Salada Mista escrita por Sadie Ketchum Potter


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Oláááá!! Tem muito tempo que não publico nada aqui, espero que gostem!! Não é fanfic deles jovens, ok?

Boa leitura!



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A escola sempre fora um lugar curioso para as crianças. Os estudos os ajudavam a conhecer o mundo sem precisarem sair das cadeiras (mas nada os impedia de irem a outros lugares por vontade própria), e a interação com os colegas de classe sempre despertava sentimentos, fosse raiva ou fosse alegria. No caso de Mônica, Cebolinha costumava lha despertar uma raiva imensa, geralmente porque ele roubava e dava nós em seu coelhinho azul de pelúcia Sansão. Naquele instante, a raiva acumulada tinha outro motivo: as bolinhas de papel atiradas na cabeça dela, e feitas por ele.

A professora estava de costas, escrevia na lousa sobre como montar poemas com as rimas e as estruturas, os alunos copiavam em seus cadernos com os lápis de escrever e junto das letras garranchadas que os pequenos de oito anos tinham. Por conta disso, Mônica não conseguiu pedir ajuda, e permaneceu sendo acertada pelas bolinhas.

— Esse sinal não vem logo? - A dentucinha murmurou enquanto copiava o poema em seu caderno.

Para a chegada do sinal demoraram ainda 20 minutos, e durante o período de aula os alunos prestaram atenção às falas da Professora Bia. Quando o precioso som recoou pelo Colégio Limoeiro, as crianças pegaram seus lanches (ou o dinheiro para comprar os mesmos) e desceram, com exceção de Mônica, que pegou Cebolinha pela gola e o prensou contra a parede, ameaçando socá-lo.

— C-calma Mônica! Foi só uma blincadeila! - O garoto suava frio e tremia.

— Brincadeira vai ser quando eu enfiar meu punho nesse seu rostinho!

— Eu palo com as bolinhas, eu julo!

— Jura por quem? - O tom de voz ameaçador dela se fez presente, enquanto sua mão direita se aproximava.

— Pelo Floquinho!

Quando se tratava do cachorro de pelagem verde, a garota sabia que o colega troca-letras não estava mentindo. Mônica o soltou, abaixou seu punho e viu Cebolinha correr sala de aula afora, voltou para sua carteira e pegou a lancheira, indo fazer o mesmo que ele. Enquanto caminhava em direção à porta da sala, viu Magali aparecer com um sorriso de boca fechada e de bochechas cheias, sinalizando que mastigava algo, provavelmente a maçã que a mãe lhe enviara para comer.

As amigas desceram lado a lado, com a dentucinha explicando sua demora para sair para o intervalo. A mais alta deu uma risada baixa, estava acostumada com as discussões dos amigos, até mesmo nas aulas. Sempre brigavam, e apesar de tudo ainda eram bem amigos.

— Eu soube que o pessoal tá se organizando pra jogar Pera, Uva, Maçã ou Salada Mista. - Magali falava enquanto acompanhava a amiga e devorava outro pedaço de maçã. - Quer jogar?

— Pode ser, talvez assim eu consiga dar um beijo no Fabinho...

Não muito longe dali, Cebolinha se encontrava sentado ao lado de Cascão. Os amigos terminavam de comer para assim poderem brincar com os outros de Pera, Uva, Maçã ou Salada Mista. Assim como Mônica e Magali, ficaram sabendo da novidade espalhada de forma secreta para a molecada da sala.

Xaveco foi o responsável por organizar tudo, começou quando Xabéu, sua irmã mais velha, o questionou sobre a brincadeira. O loiro fez uma expressão de curiosidade no dia, e perguntou como aquilo funcionava, para sua sorte sua irmã prontamente o explicou: uma pessoa tapava os olhos de outra pessoa, e os outros integrantes do sexo oposto formavam uma fila de frente para quem estava tampado. A pessoa sem enxergar apontava para escolher alguém às cegas, e quando parado em alguém, ela deveria optar por pera, uva, maçã ou salada mista. Pera era aperto de mão, uva equivalia a um abraço, maçã um beijo na bochecha, e salada mista um simplório selinho que significava muito para as crianças.

— E então careca, quer salada mista com quem?

— Óbvio que com a Calminha Fluflu! - O troca-letras disse empolgado, já se levantando e tirando a poeira da roupa. - Eu soube que vai ser atlás do plédio do colégio. Vamos indo?

— Claro! - Cascão também ficou de pé, e seguiu ao lado do amigo.

No meio do caminho viram Mônica e Magali terminando de comer seus lanches durante o trajeto, seguiram elas para detrás do prédio, uma parte isolada com gramado e árvores onde estavam alguns colegas de sala. Xaveco, Denise, Carminha, Cascuda, Marina e Fabinho, até mesmo pessoas mais velhas como Franjinha, Jeremias, Aninha, Quinzinho e Titi decidiram participar da brincadeira. A primeira fileira foi formada por meninas, e a primeira criança a escolher foi Xaveco, já que organizou o jogo e foi quem deu a ideia. Cebolinha tapou a visão dele, o garoto loiro rodeou seu dedo indicador no ar até ele parar apontando para Marina. Ele olhou a menina de cabelos cacheados e pronunciou um maçã, seguiu até ela e a beijou na bochecha direita, causando um rubor nas maçãs do rosto de Franjinha, notoriamente enciumado.

O revezamento começou, eram os meninos quem faziam fila agora, e Denise é quem escolheria. Carminha cobriu os olhos da amiga com as mãos, a garota de marias-chiquinhas passou o dedo de um lado para o outro no ar e fixou sua direção em Quinzinho, logo pronunciou um "pera" em alto e bom tom.

O jogo foi seguindo conforme o tempo passava, Franjinha escolheu uva com Carminha, Aninha optou por salada mista com Titi, assim como Cascão com Cascuda. Era a vez de Mônica ir e ficar sem visão para os garotos, eles formaram fila e Magali foi tampar a visão da amiga.

"Por favor, que seja o Fabinho!" - Ela implorava em seu pensamento.

O garoto loiro dos olhos azuis engoliu em seco ao ver que o dedo da dentucinha apontava para si. Sabia da paixão (nada) secreta que Mônica e quase todas as meninas tinham por ele, e com certeza ela pediria uma "salada mista" para finalmente dar um primeiro beijo. A menina se aproximou devagar, seu sorriso aumentava a cada passo e logo proclamou "quero salada mista para desgosto do garoto.

— De jeito nenhum eu vou beijar essa dentuça feiosa! De você só aceito uma Uva no máximo! - Fabinho fazia caretas e tentava afastar-se da menina.

Aquela fala entrou nos ouvidos de Mônica junto com a risada de Carminha e de alguns outros que viram graça no ato desrespeitoso, desceu por sua garganta (deixando um nó por lá) e logo atingiu o coração com força. Ela queria chorar mais que tudo naquele instante, mas antes disso enfiou seu punho direito no rosto perfeito de Fabinho Boa-Pinta, deixando um hematoma roxo no olho do menino. A dentucinha respirou profundamente antes de sair correndo para o banheiro, sendo seguida por Magali no mesmo segundo.

Por incrível que pareça, de todas as crianças que estavam sérias havia uma que simplesmente estava incrédulo, e este alguém era o troca-letras que tanto a perturbava. Ele encarou aqueles que riam e também o Zé Bonitinho mal-educado de sua turma.

— Isso não teve glaça...

— Peraí Cebolinha, é você mesmo? Você tá defendendo a Mônica? - Carminha riu ainda mais alto, e logo colocou a mão sobre a barriga por conta da dor que sentia de tanto rir. - Logo você, que tanto irrita ela?

— Bem que todo mundo diz que você gosta dela... - Complementou Denise que também ria.

Cebolinha ruborizou forte, saiu com Cascão daquele espaço e foram atrás das outras meninas. O menino de cinco fios de cabelo saiu batendo perna até os banheiros, logo em seguida pararam e escoraram as costas na parede.

— Calma Mônica, não fica assim... - Escutava-se a voz de Magali tentando acalmar a melhor amiga dentro do banheiro feminino.

— Ninguém vai gostar de mim nunca, não é?! Por que?! O que eu fiz?!

Os soluços da dentuça sobressaíram o restante de suas frases, um aperto no coração dos garotos (principalmente no de Cebolinha) quase os fizeram entrar no lugar mesmo que fossem proibidos. O garoto troca-letras e o garoto sujo se entreolharam, queriam animá-la de algum jeito, todavia as ideias que sempre borbulhando sua mente haviam sumido. Quer dizer, por um pequeno momento.

— Eu tive um plano. E esse vai ser infalível.

Cascão engoliu seco, apenas imaginando o que iria acontecer.

[...]

Dois dias passaram desde o ocorrido. Mônica ia para a escola com certa vergonha, e no intervalo ela e Magali brincavam de Adoleta ou pular corda. A única coisa que estranharam foi o fato de Cebolinha ter parado de provocá-la com bolinhas de papel e afins, apenas a cumprimentava ou se juntava a elas na brincadeira de corda, e com ele vinham Cascão, Cascuda e Quinzinho.

Com relação a Fabinho e o soco em seu rosto, a mãe do garoto achou a atitude da menina absurda, e por este motivo contactou a mãe de Mônica fora da escola. Ambas conversaram seriamente, e logo Dona Luisa teve de pedir a filha para ser menos violenta, e também para ser mais feminina.

Sua mãe seria menos violenta se tivesse os sentimentos esmagados?

Era hora do intervalo, as crianças foram procurar a corda para brincarem de Reloginho. Cebolinha virou e pediu que Mônica fosse buscar, já que ela havia terminado o lanche antes de todos.

— Tá legal, escutem com atenção o meu plano! - Ele anunciou para os outros companheiros.

— Plano? Mas que plano? - Questionou Cascuda.

— Escuta que é genial! - Respondeu Cascão, sorrindo de canto a canto.

Mônica regressou após alguns poucos minutos, e logo encarou os amigos que tinham olhares travessos. Ela arqueou suas sobrancelhas e tentou entender o que se passava na cabeça deles, em vão, já que não conseguia ler pensamentos.

— Que tal jogarmos Pera, Uva, Maçã ou Salada Mista? E relaxa, ninguém vai tirar sarro! Até porque o Fabinho e a Carminha faltaram hoje! - Disse Magali, tentando passar segurança no sorriso que transmitia.

A dentucinha torceu o nariz, recuou alguns passos e permaneceu pensativa. Por um momento pensou em negar a proposta, entretanto algo a fez mudar de ideia: o fato de que aqueles eram seus amigos, e eles eram de confiança, não a machucariam de forma alguma.

— Tá bem... Vamos.

Eles a levaram, entrelaçaram os braços e chegaram atrás do prédio formando uma corrente, logo se desfizeram e observaram os outros colegas que brincavam. Mal tinham começado, e Denise tinha sido a primeira, pedira Maçã com Titi, depois Franjinha pediu Salada Mista com Marina e Jeremias optou por Uva com Aninha.

— Podemos jogar? - Perguntou Quinzinho.

— Claro! - Falou Franjinha. - Quem quer ir depois?

— Posso ir! - Cascuda pronunciou-se e ficou de frente para a fileira de garotos, e logo teve sua visão tampada pela desenhista da turma.

Ela rodeou seu dedo pelo ar e parou em Franjinha. Pensou um pouco e pronunciou a palavra uva, andou em direçãoà fileira para abraçar o menino.

Cebolinha não disse nada e logo ficou na frente das meninas, que assim como os meninos formaram uma fileira. Cascão correu até o melhor amigo e cobriu seus olhos com as mãos, e assim o garoto de cinco fios de cabelo foi rodando pelo ar. Quando o dedo parou de frente para Mônica, Cascão apertou um pouco o rosto de Cebolinha e este apenas pediu para parar.

A dentucinha, ao ver que era a escolhida, começou a tremer um pouco, arfava de leve e temia pela possível humilhação. Se Fabinho, que nem fazia nada com ela fora da escola, teve aquela reação, imagine o troca-letras que a importunava diariamente roubando seu coelhinho e a xingando.

— Quelo Salada Mista. - Cebolinha disse em alto e bom tom, deixando aqueles que não sabiam do plano boquiabertos.

Os olhos de Mônica ficaram arregalados, sua tremedeira parou e deu lugar a uma estaticidade. Ela não estava acreditando, e continuou desacreditada até quando o garoto se aproximou dela.

Quando estava um pouco mais acordada para a realidade sentiu algo estranho nos lábios. Era a boca de Cebolinha. Aqueles cinco segundos talvez tivessem sido os mais longos de dia vida até aquele momento. Foi uma sensação mágica, porém extremamente maravilhosa, ficaram de olhos fechados a todo instante, e quando os abriram já estavam separados e vendo a reação de todos. Agora até mesmo quem sabia da ideia ficou surpreso, não imaginavam que os dois iriam gostar.

O sinal não demorou para tocar, na verdade até pareceu ter tocado mais cedo que o normal.

[...]

Era por volta das três horas da tarde, a maioria das crianças brincava na rua ou no campinho. No caso, Mônica, Magali e Marina pulavam corda, enquanto os garotos haviam acabado de se encontrar no campinho para jogarem futebol.

— Gente, um minutinho só, preciso falar com o Cebolinha! - Anunciou Mônica, amarrando a corda em uma árvore.

— Vai pedir ele em casamento é? - Questionou Magali, brincando com a melhor amiga e mostrando a língua.

As três riram, enquanto a dentucinha negava com a cabeça. Ela andou até os garotos e chamou o garoto de cinco fios para um canto, pretendendo ter uma conversa breve.

— Por que fez aquilo?

— A-aquilo o que?

— Me beijou. - Ela ficou com as maçãs do rosto totalmente vermelhas.

Ele demorou um pouco, mas após um profundo suspirou se explicou.

— É estlanho, mas eu me incomodei com o que fizelam com você no outlo dia... E eu achei que selia um bom jeito de dar a volta por cima...

Mônica riu baixo. De certa forma queria dizer que Cebolinha tinha sentimentos por ela. A menina se aproximou devagar e beijou a bochecha dele, logo disse que iria voltar a pular corda, acenou para seu "amante secreto" e voltou a brincar. O menino, após algum tempo estático, fez o mesmo que sua "amante secreta" e foi jogar futebol.


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