Todos os capitães e tenentes estavam reunidos após receberem borboletas infernais convocando-os para uma reunião de emergência. Estavam apenas esperando Ichigo, que também fora chamado, e acabava de entrar no salão.

— Todos já chegaram, então podemos começar. - Iniciou Kurotsuchi, posicionando-se onde todos pudessem vê-lo. - Chamei vocês aqui porque um artefato estranho apareceu no meu laboratório. Junto ao artefato, veio um bilhete, informando que trata-se de uma mensagem do futuro que só deveria ser exibida na presença de todos os capitães e tenentes, com uma ressalva de que Ichigo também deveria estar aqui. Eu examinei o objeto e aparentemente é um dispositivo holográfico. Não faço ideia de como isso foi parar em meu laboratório mas com certeza é mais avançado do que os que temos nesta época, então é melhor vermos logo do que se trata.

Ouvia-se um leve rumor especulativo pela sala enquanto Kurotsuchi posicionava o pequeno aparelho em uma mesa e apertava um botão em sua lateral. Todos arfaram de surpresa, inclusive a própria Nanao, quando uma imagem dela foi projetada do dispositivo. Essa definitivamente não era a mesma Nanao que estava ao lado do seu Taichou neste momento. Na imagem, a fukutaichou tinha profundas olheiras e algumas bandagens pelo corpo. Além de estar visivelmente ferida, parecia abatida e muito mais velha. Fez-se um silêncio sepulcral quando a Nanao do vídeo começou seu discurso.

— “Imagino que todos estejam juntos agora e eu daria qualquer coisa para ver isso novamente. Se vocês estão vendo essa mensagem, o plano do Kurotsuchi deu certo. Ele estava tentando finalizar uma máquina que pudesse transportar pequenos objetos no tempo. Só temos uma tentativa, pois não nos resta muito tempo. Quase todos estão mortos, e aqueles que ainda estão de pé logo morrerão também, então preciso que prestem bastante atenção.

Essa mensagem foi programada para três anos atrás, um dia antes de tudo começar. Se tivermos êxito e a mensagem chegar no dia correto, significa que amanhã vocês receberão um ataque. Fiquem atentos. Alguns inimigos virão pelo portão leste, mas esta será apenas uma distração. Eles farão muito barulho para chamar a atenção, mas não percam tempo com eles, dois esquadrões devem ser o suficiente para detê-los. O principal problema será o ataque furtivo ao laboratório de Kurotsuchi. Concentrem suas forças lá e não deixe que os inimigos os vejam até que estejam cercados, não permitam qualquer possibilidade de fuga.

Kurotsuchi, um subordinado seu deu detalhes da sua última invenção a um inimigo da Seireitei. Você sabe do que eu estou falando, sei que tem trabalhado nesse projeto nas últimas semanas. Preciso que a máquina no seu laboratório seja destruída, ela será a causa de tudo. Embora seja incompatível com shinigamis e imprestável para o que você deseja, sua máquina terá um efeito devastador nos hollows, transformando-os em criaturas letais e quando percebermos será tarde demais.

Ouça o que eu estou dizendo, Kurotsuchi, e destrua a máquina. Sei que é tentador para você a possibilidade de escondê-la ou desmontá-la, mas não faça isso. A Nemo foi destruída protegendo essa máquina e você deve imaginar o seu arrependimento. Durante esses três anos você tentou de tudo para trazê-la de volta, sem êxito. Mesmo que você tente mudar o rumo dos acontecimentos, de alguma forma pode ser que a Nemo se sacrifique novamente. Sei que você não quer se arriscar a perdê-la, ela é o seu sonho, não é?

Para finalizar, deixarei um recado para mim mesma. - Neste momento, a mulher do futuro fez uma pausa, deixando a cabeça pender e respirando profundamente para juntar forças. Sua voz ficou mais baixa, embora ainda clara e audível. - Nanao, ... o Kyouraku morreu. E eu morri junto com ele. Não há mais vida pra mim, não há mais nada. Eu nunca tive coragem de dizer a ele o que eu sentia e você não tem ideia do quanto me arrependo. Não deixe o orgulho te impedir de ficar com o homem que ama. Você está imaginando agora como seria perdê-lo, não é? Mas a dor que eu sinto agora não chega perto de qualquer coisa que se possa imaginar. A única coisa que me mantém de pé é a esperança de que essa mensagem possa consertar tudo. É muito tarde pra mim, mas não pra você. Você tem uma chance de ficar com o homem que ama, eu sei que você tem medo de se arriscar, mas não a jogue fora, Nanao.”

A transmissão foi encerrada, deixando todos estarrecidos. Após o primeiro choque, um rumor tomou o ambiente enquanto os presentes passavam a discutir o teor da transmissão. Kyouraku, no entanto, só conseguia focar na última parte do vídeo, onde a Nanao confessava claramente que o amava. Ele olhou, entre preocupado e incrédulo, para a fukutaichou, lembrando-se das incontáveis vezes que foi rejeitado. Ela estava estática, com o olhar perdido e as mãos fechadas com força. Ela definitivamente parecia em choque. Kyouraku não pensou duas vezes, pegou-a em seus braços e com um shunpo chegaram em segundos à mansão dele.

Em nenhum momento ela reagiu ou tentou afastá-lo, o que só o deixou mais preocupado. Sabia que ela nunca aceitaria facilmente tamanha proximidade. Sem retirá-la dos seus braços, abriu a maçaneta do quarto e sentou em sua cama, mantendo-a em seu colo. A curiosidade de saber sobre o que foi dito no holograma o corroía, mas antes ele tinha que se certificar de que sua Nanao-chan estava bem. Ela ainda não havia esboçado nenhuma reação, e isso por si só já era preocupante, além disso, ele podia sentir a respiração pesada e um leve tremor nas mãos dela.

— Minha Nanao-chan, deite-se um pouco para descansar. Vou fazer um chá para você se acalmar, tudo bem?

Ele se afastou levemente, preparando-se para deixá-la na cama e se levantar, e somente agora ela pareceu despertar do transe em que estava. Sentindo o corpo dele afastar-se do seu, ela firmou suas mãos na roupa de Shunsui. 

— Por favor, não vá. Não me deixe sozinha - pediu ela. 

Este pedido não se referia somente ao agora, ela não queria ficar sem ele, nem agora, nem amanhã ou depois. Nanao não queria que ele morresse. E isso ficava claro pelo modo como as mãos dela seguravam a roupa dele com mais força do que o necessário, como os olhos dela carregavam a tristeza que ele havia visto na mulher do holograma.  E o seu capitão era bastante perceptivo para entender o que ela não conseguia expressar com palavras.

— Eu nunca vou te deixar, minha doce Nanao-chan - disse Kyouraku aconchegando-a novamente em seus braços e então, para sua surpresa, ela apoiou o rosto em seu pescoço. Ele podia sentir a respiração forte e quente da jovem contra sua pele, fazendo os pelos do seu braço arrepiarem. Acariciou os cabelos macios de Nanao e aguardou enquanto sentia ela se acalmar.

 Pouco depois a tenente se afastou dele, secando algumas lágrimas rebeldes que escaparam dos seus olhos. Ela se sentou ao lado de Shunsui, desconcertada, e encarou as próprias mãos.

— Você está melhor, minha Nanao-chan? - perguntou Shunsui, analisando-a.

— Sim. Desculpe-me por isso, acho que perdi o controle. Mas ver a mim mesma daquele jeito e imaginar que no futuro você… - ela não conseguiu completar a frase e respirou fundo para se controlar. - Se nós não conseguirmos mudar as coisas amanhã, aquele pode ser o nosso futuro, e eu não consigo imaginar…

— Não consegue imaginar sua vida sem mim? - ele a interrompeu, sorrindo enviesado.

— Taichou, não fale... - ela começou a repreendê-lo, mas lembrou-se da mensagem e se interrompeu. Ele não estava errado, estava? - Droga, eu não sei o que dizer! - falou exasperada.

— Acho que posso te ajudar com isso. Você me ama, minha Nanao-chan? - Ele perguntou de forma direta e suave, tentando mostrar serenidade. Não queria pressioná-la, mas todo o seu ser fervilhava em ver suas esperanças finalmente concretizadas.

— Você ouviu o que eu disse no vídeo… - ela respondeu baixinho, ainda sem coragem de encarar Shunsui.

— Sim, eu ouvi. E admito que ainda nem consigo acreditar. Mas aquela é você em um futuro que, por sinal, eu te prometo que será diferente do nosso. Eu quero saber se você, neste momento, me ama.

Nanao encarou as mãos dela por tanto tempo, que ele acreditou que sua pergunta ficaria sem resposta. Já estava resignado quando ouviu o sussurro da sua fukutaichou.

— Amo - ela confessou, depois de um suspiro. Shunsui tocou em seu rosto, fazendo-a olhar nos olhos dele.

— Eu nunca pensei que ouviria isso de você, embora sonhasse com esse momento. Nanao, eu sempre amei você. Acredite em mim, desde o dia em que eu te conheci, você foi a única na minha mente e no meu coração. Você é tão magnífica e inalcançável. Eu nunca pensei que tivesse uma chance, que você sentisse realmente algo por mim. Mas agora que eu sei, não quero perder um minuto a mais. Deixe-me provar que pode dar certo, deixe-me ficar com você.

Ele ergueu delicadamente o rosto dela e aproximou-se, parando a poucos centímetros dos seus lábios. Ela desistiu de resistir e venceu a distância que os separava, iniciando um beijo cálido e lento. Eles exploravam cada centímetro da boca um do outro, em um beijo tão desejado por ambos.

— Eu te amo, minha Nanao-chan. Você sempre será a única para mim. - disse ele quando o beijo foi interrompido para logo dar lugar a outro ainda mais profundo. Ele puxou-a para seu peito, aninhando-a em seus braços. - Venha, meu amor, descanse. Eu não irei a lugar algum.

Estarem nos braços um do outro era aconchegante. Ise foi a primeira a se deixar levar pelo sono. As mãos acariciando ritmadamente o cabelo dela e o calor que emanava do corpo dele logo a entorpeceram. Ao sentir a respiração profunda da garota adormecida, Kyouraku entregou-se ao sono também.

No dia seguinte, a primeira sensação de Nanao ao acordar foi o calor do corpo de Shunsui junto ao seu. Um dos braços pesados enlaçava possessivamente sua cintura e uma das pernas enroscava-se à sua. Ela, por sua vez, repousava sua cabeça na curva do braço dele e uma das mãos estava espalmada sob os pelos do tórax musculoso.

Queria se levantar para vê-lo, mas sabia que seria impossível desvencilhar-se dele sem que o acordasse, tal a forma como estavam enlaçados. Uma vontade enorme de enroscar os dedos nos cabelos dele e acariciá-los apoderou-se dela. Pensou em não ceder à tentação, mas estavam juntos agora, não estavam? Sucumbiu à sua vontade, deslizando levemente seus dedos nos fios longos e macios do cabelo dele.

Ele abriu os olhos preguiçosamente e um sorriso logo se espalhou por seus lábios. Mal podia acreditar que sua Nanao-chan estava ali, ainda mais inacreditável era receber tal demonstração de carinho. Puxou-a contra ele e selou seus lábios em um beijo casto. Hoje seria um dia importante e não podia se perder nos encantos dela. Não agora. Teriam tempo suficiente depois, primeiro precisaria garantir o futuro dos dois.

— Venha, minha doce Nanao. Vamos escrever uma nova história.

Tudo ocorreu como foi dito na mensagem. Duas equipes foram despachadas para o portão leste e derrotaram as tropas inimigas com facilidade. Kurotsuchi havia destruído a máquina no dia anterior, imediatamente após a reunião. A menção do vídeo à morte de Nemo foi suficiente para convencê-lo a não contrariar as instruções dadas pelo holograma. Kyouraku fez questão de supervisionar pessoalmente o ataque ao laboratório e o traidor foi capturado, junto com os invasores. A fukutaichou obviamente não saiu do lado dele, não iria perdê-lo agora que finalmente havia confessado seu amor.

Assim que tudo foi resolvido, Shunsui tratou de arrastar Nanao. Depois de toda a agitação, tudo que queria era um tempo a sós com ela. Sentou-se nos jardins da sua mansão, sob a copa de uma árvore frondosa. Surpreendentemente, ela espontaneamente acomodou-se em seu colo, apoiando a cabeça em seu peito. Era uma sensação maravilhosa para ele. Depois de tanto tempo tentando quebrar as barreiras dela, tinha a chance de provar que o seu amor era real e não iria desperdiçá-la. 

Ele envolveu a garota em seus braços, aspirando o perfume suave que emanava dela. O pequeno corpo feminino acolhido em seu colo era quente e macio, exatamente como ele havia imaginado tantas vezes. Sentiu ela se aninhar ainda mais em seus braços.

— Eu estava pensando na mensagem que recebemos do futuro. O que você acha que vai acontecer, agora que mudamos o curso das coisas? - perguntou Nanao, com a testa franzida em preocupação. Ele podia sentir o receio de perdê-lo permeado na pergunta.

— Não precisa ter medo, eu prometo que nada acontecerá comigo. Não suportaria deixar você agora que finalmente consegui conquistá-la. Na verdade, eu quero estar ao seu lado por toda uma longa e fascinante existência. E pretendo dar o primeiro passo agora. Minha doce Nanao-chan, aceita ser minha companheira?

Ela sorriu. A Nanao do futuro tinha razão. Ainda não era tarde para ela. Poderia, enfim, estar nos braços do homem que amava. Desvencilhou-se de Shunsui apenas o suficiente para segurar o rosto dele entre suas mãos e o olhou profundamente ao responder, antes dos lábios se encontrarem em um beijo suave.

— Aceito, meu Taichou.