Amanhecia em Lisboa. Era mais um dia como tantos outros de Março, em que a primavera que mal começara dava um pouco mais de luz ao Tejo, fazendo-o brilhar mais intensamente. Maria olhava o horizonte a partir da pequena janela do seu quarto e relembrava os momentos que passou na companhia de Pedro, um pobre pescador que tinha no mar a sua vida. Fazia um ano desde que ele tinha ido para o Porto tentar a sua sorte num pequeno negócio local. Ainda tinham comunicado um pouco por carta durante alguns meses, mas depois, aos poucos, deixou de haver assunto.

Maria sentia saudades do pobre pescador que tinha feito o seu coração bater mais forte. Por sua vontade, pegava nas suas coisas naquele momento e viajava para o Porto à procura dele. Infelizmente não podia… Os seus pais tinham-lhe arranjado um casamento com um aristocrata muito influente, já que queriam que a filha tivesse uma vida melhor que a deles. “Mais vale pobre que infeliz” pensava ela. Que haveria de fazer? O casamento era dali a dois dias e Maria não se queria casar com um homem que não amava…

No dia seguinte, Sofia entrou no quarto com uma carta para ela. Maria estava sentada olhando o horizonte através da sua janela e, quando ouviu a porta, desviou o olhar para ver quem era.

- “Sofia? És tu?” – os seus olhos não queriam acreditar no que viam. Sofia era irmã de Pedro e tinha viajado com ele para o Porto. Já não a via há muito tempo.

- “Maria, desculpa não ter dito nada durante todo este tempo.” – Sentou-se perto da amiga. - “Estive á espera que o meu irmão me mandasse vir buscar-te.”

- “Buscar? Para onde?” – os olhos de Maria iluminaram-se.

- “Sim Maria. Está tudo aqui nesta carta. Venho buscar-te hoje à noite perto do rio às dez horas em ponto. Espero-te lá.” – Disse-lhe enquanto saía.

Maria olhou a carta durante algum tempo e leu-a. Chorou um pouco e decidiu fazer o que Sofia lhe dissera. Arrumou as suas coisas com muito cuidado e, à noite por volta das dez horas, meteu-se a caminho para o rio. Tinha deixado uma pequena carta aos pais a explicar o sucedido e saíra sem olhar para trás. Quando chegou ao rio, um barco a esperava. Sofia estava a sua espera e Maria embarcou na hora. Seguiram para o Porto.

Chegaram lá já de manhã. A irmã de Pedro levou-a até um grande palacete e pediu-lhe que esperasse sentada num pequeno banco de mármore debaixo de uma cerejeira em flor. Ela assim fez e ficou ali deslumbrada pela beleza das pequenas flores que dançavam ao sabor do vento.

Pedro apareceu atrás dela e colocou a sua mão no ombro de Maria. Ela voltou-se e abraçou-o com força.

- “Leste a carta?” – perguntou-lhe ele.

- “Sim li. E compreendo o porquê de não me teres dito nada ao longo deste tempo.” – Respondeu-lhe abraçando-o com força.

- “Eu estive a trabalhar no duro ao longo deste tempo para te poder dar o melhor. Passei por muito, mas finalmente consegui. Este palacete é meu.” – Maria olhou em volta maravilhada enquanto ele acrescentou – “E esta bela cerejeira que aqui vês plantei-a eu, com muito amor, desejando que o nosso reencontro acontecesse debaixo da sua sombra.”

Maria sorriu para ele e olhou a bela cerejeira. Esta enchia o ar de um delicado perfume e as suas pétalas iam caindo aos poucos, embaladas pelo vento, enchendo aquele reencontro do doce ar da primavera….