Jane escrita por Lucca


Capítulo 20
Para sempre


Notas iniciais do capítulo

E chegamos ao final dessa história.
JANE cumpriu sua missão. Pelo menos na minha vida foi assim.

Antes do texto do capítulo, quero deixar meu agradecimento mais que especial para meu marido e filha que foram incríveis ao longo de todos esses meses, me apoiando para que essa história pudesse continuar. Nem sei contar quantas vezes os dois me socorreram com o serviço da casa para que eu pudesse escrever. Ou quantas vezes silenciaram e se afastaram quando queriam atenção. Lucio e Maria Clara, vocês sao e serão sempre as pessoas que mais amo no mundo todo!

Boa leitura!



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Nove meses depois - Auditório número 2 do Centro de Estudos em Neuro Ciência – Harvard

— Srta. Drabkin, sua pesquisa apresenta dados irrefutáveis, mas ainda assim é muito difícil para essa comunidade científica entender algo tão singular dentro de uma situação já bem incomum como os efeitos do ZIP. – problematizou o primeiro senhor de terno alinhado, calvo, magro e alto, com o óculos na ponta do nariz.

— Eu concordo que ainda há muito o que explorar sobre o ZIP e seus efeitos. Apesar de ter se mostrado uma substância perigosa, é preciso estudá-la para evitar que acabe sendo usado para finalidades com ética questionável. Mas o ZIP e seus efeitos são apenas o pano de fundo para o que estou apresentando aqui. Jane é o foco. A forma como o organismo dela lidou com o ZIP e o envenenamento causado por ele é a prova viva que um ser humano não pode ser reduzido à multiplicidade de fatores biológicos que o compõe. Ela superou o efeito devastador que essa droga faz ao sistema neurológico duas vezes já na fase avançada do envenenamento. Seu histórico de vida marcado pela superação foi essencial para isso. O suporte emocional também. Quando se discute que inter, trans e multidisplinaridade devem quebrar as barreiras convencionais das ciências, é muito mais que uma questão metodológica. Estamos falando sobre compreender o ser humano como um todo para podermos avançar em neurociência de forma muito mais rápida e sermos capazes de oferecer possibilidades concretas de melhora aos nossos pacientes.

— Suas conclusões são ousadas, ainda mais quando nos oferece uma sequência linear cheia de altos e baixos. – o segundo homem era grisalho, aparentando ainda mais idade que o primeiro. Já tinha afrouxado a gravata no decorrer da apresentação da garota e Avery torcia para isso ser em decorrência do seu sobrepeso e não de falhas na sua apresentação.

— Esse é um ponto importante da minha pesquisa. Acredito que aqui resida a chave do sucesso para Jane. Ela precisou se adaptar a esses altos e baixos ao longo de sua vida. E o ZIP é uma substância que leva o sistema neurológico a loopings insanos: da realidade às alucinações, do esquecimento do passado aos flashbacks desconexos, das emoções galopantes que isso tudo causa à frieza total para lidar com todos ao seu redor. Essa dualidade constante permeou a vida de Jane e a ajudou a superar os efeitos devastadores do ZIP.

— Outros casos estudados recentemente apontam enfaticamente para oscilações de humor que causam grande dificuldade de readaptação social mesmo após o uso repetido do antidoto. É o caso de Gregory Burke. – um terceiro cientista da área, negro e forte, colocou pensativo.

— Gregory Burke recebeu uma única dose injetável do ZIP. Tenho acompanhando o caso dele de perto e descrevi vários parâmetros de comparação com Jane. As doses recebidas por ela foram muito maiores e, por isso, deveriam ser mais letais. Reforço que não basta compreender as reações orgânicas, mas também o contexto socio-emocional e o histórico do paciente. Dificuldade de ressocialização e as oscilações de humor também fizeram parte do quadro de Jane, essas últimas no pós-parto. Relatei detalhadamente no relatório parcial.

— Srta. Drabkin, o que queremos que entenda é que essa sua teoria beira o inacreditável. Ainda haverá muita consistência em todo o seu trabalho de pesquisa se assumir que reuniu superações de pessoas diferentes para criar o Fator Jane, como estamos chamando esse tipo de resposta orgânica. – a mulher com aproximadamente 50 anos e cabelos curtos tinha uma postura austera, mas tentava ser empática no sorriso e no tom da voz.

— Fator Jane... é um ótimo nome. Inacreditável não é a palavra certa para ela. Imprevisível é mais usada por todos que a rodeiam. Tenho que concordar com os senhores: o papel aceita tudo. Nada melhor do que dar fala a pessoa que tem sido a base de toda a minha pesquisa. Ela está aqui. Jane, por favor, você poderia vir até aqui se juntar a mim?

Todos os olhares se dirigiram à ela pasmados quando se levantou da poltrona que ocupava no auditório. Nem de longe aquela mulher se aproximava da imagem que imaginavam. Os cabelos cacheados estavam parcialmente presos deixando algumas mechas emoldurarem seu rosto. Seus traços e corpo eram fortes, com uma altura bem maior do que o convencional apesar de não estar usando salto. O vestido preto longo foi uma escolha de Avery para a ocasião. Ele era confortável e descia solto por seu corpo sem tirar sua sensualidade. A tatuagens funcionavam melhor que qualquer acessório para completar o look. Havia um brilho a mais naqueles enormes olhos verdes: orgulho por ver onde sua filha mais velha chegou e a força com a qual defendia seu trabalho.

— Poderia se apresentar, por favor. – Avery disse a recebendo com um sorriso.

— Meu nome é Jane Alice Kruger. Tenho 36 e sou a única pessoa sobrevivente a altas doses de ZIP. Isso aconteceu comigo duas vezes.

— Se for confortável para você, poderia nos contar como se sentiu após os eventos? – a jovem foi cuidadosa.

— Sim, eu posso fazer isso. Acordar após o ZIP é como estar numa bolha que te separa de todos ao seu redor. Ao mesmo tempo que queremos e precisamos de estímulos para tentar repor o que perdemos, essa trajetória não é fácil. Tudo o que eu tinha eram meus instintos, então precisei partir daí e tive pessoas muito especiais ao meu redor nas quais pude me apoiar. Vocês falaram sobre altos e baixos. O ZIP te joga numa verdadeira montanha russa. Tem dias que a gente está quase lá: flashbacks ganhando sentido, habilidades retornando... E no outro tudo é retrocesso. Ali só há dois caminhos: desistir ou recomeçar. No pós-parto isso foi bem intenso. Voltei a ter dificuldade de interação e de fala. Mas eu tinha minha filha recém-nascida que precisava de mim, então coloquei toda a minha energia nisso. Acho que posso dizer que nunca chorei tanto em toda a minha vida.

Flashback:

A medida que o mundo ao redor parecia perder o significado, Jane se concentrava no que ainda podia fazer: cuidar de Chloe. Amamentar, embalar, dar banho e trocar fraldas eram habilidades que ainda estavam ali e ela se agarraria a ser mãe como um dia se agarrou à luta e ao manejo de armas.

Kurt e Avery notaram rapidamente a mudança, solicitaram novos exames e a acompanharam o tempo todo garantindo que ela pudesse cuidar de Chloe sozinha o máximo possível. Como sempre, os laudos eram inconclusivos e só restava à eles aguardar acompanhando a evolução do caso.

Quando a bebê adormecia, sem precisar dos cuidados da mãe, é que o choro tomava conta de Jane. Tudo parecia tão incerto. Aquela estranha sensação de perda se fazia mais latente. Ela estaria cuidando certo de sua pequena se mal conseguia se relacionar com o mundo ao seu redor? E se a separassem dela como aconteceu com Avery? As lembranças dessa separação eram tão vívidas agora... assim como a perda de seus pais, a perda de Roman e os momentos em que ela matou Oscar e Shepherd.

Felizmente ele sempre estava por perto, com seu sorriso confiante e seu abraço acolhedor. Ela migrava sem receio algum para seus braços, algumas vezes até se encolhendo em seu colo como se fosse possível se tornar tão pequena quanto Chloe, talvez porque ela se sentia assim pequena para impedir o que lhe causava dor.

— Jane... - Kurt a recebia procurando demonstrar todo o amor que sentia. – Eu estou aqui. Você não está sozinha. E está indo tão bem com Chloe.  - Deus, ele queria poder arrancar dela tudo que a fazia chorar. Foi difícil encarar e, mesmo que o Jane Alert não disparasse para isso, ele sabia que sua esposa precisava colocar pra fora os sentimentos ruins que a sufocavam.

Quase sempre aquilo tudo terminava com ela exausta, à beira do sono. Então, se ajeitava fixando os olhos na filha que estava no berço acoplado à cama antes de se permitir adormecer. A voz de Kurt então soava ao pé de seu ouvido:

— Ela é fantástica, não é mesmo? E gosta tanto de estar com você. Sempre prefere seu colo ao nosso. Acho que nisso Chloe puxou pra mim: também amo estar com você, Jane. Agora, durma, Sweet Heart. Amanhã essa pequenininha cuidará de tornar seu dia muito cansativo de novo.

E, mesmo em meio a tantas incertezas e dores, ela adormecia sentindo-se em paz.

De volta ao presente:

— Cada vez que o ZIP cobrou seu preço, eu tive a oportunidade de aprender mais sobre o mundo e sobre mim mesma. Chorar foi uma das coisas que reaprendi. Não é sinal de fraqueza. É apenas um momento de pausa na luta. E, de certa forma, foi bom. Eu precisava me permitir chorar e novamente ali minha família foi muito importante. Isso foi a mais de 8 meses. Essas crises de choro não fazem mais parte da minha rotina agora.

—  Viver esse refluxo cognitivo durante o puerpério foi uma das vantagens que Jane teve se comparada à Gregory. Não é estranho ao corpo e ao emocional feminino essa reação no pós-parto, logo ela já estava naturalmente mais preparada para enfrentá-lo, apesar de isso não significar que ela não precisava de acompanhamento e apoio. E, ao longo da vida de Jane lhe foi negado chorar suas perdas ou as dores que carregava, então, esse efeito colateral do ZIP, conforme ela mesma acaba de relatar, se transformou na oportunidade de recuperar essa experiência que o passado lhe negou. Além de seu imenso histórico de perdas que a fizeram desenvolver estratégias para lidar com esse cenário caótico constante.

— Muito interessante tudo isso. Confesso que fiquei surpreso quando você se levantou ali. E você disse que está estável há mais de 8 meses. O que é estar estável para você? Sua vida é normal? Trabalho, família, sexo? – o homem calvo parecia não estar convencido do que ela dizia.

— Com estável quero dizer que não voltei a ter novos apagões ou retrocessos. Após o puerpério, os médicos recomendaram que eu praticasse atividades físicas como forma de liberar endorfina e ajudar nas questões emocionais. Meu corpo também pedia aquilo depois da gestação. Bem, funcionou melhor do que o esperado. Isso me ajudou a recuperar rapidamente antigas habilidades e, em três semanas, passei a usar a academia do FBI lutando com agentes treinados porque, segundo o Kurt, era mais seguro para meus adversários. Colocar o NYO de volta à minha rotina desencadeou o acesso a uma série de memórias boas e ruins. Tenho lidado bem com isso.

Flashback –  6 meses atrás

Era a tarde de uma sexta-feira. Ela terminou o treino e, após um banho frio, amamentou Chloe ali mesmo no vestiário do SIOC.

Quando estava atravessando o saguão em direção ao elevador, seus olhos vasculharam o local a procura de Kurt para uma despedida rápida. Impossível não notar a agitação de todos ali. Algo estava acontecendo. Mas seus instintos só entraram em alerta máximo quando viu Patterson atravessando o corredor lateral em direção ao laboratório. Devia ser algo muito sério para trazer a loira até ali. Resolveu conferir.

— O que está acontecendo? – questionou com a determinação de sempre ao entrar no laboratório.

A apreensão no rosto dos amigos só pareceu se acentuar com a presença dela.

— Onde Kurt está? – foi a pergunta que fez em seguida sem ter recebido a resposta da primeira.

— Uma gangue de tráfico local acabou se envolvendo com franceses contrabandistas de armas pesadas que estavam trazendo bombas para um atentado em NYC. Provavelmente os traficantes locais só acharam que ganhariam uma considerável quantia em dinheiro sem calcular no que estavam se metendo. E resolveram usar menores que não faziam parte da gangue para fazer o “serviço”. Resultado: os franceses não gostaram nada disso. O FBI estava no encalço desses contrabandistas a meses. Agora temos os meninos reféns dentro de um antigo navio da marinha que está ancorado no porto. Kurt está liderando uma equipe de elite tentando chegar à central onde os meninos são mantidos. – Zapata tentou parecer calma.

— Um típico dia no escritório. – Jane concluiu com um suspiro. – E o que mais? Porque vocês todos não estariam com essa cara de velório se fosse só isso.

— Temos razões para acreditar que os franceses acionarão uma das bombas se perceberem a presença do FBI no navio. – Rich relatou de forma tão séria que Jane sentiu um gelo percorrendo sua coluna.

— Os traficantes locais eram liderados por um primo de Big Joe, Jane. São nossos meninos da ONG dentro daquele navio. – a voz e o olhar triste de Patterson fecharam o cenário devastador.

Jane respirou fundo.

— Eu preciso dos equipamentos de segurança e de uma arma. Estou indo pra lá.

— Jane, não posso deixar que faça isso. – Zapata tentou.

— É o meu marido e os meus meninos num navio que conheço como a palma da minha mão, Zapata. Você não tem ninguém melhor do que eu como apoio para que eles saiam vivos de lá. Então, eu vou!

Zapata não ousou dizer mais nada. Sabia que seria tempo perdido. E Jane estava certa. Ela alcançou Kurt dentro do navio em menos de um terço do tempo que qualquer outro agente faria. Juntos, os dois lutaram contra os quatro homens que rendiam os meninos e vigiavam a bomba. Os dois se entendiam com apenas um olhar, sincronizando golpes e tiros.

— Vocês estão vendo isso? – Tito comentou boquiaberto.

— É a Jane! Ela veio nos salvar. – Sal acompanhava a luta quase que em transe.

— Fujam! – foi a ordem de Jane que os meninos acataram imediatamente. Todos menos Sal que ficou indeciso na porta.

— Venha, Sal, temos que fazer o que ela pediu se queremos ajudar! – Malcom T. conseguiu arrastar o amigo consigo.

Logo a equipe os alcançou e cuidou de sua retirada em segurança do navio.

A derrubar o último traficante, o casal trocou olhares e sorrisos.

— Que bom que veio. Eu sinto muito sua falta em campo. – o sorriso de Kurt falavam mais que suas palavras.

— Ah, eu tenho certeza que sim. – ela disse também sorrindo.

Nesse momento eles ouviram o beep soar.

— Merda! Rich, Patterson, eles acionaram a bomba. Precisamos que evacuem o navio enquanto nos passam instruções sobre como desativar essa droga. – o sangue de Kurt subiu rápido.

As instruções foram chegando rapidamente. Juntos, num formidável trabalho de equipe, eles fizeram o passo a passo detalhado pelos amigos via comunicadores e chegaram ao detonador.

— Então é isso, eu levanto essa peça e a mantenho estável e você puxa o fio verde. Preparado? – Jane dizia aquilo com uma naturalidade fora do comum.

— Não, mas se isso falhar, teremos tempo suficiente pra correr. – o universo parecia conspirar a favor do casal.

— No três. Um, dois, três!

...

— Mais uma bomba desativada com sucesso. – Kurt concluiu orgulhoso. – Eu adoro essa parte em que tudo dá certo.

— Eu preferia ter que correr e saltar para fora do navio de mãos dadas com você. Seria mais romântico. – ela disse se aproximando e envolvendo os braços ao redor do pescoço do marido.

— Hmmm, então agora você será aquele tipo de esposa que vai até o trabalho buscar o marido no final da sexta-feira? – o sorriso torto de Kurt inundava seu rosto. – Sou todo seu. Pode me levar pra casa.

Jane olhou ao redor e depois se reconectou ao olhar do marido. Havia algo muito peculiar na forma como ela o abraçava. Sua voz soou diferente, com um tom mais rouco e sensual:

— Talvez mais tarde. Esse navio me traz muitas lembranças... Desarmar uma bomba com você também. Eu quero ficar um pouco mais por aqui, se estiver tudo bem para você. – e mordeu o lábio deixando bem claras suas intenções.

— O navio foi evacuado. Vocês estão sozinhos aí. – Zapata informou – Rich desligue esses comunicadores agora!

Rich obedeceu e concluiu:

— Eu odeio você! – mais uma vez a chance que ele tinha de acompanhar um momento especial do casal foi por água abaixo.

— E agora vamos todos tomar um café para ficarmos bem longe desses controles e dar privacidade aos dois. – Patterson concluiu puxando o amigo pelo braço.

Enquanto isso, no navio, Jane passou do olhar para uma série de selinhos provocantes nos lábios do marido. Algumas vezes, chegou a mordiscar sem dar a ele a chance de aprofundar o beijo. Kurt se divertia com o quanto ela estava disposta a tornar aquilo dificilmente delicioso para ele.

Ele sondou o ambiente procurando um espaço mais discreto. O salão em que estavam era amplo demais e permitiria a visão direta de qualquer pessoa que entrasse. Uma porta na lateral dava acesso a um pequeno depósito, perfeito para o momento. Impulsionando Jane para cima a fez instintivamente enlaçar as pernas ao redor da sua cintura enquanto seu riso ecoava pela sala retumbando nas paredes metalizadas.

— Ei! – ela fingiu um protesto.

— Só quero garantir que estaremos seguros contra qualquer curioso que possa aparecer. – explicou andando a passos largos em direção ao cubículo. – Quero que apenas os meus olhos estejam sobre você.

Assim que a escorregou de volta ao chão, ela procurou sua boca sem nenhum pudor, exigindo dele tudo que precisava. No instante seguinte, ela se livrou de seus coletes protetores e puxou a camisa dele, sedenta por um contato direto com a pele quente do marido. Estava bem frio ali e a temperatura continuava caindo rápido enquanto anoitecia.

Kurt entendia cada necessidade dela, mas estava disposto a não lhe dar tudo de imediato. Deixou sua língua correr pela orelha dela enquanto corria a mão teimosamente ainda sobre o tecido da sua blusa. Os gemidos de Jane brotaram num misto de satisfação e súplica. Aquele som era alucinante para ele, com certeza um de seus sons favoritos no mundo.

— O que houve, Honey? Sua respiração está ofegante... – sussurrou fingindo ignorância entre beijos molhados ao pé de seu ouvido.

— Você... – e voltou a beijá-lo ao terminar de desabotoar sua camisa. – eu...- e mais beijos vieram – e uma bomba. Isso não te enlouquece?

— Acho que você pode descobrir isso sozinha. – e ele sugeriu e Jane deixou sua mão escorregar para verificar o volume que lutava forte contra o tecido da calça.

Instintivamente, suas mãos voaram para o botão da calça, louca para livrá-lo de tudo que o prendia. A urgência do desejo se sobrepôs a qualquer coisa que tivessem planejado para tornar aquele momento sedutor ou sensual. Foram rápidos em se livrar das roupas que impediam o contato permanente e quente de suas peles.

Não conseguiam parar de trocar beijos mesmo enquanto as mãos de ambos exploravam cada parte do corpo do outro a que tinham alcance. Eram movimentos lentos e suaves, um roçar dos dedos que mais insinuava do que possuía instigando a vontade por mais. O amor que sentiam precisava dessa delicadeza após momentos tão tensos minutos atrás.

Incapaz de abrir mão do sabor dele em sua boca, Jane desceu os beijos pelo pescoço e clavícula do marido enquanto recuava um pouco, só um pouco, dando espaço para que sua mão corresse mais para baixo. Seus dedos se fecharam ao redor dele e se movimentaram sentindo a espessura e o comprimento antecipando o quanto seria enlouquecedor tê-lo dentro dela.

— Jane. – ele gemeu mais que falou, suas mãos firmes no quadril da esposa, agradecendo e implorando por mais ao mesmo tempo. Seus lábios migraram para a tatuagem de pássaro no pescoço dela e, depois do beijo molhado, deixou sua barba roçar a pele dela enquanto sussurrava em seu ouvido – Eu estava com tanta saudade...

A vontade de Kurt era não esperar mais nada. Seu corpo pedia que a penetrasse já. Mas havia tanto sentimento ali que precisava garantir que ela estava tão preparada quanto ele. Sua mão deslizou para o meio das pernas delas. Suavemente ele roçou um dedo solitário em suas dobras, seguindo o jogo de insinuações que ela começou. Contornou suavemente seu clitóris depois deslizou pela fenda brincando superficialmente ali. Havia tanto prazer e frustração nos gemidos dela que ele sorriu orgulhoso por ser capaz de trazê-la a isso. Jane estava queimando e tão úmida que não havia mais motivos para retardar o que os dois mais desejavam.

Voltando a suspendê-la, ele a levou contra a parede metálica, aproveitando uma saliência que formava um minúsculo degrau perfeito para ser usado como apoio.

Aquilo não seria fácil. Qualquer outro casal sem o preparo físico dos dois não conseguiria, mas a forma como as pernas delas se mantinham estáveis, músculos firmes e ativas prensando o quadril dele, era tudo que ele precisava pra ter certeza que teriam sucesso.

Então, ele começou a penetrá-la terrivelmente devagar, desbravando cada centímetro de suas dobras com todo o cuidado e apreciação que queria. Ela entendeu e colaborou, aproveitando tudo que aquelas sensações alternadas de prazer e necessidade podiam lhe dar. Quando, finalmente estavam fundidos num só, começaram os movimentos num ritmo vagaroso e focado que depois foram se tornando mais fortes e rápidos.

Cada colisão de seus corpos era um teste de força e resistência. Mas também havia tanta conexão e profundidade.  O casal se viu mergulhado num mar de entusiasmo e gratidão. E eles repetiram aquilo, seus corpos se chocando de novo e de novo, cada movimento plantando o desafio do que estava por vir e, inferno, eles pareciam ter mais vigor a cada recomeço desejando a sequência seguinte!

Seus gemidos e suspiros foram enchendo o cubículo no qual estavam confinados, sendo facilmente lidos pelo outro como as palavras mais claras. Todos o esforço físico foi relaxando as defesas da racionalidade e os afogando em puro prazer. Eles estavam perto, muito perto agora.

— Jane... – ela o ouviu chamar seu nome de forma quase desesperada, lutando para manter o controle, mas sem a certeza de que seria capaz.

— Kurt... – ela respondeu mostrando que estava tão perto da borda quanto ele.

Veio rápido e forte, seus corpos explodiram juntos sentindo a corrente elétrica levá-los a beira do colapso para então começar a refluir. Mas Kurt não parou abruptamente, moveu-se mais algumas vezes, e céus, conseguiu arrancar tudo de cada pulsação e clímax de Jane. Com um último gemido rouco, ela sinalizou que ele podia parar.

Negando a própria reação biológica que lança o corpo no relaxamento e exaustão, os dois se agarraram um ao outro, seus lábios buscando por qualquer pele exposta ao seu alcance. Não eram mais beijos de desejo, era um tipo de reverência a pessoa que tanto amavam.

Assim eram eles: tão fortes e tão apaixonados, tão intensos e tão resilientes, em perfeita sintonia sempre. E isso era tão doce!

De volta ao presente:

Jane deu um breve suspiro ao relembrar o passado recente e concluiu:

— Minha vida sexual também voltou ao normal.– e olhou discretamente para Avery – E minha família está muito bem.

— Bem, acho que isso prova definitivamente que a pesquisa de Avery Drabkin tem grande validade científica. A partir de agora, o Fator Jane deve ser discutido e considerado ao tratar pacientes com danos cerebrais, mesmo nos casos mais severos. – o cientista alto e calvo concluiu.

— Na verdade, existe mais uma questão que quero fazer a Jane, aproveitando que ela pode estar conosco hoje. – Avery insistiu. – Sr. Weller, poderia vir até aqui?

E Kurt se levantou com Chloe nos braços se juntando ao grupo na bancada. Assim que chegou, Avery pegou a irmãzinha nos braços antes de continuar.

— Jane, poderia esclarecer a todos o que te moveu por uma trajetória tão desafiadora?

A resposta veio rápido, porque Jane a conhecia muito bem.

— Sempre tentei fazer o que era preciso para poder viver em paz com as pessoas que eu mais amava.

— Bom! – Avery assentiu e assumiu uma postura desafiadora – E, agora, nessa nova fase de sua vida, quem são as pessoas por quem você nutre esse amor tão especial e renovador?

Jane sorriu tentando esconder até de si mesma a pequena inquietação que se formava dentro dela. Pela primeira vez desde que subiu naquela bancada, ela temeu que a resposta não fosse o que Avery esperava. Mas ela aprendeu que a verdade sempre causa menos danos do que a mais doce omissão, então disse calmamente:

— Hoje eu tenho uma grande família e amo muitas pessoas. Vou resumir apontando aquelas sem as quais eu não poderia continuar e que sei não querem continuar sem mim. Meu marido Kurt e minhas filhas Chloe e... Avery.  – e suspirou tentando conter as lágrimas.

— Obrigada por estar aqui, Jane! – Avery concluiu olhando diretamente nos olhos da mãe e sabendo que aquelas palavras significavam muito mais que apenas o agradecimento pela participação num evento científico. – E obrigada a todos os presentes.

Então, ela caminhou até a mãe e a abraçou. Kurt se juntou ao grupo. Depois Jane pegou Chloe para que a filha pudesse cumprimentar os cientistas presentes que estavam ansiosos por parabenizá-la de forma particular.

Dois anos depois

Kurt entrou na cozinha ainda um pouco cambaleante de sono, coçando os olhos. Usava apenas uma calça de moletom. Teria dormido um pouco mais, mas teriam um longo dia pela frente e precisava agilizar as coisas.

Os raios de sol ainda tímidos da manhã ultrapassavam a vidraça e banhavam o corpo de Jane, que estava em pé ali olhando para o quintal enquanto sorvia o líquido quente da caneca entre suas mãos. Ela usava um chambre de seda longo, na cor champagne. Seus cabelos estavam presos num coque desajeitado com fios soltos que caiam em seus ombros. Parecia a composição perfeita de uma obra de arte. Beleza, delicadeza e docilidade se combinavam numa força que lhe dava caráter divino. Era assim que ele a via. Era assim que ele sempre a veria por toda a vida.

Ele aproximou-se devagar e envolveu os braços ao redor de sua cintura enquanto afundava seu rosto na curva do pescoço dela. Ela fechou os olhos e deixou-se deliciar com o mais perfeito bom dia que existia. Depois juntos, olharam pela ampla porta de vidro para o quintal.

— É, nós conseguimos. – havia orgulho nada velado na voz dele.

— Foi um ótimo trabalho digno da celebração que teremos hoje.

— Seria a primeira das grandes obras arquitetônicas da família Kruger-Weller?

— Um sonho ousado. Mas não mais ousado do que tudo que fizemos até aqui, Kurt Weller FBI. – o carinho e um sutil tom de brincadeira na voz dela não passaram despercebidos.

Ele a virou, queria olhar em seus olhos. Então deixou as costas dos seus dedos tocarem a pele do rosto dela:

— Ousadia deveria ser integrado ao nosso sobrenome. E coragem, força, resistência...

— E amor, muito amor. – ela completou suspirando. – Mais do que uma casa na árvore, nós construímos uma nova família. O orfanato, Orion, a Sandstorm, HCI Global e Madeline Burke, nem mesmo tudo isso junto se compara ao desafio que vencemos aqui. – e seus olhos se inundaram de lágrimas.

— Mas vencemos e é isso que importa. – ele disse apertando os lábios e tombando a cabeça ligeiramente para o lado enquanto secava a lágrima que a venceu. – Porque juntos somos melhores.

— Muito melhores. E eu te amo ainda mais por isso. – e repousou as mãos no peito dele.

— Mas eu ainda te amo mais. – disse se curvando para o beijo que ela manteve com um breve selinho para desafiá-lo

— Não mesmo. Eu te amo mais. – murmurou entre as colisões suaves de seus lábios nos dele.

Por fim, abandonaram-se naquele momento só deles, deixando que o sabor do outro os inundasse por completo, entregues ao amor que sentiam. Foi longo e doce. Mas sempre parecia tão breve para os dois.

— Mamãe... mamãe... – a vozinha de Chloe soou carregada de sono e terminou com um bocejo. – É hoje! É hoje!

Jane e Kurt interromperam o beijo e sorriram trocando um olhar de cumplicidade. As interrupções eram muito mais frequentes agora. E muito melhores.

— Bom dia, meu amor. Sim, hoje é o grande dia: a inauguração da nossa casa na árvore para comemorarmos o dia em que eu e seu pai nos conhecemos! – e pegou a filha no colo. – Mas como foi que você chegou até aqui, mocinha? – questionou olhando para Kurt com as sobrancelhas arqueadas.

— Eu abri o portãozinho e vim pela escada. – e a pequena mordeu os lábios sabendo que descer as escadas sozinha não era coisa que os pais aprovavam. – Devagarinho, jamais correndo.

Kurt veio até as duas e beijou a cabecinha da filha.

— Devagar, sem correr. Isso é bom, Chloe. Mas é sempre bom nos chamar pela babá eletrônica que iremos até você para te ajudar a descer. – e olhando para Jane continuou – É hora de desistirmos das travas no portão da escada. Ela consegue abrir com uma facilidade maior do que a Patterson com computadores.

— Obrigada, Papai. Eu desci logo porque achei que a festa já estava aqui.

— Ainda vamos preparar tudo, meu amor. – Jane deu um longo beijo na filha e aspirou seu cheiro. – Que cheirinho delicioso! Já que você acordou, vai nos ajudar com o café da manhã e depois vamos acordar seus irmãos. – e colocando a filha de volta no chão, concluiu – Temos um pequeno gênio mirim das travas, mais um desafio, agente especial.

— Não importa quantos anos se passem, o incidente na Times Square continuará me trazendo questões novas que preciso solucionar. A única diferença é que já decifrei o mapa do tesouro. Na verdade, o mapa agora é o meu maior tesouro.

— Não importa quantos problemas tentem nos separar, eu sempre vou querer voltar pra você, Kurt Weller. Eu posso ter tatuado seu nome nas minhas costas para que tudo isso começasse, mas tudo que vivemos deixou marcas muito mais profundas e especiais dentro de mim. Mesmo que eu me esqueça de todo o resto, ainda vou amar você e tudo que construímos juntos.

— Eu tenho certeza absoluta disso. - e a puxou para mais um beijo.

O dia passou voando com os preparativos da festa. No meio da tarde quando tudo já estava pronto, os convidados foram chegando. Em pouco tempo a casa se encheu. Toda a família estava reunida. Antigos e novos amigos também compareceram.

Danny estava na casa da árvore com Phil e Mark, os filhos de Jeremy Santoro. Os três aproveitavam para se gabarem da ausência das meninas ali.

Amber fazia as unhas de Bethany sentadas na escada do deque. Chloe e Maya não se cansavam de correr pelo gramado com Dexter, o labrador da família.

Em volta da churrasqueira, os homens petiscavam enquanto tomavam cerveja.

— Vocês fizeram um ótimo trabalho com o quintal. A piscina foi ideia de quem? – Lincoln estava curioso.

— Jane ama nadar. E conseguiu ensinar as crianças rapidamente. Até Chloe já se vira bem na água. E a natação foi essencial para a adaptação de Amber e Danny. – Kurt esclareceu.

— Confesso que quando vocês falaram em adoção, imaginei crianças menores.

— Nós também, Jeremy. Pensávamos numa adoção tardia sim, com crianças na faixa dos 6 anos de idade para uma proximidade com Bethany. Mas quando conhecemos esses irmãos, o coração falou mais alto. Amber já tinha 11 anos e Danny 9 anos e meio. A sintonia no orfanato foi total. Já a adaptação depois de trazê-los pra casa foi árdua. Quando vejo onde estamos hoje, é inacreditável. Em alguns momentos chegamos a considerar que nunca seríamos realmente uma família para eles. Os laços afetivos deles pareciam fechados apenas entre os dois. – Kurt reforçou com o gesto das mãos. – Enfrentamos também o ciúme de nossas outras filhas. E, quando não esperávamos mais nada, tudo deu certo. Eles passaram a demonstra carinho por todos da família assim como nós fazíamos por eles. Valeu cada segundo de dedicação.

— Vocês estão realmente bem agora. E Jane parece muito feliz. Particularmente, eu achava que essa vida em família jamais a satisfaria. – Clem confidenciou após um grande gole de cerveja. - Ela sempre foi muito determinada, do tipo que sabe o que quer. Você e essa família sempre foram sua escolha.

— Ela tem uma vida muito ativa. Faz trabalho voluntário na escola de Bethany, ajuda Patterson com a ONG onde tem uma capacidade fora do comum para persuadir fornecedores e meninos rebeldes além de dar aulas de defesa pessoal para as meninas. Também estamos trabalhando juntos para nossa terceira mostra de quadros. E ainda presta consultoria ao FBI. – Boston resumiu orgulhoso da amiga. – Enquanto outras pessoas usam o trabalho no FBI como desculpa para fugir de um final de semana na casa dos meus pais ou de uma festa épica em estilo Moulin Rouge.

— Ei, a responsabilidade no laboratório tem me consumido desde que Patterson deixou o FBI. Além disso, eu não ouvi Kurt mencionar sexo no relato dele. Tenho certeza que até mesmo Jane, depois dessa rotina insana dela, deita e dorme. – Rich disse com pouco caso. – Não é mesmo, Stubbles?

— Rich, se tem algo que define Jane é que ela nunca para. Nunca! – Kurt respondeu antes de tomar outro gole de cerveja. A expressão satisfeita no seu olhar dizia mais que suas palavras.

Os rapazes se entreolharam e foram discretos evitando comentários.

Nesse momento, Jane se aproximou acompanhada de Avery e Allie.

— Tudo em ordem por aqui? Precisam de algo? – questionou já envolvendo os braços ao redor de Kurt.

— Acho que estamos abastecidos de bebidas e carne. Agora, se estiver falando de mim, tenho tudo que quero e preciso. – Kurt disse olhando nos olhos dela que sorriu entre suspiros e beijou o marido de forma mais longa do que estavam acostumados em público.

— Sei que o que temos é perfeito. E é muito mais do que eu poderia sonhar. Mas estamos com convidados e as garotas precisam do que vocês estão preparando. – disse ainda com os olhos fixos no marido. Era como se o mundo ao redor desaparecesse enquanto se conectavam assim.

Jeremy se apressou em pegar uma bandeja e abastecê-la com um pouco de tudo que havia na churrasqueira.

— Own, eles são tão perfeitos! Isso é verdade ou algum tipo de encenação pra data especial de hoje? Porque se for encenação, mesmo assim se encaixou perfeitamente. – Boston falou enquanto abraçava Avery e Allie.

— Quem dera fosse encenação. Eles são assim o tempo todo: enquanto cozinham, limpam, trocam fraldas... Aff. – Avery fingiu um leve descontentamento.

Já com a bandeja preparada, as mulheres se reuniram em volta do balcão, bebendo enquanto conversavam.

— Agora vamos parar de falar das crianças e ir ao assunto que temos evitado a tarde toda: Clem! Como eu ainda não conhecia esse seu amigo, Jane? – Allie perguntou empolgada.

— Clem estava na cidade por acaso e Kurt quis convidá-lo para estar conosco hoje. Ele trabalhou comigo na época de Sequestros & Resgates e impediu Dwire de servir minha cabeça numa bandeja de prata aos caçadores de recompensa. Depois nos ajudou no resgate de Avery.

— Sequestros & Regastes? Além de lindo e sensual o homem ainda pode ter habilidades bem úteis... – Nas foi menos velada no comentário do que de costume. 

— Talvez Clem possa se tornar um excelente ativo do FBI, Tasha. – o tom de voz de Jane deixava nítida a ambiguidade de suas palavras.

— Nem vem! Estou muito bem sozinha. O cara pode ser lindo, charmoso e cheio de habilidades, mas eu não quero mais ninguém na minha vida. – a latina deixou claro.

Jane cobriu a mão dela com a sua e concluiu:

— Quando se ama alguém e tenta colocar outra pessoa ali para a aplacar a dor da ausência, acaba não sendo justo com ninguém: nem com eles, nem com a gente mesmo. Eu te entendo.

— Tasha é irredutível nesse ponto. Tentei arrastá-la de volta à pista, mas foi inútil. – Patterson analisou. –E apesar de concordar que o amigo da Jane tem muitos pontos a seu favor, sei que é preciso viver o luto antes de amar novamente. Eu também achava que nunca outro alguém poderia estar onde David esteve. E, de certa forma, ainda acho isso. Tem lugares no meu coração que são só dele. Mesmo assim, Lincoln se aproximou e estou curtindo nosso momento juntos. – e acariciou a barriga já no terceiro trimestre de gestação.

— Não contem que ela se apaixonou e formou uma família. – Zapata fingiu cochichar – Ela é alérgica a isso.

Todas riram.

— Mas existem outras mulheres nessa cozinha. Desde que me separei de Connor, foram várias tentativas frustradas de relacionamento.

— Meus relacionamentos nunca duraram muito. Perdem logo a razão de ser. Mas isso não é razão para não arriscar, não é mesmo? – Nas se posicionou.

— Falando em riscos, considerando todo o conjunto do senhor perfeitinho lá fora, pode ser que o cara não seja bom de cama. Temos que considerar isso nessa nossa investigação inicial. – Allie pontuou.

— Não. Ele é bom sim. – Jane disse enquanto pegava potes para os petiscos no armário. E, virando-se de volta para o balcão, continuou – quanto a isso você pode ficar sossegada.

As amigas se entreolhavam surpresas enquanto Avery tentava conter o riso por ver que a mãe não tinha se dado conta da revelação que fez:

— Bom quanto, Jane? – Allie alfinetou.

— Muito bom. – ela respondeu balançando a cabeça, sua atenção na distribuição dos petiscos e não nas reações das amigas.

— Então, qual é o defeito do Clem? Será que você poderia nos preparar para isso, Jane? – Nas foi sagaz.

Jane olhou finalmente para elas, plena e determinada como sempre:

— O único defeito que Clem tem, Nas, é que ele não é Kurt Weller. – e sorriu apaixonada como toda vez que se lembrava do marido. – O que ainda estamos fazendo aqui dentro quando o interesse geral está lá fora? Devemos aproveitar melhor a piscina, meninas. Vamos?

As meninas saíram em direção ao quintal e Jane aproveitou para desviar-se do grupo entrando no lavabo. Assim que passaram pela porta, Allie comentou com Nas:

— O jeito é focar no que sobrou.

— E arriscar com alguém que não é Kurt Weller, porque esse é totalmente da ex-terrorista.

Minutos depois, Jane apontou no deque. A alegria de todos ali presentes a comovia. Ela encontrou a paz para sua família. Não era um sonho ou uma alucinação para lhe causar dor. Tudo aquilo era real: o vento tocando sua pele, os sons das risadas e conversas, os aromas das comidas, a vida e a felicidade pulsando dentro dela.

Uma mesinha estrategicamente disposta ali continha as lembrancinhas daquela festa: uma miniatura da mala na qual ela se entregou a ele. Essa decisão que quebrou o ciclo de dor em sua vida. Uma casa na árvore para celebrar uma família que começou da forma menos previsível possível. Oito anos do incidente na Times Square. Oito anos que seu plano terrorista a colocou na vida o melhor agente especial do FBI.

Seu olhar varreu o ambiente do quintal em busca do marido. Não foi preciso que ela o chamasse. Assim que seus olhares se cruzaram, Kurt percebeu que havia algo de diferente ali e foi até ela.

Ele fez questão de ficar muito próximo à esposa, envolveu um dos braços ao redor de sua cintura e levou a outra mão para seu rosto:

— Jane, vocês está bem? (Jane, OK?)

Sem se desprender do olhar dele, ela deu um longo suspiro. Depois alcançou a mão dele que estava em seu rosto, depositou ali um pequeno objeto e a colocou em seu peito, para que ele sentisse as fortes batidas do seu coração:

— Eu nunca estive melhor. (Never better!)

O teste dizia POSITIVO.

 


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Notas finais do capítulo

Sei que será repetitivo, mas é proposital. Minha gratidão não pode ser calada.
Muito obrigada a cada um de vocês que leu essa história.
E um muito obrigada ainda mais especial para você que encontrou um tempinho para deixar um comentário e interagir comigo. Isso fez toda a diferença.
Se você leu e gostou mesmo dessa fanfic, por favor, faça o login e coloque essa história entre as suas favoritas.
Eu queria muito finalizar aqui deixando um comentário sobre Jane, a personagem, não a fanfic, mas as lágrimas e a ebulição de sentimentos que toma conta de mim não deixam. Só quero dizer que ainda falta muito, muito mesmo, para o mundo entender e aceitar a força que tem uma mulher sem exigir dela um auto-sacrifício.

Valeu, Jane!