moça, Jenny.

— Ei! Desde quando eu me importo com a opinião das pessoas? E Jenny é uma ótima amiga - ela disse. John Smith levantou uma sobrancelha, como ele sempre fazia quando Donna era rude demais. Ainda assim, ela manteve seu argumento. Ela não tinha falado nada de errado. Se o Doutor estivesse alí, ao invés desse John Smith, ele concordaria com ela - Sr. Smith, eu sou apenas sua secretária, mais uma empregada, assim como Jenny e as outras meninas.

— Você não é só uma empregada - ele disse, olhando diretamente para os olhos azuis da ruiva. Donna sempre sentia um arrepio quando ela a encarava assim.

— Talvez para você, Dou… Sr. Smith, mas para todos os demais eu sou apenas sua funcionária. Além do mais, eu me sinto muito mais à vontade com as meninas da cozinha do que com esses professores daqui. Andando para lá e pra cá com os narizes empinados, como se fossem os donos do mundo… O que tem de bom nisso?

Ele sorriu, desistindo da discussão. Uma das vantagens da versão humana do Doutor era que ele sempre a deixava ganhar, não importa o que estivessem discutindo. Era uma das coisas que ela sentiria falta quando eles voltassem ao normal. O Doutor jamais admitia derrota, mesmo quando ela estava certa. No máximo ele se calava e a observava com aquela expressão de “Eu não tenho como contra-argumentar o que você disse, então só vou mudar de assunto”.

— Você não vai para a sala? Os meninos já estão chegando - disse Donna, olhando pela janela.

— Ah, sim… Já está na hora, não está? - ele suspirou - Bom, acho melhor eu ir andando. Nos vemos mais tarde?

— Claro. Estarei aqui. Trabalhando, como sempre - ela disse.

Ele sorriu, vestindo a capa e o capelo. Donna teve que segurar o riso. Já havia mais de um mês que haviam chegado lá, mas ela não conseguia se acostumar com o Doutor vestindo aquilo. Ele parecia tão ridículo! Ele a observou por um momento e sorriu, saindo de seu escritório. Ele sempre fazia aquilo, sempre a observava com olhos de cão abandonado antes que eles se separassem por qualquer motivo. Era como se ele não quisesse ficar longe dela, como se soubesse que ela era a única pessoa que o conhecesse de verdade. O que ela realmente era.


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