Cherry escrita por Baby Blackburn


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

A ideia me surgiu a notar como a música Fine Line poderia ser encaixada com a história de Remus e Tonks, o que me fez escutar todas elas novamente e atribuir um casal ou personagem para cada.
Ao pensar em um plot pra Cherry um Scorpius com dor de cotovelo me veio na cabeça e eu não resisti hahaha
Vou deixar o link do álbum para aqueles que não conhecem ou os que gostariam de acompanhar a história com uma trilha sonora : https://open.spotify.com/track/2IOFZdYYkFxEHVz1w34PoL?si=n8fJQ5HbR_CLMCwdr6Yt0Q

Nos vemos lá embaixo ;)



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Don't you call him baby
We're not talking lately
Don't you call him what you used to call me

 

Scorpius Malfoy tinha poucos arrependimentos na vida, mas nenhum deles se comparava com o dia que deixou Lily Luna Potter partir. A dor que sentia desde aquele dia tinha sido, aos poucos, amenizada com bebedeiras e bocas desconhecidas coladas junto a sua. Mas vê-la voltar para Londres de mãos dadas com Frederic Nott fez seu coração doer mais do que um dia tivesse pensado ser possível.

Cada segundo que passou sentado junto a eles na mesa de um café londrino  qualquer fez com que uma parte de seu coração quebrasse. Ao escutar Lily chamando o novo namorado pelo antigo apelido, que outrora era destinado a ele, trouxe lágrimas para seus olhos de maneira tão violenta que foi obrigado a levantar da mesa às pressas.

Quando deixou que ela partisse, três anos atrás, tinha olhado dentro de seus olhos castanhos e prometido ser seu amigo, mas depois de tanto tempo sem falar com ela e ao vê-la feliz ao lado de outro soube que teria que, pela primeira vez em seus 24 anos, quebrar uma promessa. Scorpius Malfoy teria que esquecer Lily Luna Potter para o seu próprio bem.

 

I, I confess I can tell that you are at your best
I'm selfish, so I'm hating it
I noticed that there's a piece of you in how I dress
Take it as a compliment

 

Sua mãe costumava dizer que para esquecer um amor era preciso distrair sua mente de tudo aquilo que poderia te lembrar da pessoa. Scorpius tinha se livrado de tudo o que remetesse Lily há três anos, mas sua mente masoquista dava um jeito de trazê-la de volta, como ao sentir seu perfume nas almofadas do sofá da casa que dividia com o melhor amigo e irmão da garota.

—Albus – começou hesitante ao ver o olhar bravo que o amigo lhe lançou por ter interrompido sua leitura –por que o nosso sofá cheira a flores?

O amigo riu enquanto voltava a ler distraidamente.

—Lily vai dormir no nosso sofá por uma semana. – Mesmo que ainda mantivesse os olhos presos no livro que lia, o Potter poderia apostar que Scorpius o olhava perplexo. –O apartamento dela está com a reforma atrasada e a pirralha não quis voltar para a casa dos nossos pais. – Explicou, enquanto Malfoy caia desanimado em uma das cadeiras que rodeavam a mesa. - Tentei impedir, mas minha mãe insistiu que ela ficasse com um dos irmãos e James ganhou no cara e coroa. Achou que seria engraçado ver vocês dois morarem sobre o mesmo teto por uma semana.

—Você só pode estar de brincadeira...

Antes que conseguisse terminar sua reclamação com o amigo, a dona do perfume que perturbava suas lembranças saiu do quarto do irmão com uma camisa grande demais para o seu corpo e um short jeans folgado nas coxas pálidas e cheias de sardas. Seus cabelos, que Scorpius lembrava serem o ponto onde todo aquele perfume se concentrava, estavam escondidos por uma toalha roxa. Seu rosto estava corado e um sorriso nascia tímido nos cantos da boca bem desenhada e rosada.

—Bom dia! – cumprimentou animada, indo em direção à pequena mesa que os dois tinham na varanda.

—Bom dia – respondeu o irmão com um sorriso terno no rosto, fechando o livro e se virando para a recém chegada. – Café?

Ela agradeceu baixinho enquanto se acomodava em uma das cadeiras. Os dois irmãos conversavam sobre os respectivos trabalhos e a vida da caçula na França com os novos amigos e namorado. Scorpius  ficouc sem nem ao menos tocar no café disposto na sua frente. Ao notar o desconforto do amigo, Albus foi deixando o assunto morrer e o silêncio reinou por alguns minutos até que Lily voltasse seus grandes e expressivos olhos para Scorpius.

—Obrigada por me deixar ficar – disse alto enquanto espremia as mãos no colo. – Seria muito estranho voltar para a casa dos meus pais depois de tantos anos fora. – Soltou uma risadinha envergonhada que, ela notou, não foi acompanhada pelo homem. – Prometo que nem vai notar que eu estou aqui.

Scorpius se levantou rapidamente, fazendo com que a cadeira atrás de si caísse na grama artificial que Albus tinha insistido em colocar na varanda quando se mudaram. Não poderia ficar ali vendo Lily lançar seus brilhantes sorrisos e contar o quão perfeita tinha sido sua vida na França.

Lily Luna estava em sua melhor fase e Scorpius, egoísta como sempre foi, odiava admitir aquilo.

—Não vou ficar aqui essa semana. – disse rápido enquanto fugia do olhar curioso que a ruiva lhe lançava. – Vou visitar minha avó por esses dias.

Lançou um olhar frio para o amigo, que assistia a tudo calado, como se a culpa de tudo o que aconteceu entre Scopius e Lily fosse culpa de Albus. Se apressou em pegar suas chaves e estava com a mão na maçaneta quando ouviu a voz melodiosa da Potter caçula lhe chamando.

—Gostei da camiseta. – Elogiou sorrindo minimamente, antes de se virar para o prato de frutas picadas que tinha na sua frente.

Scorpius abaixou o olhar para a camiseta azul estampada com a cabine de polícia azul de um seriado, o favorito dela. E, só então, notou que Lily usava uma similar a dele. Tinha um pedaço dela em como ele se vestia e, quis se bater por esse pensamento, esperava que ela encarasse isso como um elogio.

 

Don't you call him baby
We're not talking lately
Don't you call him what you used to call me

 

A melancolia de Scorpius fez com que Narcissa o expulsasse de sua casa no seu segundo dia de estadia, fazendo com que ele fosse obrigado a voltar para a própria casa e encarasse o cheiro marcante de Lily que havia ficado impregnado em todos os cantos do lugar.

O olhar culpado que Albus o lançava toda vez que Lily aparecia no cômodo em que eles estavam tinha começando a deixá-lo cansado. Mas achou que fosse explodir em definitivo quando abriu a porta penúltimo dia dela na casa e encontrou Frederic Nott o olhando com aquela beleza ofensiva e gentileza sufocante.

A educação com que o namorado de Lily o tratou fez com que Scorpius se perguntasse se ela havia mencionado que os dois namoraram por anos. O pensamento de aquele assunto ser desconhecido para aquele rapaz sentado em seu sofá, fez com que uma súbita vontade de mencionar o passado dos dois surgisse.

Foi impedido por Lily, que saia apressada do quarto do irmão e se despedia dos dois arrastando Nott pela mão para fora do apartamento. Antes de fechar a porta, olhou para Scorpius com culpa e, ele pode jurar, viu seus lábios projetando a palavra desculpa.

 

I, I just miss
I just miss your accent and your friends
Did you know I still talk to them?

 

Passar tanto tempo fazendo esforço para esquecer Lily só fez com que Scorpius sentisse mais falta da companhia da ruiva. Sentia saudades de seu sotaque francês pelos anos que passou em Beauxbatons – internato francês no qual havia escolhido estudar ao invés de ir para a mesma escola que os irmãos - e sentia falta de sentar em nos fundos d’A Toca rodeado pelos amigos que a ruiva vazia onde passava. Será que ela sabia que ele ainda saía com alguns deles?

Doía como o inferno vê-la todas as manhãs sorrindo para ele ou proferindo referências às camisetas que ele usava, habito que havia adquirido nos anos que passavam juntos. Mesmo sabendo que essa dor era quase insuportável, desejava que ela nunca saísse do seu sofá pois sabia que quando ela fosse embora, quando a perdesse novamente, doeria muito mais.

 

Does he take you walking 'round his parents' gallery?

Lily voltou tarde do seu passeio com Nott naquela noite. Infelizmente, mesmo que sua mente gritasse vivas quando a viu passando pela porta, Scorpius era o único acordado. 

—Oi – disse baixinho se sentando ao lado dele no sofá da varanda. – Insônia?

Seu corpo paralisou ao ouvir sua voz sussurrada tão perto de si e sua mente travava uma batalha sobre responde-la ou apenas ignorar sua presença e ir se deitar.

—Sim – respondeu minutos depois, o que pareceu impressionar ela. – Como foi o passeio?

—Legal, ele me levou para conhecer a galeria de arte moderna dos pais dele. 

Scorpius riu baixinho ao ver o falso sorriso surgir nos lábios da mulher.

—Você odiou – disse, rindo um pouco mais alto do que esperava.

—Não. – Ela respondeu ofendida, mas ao encontrar os olhos cinzas dele explodiu em risadas, sendo acompanhada por ele. – É, eu odiei. Não entendia nada do que estava sendo exposto, e a mãe dele continuava falando e falando como se eu fosse uma grande apreciadora de esculturas sem pé nem cabeça.

Scorpius concordou enquanto olhava para o céu estrelado sobre eles. Empurrou o ombro dela levemente.

—Se ao menos os pais dele tivessem um campo de futebol. – Disse fazendo referência ao primeiro encontro dos dois, quando ele levou ela para jogar no campo que se encontrava nos fundos da mansão Malfoy.

Lily ficou uns segundos o encarando até que ele notasse o que tinha dito. Estava pronto para se desculpar e sumir dentro do seu quarto quando ela soltou uma risada acompanhada das bochechas coradas.

—Eu teria gostado mais – respondeu depois de um tempo.

Ficaram se encarando pelo o que pareceu décadas antes de ambos se aproximarem e deixarem seus lábios se tocar com necessidade e saudade depois de tantos anos afastados. Um choque percorreu o corpo de ambos e seus pensamentos foram apagados enquanto se aproximavam cada vez mais.

Ao notar o que estava fazendo, Lily saltou para trás com os olhos arregalados e a mão sobre os lábios vermelhos. Murmurando um pedido de desculpas saiu apressada em direção ao quarto do irmão, deixando Scorpius sozinho novamente.

Ele soube ali que, vê-la partir amanhã seria o fim para seu coração apaixonado.

Don't you call him baby
We're not talking lately
Don't you call him what you used to call me
Don't you call him baby (ooh, ooh)
We're not talking lately
Don't you call him what you used to call me

Demorou mais do que o normal para sair do quarto na manhã seguinte, na esperança de que, quando saísse, Lily já houvesse partido. Dito e feito, ao sair do quarto perto do meio-dia encontrou a casa vazia e um bilhete de Albus na geladeira. Seu dia passou lentamente, como que para lembrá-lo que aquele seria marcado como o dia em que deixou que seu amor partisse mais uma vez.

Passou boa parte da manhã e tarde deitado na grama da varanda que tanto odiava se torturando ao ler um livro que ela havia lhe dado de aniversário de 15 anos, quando ainda podia chamá-la de sua namorada. A dedicatória feita em francês e o cheiro de flores ainda impregnada nas páginas fizeram com que ele voltasse cinco anos antes, quando podia beijá-la sem a ver sair correndo logo depois.

Já era noite quando Albus passou pela porta do apartamento e se dirigiu até a varanda, onde o amigo ainda lia o mesmo livro.

—O apartamento dela ficou legal – disse depois de um tempo em silêncio. – Parece um museu nerd, você ia gostar.

Mais silêncio antes de Scorpius largasse o livro e sentasse ao lado do Potter.

—Nott vai morar com ela? – perguntou baixinho enquanto olhava para as estrelas.

—Não.

A resposta o pegou de surpresa fazendo com que ele se virasse rapidamente para o amigo, que tinha um leve sorriso nos lábios.

—E por que não? 

Albus riu antes de se levantar e ir em direção a porta que dava acesso a sala. Parou por um segundo e se voltou para Scorpius com o cenho franzido.

—Por que não respondeu minhas mensagens? – perguntou, ainda parado na soleira da porta.

—Não mexi no celular hoje, deve estar sem bateria.

O amigo riu novamente antes de voltar a falar.

—Deveria dar uma checada nele.

—Pra que? – indagou se levantando e ficando de frente com ele. – Você já está aqui.

—Não sei, só deveria dar uma olhada – disse rindo enquanto entrava no corredor que o levaria até os quartos. – Boa noite.

Ainda confuso Scorpius se dirigiu até o quarto, onde seu celular havia sido esquecido durante todo o dia. Plugou ele na tomada e ligou. Notou que havia uma notificação que avisava que Lily Luna tinha postado uma nova foto. Enquanto abria o aplicativo, pensou em quão patético era por ter as notificações da mulher ativadas. A foto consistia nela sentada em meio a caixas com os dois irmãos mais velhos ao seu lado, cada um com uma xícara de café nas mãos. “Lar doce lar”, dizia a legenda.

Além disso e algumas mensagens de Albus e seu pai, uma mensagem de voz de um número desconhecido chamou sua atenção. Clicou na mensagem que perguntava se ele queria escutar e aceitou. A linha ficou silenciosa por alguns segundos antes da voz melodiosa de Lily começar a falar. Os pelos da nuca de Scorpius se arrepiaram.

 

“Oi Scor, eu não sei por que estou te ligando tão cedo. Deve estar dormindo, né? Eu só queria dizer que ontem à noite foi legal e eu contei para Frederic o que aconteceu, espero que não se incomode. Bom, nós terminamos, obviamente, mas era o certo a se fazer. Não estávamos nos entendendo já fazia tempo”. -  Houve uma pausa na qual Lily suspirou alto, como fazia quando estava tomando coragem para falar algo. -  “Eu só queria saber se você não quer me encontrar para tomar um café algum dia desses. Acho que precisamos conversar sobre tudo e...bom, eu vou ficar um bom tempo em Londres dessa vez.” - Mais uma pausa e uma risada envergonhada - . “Enfim, me liga de volta quando puder e quiser. Sinto sua falta e eu gostaria de fazer as coisas da maneira certa dessa vez. Então... até...”

 

Talvez sua mãe não estivesse certa sobre o método de esquecer alguém que você ama. Mas em uma coisa ela acertará, pessoas que devem ficar juntas as vezes se separam e então acham um caminho de volta para o seu primeiro amor.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Me deixem saber o que acharam :)
Até a próxima ;)
Love always, BB



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