Destrutivo

Uma pequena luz eu via, viva e brilhante que parecia me chamar aquela luz exalava vida e aconchego, algo que não lembro de ter em minha vida. No momento em que vi aquilo, tentei me lembrar de algum momento em que me senti bem, infelizmente, todos eram da minha infância, com a minha mãe que acabou não sendo minha mãe de verdade, e tudo passou pela minha mente em alguns segundos. Destrutivos segundos.

Vida que eu não tinha, vida que não existiria mais para mim, vida que me fora privada, sonhos que foram destruídos, amores que nunca tive ou jamais teria. Eu havia passado por muita coisa que de nada significavam, não alcancei nada do que propus a fazer e dos poucos momentos que se chama-se felicidade, passei ao lado de minha mãe, ao que infeliz destino não se encontra mais entre os vivos, pior mesmo é que nem em seu enterro eu pude ir, fiquei trancado, trancado pelas mãos que eu julgo tanto amar. Sozinho, vivi e sozinho continuei, a única pessoa que ligava para mim veio a perecer.

Não acho que eu vá fazer falta, eu sabia que minha vida estava se esvaindo conforme aquela luz aumentava e parecia vir de encontro a mim. Não sabia para onde eu iria, para Valhalla? Ou para o submundo? Ou para lugar nenhum? Em Vahalla veria meu pai, aquele que mentiu para mim e me fez essa criatura que sou hoje, nunca houve amor, eu era apenas uma moeda de troca um Jotun criado como príncipe Asgardiano que nunca poderia governar. No submundo encontraria ela Hela, não sei o que ela teria para mim. Ou apenas vagaria na escuridão ou na luz?

Eu amei, amei sim, aquele que eu deveria chamar de irmão que com a boa sorte que tenho se apaixonou por uma mortal, apesar de que todo esse tempo guardei esses sentimentos pra mim, escondendo tudo em tiradas sarcásticas e tentativas vãs de brincadeiras e morte, tudo era brincadeira para ele, o justo e idiota do Thor, onde já se viu alguém como eu amando ele, mas aqui estamos não é mesmo, morrendo. Morrendo para que ele vivesse e feliz.

Nunca me imaginei fazendo essas coisas antes, eu Loki dando a vida por uma mortal sem graça apenas para que esse idiota fosse feliz com ela. No entanto, foi isso mesmo que eu fiz. Me pergunto porque sofri tanto.

Tudo isso por quê? Porque apenas eu decidi fazer algo inesperado, algo que poderia me trazer benefícios, mas me trouxe a destruição. Aquilo que eu odiava mais que tudo, e se tornou o meu mais perfeito amor. Um amor tóxico, que me arruinou mais do que tudo e me fez fazer coisas que as pessoas dizem ser ruins.

Porque fiz aquilo? Simples o que eu queria era governar um dos mundos, somente um apenas, existem nove porque eu Loki Odinson não posso governar um deles? Apenas um é pedir muito, o trono de Asgard foi negado a mim, e entregado de bandeja a um ser idiota ao que a palavra que mais o caracteriza seria troglodita que eu amava. E meu rancor, ódio, raiva e sim amor me fizeram querer aquilo, aquele reino e foi onde eu tentei conquistar que ele encontrou ela, Jane Foster a mortal.

Eu apenas queria aquilo que ele disse existir, conhecer e ter por aquela humana, aquele amor que Thor tanto vangloria de sentir eu queria que ele sentisse por mim. Não sei o que é isso, não sei o que é ser correspondido, não seu o que isso quer dizer, a única que me amava era minha mãe, e o homem que eu amo nem ao menos pensa e mim como uma opção valida. Para ele eu sou apenas o irmão traidor que mata e rouba para ter poder, entretanto, não sabe o que eu sou de verdade, ninguém sabe, eu não deixei ninguém se aproximar de mim o suficiente para ver além das ilusões criadas por mim.

E vê-lo daquele jeito por ela e não por mim, num prazer mórbido e destrutivo que me transforma na mais vil das criaturas. Eu senti raiva, ódio e quis matá-la, no entanto, também sou ambicioso demais para o meu bem e tudo se transformou completamente. Naquele mundo ele tinha certos amigos, amigos dos quais eu também quis matá-los ao o vê-lo sorrir ao lado deles, sorrisos que não iam nunca para mim, nunca foram.

Eu me destruía mais a cada dia, foi o que me tornei um ser destrutivo, aquele que destruía a si mesmo e aos outros a sua volta em puro ressentimento. Eu o odeio Thor...

Desejei ardentemente me sair bem, e acabar com cada um deles, e ver a felicidade de meu querido e amado irmão Thor minada assim como eu estava sendo. Meus sentimentos, minha raiva falavam mais alto, o ódio me corroía, e ainda corrói completamente.

Odeio totalmente aquele homem, só que por um ato de autodestruição eu o amo da mesma medida. Sim, eu o amo, e o odeio. Odeio aquele sorriso de dentes brancos, o jeito feliz que ele trata a todos inclusive a mim mesmo quando eu apronto coisas, como o dia que me transformei numa cobra e tentei atacá-lo. O que odeio mais naquele ser irritante, e o fato de ele sempre ser melhor que eu.

Tudo piorou quando apareceu com a ideia de ir atrás da mortal e ainda mais para salvá-la, e ainda teve a coragem de vir me pedir ajuda, e ao ponto de me tirar da prisão que ele mesmo colocara, com sua ideia idiota de justiça, justiça para quem?

E eu cedi ao ver aquele olhar perdido em seu rosto, e eu nunca admitiria isso, mas não sei negar algo a ele, nunca consegui. Mesmo que por causa dela e de seus amigos eu estava preso em primeiro lugar, palavras sarcásticas eu as usava, elas me impediam de expor o que eu sentia verdadeiramente por ele.

No entanto, eu vi algo que me desestruturou de uma forma que eu nunca imaginaria, eu soube de verdade que ele a amava, vi em seu olhar algo que eu não queria ver, não em relação a ela e sim a mim. Ele a amava, e amava muito, muito mais do que eu poderia pensar, acho que ainda mais que eu. Senti-me ainda mais destruído, rejeitado e triste, parecia que não havia me sobrado mais nada, eu poderia conquistar vários mundos, entretanto, nunca o teria. Eu não podia fazer mais nada, apenas ajudá-lo ele em relação a isso, ajudar a mulher que roubara o coração do homem que eu amava e meu irmão. Eu apesar de tudo queria a felicidade dele, eu não seria capaz de fazê-lo feliz, nunca fui.

Aquela era a mortal nojenta que tinha o coração do meu mais amado homem, naquele momento estávamos tentando fazer uma armadilha que estava dando muito errado. Ela era a isca, íamos fingir entregar o Eter que estava dentro dele e estava a matando. Olhei para ele e vi a preocupação e a tristeza que se passou pela sua face, eu não queria ver isso, não queria pensar nisso, não queria que ele sofresse. Não pensei, só agi. Agi sem pensar pela primeira vez na vida, e acabei entrando na frente dela. Me feri, e doeu muito, mas nada se comparou ao que senti depois.

Ela olhou para mim assustada, porém, eu só vi aqueles fios loiros esvoaçando ao vento, e ele veio correndo para mim ali caído no chão, e pela primeira vez eu o vi preocupado comigo, ali me olhando com amor, fraternal, mas ainda era amor.

—Thor... - Murmurei sem muita força.

—Me desculpe. - Pedi.

Não consegui ouvir o que ele dizia para mim, somente vias seus orbes azuis, e uma tristeza não queria ver em seu rosto e foi por isso que a salvei. E ainda sim não foi o suficiente ele estava sofrendo.

Minha atitude foi em vão, porque ele continua triste e agora triste por mim, mesmo que num lugar mais louco do meu coração apaixonado e tóxico, eu estava pelo menos feliz, uma mísera felicidade Thor estava triste por mim e não por ela, acho que no fim de tudo eu a salvei mais por mim do que pela vida da humana, a quem eu quero enganar, foi por ele.

—Te amo irmão! - Olhou para mim e lágrimas desciam ocasionalmente pelos seus olhos azuis. A tristeza estampada ali era grande e de qualquer forma era para mim, era a mim, Loki, eu estava ali, ele estava pensando em mim, somente em mim. Vi os cabelos ruivos da garota perto de mim também, mas não importava.

—Eu vou dizer ao nosso pai tudo aquilo que você fez Loki, ele vai saber… - Ouvi ao longe ele murmurar entre as lágrimas, sua voz estava diferente com certa leveza de carinho, algo ele estava sentindo carinho por mim? Acho que ao menos na minha morte eu soube o que era ter isso da pessoa que eu amo, mesmo que seja poucos momentos embargados de tristeza e remorso.

Meus olhos se fecharam, mas eu estava feliz, porque eu finalmente consegui dizer, pena que ele não sabe o quanto nem como eu o amo, deve pensar que é apenas de forma fraternal. Eu sei que ele ainda será meu, meu para sempre, ela pode ter ele agora, mas Thor ainda é meu e sempre será meu... Amor! Thor você é meu, não importa o que aconteça, nem onde eu esteja, nem que eu tenha que voltar dos mortos, ou fazer um pacto com Hela ou matar o Garm para sair do submundo você será meu… Ainda mais longe de onde eu estava agora ouvi um grito de pura dor de Thor, mas eu já não estava mais lá.

Eu me senti seguindo em direção a luz, agora tudo estava frio não era mais acolhedor, tudo estava frio e eu vi o rosto de Hela, a metade bela e metade em decomposição, ela me aguardava em seus portões ao lado do cão Garm.

Porém… Eu disse que voltaria não disse…?