Depois de algum tempo caminhando, Maya e Nana já tinham ultrapassado mais da metade da floresta, entretanto durante toda a caminhada eles não conversaram muito desde o ataque dos “lobos”. Enquanto Maya estava preocupado em não sofrer uma emboscada no meio da floresta, Nana ainda estava confusa com tudo o que estava acontecendo, ela tinha muitas perguntas para fazer, porém não sabia como fazê-las ou se devia fazê-las.

Maya acaba percebendo a inquietação de Nana. - Eu sei que você deve estar se sentindo completamente perdida, se quiser perguntar alguma coisa, apenas pergunte e responderei se possível.

Nana para de caminhar e meio sem jeito perguntou: Senhor Maya, como conseguiu me achar?

— Eu ouvi boatos sobre alguns ataques suspeitos na Província de Cosença e decidi averiguar a situação. Entretanto enquanto investigava a região, eu acabei sendo atraído por sua carta, ela estava profundamente impregnada com seus sentimentos e desejos. Então usei as minhas habilidades para rastrear a sua presença e te localizar. - Respondeu Maya.

— Como assim, minha presença?

— Uma das minhas habilidades é sentir a presença dos seres vivos e não só isso, também consigo diferenciar a presença humana de um evil.

— Então foi assim que o senhor descobriu que aquele monstro estava se passando por um oficial? - Perguntou a garota.

— Exatamente. Muitos evils, assim como aquele Slime, conseguem imitar ou até mesmo assumir uma forma humana.

— E porque resolveu me ajudar?

— Como eu disse, estava investigando possíveis ataques de evils e ao ler a sua carta imaginei se poderia haver alguma ligação, por isso decidi ajudá-la. - Respondeu Maya.

— Humm… Acho que entendi...

— Mais alguma pergunta?

— Nã-ão… - Falou Nana voltando a caminhar.

Momentos depois da conversa, Nana e Maya finalmente saem da floresta e chegam em uma estrada de terra que levava até a Igreja do Deus Emiria. Eles seguem pela estrada de terra por mais alguns minutos, até que por fim, avistam a igreja. Os dois ficam observando a Igreja de longe para não chamar atenção dos evils.

A construção era gigantesca e ficava no sopé de uma grande montanha. O estilo arquitetônico da igreja era algo completamente estranho, divergindo de qualquer outro estilo existente no mundo, ao menos no mundo humano.

O prédio principal possuía uma grande cúpula de vidro que era ornamentada com cristais verticais pontiagudos que eram posicionados, ao que parece, de forma aleatória e alternavam de tamanho e formato.

Em cima da cúpula existia um grande campanário que também era feito de cristal e também possuía partes pontiagudas. Por trás do prédio principal existiam três grandes torres também pontiagudas e de tamanhos diferentes.

— Posso sentir a presença de vários evils dentro dessa igreja e alguns  deles parecem ter um nível bem alto. - Maya se vira para Nana - Por favor, me conte mais detalhes sobre o que aconteceu no seu vilarejo…

Nana começa a explicar que tudo teve início há mais ou menos seis meses, quando um homem chamado Nolodie chegou em nosso vilarejo pregando sobre um Deus que nunca tínhamos ouvido falar e ele se dizia representante desse Deus, mas por ele ser um forasteiro ninguém lhe deu ouvidos.

Porém, em poucas semanas essa gigantesca igreja apareceu e Nolodie alegou que esse era o primeiro de muitos milagres, que o seu Deus concederia ao nosso vilarejo se as pessoas começassem a adorá-lo. Algumas pessoas ficaram curiosas e decidiram ouvir o que Nolodie pregava, e assim, aos poucos as pessoas começaram a se converter e a adorar o Deus Emiria.

Os moradores que frequentavam a Igreja do Deus Emira, diziam que com apenas um toque o Reverendo Nolodie, como passou a ser chamado, ele conseguia curar todos os tipos de doenças e feridas, ele fez pessoas voltarem a andar e até mesmo voltar a enxergar. Ele continuou fazendo mais e mais milagres, as pessoas encantaram-se com todos esses milagres e em poucos meses a grande maioria das pessoas do vilarejo abandonou suas crenças para cultuar o Deus Emiria.

Entretanto, a felicidade não durou por muito tempo, há pouco mais de um mês inúmeras pessoas começaram a ficar doentes e a morrer repentinamente uma atrás da outra. E quando nem mesmo os médicos que vieram para o vilarejo conseguiram explicar o que estava acontecendo, o povo entrou em pânico e os poucos que não acreditavam no Deus Emiria, correram atrás do Reverendo em busca de sua ajuda.

Nolodie disse ao povo que tudo o que estava acontecendo era obra de um poderoso espírito maligno e que só havia uma forma de salvar o vilarejo. Ele disse que precisava de sete jovens garotas, entre treze e dezesseis anos, que fossem virgens, saudáveis e que nunca tivessem recebido qualquer tipo de cura pelas mãos dele, para que fosse realizado um ritual de orações e assim o vilarejo seria purificado e o espírito maligno exorcizado.

As pessoas ficaram receosas, mas ao verem o número de mortes aumentando a cada dia, algumas pessoas começaram a enviar suas filhas, porém, ao passar dos dias alguns pais começaram a ficar preocupados por não terem notícias delas, já que Nolodie dizia que elas teriam que ficar sob seus cuidados até que o ritual de orações fosse concluído. Mesmo assim alguns pais decidiram ir até a igreja questionar o Reverendo Nolodie sobre o que estava acontecendo e não voltaram mais…

Logo o povo começou a acreditar que eles tinham sofrido a ira do Deus Emiria e que se eles não enviassem todas as sete jovens todo o vilarejo seria abandonado à mercê do espírito maligno.

E quando só faltava uma garota para completar as sete, não só meu pai, como outras pessoas começaram a ser pressionadas por algumas famílias que já haviam enviado as suas filhas e por outros moradores do vilarejo pois o Reverendo insistia que eram necessárias todas as sete garotas para que o ritual fosse executado. Então meu pai decidiu ir até a igreja falar com o senhor Nolodie, pois ele ficou com medo do que as pessoas podiam fazer comigo.

Antes de partir ele me proibiu de ir atrás dele e mandou que eu me escondesse em casa até ele voltar, mas já fazem cinco dias que não tenho notícias do meu pai. Por isso eu escrevi e enviei aquela carta pedindo ajuda, mas ao achar que não teria meu desejo atendido, decidi ir atrás do senhor Nolodie para pedir que ele soltasse meu pai e em troca eu permaneceria na igreja para realizar o ritual.

— Então os evils que te atacaram não sabiam que você pretendia se entregar?

— E-eu não sabia mais o que fazer… minha mãe morreu ao me dar a luz e meu pai é tudo o que tenho nesse mundo… Por isso decidi ir atrás dele... 

— Você teve sorte por eu estar por perto e ter conseguido te encontrar a tempo… - Interrompeu Maya falando com um tom ríspido. - Se não você teria se tornado mais uma vítima.

Ao ouvir aquilo, Nana sentiu um calafrio percorrer todo o seu corpo e seu semblante mudou completamente transparecendo a sua aflição. - Co-omo assim, mais uma vítima?

— Como já lhe expliquei antes, os evils se alimentam dos seres humanos, esse Nolodie sem dúvidas é um farsante, ele está usando essa igreja para se alimentar e alimentar os seus servos.

— I-isso quer dizer que as outras meninas… elas foram… - Nana estava muito assustada e não conseguiu terminar a frase.

Vendo a reação da garota, Maya tentou suavizar um pouco a sua resposta dessa vez. - Se os evils estão tendo todo esse trabalho para convocar essas garotas em vez de simplesmente raptá-las é possível que elas ainda estejam vivas…

— Se-erá? - Perguntou Nana um pouco mais esperançosa.

— Talvez…

Entretanto, Maya sabia que tudo aquilo era muito estranho, e talvez algo muito maior do que ele imagina estivesse acontecendo, já que apenas evils poderosos seriam tão articulados assim, Maya estava preocupado, mas tentou não transparecer isso para Nana.

— E o que devemos fazer agora?

— Vou invadir a igreja e eliminar os evils que eu encontrar, isso deve chamar a atenção de todos os evils da área... - Maya vira as costas para Nana e encara a igreja. – e assim você poderá voltar em segurança para o vilarejo, mas chegando-lá esconda-se.

— Está bem... por favor, senhor Maya salve o meu vilarejo… salve o meu pai… - Falou Nana que começo a lacrimejar.

— Eu salvarei todos aqueles que eu puder… incluindo o seu pai… qual é mesmo o nome dele?

— É Masami... Kidou Masami... – Nana começa a chorar, mas dessa vez ela está chorando de alívio.

— Qual será a verdade por trás desse ritual? - Pensou Maya enquanto seguia em direção à Igreja do Deus Emiria.

Nana junta as mãos e começa a orar agradecendo a Deus por ele ter enviado Maya para ajudá-la. E quando Maya finalmente desaparece do seu campo de visão, ela enxuga as lágrimas e começa a fazer o caminho inverso seguindo a estrada em direção ao seu vilarejo.

{Enquanto isso no Salão Principal da Igreja do Deus Emiria}

 — Blizzard, Magnus e Flame! - Falou o Reverendo Nolodie irritado. - O que diabos vocês pensam que estão fazendo!? 

Nolodie era um homem extremamente pálido, com olhos negros e longos cabelos dourados, ele estava sentado em um grande trono prateado, vestindo uma bata branca de mangas longas que era presa por uma faixa prateada na cintura. Nolodie também usava uma capa branca presa em seus ombros por uma armadura prateada que possuía um formato triangular, mas de cabeça pra baixo, ela era cheia de desenhos em alto relevo e protegia o seu pescoço, ombros e parte do peitoral. Ele também usava braceletes prateados nos pulsos e bíceps.

— Nós perdoe meu senhor… - Falou Flame que estava ajoelhada, no meio de Blizzard e Magnus, que também estavam ajoelhados.

— Flame, eu não preciso dizer o quão é importante esse ritual. Se eu quisesse raptar as sete garotas eu o teria feito isso desde o princípio. - Falou Nolodie batendo a mão no apoio de braço do seu trono.

— Nós achamos que seria mais rápido se sequestrasse-mos de uma vez a última garota para podermos finalizar o nosso ritual. - Falou Magnus tentando se explicar.

— Magnus, seu idiota! Eu já disse que se o sacrifício for feito por vontade própria ele se torna mais poderoso. - Falou Nolodie.

— Perdoe-nos novamente meu senhor… Eu deveria ter impedido isso de acontecer - Falou Blizzard abaixando a cabeça.

— Agora eu quero que me expliquem, como vocês conseguiram falhar em algo tão simples como sequestrar uma garota!? Qual a desculpa que vocês vão arrumar agora!? - Questionou Nolodie irritado.

— Um humano chamado Maya apareceu repentinamente e atrapalhou os nossos planos. - Falou Magnus.

— Um humano!? Vocês estão dizendo que foram impedidos por um mero humano? - Questionou Nolodie perplexo.

— Sim meu senhor, ele conseguiu vencer todos os evils que nós tínhamos mandado para o vilarejo.

— Vocês tem certeza disso? - Questionou Nolodie que parecia preocupado.

— Sim senhor! - Respondeu Magnus.

— Se isso for mesmo verdade… talvez tenhamos problemas… - Pensou Nolodie. - Flame, me diga quem vocês enviaram?

— Nós enviamos três bestiais e um slime, meu senhor.

— Humm… Mesmo que vocês tenham enviado evils de classe baixa, parece que a informação que eu recebi era mesmo verídica.

— Do que o senhor está falando? - Questionou Magnus.

— Fui informado da existência de pequenos grupos de humanos que estavam caçando evils ao redor do mundo. Entretanto, se neste caso era apenas um humano, por que vocês não enviaram um novo grupo para acabar com ele?

— Eu queria enviar meu senhor, mas Blizzard me impediu e nos trouxe aqui de mãos vazias…

— Blizzard, explique-se agora mesmo! - Gritou Nolodie.

— Meu senhor, o humano em questão não era um homem normal, ele carregava consigo uma aura maligna como se fosse um evil. - Respondeu Blizzard levantando a cabeça.

— Como é? Um humano com uma aura maligna como se fosse um de nós? Você tem certeza disso? - Questionou Nolodie.

— Isso mesmo meu senhor e ainda tem mais, segundo a mensagem que recebi de um dos evils, ele se auto-denominou como um Evil Crusher.

— Evil Crusher? Isso é impossível! Você sabe muito bem que não existem mais Evils Crushers. Não acredito que vocês chegaram até mim com esse tipo de baboseira.

De repente o sino que ficava na campanária da igreja começou a tocar, era um som estridente e sinistro. Em seguida os portões do grande salão foram abertos e três mulheres entraram, elas eram as damas de companhia do Reverendo Nolodie.

Eram três mulheres extremamente lindas, se moviam com toda uma pompa e sensualidade. Elas usavam longos vestidos brancos esvoaçantes de seda com um grande decote que ia até o umbigo. Elas também usavam uma faixa prateada na cintura e eram quase tão pálidas quanto o próprio Nolodie.

Uma tinha longos cabelos negros e era a mais alta das três, a outra tinha cabelos vermelhos bem crutos e a ultima também tinha cabelos longos, porém usava um elegante coque e era loira. Elas vão em direção de Nolodie passando por Flame, Blizzard e Magnus e se ajoelham aos pés de Nolodie.

— Meu senhor perdoe-nos pela intromissão, mas queremos informar que a nossa Igreja acabou de ser invadida. - Disse uma das mulheres.

— Nós já enviamos os guardas para interceptar o invasor. - Disse a outra.

— Suspeitamos que talvez seja um humano, mas tem algo estranho na presença dele. - Disse a última.

— Meu Senhor, deve ser o mesmo humano que interferiu no rapto da garota! - Falou Blizzard com um tom alarmante.

— O que!? Não acredito nisso! Quanta ousadia! - Nolodie bate as mãos nos respectivos apoios de braço do seu trono.

— Meu Senhor, eu posso ficar com ele como meu bichinho de estimação? - Indagou Flame com um sorriso malicioso.

— Não! Seja lá quem ele for, ou o que ele for, quero que ele seja morto e que a sua cabeça seja entregue para mim imediatamente!

— Sim senhor! - Responderam Flame, Magnus e Blizzard em coro.

— Agora deixem-me a sós com minhas damas, preciso descansar. - Falou Nolodie.

Magnus, Flame e Blizzard se levantam, fazem reverência e saem do salão. Do lado de fora, Flame toma a iniciativa.

— Me deixem cuidar desse humano…

— Você ouviu as ordens, não ouviu? - Questionou Blizzard.

— Sim, infelizmente eu ouvi… Mas isso não quer dizer que eu não possa me divertir um pouco com ele antes de matá-lo… - Respondeu Flame com um sorriso ainda mais malicioso.

— Por mim tudo bem… duvido muito que ele consiga passar pelos guardas do labirinto. - Falou Magnus.

— Muito bem Flame, então você ficará encarregada de eliminar Maya. - Respondeu Blizzard.

— Mas se por um milagre ele conseguir passar pelo labirinto e aparecer em minha torre, eu não deixarei nenhum pedacinho sequer pra vocês… Hahehahahe... - Disse Magnus indo embora.