Interativa - Enquanto As Estrelas Brilharem escrita por Allyssa aka Nard


Capítulo 58
A Nuvem De Corvos


Notas iniciais do capítulo

Cá estamos com outro capítulo! Espero que gostem :p



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P.O.V Viren

 

Por mais surpreendente que pudesse parecer, levando em conta o que havíamos passado, nossa estadia com Hipólita estava bizarramente pacífica. Não havíamos sido atacados por nenhum monstro ou ciclope, Maggie se recuperava com Aurora do seu lado, Nick encarava o pôr do sol melancolicamente, Aylee tentava pescar com sua lança com a ajuda de Hipólita e Eve ficava trocando seu foco entre olhar para si mesmo com os seus leques e realmente treinar usá-los. Eu ainda tinha uma porção de ferimentos no meu corpo, principalmente nas minhas costelas, mas eles estavam se curando rapidamente, e eu já mal os notava. Claro que me conhecendo, eu costumava esbarrar em coisas, o que me lembrava da existência dos machucados, algo que eu tinha que agradecer à Hera algum dia. 

Por sorte, nosso problema de falta de Ambrosia havia acabado, uma vez que Hipólita tinha um estoque enorme, o que deixava a nossa recuperação bem mais fácil. Era estranho pensar que em menos de um mês, uma pessoa havia sido esfaqueada, outra levado uma flechada envenenada na perna, e outra conseguindo quebrar praticamente todos os ossos do corpo. Mas da mesma forma em que eu constantemente esbarrava em coisas, eu evitava ao máximo chegar perto dos estoques de ambrosia, para evitar que alguma coisa maluca como elas caírem na água acontecerem. O barco balançava eternamente, quebrando as ondas calmas, enquanto Hipólita nos levava para mais perto do Everest. Eu me apoiava na borda do barco, e observava o mar embaixo de mim. Era calmante ver as ondas, e às vezes alguns peixes que passavam por elas. Eu gostava de pensar nas inúmeras formas de vida que poderiam estar vivendo naquela imensidão azul, e confesso que eu sentia uma certa inveja de Poseidon por poder ter controle sobre tudo aquilo.

Minha hipnose foi quebrada quando eu senti alguém arremessar algo em mim, e me virei para dar de cara com Aylee gritando do outro lado do barco. “Viren, seu corno, te chamei umas 5 vezes! Vem aqui caralho, tô precisando de ajuda!”, ela disse, e olhei para o chão para ver que o que havia me atingido era um peixe, ainda saltando por ar. Me levantei e fui em direção a ela, e vi que ela tentava segurar um peixe gigantesco, que tentava voltar ao mar. Corri em sua direção, e dei um soco forte no peixe, o que fez ele parar de se mexer. “Valeu…”, ela disse, entre respirações fortes, causadas provavelmente por ela ter gastado todo o fôlego segurando o animal marinho. “Próxima vez tu demora menos”. 

“Tá bom, tá bom… Foi mal…”, eu disse, um pouco envergonhado. “Cadê a Hipólita?”, perguntei, notando que ela não estava ao lado de Aylee quando ela pescava

“Acabou de voltar pra cabine pra checar na Aurora e na Maggie. Parece que a Maggie tá melhorando, mas a insistência dela de querer sair da cama antes de se curar não tá ajudando”, respondeu.

Após o incidente do peixe, decidi falar com Nick, que ainda estava sentado na ponta do barco com os pés balançando ao vento. Embora ele tivesse alguns momentos de felicidade momentânea, era bem claro que ele ainda sofria por causa do Mevans. Embora eu só tivesse pouco tempo para conhecer o tímido filho de Hera, não pude evitar se não sentir um aperto no estômago ao saber que ele morreu da forma que aconteceu, e que eu não podia fazer nada para acontecer diferente. Não podia voltar no tempo, não podia falar com os mortos e eu mal conseguia usar meus próprios dons de voo.

Sentei-me do lado de Nick, sem falar nada. Era claro que havia algo na mente dele, e seria melhor se fosse ele quem quisesse começar o assunto. Ele olhava para o mar, assim como eu estava alguns minutos atrás, e podia ver ambas nossas reflexões distorcidas na extensão azul.

“Sabe… me lembro muito de uma vez que saí com minha mãe para um museu de artes”, ele começou, me surpreendendo um pouco. “Era um museu pequeno, privado, mas me lembro claramente de uma obra em específico. Não lembro quem a fez, nem por que ela estava lá, mas lembro de tê-la visto. Era uma escultura de mármore, basicamente um quadrado de pontas redondas com uma pequena gravura de um pescador em cima. Mas sabe o que me marcou? O escrito ao lado. Num placarzinho, desses comuns de museu mesmo, havia o título da obra: ‘Quem garante que estou pescando peixes?’. Lembro disso ter me surpreendido na época, mas agora eu entendo”

Olhei para ele com um olhar meio confuso. Embora quisesse ouvi-lo, e que ele claramente queria falar com alguém, não conseguia visualizar um filho de Ares falando de arte. Houve um silêncio curto um pouco constrangedor, antes dele respirar fundo e continuar seu relato.

“A questão é que nada é o que parece. Ou pelo menos, as coisas nunca saem como você espera. Me lembro disso quando penso no Mevans, ou quando penso em Terry, até mesmo de mim. Terry nasceu de uma violação à minha mãe, eu pensei que soubesse o que eu estou fazendo aqui, e Mevans… Ele simplesmente… Ficou na merda daquele poço! Consumido por Hollows, morto sem cerimônia pelos ciclopes”, ele disse, começando a despejar algumas lágrimas

“E você não sabe mais o que fazer”, respondi, tentando mostrar que o entendia

“Não é mais uma questão só de saber o que fazer. É saber o que SER. Sei que pareço um filho de Atena falando isso, mas eu não sei mais quem eu sou. Antes eu era o músculo, aquele que ajudava em lutas. E aí na hora de ajudar, em que eu podia carregar ele, arrastar ele, fazer qualquer coisa, eu congelei. E agora quem eu via como meu irmão, mas aparentemente gostava de mim, morreu”

“Não fala isso. Não foi culpa sua, você não pode se culpar por se sentir confuso ou triste no momento. Isso é parte de ser humano”

“Mas como que eu não posso me culpar? O moleque tava sofrendo com os próprios demônios, tentava lidar com a gente, ajudar de qualquer forma, e foi quem ficou pra trás. Porra, ele não teve nem um túmulo! As vezes me sinto que nem a Aurora, eu acho que era EU quem deveria ter ficado do outro lado da ponte”

Abracei-o em um abraço sincero, enquanto ele deixava suas lágrimas solitárias descerem. Afirmei mais uma vez que não era culpa dele, e o deixei com seus pensamentos. Embora eu soubesse que conversar ajudava, tinha também consciência que ficar muito tempo poderia ajudar a fazê-lo espiralar, o que seria bem pior. Olhei para o sol poente, e vi uma quantidade anormal de corvos voando ao horizonte. Nunca tinha visto tantas asas negras enroscadas antes, e seus grasnados roucos ecoavam pela imensidão aquífera. Algo estranho estava no ar. 

“Pensativo, garoto cobra?”, Hipólita me perguntou, parecendo surgir do além e me pegando de surpresa

“Na verdade, sim. Nunca havia visto tantos corvos em um lugar só, sobrevoando”

“Confesso que também não vejo um desses a alguns anos. Seres estranhos os corvos: ótimos companheiros, mas sempre sabem quando há algo de errado”

“O que você acha que pode ter acontecido?”

“Quando se chega na minha idade, já não me pergunto mais. Imagino que algum massacre, ou um incidente muito intenso. De qualquer forma, devemos tomar cuidado a partir de agora. Nunca confie em um corvo em sol poente”

Após dizer isso, ela simplesmente se virou e foi cuidar do motor do barco. Dei de ombros, e decidi ver como estavam Maggie e Aurora. Enquanto ia em direção ao corredor, vi Eve jogar um dracma da ponta do barco e usar seu leque para refletir os últimos raios de sol. Provavelmente ia mandar ou receber uma mensagem do Acampamento, e decidi deixá-lo a sós. Entrei no corredor estreito do centro do barco, passando pelas paredes de metal e as grandes portas em formato de escotilha. Entrei no pequeno quarto com as beliches e me deparei com Maggie fazendo algum dispositivo enquanto Aurora dormia na cama ao lado. Sentei-me no colchão macio ao lado dela, enquanto ela usava a prótese para soldar o apetrecho.

“Como você tá?”, perguntei

“Viva”, respondeu, sem tirar os olhos do aparelho. “Com raiva, talvez, de não conseguir andar direito, mas viva. Pelo menos tenho ela pra me fazer companhia”, completou, apontando para Aurora

“Ela ainda tá meio mal por causa do vômito?”

“Um pouco, sim. Tentei explicar para ela mil vezes que até Zeus vomitaria vendo a mierda que é minha perna, mas a coitada ainda se sente um pouco como um peso morto”

“Os pontos dela tão ao menos melhores?”

“Pelo que eu vi, sim. Sem querer me vangloriar muito, as a costura de última hora que eu fiz ficou muito boa”

“Bom, você sempre foi a melhor em lidar com problemas práticos”, respondi, e ela deu uma curta risada sincera

“Talvez isso seja verdade, Vi… Mas e você? Considerando que você estava todo jodido quando te encontramos, você parece estar bem. Um pouco com uma cara de cu, mas tá até andando. Você ainda sente as pontadas?”

“Nem me fale… De manhã tropecei em um rolo de corda e caí bem em cima das costelas ruins. Não foi agradável, nem um pouco. Às vezes imagino a merda que seria não ter ambrosia com a gente”

“Certamente a gente só chegaria no Everest quando o sol nascer quadrado”, disse Aurora, nos pegando um pouco de surpresa. Não sabia a quanto tempo ela estava acordada, mas ao mesmo tempo não importava muito.

“Muito insano pensar em tudo que passamos até agora… o posto, o labirinto, a ilha… Deuses, até a fodendo HIPÓLITA tá com a gente agora! Mas confesso que sinto falta do Acampamento. De Quíron”

“Eu também, hermano, eu também…”, disse Maggie, parecendo feliz com o resultado de seu dispositivo

“Alguma coisa aconteceu enquanto eu roncava?”, Aurora questionou, se levantando e sentando do outro lado de Maggie, se apoiando nela

“Não tenho certeza ainda… Vi uma visão bizarra de corvos no sol poente, mas fora isso, nada além de azul e ensopado de peixe”

“Corvos? Tem certeza que foram corvos?”, perguntou Aurora, com um tom preocupado

“Por quê? Você teve algum sonho, alguma visão?”

“Pensei que fosse só um sonho, mas vi uma coisa terrível. Não deu pra ver muito mas… Eram graves! Dava pra ver pelo fundo que eram do Acampamento, e Deuses, havia tantos!”, ela disse, começando a soluçar. “Fileiras e fileiras de nomes e terra fofa. Achei que era paranóia minha, mas estou com medo de ter sido r-real”. Maggie enrolou o cabelo de Aurora atrás de sua orelha, tentando acalmá-la, enquanto pensava, atônito. 

“O que mais você v-”, minha fala foi cortada abruptamente com Eve entrando correndo no quarto, seguido de Aylee e Nick. Disse 4 palavras, e quatro palavras apenas, suficientes para marcar todos aqueles presentes:

“O Acampamento foi atacado”


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