Quando entrou na sala de aula, Naruto reparou que a maioria das crianças se reuniam em um canto da sala. Elas estavam se comportando de forma estranha e Naruto se aproximou devagar para tentar ver o que os atraia com tanta atenção.

No meio dessa roda de crianças, estava Uchiha Sasuke. Imediatamente o Uzumaki revirou seus pequenos olhos azuis e soltou o ar pela boca. Ele deu meia volta e subiu os degraus do palanque em que ficavam as mesas e cadeiras dos alunos.

Iruka-sensei entrou logo em seguida, com alguns livros na mão, dispersando as crianças. Foi aí que Naruto viu o que estava atraindo tanto os olhares dos colegas. Nos braços de Sasuke estava um gatinho com a pata ferida.

Naruto viu a forma como o menino segurou gentilmente o gato, para poder caminhar até a sua cadeira. Seus olhos cruzaram um momento, então Sasuke piscou e virou a cabeça, sentando-se na frente de Naruto.

Naquele dia, o Uchiha recebeu mais atenção do que nunca. E as coisas não mudaram depois de alguns anos. Naruto observava-o de longe, seja pela vila, à beira do riacho ou dentro da sala de aula. O Uchiha possuía aquela aura gentil e amável que as pessoas adoravam.

Mas, um dia, aquele olhar generoso desapareceu. Sasuke entrou na sala de aula com a cabeça baixa, ele ignorou qualquer conversa que tentavam puxar e sentou-se calado em sua cadeira. Naruto ouviu alguns boatos, mas não sabia exatamente o que havia acontecido no Clã Uchiha.

Em uma tarde, Naruto andava sozinho pela floresta. Era comum para ele, um menino órfão, andar por aí sem ter que dar satisfações de sua vida para ninguém. Aquilo, na verdade, era muito triste e sempre incomodava Naruto. Mesmo assim, ele caminhava pela floresta e não havia um lugar ali que ele não conhecesse bem.

Também não havia um barulho na floresta que ele não conhecesse ou tivesse ouvido antes. Só que, daquela vez, o barulho que ouviu foi muito estranho. Era como se algum animal estivesse ferido e sufocava sua dor para não ser ouvido. Muito fora do comum, já que os animais feridos na floresta sempre clamavam por socorro. Mesmo os menores, com medo de serem devorados pelos predadores. Era um instinto, talvez, Naruto não sabia dizer.

Ele foi se aproximando cada vez mais daquele barulho, até que subiu em cima da árvores, para olhar melhor ao redor. Encontrou então o animal ferido que não queria ser encontrado.

E, olhando melhor mais perto, Naruto descobriu que não era nenhum animal indefeso. Era o Uchiha Sasuke quem estava ali, abraçando os joelhos e de cabeça baixa. Ele era uma criança envolta de uma onda de tristeza e melancolia. Naruto ficou sem ar por um momento, não sabia o que fazer, por isso sequer se moveu sobre a árvore. Naquela manhã, as meninas haviam feito um belo cartão colorido e assinado com vários corações, entregando para Sasuke como um presente de aniversário.

Também houve bolo e suco distribuído para todos, quem fez a festinha na escola foi Sakura e Ino, as duas mais pareciam as fãs número um do Uchiha. Só que, enquanto elas estavam animadas querendo que Sasuke comesse bolo, o garoto estava com uma cara fechada, emburrada, totalmente incoerente com aquele astral da festa. Naruto o achou irritante, porque ele nunca ganhou uma festinha de aniversário, e nunca que Sakura e Ino fariam um bolo para ele. Agora, Sasuke ganhava festa, bolo, bebida e comida na boca. Mesmo com tanto carinho e atenção, ele ainda vinha para a floresta chorar e nem sequer comia da comida feita especialmente para ele?

Isso parecia demais para Naruto, que nunca teve nem cinco porcento daquele amor todo. Ninguém o tratava tão bem na vida, ninguém se importava se era ou não seu aniversário. Até mesmo o próprio Naruto chegou a esquecer de seu aniversário no ano passado, só lembrou porque recebeu do Hokage um cartão com dinheiro, escrito algo como compre uma roupa nova, ou era um sapato? Não importa.

Alguns minutos depois, vendo que Sasuke havia se acalmado, Naruto desceu da árvore.

— O que você está fazendo aqui? Porque não foi comemorar seu aniversário com a Sakura e a Ino? Elas não iam levar você para sei lá onde para se divertir o dia todo?

Sasuke virou o rosto, passando as mãos nos olhos, depois ele encarou Naruto com uma expressão irritada.

— Não te interessa o que eu faço aqui. — O menino disse, fazendo um bico gigante e Naruto começou a rir.

— Você é engraçado, não gostou da festa? Deve ter sido muito mimado por seus pais porque não gosta de nada.

— Cala a boca. — Sasuke se levantou abruptamente. — Você não sabe o que ta falando.

— Ah! Eu não sei? Eu não sei mesmo, eu não tenho nada disso, não tenho pai ou mãe e nem ninguém que se importa em fazer bolo para mim. — Naruto mostrou a língua e cruzou os braços. Então, logo depois, ele não estava que fosse ver Uchiha Sasuke chorando na sua frente. — Hey! Eu nem falei nada demais.

— E-eu, eu não tenho mais pai e mãe. — Sasuke caiu sentado no chão, voltando a suprir a respiração e impedir que as lágrimas caíssem. Naruto ficou espantado com aquele ato e deu um passo para frente.

— Oe, oe, oe — Naruto ajoelhou-se no chão na frente de Sasuke. — Eu não queria falar isso.

— Eles nunca mais vão voltar. — Sasuke soltou a voz, e seu clamor espalhou-se pela floresta.

Naruto, que não sabia os detalhes ainda da violência ocorrida no Clã Uchiha, entendeu que algo muito grave havia acontecido. Ele se calou e abaixou a cabeça por um momento, enquanto fazia companhia para Sasuke, que chorava.

— Às vezes eu penso como seria ter pais, às vezes eu os imagino cuidando de mim. — Naruto ergueu a cabeça e deu um leve sorriso. — Talvez pode parecer bobagem minha, mas, você ainda pode se lembrar das coisas boas que eles fizeram? Não sei se isso ajuda, mas... se pensar nele, pode ser que você fique mais feliz.

Depois de um tempo, Sasuke olhou para Naruto.

— Dói, dói sempre que eu penso neles.

— Ah! — Naruto voltou a tristeza e ficou calado até Sasuke dizer mais alguma coisa.

— Eu não me importo com bolo de aniversário e nem com presentes. — Ele disse ao se levantar e Naruto ficou em pé também.

— Hey! Quer saber de uma coisa? Eu também não me importo com essas coisas, olha, eu já tenho oito anos e nunca tive um bolo de aniversário e estou aqui, forte. — Naruto esticou os braços para mostrar, mas ele possuía braços bem mais finos do que a maioria das crianças.

Sasuke riu, as lágrimas foram limpas pela manga da camisa.

— O que você faz no seu aniversário?

— Quer saber? — Naruto aproximou-se mais dele, como se fosse contar um segredo muito precioso. — Eu tenho um método infalível. Conta comigo.

Naruto pegou-o pela mão e eles correram pela floresta, entrando na Vila com velocidade, mal dando tempo para os porteiros verem suas caras.

— Era o Naruto? — Um disse tranquilo.

— E o Sasuke. — O outro falou, com um tom mais espantado.

Quando chegaram na frente do pequeno estabelecimento, Naruto deu uma risadinha como se fosse um grande vilão de histórias. Ele explicou para Sasuke que, sempre que estava com muita fome, ele costumava vir nesse restaurante para comer. E ele sempre dizia que era seu aniversário e assim o mestre sempre caía na história dele e dava comida de graça.

Sasuke ergueu a sobrancelha, achando muito estranho, como alguém faria aniversário tantas vezes em um ano? Naruto não soube responder.

Ao entrar, eles se sentaram nos bancos, eram duas crianças, mas se acomodaram muito bem.

— Oh! O jovem Naruto trouxe um amigo hoje?

— Tio, esse é o Sasuke, hoje é o aniversário dele. — Naruto falou animado e o homem do outro lado do balcão deu uma sonora gargalhada.

— É verdade, é meu aniversário. — Sasuke disse, achando que o tio estava cansado das mentiras de Naruto. É claro que ninguém acreditaria que ele faria tantos aniversário num dia e por isso chamou um amigo para fingir que era amigos.

— É, tio, é aniversário dele. Uchiha Sasuke, anota aí no calendário.

— Oh! — O semblante do tio mudou e ele deu um sorriso pequeno. — Ayame, vamos, vamos, prepare duas tigelas para esses meninos.

Naruto sorriu animadamente, mas Sasuke encolheu os ombros. O olhar daquele tio dizia tudo sobre o que ele vinha vivenciando nos últimos meses. Mas a tristeza parecia ser amaciada quando as tigelas de rámen foram colocadas na frente dos dois. Naruto pegou os pauzinhos e juntou as mãos animadas, dando suas graças pela comida e pelo tio.

— Come, Sasuke, tá muito bom. — Ele falou com a boca cheia e Sasuke olhou para a tigela, imitando o mesmo movimento de Naruto. Ele agradeceu e começou a comer.

A comida era mesmo muito boa e o tio acabou dando mais algumas fatias de carne de porco e enchendo a tigela com outros ingredientes. Eles deixaram o restaurante com a barriga cheia e Naruto apenas suspirou, dizendo que aquele foi o melhor dia da vida dele.

— Sasuke, vamos vir aqui no meu aniversário e no seu aniversário. Todos os anos.

— Tá! — Sasuke concordou.

Os anos se passaram e, mesmo que eles brigassem e discutissem, estavam sempre no restaurante para comer um rámen. Depois que o time sete uniu-se, Sakura passou a fazer parte do grupo, junto com Kakashi. O tio do rámen estava um pouco preocupado com tanta gente comendo de graça naquele dia, mas ele fazia as tigelas caprichadas para os dois.

***

Alguns anos, Naruto e Sakura foram sozinhos, sem Sasuke.

Outras vezes, Naruto comemorava sozinho, sem Sakura e Sasuke.

Um dia, o tio virou-se e deparou-se com dois homem entrando em seu estabelecimento. Um deles com uma capa branca e cabelos loiros, o outro com uma capa negra de cabelos negros. Esse tio sorriu, animadamente, dando boas-vindas ao Hokage e ao seu braço direito.

Sasuke e Naruto comeram aquela refeição juntos, sorrindo e conversando sobre seus assuntos. Do outro lado do balcão, o tio do rámen via duas crianças pequenas, com olhos brilhantes e se divertindo, enquanto comiam a sua refeição.