Dois beijos escrita por gaby


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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BAZ

Me convenço de que tudo não passa de uma grande onda nostálgica.

Ele foi minha primeira paixão – e minha maior paixão até hoje, não posso negar –, não nos vimos por muito tempo, nunca tivemos a oportunidade de conversar depois de adultos, não tivemos nenhum contato... É por isso. Por esses motivos me sinto assim, tão ridiculamente sensível, como se fosse acabar o beijando se ele chegasse perto demais.

            Só estou momentaneamente chocado por ele estar aqui, pelo reencontro repentino, por ele não ter mudado nada e ao mesmo tempo ter mudado tanto, fisicamente falando – se é que isso faz algum sentido...

Inspiro profundamente e solto devagar, resolvido a me concentrar no que é mais importante por agora: entrar naquele salão com meu acompanhante e deixar bem claro para todos que eu sou completamente gay e que, a partir de hoje, não irei esconder isso. Foda-se.

Desbloqueio o celular, pronto para perguntar a Ags se o príncipe encantado se perdeu batalhando com algum dragão; me deparo com um punhado de mensagens dela desde a foto que enviei.

MEU DEUS, QUE TERNO É ESSE, GAY??? SOCORRO

SEI LÁ EU TE VENERO BASILTON OLHA ESSAS ROSAS PORRA

perfeito, caralho

uma pena que a gravata neon do seu parzinho não vai combinar :/

MENTIRA OK? antes que vc me incinere ksjaks

espera aí, vou mandar o look dele pra vc encontrar no meio da festa

[imagem]

A foto foi tirada na sala do apartamento dela e está cortada da gola para cima, de modo que não posso ver o rosto dele. Camisa branca, gravata marsala... Não levo um segundo parar reconhecer o rapaz com as mãos enfiadas nos bolsos do terno cinza. Meu estômago despenca.

Permaneço inerte, apenas encarando a tela por infindáveis segundos, sem conseguir pensar em nada, até finalmente conseguir.

Tal possibilidade nem de longe passou pela minha cabeça quando nos encontramos, minutos atrás. Fiquei tão pateticamente afetado que não cogitei considerar que essa era uma opção, uma boa opção – por “boa” quero dizer “que confere perfeitamente com todas as informações que me foram dadas”.

Mas como eu poderia imaginar?

Eu não sabia que ele estava em Hampshire; além disso, não vejo alguém que pensaria “hm, os dois garotos que brigavam na escola diariamente... me parece uma ótima ideia marcar um encontro às cegas para eles!”, nem mesmo a desmiolada da Agatha. Ela e eu quase nunca falamos sobre Simon – eu sempre desvio do assunto – e, seguindo essa linha, eu obviamente nunca disse a ela que fui apaixonado por ele. Não tem como ela saber... ou tem? Eu já deixei escapar e não me lembro?

Simon Snow? Você me arranjou Simon Snow Salisbury como acompanhante?, envio, na esperança de que ela diga que não, porque não sei se quero ter que lidar com isso. Passam-se dez segundos – normalmente ela já teria respondido –, digito outra mensagem: Por quê? Mais vinte segundos e nada.

Pareço um idiota andando de um lado para o outro no corredor, então subo as escadas enquanto tento ligar para ela. Cai direto na caixa postal. Tento de novo, passando por convidados que acenam para mim e recebem um mísero cumprimento com a cabeça. Nada. Tento de novo. E aí o vejo.

Simon está parado na sacada, observando os próprios sapatos. Uma das mãos no quadril e a outra segurando o celular junto à orelha.

Eu sou fraco.

 

SIMON

— ...mas eu já mandei foto do seu terno pra ele, daqui a pouco ele vai te achar! ­– Aggie insiste.

— E se eu já passei por ele e ele não me viu? Tem bastante gente aqui. Me fala logo quem é!

— Meu Deus, você sabe ser chato, hein?! — ergo meus olhos e Baz está alguns metros a minha frente. Está no telefone também, e está olhando para mim. — Ele tá usando um terno estampado. Com rosas. Pronto! Não tem erro.

Sinto um solavanco brusco dentro do peito. Meu fôlego é drasticamente arrancado dos pulmões.

Quais as chances de outra pessoa estar usando um terno floral aqui essa noite?

— Com... rosas?

— Isso. Rosas vermelhas — eu engulo em seco.

— Azul? Azul com rosas?

— Exatamente! Você achou ele?

Outro solavanco, como se aquele órgão que bombeia sangue para o resto do corpo quisesse pular para fora de mim, indignado.

No salão, Baz guardou o celular no bolso, junto com as mãos, mas continua de pé no mesmíssimo lugar. Ele ainda olha para mim e eu acho que nem estou piscando. Eu não consigo fazer nada que não seja encara-lo. Escuto a voz de Agatha, mas está distante e eu não compreendo o que ela diz.

É ele. Claro que é ele! Quem mais seria? Todas as peças se encaixam.

É ele... E ele começa a vir em minha direção.

Quando percebo, já desliguei a chamada, enfiei o smartphone no bolso da calça e, em modo automático, estou indo de encontro a ele também.

 

BAZ

É quase legível em seu rosto o “agora eu sei”; a boca aberta em choque, o braço que erguia o celular caindo lentamente.

O que Agatha tinha na cabeça? Isso não pode dar certo. Quero dizer, olha o nosso histórico!

Estou certo de que ele ainda me vê como o garoto que o infernizava na sala de aula, nos corredores, na cantina; o monstro que o empurrou da escada. Não tem como ele ter mudado de opinião sobre mim se em nenhum momento nos comunicamos como duas pessoas normais.

Simon vai vir até mim e vai gritar alguma coisa. Ele vai apontar aquele dedo no meu rosto, como já fez tantas vezes, e vai me acusar de ter planejado tudo isso por um motivo inventado. E (a quem quero enganar?) eu não vou aguentar...

Não sei o que diabos ele despertou em mim, não sei o que ainda sinto por ele, mas definitivamente, para minha completa infelicidade, ainda tem algo aqui. Ele ainda é a porra do Sol e eu continuo na maldita rota de colisão. E se ele se aproximar demais, se ele rosnar para mim, eu... eu... eu não sei, cacete!

Eu já passei por isso: pela última vez, a última briga, a última discussão. Anos atrás. Eu achei que tudo tinha ficado no passado. Era para ter ficado!

 

SIMON

Nos encontramos no meio do caminho. Acho que ambos estamos esperando que o outro fale alguma coisa primeiro, porque ficamos ali como duas estátuas mal posicionadas, aguardando.

— Baz... Olha... – eu começo. Nem sei o que vou dizer, mas começo.

— Não precisa, Snow – ele me interrompe.

Tyrannus Basilton tem aquela mesma expressão indefinida de sempre, o que faz meus sentimentos divergirem entre um tipo de tranquilidade (por ser algo a que estou habituado) e irritação (porque eu não consigo ter nenhum spoiler do que ele está sentindo).

— Do que você está falando? – Baz passa a mão pelos cabelos e suspira antes de responder.

— Eu sei o quanto isso é ridículo, ok? Você não tem que fazer isso. Eu te mando o dinheiro depois, não se preocupe. Pode ir embora. Feliz natal, Snow.

E então ele... simplesmente dá meia volta e sai.

Preciso de um tempo para que todas as palavras se organizem, mesmo assim, elas continuam não fazendo muito sentido. São tantas perguntas de uma única vez que sinto que poderia explodir.

Desconheço ao certo a razão, mas estou revoltado. Provavelmente porque uma parcela de mim – uma grande parcela, devo admitir – tinha a esperança de que nós nos entendêssemos.

Ajo por impulso: descolo os sapatos do piso e sigo na direção em que Baz sumiu.


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Notas finais do capítulo

Não seja um leitor fantasma, comente, por favor :)
Agradecimentos especiais à minha beta lindíssima, Srta Prongs ♡



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