Jane escrita por Lucca


Capítulo 1
Fênix


Notas iniciais do capítulo

O final de Blindspot mexeu muito comigo. Já chorei demais. Queria muita ação, Jeller juntos com força total contra tudo que pudesse afastá-los do final feliz. Acompanhar Jane naquela jornada cruel só me entristeceu.
Infelizmente, não consegui me desprender das possibilidades de fim que estão totalmente amarradas uma a outra. Então, essa história começa exatamente ali, naquela dualidade de possibilidades que pode guardar o final real, diferente de tudo que vimos.



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A mesa repleta de tudo que ela mais amava: comidas e família. A casa cheia. A felicidade parecia tão palpável, perceptível a todos os seus sentidos. O sabor da comida, barulho das crianças, o cheiro das pessoas, as cores calmantes do ambiente, o calor da mão de Kurt segurando a sua.

— Nós temos tanta sorte. – ele disse sorrindo com aqueles olhos traziam o céu para cada segundo do seu dia. – É um milagre que estejamos todos aqui. Qualquer erro, poderia ter mudado tudo. Havia tantas possibilidades desfavoráveis para nunca chegarmos até aqui.

E, de repente, tudo a sua volta se transfigura.

Ela está de volta a Times Square. Ouve Kurt gritando seu nome, mas a escuridão vai se fechando sobre ela. Por mais que tente, já não ter forças para lutar.

Está frio, tão frio...

“Não!” ela grita consigo mesma se recusando a desistir. Concentra-se em sugar o ar a sua volta.

Uma, duas, três tentativas.

Sente a pressão sobre seu peito.

E tudo se materializa a sua volta de novo. Sua casa, sua família, Kurt. Todos felizes. Nada aquecia mais seu coração.

É rápido demais para que ela possa impedir e lento demais para que não sentisse sua alma se despedaçando. Ela olhava para o lugar e as pessoas, mas não havia mais familiaridade nenhuma com eles.

Desesperada, agarrou as mãos de Kurt e Avery sentados ao seu lado na mesa. E viu um a um todos desaparecendo até que só restaram os três ali. A casa, a mesa, tudo se foi.

— Temos tanta sorte por termos você, Jane. – a voz da filha ecoou distante.

Ela deixou sua determinação consumi-la por completo. Não desistiria desses que restaram. Eles seriam sempre dela, sempre! Avery e ... o homem doce com lindos olhos azuis e o sorriso torto.

Escuridão...

Escuridão...

                                                    *****************

— Conseguimos estabilizá-la após injetar o antídoto. Ela está entubada, mas estável. Realizamos uma tomografia e uma ressonância para avaliarmos os danos cerebrais. Infelizmente foram muito extensos. Desanimadores, eu diria. Provavelmente não sobreviveria sem o suporte respiratório.

Kurt precisou levar as mãos ao rosto buscando qualquer coisa que fosse capaz de trazer a ele a concentração necessária para suportar aquilo.

— Diante do diagnóstico, o senhor tem o direito de optar pelo desligamento dos aparelhos. – o médico chefe prosseguiu deixando-o ainda mais atordoado. - O caso não conclui como morte cerebral, mas também não temos precedentes sobre as reações a esse novo tipo de ZIP. Em circunstâncias normais, o que essa junta médica aconselharia é deixá-la descansar em paz, Sr. Weller.

Mas a mente de Kurt estava vazia demais para formular uma resposta. Nos últimos meses ele tinha a certeza de estar conhecendo o inferno em vida longe da filha, acusado de terrorismo, fugindo e sendo caçado por Madeline. Mas isso era muito pior. Lá, ela estava com ele. De que valia toda a estabilidade que teria pela frente agora?

Ela relatou um a um os pesadelos repetitivos pra ele. Ela se voluntariou para confessar tudo para livrá-los do black site. Merda! Ela não vinha bem desde sua fusão com Remi. Uma única consulta com um psicólogo não era suficiente para organizar aquela bagunça toda.

Como ele foi confiar em deixá-la sozinha com o antídoto? Jane estava sob o efeito daquela droga e precisava ser monitorada por alguém capaz de responder por ela. Ele. Sim, ele era seu marido. Cabia a ele estar ali por ela. Deveria saber disso. Deveria ter se feito mais presente. Deveria ter dado mais atenção a cada sinal...

E como se não bastasse o castigo de viver sem ela, cabia a ele o sentença final: a ordem para desligar os aparelhos que a mantinham respirando.

Ao mesmo tempo que lhe faltavam forças para formular a resposta ao médico, sentia que devia isso à Jane. Se falhou com todo o resto, devia colocar um fim ao seu sofrimento agora.

Aconteceu de novo. A linda garota de olhos verdes, corajosa e decidida, colocada aos seus cuidados e ele falhou. Assuma, Weller! Receba seu castigo como merece!

— Sr. Weller, o senhor está bem? – a voz do médico o chamou de volta de seus pensamentos.

Após um longo suspiro, ele foi capaz de falar:

— Sim... e não.

— Posso continuar ou o senhor precisa de algum tempo?

— Por favor, diga tudo que tem para dizer... – disse destruído.

— Como eu ia dizendo, geralmente aconselhamos o desligamento dos aparelhos. Mas há algo mais a considerar.  Os exames sanguíneos dela estavam alterados e descobrimos uma gravidez ainda em estágio inicial, não mais que três ou quatro semanas segundo a ultrassonografia e o betaHCG.

Kurt desejou a morte. Além de dar a sentença à Jane teria também a vida do filho dos dois?

— Existem relatos de casos parecidos em que foi possível manter o corpo da mãe funcionando por tempo o suficiente até o bebê ter chances de sobreviver fora do útero. Mas há muitos fatores a considerar. As gestações estavam mais avançadas, nem todo caso teve sucesso, nenhuma das mulheres tinha sofrido um envenenamento por ZIP. A equipe de embriologia fetal acredita que há chances do feto não ter sido contaminado. Mas é uma suposição porque não existem casos preexistentes que nos sirvam de parâmetro de comparação. Enfim, cabe ao senhor decidir o que faremos daqui em diante. Vou deixá-lo sozinho por alguns minutos. Mas se sua decisão for a favor de mantê-la para tentarmos levar a gestação adiante, precisamos saber logo. Há procedimentos que precisamos realizar o mais breve possível.

O médico saiu pela porta deixando Kurt ainda sob o choque daquelas notícias. Ele apoiou os cotovelos nos joelhos e deixou a cabeça cair entre as mãos. Até as lágrimas o abandonaram.

Se existisse alguém capaz de dividir essa decisão com ele...

Avery! Era a mãe dela ali.

Não! Jane jamais concordaria em colocar qualquer peso daquela decisão sobre a garota. Ela mesma decidiria sem compartilhar com ninguém.

E o que Jane faria? Jane...ah, Jane nunca parava, nunca desistia...

A decisão estava tomada. E novamente foi Jane mudando toda a sua vida. Mesmo sem saber se teria forças para suportar a jornada à frente, por ela ele teria que enfrentar. Daria a Jane a chance de trazer o filho deles ao mundo.

                                               *******************

Os amigos o abraçaram colocando-se a disposição para o que fosse necessário. Todos estavam exaustos, desesperado por um pouco de sossego e paz após tantos meses de luta. Tão desesperados que se prepararam para o pior, para se despedirem de Jane naquele mesmo dia e, a partir dali, finalmente retomarem suas vidas.

Mas é claro que a tatuada se recusava a voltar para aquela mala, agora transformada num saco de necrotério. Ela os forçava a prosseguir numa nova rotina insana com desfecho imprevisível.

E era impossível negar isso a Jane, mesmo que a esperança de sucesso fosse praticamente inexistente. Todos se sentiam culpados.

                                               **********************

Avery ouviu o relato de Kurt ao telefone em completo silêncio. A garota estava terminando seu segundo ano em neurociência e era perfeitamente capaz de entender o significado de tudo que padrasto contava, talvez até mais que ele mesmo.

Então veio a bomba da gravidez. É claro que Jane estava grávida. Ela sempre conseguia deixar tudo muito mais complicado mesmo nas piores situações.

— Você concordou em tentar levar a gravidez adiante, não é? – disse rápido quando Kurt se calou do outro lado da linha. A força da frase mostrava o quanto ela era parecida com a mãe.

— Sim. Essa foi minha decisão.

— Ótimo. É a decisão que ela esperava. Mas você sabe que as chances são mínimas.

— Sei, Avery. Eu sei. – e ouviu a garota bufando do outro lado da linha.

— Ela fez de novo. Está tirando das nossas costas a decisão de desligar os aparelhos.

— É, eu pensei sobre isso também...

E Avery desligou sem se despedir. Kurt compreendeu. Sabia que ela estava em pranto agora.

                                                ************************

A rotina de entrada na UTI era lacerante. Com o emocional em frangalhos e a tensão delineando cada um dos músculos de seu corpo, vestir a roupa adequada e lavar as mãos seguindo as recomendações pareciam muito mais difícil do que desviar de uma chuva de tiros e abater cinco inimigos em campo.

Quando ele se aproximou do leito de Jane, a quantidade de aparelhos ligados à ela fez seu estômago revirar. No começo só observou cada detalhe daquela nova realidade que o acompanharia nos próximos meses: os números nos monitores, o som do bip constante, o gotejar controlado pelas bombas de infusão, o expandir e retrair do respirador.

Só quando seus olhos pousaram sobre ela algo dentro dele mudou. Jane parecia tão frágil e minúscula naquela cama. Tão pálida e inerte. Mas estava serena, determinada enchendo o coração de Kurt com uma esperança que ele já considerava perdida.

Até mesmo tendo apenas um fiapo de vida, Jane ainda era capaz de trazê-lo à tona do mar de escuridão onde costumava mergulhar a procura de abrigo.

Kurt se debruçou e roçou os lábios na pele macia da testa dela. Não foi capaz de sentir aquele cheiro que ela emanava normalmente, um dos mais doces aromas que já conhecera. Tudo ao redor cheirava assepsia. Mas a textura da pele era a mesma.

Sentou-se e correu os dedos pela pele do braço desnudo dela, deixando as linhas das tatuagens se fixarem na sua memória mais do que nunca. Alcançou a mão da esposa e entrelaçou seus dedos aos dela:

— Olá, Janie... Aqui estamos nós preparados para mais uma missão, nossa última missão, honey. Não vou falar como estou me sentindo por você sabe, você sempre sabe. Assim como sabe que estarei aqui, ao seu lado, por todo o tempo que for necessário. Todos dizem que as nossas chances são pequenas... Se não der certo, Sweet heart, tudo bem. Mas eu acho que eles não te conhecem como eu. Existe um fio de esperança dentro de mim que insiste em acreditar que tudo vai dar certo... – e secou as lágrimas que escaparam sem sua autorização. – Nós, eu e o bebê temos tanta sorte por termos você, Janie.

                                                ***********************

Kurt ficou duas semanas afastado. Depois começou a prestar serviços de consultoria para o FBI. Esse trabalho trazia alguma renda e mantinha o seguro saúde que garantia que Jane permanecesse no Hospital do NYO. Além disso, o horário parcial lhe permitia realizar diariamente as visitas da manhã e da noite.

Ele se sentava lá e conversava com ela e com o bebê, como se tudo estivesse bem e estivessem em casa.

Tasha agora era a nova Assistente de Direção do SIOC. Rich dividia com Afreen o trabalho no laboratório tecnológico. Patterson se dedicava a uma ONG que ensinava programação à adolescentes em situação de risco enquanto seus aplicativos de jogos eram um sucesso. Continuou em Nova Iorque para prestar assistência tanto ao SIOC quanto à Tasha quando o bebê nascesse.

Uma semana após Kurt retornar ao trabalho, Allie veio visita-lo com Bethany. Ter a filha ali, abraçá-la e poder mergulhar no seu universo infantil era tão revigorante para ela. Também alimentava suas esperanças. Logo seriam duas crianças ali no chão da sua sala. Ele estava decido a ser forte e enfrentar tudo sozinho por Jane. Mas aquele final de semana foi um bálsamo que o fez considerar, pela primeira vez, ter uma conversa sincera com Allie pouco antes das duas partirem:

— Muito obrigada por ter trazido Bethany. Eu precisava disso.

— Eu sei, foi por isso que viemos. Ela também precisa de você.

— Isso realmente me fez muito bem, Allie. E me faz pensar que estar com ela mais vezes pode ser tudo que eu preciso nesse momento.

— Concordo com você. Permita-se isso, Kurt. Ninguém é de ferro. Nossa filha é uma criança incrível e vocês já ficaram tempo demais separados.

— Você sabe que nunca fiz cobranças a respeito de Bethany. Sei que não estive presente tanto quanto deveria. Mas se houver alguma chance de trazê-la para mais perto... Os jornais falam frequentemente do grande número de aposentadorias na US Marshall de NYC, talvez...

— Kurt... – ela o interrompeu e parou para respirar buscando as palavras certas. – Bethany tem uma vida no Colorado: escola, amigos, ballet, assim como eu também. Romper com tudo isso para trazê-la de volta a NYC é complicado. Além disso, talvez você precise do Colorado no futuro.

Ele abaixou a cabeça, tentando camuflar suas emoções.

— Nós realmente tínhamos planos pra isso, Allie. Eu juro. Mas agora pode demorar muito tempo pra isso acontecer.

— Ou não. Na melhor das hipóteses, de oito a dez meses você poderá estar se mudando. Na pior pode ser semana que vem. Você sabe que as chances do bebê sobreviver são pequenas. Por isso não posso envolver Bethany nisso, Kurt. Mas, por favor, saiba que sempre estaremos lá por você. Se tudo der certo, estaremos lá para te acolher e ajudá-lo com o bebê. Se tudo der errado, lembre-se que você já tem uma filha, linda e saudável, capaz de compreender tudo e sofrer. Jane já não está sofrendo mais. Ela não pode te ver ou te ouvir, nem sente sua falta como sua filha. Então, vá até o Colorado mesmo enquanto tudo isso não se resolve. Por você e por Bethany. Sei que deve doer ouvir isso. Realmente não queria ser a pessoa a te dizer essas coisas. Mas alguém precisa te ajudar a enxergar além do amor que você sente por Jane.

Ele balançou a cabeça concordando com ela, mesmo que seu coração discordasse. Precisava encarar a realidade por mais que mantivesse viva uma chama de esperança.

Dez semanas depois....

 - Olha, eu simplesmente não posso, entende? Eu até queria, mas não posso.

 - Tudo bem, Avery. Tenho certeza de que ela entende.

— Mas eu queria que você colocasse um áudio meu pra ela ouvir. Tá, eu sei que é inútil. Ela não ouve mais...

  - Acho que se ela pudesse ouvir, isso a deixaria muito feliz.

— Vou pensar aqui no que dizer e te envio depois. Sei que ainda é cedo, mas eu tô começando a achar que ela vai conseguir, sabe? Não achei que chegariam até aqui...

— Ela está indo muito bem. Paparicada por todos na UTI. A chamam de Branca de Neve... – e limpou a garganta tentando desfazer o nó que o engasgava.

— Pena na vida real não ser possível trazer alguém de volta com um beijo. Se o tal beijo mágico do amor existisse, tenho certeza de que o que você sente por ela faria isso. – e fez uma breve pausa pra controlar a voz que já a traía carregada pelos sentimentos que subiam rápido - Obrigada por cuidar da Jane por mim, Kurt. – e deligou apressada novamente.

Mais tarde naquele mesmo dia....

 Kurt já estava mais habituado à rotina de entrada na UTI agora. Ainda assim, os passos entre a sala de preparação até o leito de Jane ainda eram transpostos sentindo o sangue pulsar em suas veias. Somente após verificar a serenidade dela e a constância nos aparelhos ele se acalmava.

   Ocupou a cadeira e entrelaçou os dedos aos dela. Suspirou engolindo aquela sensação que ficava mais forte a cada. Aquela ideia de que poderia ser pra sempre, que teriam apenas mais alguns meses pela frente.

  - Boa noite, Janie. Conversei com os médicos agora. Todos estão otimistas. Você está surpreendendo a todos se mantendo estável sem intercorrências. Isso é muito bom. O ultrassom dessa tarde mostrou que a bebê está muito bem também. Ela se mexe bastante, dá cambalhotas. Isso é um ótimo sinal de que ela está bem. Talvez eu deva começar a pensar num nome pra ela... Ah, Avery ficou muito feliz em saber que terá uma irmã. Bethany também ficará quando lhe contarmos. E eu trouxe uma surpresa. Sua filha sente saudade e resolveu gravar isso para você... – e ligou o celular pra deixar o áudio da enteada tocar.

   - Oi, Jane. Soube que você está indo bem. E que teremos uma garotinha a mais na família. Fiquei muito feliz com isso. Olha, sei que demorei pra fazer isso. Eu estava bem ocupada com a faculdade... Eu não sei o que dizer... Droga, queria, na verdade, te pedir pra ficar. Mas não é justo porque já está sendo incrível o que você conseguiu até aqui. Então, fique firme. E saiba que, dessa vez, você não está sozinha. Eu te amo, mãe. Nós temos tanta sorte por ter você.

Dois dias depois, no apartamento de Kurt

   Os amigos apareceram com uma pizza. Uma desculpa esfarrapada para estarem juntos e fazerem companhia noturna a Weller. Tentaram deixar o clima agradável, como o otimismo prevalecendo ao vazio que sentiam pela ausência de Jane. Foi quando o celular dele notificou novas mensagens que o fizeram puxar o ar demonstrando que um conflito se instalara no seu interior.

 - O que houve? – Patterson foi a primeira a perguntar.

  - Nada. Não é nada. – disse desligando o aparelho.

 - É do hospital? Algo com Jane? – Tasha insistiu sentindo que não havia verdade no relato dele.

— Não. Era Allie. Bethany terá uma apresentação de balé no próximo final de semana e ela está insistindo para que eu vá.

 - Ah, que linda, Kurt! Você não pode perder isso. – Patterson insistiu.

— Sim, ela vai ficar tão feliz em ter o pai lá. – Tasha prosseguiu.

— Talvez eu vá. Pego um voo no sábado de manhã e retorno no domingo. – ele falou sem encarar os amigos.

 Todos trocaram olhares discretos num acordo silencioso para oferecerem apoio. Rich foi quem se aproximou e colocou a mão nas costas do amigo.

  - Eu posso fazer os horários de visita em seu lugar enquanto você está no Colorado. Jane deve estar sentindo minha falta. Não quero me gabar, mas sou mais divertido que você.

   - Ah, Rich, trate de ser menos egoísta. Eu também estou com saudade de Jane. Claro que jamais tiraria  um só minutos das visitas de Kurt, mas se ele não estará, com certeza vou te fazer dividir as visitas comigo! - Patterson se manifestou.

 - E eu? – Boston entrou na conversa. – Vocês acham que só porque nunca fui do FBI não sinto falta dela? Então é melhor lembrarem que nós dois temos uma história juntos da qual nenhum de vocês participou. Tenho certeza que ela está ansiosa pra saber como vai minha carreira e minha fase narval.

— Estão me excluindo só porque estou grávida? – Tasha salientou. – Vocês estão loucos se acham que vou abrir mão de estar com ela. Duas grávidas tem muito o que conversar. Portanto, Weller, melhor programar essa viagem para mais dias.

 Kurt sorriu emocionado, mas ainda triste.

  - Não tenho palavras para agradecer todo o apoio que estão me dando. Allie está insistindo pra eu ir na terça. Mas realmente é difícil... tudo que posso fazer agora é estar lá nessas visitas. Eu tenho que estar lá.

 Os amigos voltaram a trocar olhares carregados de compreensão. Tasha sentiu que cabia a ela abrir a parte difícil da conversa:

— O sentimento de culpa não é só seu. Eu já me perguntei mil vezes porque não prestei mais atenção nela.

— Ela disse que estava bem após tomar o tiro quando Ivy pegou você. Eu vi o quanto estava pálida, mas acatei. Devia ter aprendido a lição e desconfiado das reações dela no laboratório. – Rich confessou.

  - Eu já me odiei por não estar no SIOC com vocês. – Boston continuou. – Não estaria tão envolvido na busca da Ivy e ficaria com ela no hospital até o antídoto terminar. Pronto!

 - Tá, tá, tá. Vocês querem falar de culpa? Que tal considerarmos o erro na dose do antídoto? Mas nada disso muda onde estamos agora. Jane só pensou em nós. É hora de fazermos o mesmo por ela. Acho que você sabe qual seria a escolha dela, Kurt.

 Kurt apertou os lábios e sorriu triste. Tinha plena certeza do que Jane aconselharia naquela situação: “Vá ficar com Bethany e deixe que eu me despeça de cada um deles.” A voz dela com seu sorriso único estavam tão vivos em sua mente.

    - Vou para o Colorado na terça, então.

                                                               *************************

    Foram dias tão gostosos. Bethany tinha o dom de abstrair dele toda ansiedade e medo. Aqueles momentos com a filha eram até tentadores demais. Quase brotava dentro dele a vontade de ver um desfecho breve para tudo que vivia em NYC.  Mas, ao final do dia, quando colocava a cabeça no travesseiro, sua consciência pesava. Jane continuava lutando. Não era justo desistir enquanto ela resistia.

  A apresentação de balé foi encantadora. Bethany era a menina mais linda da turma, apesar de ter que admitir que não era a mais habilidosa com os passos da dança. Mas não importava. Foi perfeito.

 Enquanto comemoravam no McDonald’s para a pequena bailarina se fartar com toda batata frita que tinha direito e ainda levar um brinde pra casa, Allie sugeriu que ele não retornasse no domingo e aproveitassem para fazer um churrasco em família. Kurt concordou. Seria apenas algumas horas a mais no Colorado e faria toda a diferença para Bethany já que ele nem se lembrava da última vez que tiveram uma tarde de domingo reunidos. Ligou para a agência de viagens e remarcou o voo.

Na manhã de domingo, ligou para Tasha informar a mudança nos planos. Talvez nenhum dos amigos estivesse preparado para visitar Jane naquela noite, mas ele estava me paz com isso. Mesmo que todos dissessem que para ela não faria diferença, ele insistia no contrário, mas sabia que ela compreendia.

— E aí, como vai a vida de pai da bailarina? – a latina atendeu alegre com uma empolgação fora do convencional.

— Ela foi simplesmente perfeita, Tasha. Fiz vários vídeos. Foi inesquecível.

— Tenho certeza que sim.

— Então, Allie quer que façamos um churrasco essa tarde, por isso só voltarei amanhã.

— Só amanhã? – a amiga pareceu apreensiva diante da notícia.

— Mas não se preocupem. Sei que não estavam planejando ir visitar Jane hoje a noite. Não tem problema ninguém ir.

— E você chega em que horário na segunda? – Tasha perguntou aflita.

— No final da tarde.

 A latina limpou a garganta e puxou o ar. Era tempo demais para mantê-lo desinformado. Sabia que precisava dizer a verdade já.

— Bem, Kurt. Aconteceram algumas mudanças com Jane. Nós conversamos e achamos melhor esperar a apresentação de Bethany passar e você retornar para te contarmos.

Aquilo se abateu sobre ele enquanto o chão embaixo dos seus parecia se abrindo. Aflito questionou:

— Por Deus, Tasha, diga logo. Como ela está?

— Ela está bem agora, Kurt. Começou no decorrer da semana. Jane parecia estar tendo espasmos mais frequentes e intensos. Leves movimentos nos dedos das mãos. Coisas pequenas, mas os médicos acharam melhor fazer um eletroencefalograma. O exame não mostrou nada significativo. E tudo estava estável. Então seguiram apenas observando. Ontem de manhã ela teve um desconforto respiratório significativo. Os médicos descobriram que o tubo estava fora do lugar.

 Enquanto ouvia Tasha, Kurt andava de um lado para o outro. Inferno, ele já estava ali há dias, porque foi trocar a maldita passagem.

— Fora do lugar? Eles trocaram o tubo? Como isso pode sair do lugar?

— Quando os médicos ligaram dizendo que precisariam reentubá-la, fomos todos para o hospital. Também achamos estranho. Desconfiamos de algum erro da equipe de enfermagem. Estávamos lá, na sala de espera, quando tentaram realizar o procedimento.

— Como assim tentaram?

— Na verdade, eles fizeram o procedimento completo. Então o médico saiu para falar conosco. Estava nos dizendo que a respiração dela voltou ao normal quando a enfermeira veio chamá-lo porque o desconforto começou novamente. – e a latina riu de uma forma estranha

— Tasha, por favor, eu não vejo a graça disso. Como ela está?

— Eu disse. Ela está bem. Era o tubo fora do lugar de novo, Kurt. Alguém estava tentando tirar aquilo dela à força.

— Meu Deus, quem fez isso? Como podem deixar isso acontecer? Pensei que ela estava segura lá.

— Kurt... – Tasha o interrompeu já deixando transparecer as lágrimas. – Era Jane. Ela estava puxando o tubo. Ela está aqui. Jane acordou.


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Notas finais do capítulo

Escrevi entre lágrimas, inconformada com o final da série.
Por favor, se você chegou até aqui, sei que não foi uma leitura fácil. Mas confiem que pretendo desenrolar essa história em campos floridos.

Grata pela leitura.


Se quiserem compartilhar suas impressões comigo, deixem nos comentários. Não há nada que eu precise mais nesse momento do que essa troca por situações inusitadas e felizes do nosso casal favorito.



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