Perdidos escrita por Rayssa


Capítulo 1
Dreams


Notas iniciais do capítulo

Faz 1 milhão e meio de anos que não venho aqui, então, espero que gostem.



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Nos meus sonhos, estamos acampados no meio da floresta, está chovendo muito e trovejando. Ela usa uma camisola longa e branca que contrasta com seus cabelos vermelhos embaraçados. Entre raios e trovões, ela vem até o minha cabana, ensopada, seus olhos apavorados estão marejados e seus lábios tremem, assim como todo seu corpo. Ela tem frio e medo, e sou a única pessoa a quem ela pede socorro. Eu sinto o seu corpo encaixar ao meu, seus braços agarrarem a camisa em minhas costas, meus braços a envolvem e parece que aquele é o lugar ao qual eu pertenço.

— Vai ficar tudo bem. - Eu sussurro. - Tenho certeza que vai ficar tudo bem.

E logo estamos deitados em meu saco de dormir, seu corpo aninhado ao meu, exatamente como deve ser. 

Então, acordo e ela não está lá.

Sempre acordo chorando. Sinto um vazio existencial desesperador, e a única resposta sensata a aquele sentimento é deixar as lágrimas descerem pelo meu rosto. O sonho começou no final de fevereiro, exatamente no dia do aniversário dela, e demorei bastante para voltar ao mundo real, demorei a entender que aquilo era uma fantasia que não fazia o menor sentido. Rose Weasley jamais me pediria ajuda, nem que a sua vida dependesse disso. Eu sou a pessoa que ela menos gosta no mundo inteiro e se ela tivesse que escolher entre morrer de frio e ir até a minha cabana, ela morreria sorrindo só para provar um ponto. Não que eu gostasse muito dela, contudo, por alguma razão, depois que esses sonhos começaram, não consigo tirá-la da minha cabeça, ao ponto de pensar seriamente que estou ficando louco. 

Cheguei a passar uma tarde inteira a observando. Enquanto ela lia a beira do lago, eu a desenhava da maior distância que eu podia sem ela imaginar o que estaria fazendo. Albus notou, e teve uma séria conversa comigo sobre stalkear pessoas, principalmente a sua prima. Desde então, comecei a evitar Rose de todas as formas possíveis, evitando até fazer refeições nos mesmo horários que ela. Ainda assim, ela não sai da minha cabeça, e não consigo parar de desenhá-la, mesmo sabendo que nunca consigo fazer nada remotamente parecido.

É exatamente isso que estou fazendo quando a voz do professor Macmillan chama o meu nome durante a aula de transfigurações.

— ..., Malfoy!

Levanto o rosto imediatamente e vejo que todos estão me encarando com sorrisinhos sarcásticos, inclusive Rose. Seus grandes olhos azuis me encaram em desafio e por alguns segundos, deixo minha mente vagar pela intensidade daquele olhar, pela profundidade daquele límpido céu. Nunca havia reparado como eles eram bonitos e entendo que aquela é, provavelmente, a razão pela qual meus desenhos nunca capturam a essência dela.

— O que? - Respondo no automático, ainda sem olhar para o professor.

— Ora, acredito que sinta que está muito à frente da matéria, já que não está prestando atenção em nada do que ensinei a aula inteira. Então, com certeza, pode me explicar sobre a quinta exceção às leis de Gamp relacionada a transfigurações humanas, e parar de namorar a senhorita Weasley em minha sala de aula.

Rose, boquiaberta e com suas orelhas vermelhas, vira imediatamente na cadeira e, eu, bem, completamente desnorteado, olho em direção ao professor, sentindo meu rosto pegar fogo. A sala inteira começa a gargalhar e é repreendida pela professor Macmillan.

— Professor, não estou... - Tento concertar - Eu e a Rose não...

— O seu relacionamento com senhorita Weasley pouco me importa. Responda a pergunta! - Exclama, o olhar e a postura rígida.

Por mais que eu tentasse responder a pergunta, meus olhos estavam virando em direção a Rose que só pela forma como seus ombros mexiam, eu sabia que estava furiosa, então, mesmo sabendo que a quinta exceção a lei de Gamp era a exceção da vida, meu cérebro não parecia remotamente capaz de assimilar o resto da pergunta. Merda, merda, merda… Ao mesmo tempo que eu tento inutilmente tentar produzir uma resposta minimamente organizada, posso ver o rosto de professor ficar furioso e suas sobrancelhas subirem à medida que perde a paciência.

— Menos cinco pontos para sonserina. - Informou o professor após o meu silêncio constrangedor. - Melhor prestar atenção. - Ele virou de costas, caminhando em direção a sua mesa. - Alguém poderia me responder a pergunta? - A mão de Rose foi a mais rápida a subir - Senhorita Weasley.

— É a exceção da vida! É impossível gerar vida humana através da transfiguração, nem convocar, ressuscitar, conjurar, duplicar ou desaparecer. A transfiguração humana trabalha apenas na ilusão do ser. - Seu tom era o mesmo pomposo e arrogante de sempre. - Ao contrário de uma certa pessoa que não é meu namorado e a quem não tenho o menor interesse, eu presto atenção nas aulas. - O desdém em sua voz relembrou tudo aquilo que sempre odiei nela.

Sinceramente, pela maior parte da minha vida, ela poderia simplesmente desaparecer e minha vida seria muito melhor. Ter que lidar com ela pela minha amizade com Albus era um dos piores momentos dos meus dias. Infelizmente, por alguma razão fora do meu controle, eu sonhava com a garota ruiva e sardenta que era tão detestável. 

— Muito bem senhorita Weasley! Mais 5 pontos para a grifinória.

Após ser humilhado publicamente e ser lembrado dos motivos pelos quais Rose Weasley sempre esteve entre as minhas pessoas menos favoritas no mundo, A aula transcorreu tranquila e sem nenhuma interrupção relevante. Acabei deixando o desenho para lá e estava pensando seriamente em fazer uma fogueira com todos os desenhos e rabisco que fiz dela.

O fim da aula pareceu demorar uma eternidade para chegar e antes de ser finalizada, o professor pareceu descontar todas as suas frustrações com a minha pessoa em toda a turma, passou uma tonelada de dever de casa e liberou a turma. Começo a guardar minhas coisas quando ouço o meu nome ser chamado por uma voz aguda e estridente.

— Malfoy! - Seguido por duas mãos batendo com força em minha mesa. - O que pensa que está fazendo?

Levanto o rosto e a primeira coisa que vejo são seus cabelos flamejantes. Rose está, dizendo isso de uma forma que realmente expresse o que ela parecia sentir, parecendo um anjo apocalíptico. Seus cabelos parecem estar em chamas, seu semblante é a própria ira e seus olhos, bem, destilam uma raiva incontrolável. Magnífica, porém, bastante assustadora.

— Nem responda! - Braveja, antes que pudesse dizer qualquer coisa. - Se tentar me humilhar dessa forma novamente, eu não vou responder por nenhum dos meus atos, e acredite, sei uma quantidade suficiente de feitiços completamente permitidos que farão você sofrer muito. - Sua postura era arrogante e presunçosa, como sempre. - Está avisado.

E sem que eu tenha qualquer chance de me defender, Rose sai pisando duro, sem um mísero olhar para trás. Lembro-me mais uma vez que realmente detesto essa garota.

Rose Weasley é a pior coisa que já aconteceu na minha vida.

 

(...)

 

Lá estou eu, deitado em minha cama, segurando meu caderno de desenho e me regozijando após ter feito uma grande fogueira de desenhos de Rose e imaginando que aquilo era um exorcismo de todos aqueles sentimentos conflitantes que venho sentido sobre a garota. Começo a rabiscar com a pena, sem realmente imaginar o que vou desenhar, somente deixando a imaginação fluir. 

Uma mão puxa, sem qualquer sutileza, a cortina da minha cama. Não preciso olhar, não preciso nem mesmo ouvir a voz, só pela delicadeza, eu já sei que é Albus e não estou nenhum pouco interessado na conversa que ele quer ter comigo, por isso, afundo mais nos travesseiros, e continuo desenhando. 

— Vai fingir que eu não estou aqui? - Pergunta emburrado. - Todo mundo já sabe o que aconteceu na aula de transfiguração e eu quero uma explicação! Rose está devastada.

— Rose só está sendo dramática. - Murmuro, tentando manter o foco em meu desenho.

— Vai me dizer que é mentira o que Rose me disse, que você ficou a encarando ao ponto do professor dizer que vocês estão namorando na sala de aula? - A voz de Albus era puro sarcasmo, eu nem precisava responder nada, porque nós dois sabíamos uma coisa. Rose não mentia, nunca.

— Não foi bem assim… - Tento fugir do assunto, mas nem posso completar o que eu estava falando.

— Scorpius, estou realmente ficando preocupado com você. - Ele se joga sobre a minha cama, elevando as mãos aos céus como se pedisse ajuda. - Primeiro, pego você perseguindo a minha prima e agora isso? O que está acontecendo? Não me diga que está planejando matá-la, está?

Volto a realmente prestar atenção ao que estou desenhando e surge uma ideia. Encontro uma solução perfeita para poder falar o que está acontecendo. Não tudo, como não tenho certeza se estou ficando louco, acho melhor dizer uma pequena porção.

— Estou tentando desenhá-la. - Digo, sem muitas delongas e jogo a caderno no colo dele. - Faz um tempo e sinto que não estou fazendo um bom trabalho. Você sabe como fico obcecado quando tento desenhar alguém.

Albus pega o meu caderno e começa a analisar os rabiscos do rosto de sua prima. Vejo seus ombros relaxarem a medida que a compreensão passa por seu rosto. Ele analisa com cuidado, como se estivesse se certificando de aquele era um desenho de Rose e não uma desculpinha para tentar fugir do problema. Ele me conhece bem demais.

— Por que razão no universo você decidiu desenhar a Rose? Vocês mal se toleram.

Penso sobre a resposta por um momento. Se eu disser, “porque estou sonhando com ela”, Albus surgirá com no mínimo cinco teorias conspiratórias e uma delas é que eu tenho uma doença degenerativa e estou ficando completamente biruta. O que eu não teria como discordar, pois tenho quase certeza que ele está certo.

— É complicado, já desenhei mais da metade da sua família e nada em Rose nunca realmente me chamou a atenção, até que chamou. Comecei a perceber que ela é muito expressiva e cheia de personalidade. Então, percebi que nunca desenhei ninguém com essa essência e, agora, estou tentando capturar isso. Não tive um trabalho muito bom. - Falo tudo de uma vez, passei o dia sendo interrompido por praticamente todas as pessoas com quem conversei, melhor prevenir.

Albus demora a processar, posso ver em seu rosto, ele está tendo uma luta interna sobre o que acha que é certo e se pode me apoiar nessa.

— Você tem que tomar mais cuidado… - Resmunga. - Quero fazer a viagem pós formatura com vocês dois e não posso fazer isso se vocês estiverem se engalfinhando por causa de assédio…

— Mas não… - Tento interrompê-lo.

— Nah nah nah, é assédio sim, independente de você ter um propósito maior, você não está pedindo permissão. - Mas sou interrompido novamente. - Essa viagem é super importante e só vai acontecer se todos nós nos focarmos nos NIEMs, então, acho melhor você parar de rabiscar nesse livro e começar a estudar. Conheço o seu pai bem o bastante para saber a quantidade de expectativas que ele tem em você.

Ele está certo, eu sei que ele está certo e ele sabe que eu sei que ele está certo, abaixo a cabeça em completa rendição. Pego o caderno, levanto da cama e o escondo no lugar mais fundo e obscuro do malão, pego meu livro de transfiguração, um pergaminho e volto para cama. 

— Quando terminar as provas, prometo que te ajudo a resolver seu problema obsessivo.

Dou um sorriso a contragosto, pelo menos, tenho um motivo sério para tirá-la da minha cabeça.

Espero que funcione.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?



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