Arthur olhou em volta. Ainda não acreditava que estava perdido. Saíra com o barco de seu irmão mais velho e agora se via sem combustível e cercado pelo oceano. O plano inicial era ir em busca de novos locais de pesca, pois o vilarejo estava passando por uma escassez momentânea de peixes e a venda destes era o que movimentava a economia da pequena cidade. Os Kirkland eram uma família de pescadores e o mais novo, Arthur, era o que menos tinha experiência na área. Ignorando os avisos do irmão mais velho de que nada adiantaria ir mais longe da área já explorada, Arthur pegou o barco e foi por conta própria procurar mais cardumes. Isso dois dias atrás.

O jovem rapaz nunca cogitou a ideia de passar mais do que um dia navegando, então suas provisões já haviam chegado ao fim. Arthur estava com fome, sede e desesperado, pois não se via o mais remoto sinal de vida humana em lugar algum. Nenhum dos barcos de pesca ia tão longe, não sabia se a guarda costeira havia sido avisada de seu desaparecimento, nem sequer se via aviões no céu. Esse foi o erro de Arthur, olhar para o céu e perceber que, antes azul, este agora se encontrava cinzento e, olhando para o horizonte, nuvens carregadas se aproximavam. Uma tempestade de grandes proporções se armava à sua frente.

Arthur correu para o rádio, girando os botões para tentar fazer contato com a terra firme ou com qualquer outro barco. Sem resposta. Tinha dúvidas se o sinal estava funcionando, mas não custava tentar. Para piorar a situação, ele percebeu que o barco estava inclinado. Como ele não notara aquela rachadura no casco antes? O mar estava calmo quando deixou o cais, a rachadura não fez diferença. Agora as águas agitadas denunciavam sua presença, entrando no barco pela fenda negligenciada e adernando o pequeno barco.

Congelando por causa da água que espirrava em si em conjunto com o vento gelado do Atlântico Norte, Arthur desceu até o porão apenas para constatar o que temia: consideravelmente inundado. Era o fim. A tempestade se aproximava, fazendo a noite chegar mais cedo para o jovem inglês. As ondas cada vez maiores faziam o pequeno barco dos Kirkland praticamente desaparecer no meio delas. Tentando o rádio mais uma vez, sem sucesso mais uma vez, Arthur se encolheu e esperou que o mar agitado o arrastasse para a escuridão.