A roseira e os espinhos. escrita por Misa Presley


Capítulo 5
Turbilhão de sentimentos.




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            O dia passou tão rápido, que ela sequer se deu conta. Na verdade, estava em órbita. Não conseguia se concentrar em nada! O trabalho parecia não render. De fato, se confundia frequentemente, enquanto executava tarefas simples. Coisas que ela fazia diariamente, agora se tornavam extremamente complicadas, devido sua falta de concentração.


            Atrás do balcão, tamborilava os dedos sobre ele, com um olhar distante. De fato, era quase como se não estivesse ali. Fora assim o dia todo. Não conseguia evitar a distração que a acometia.

            Nina limpava a mesa, na qual o último cliente estivera. A garota era esforçada, isso era nítido. Annelise gostava do modo como ela trabalhava, sendo de sua total confiança. No passado, tiveram seus desentendimentos por conta da obsessão de Nina por Lysandre, mas, agora eram águas passadas. A garota evoluíra bastante, nos últimos anos. Annelise não tinha do que reclamar.

            — Vai querer que eu feche o café hoje, Annelise? — A garota, que era alguns anos mais nova, indagou. Ela desviou os olhos azuis, observando a patroa atrás do balcão. Todavia, não houve resposta para sua pergunta.

            — Annelise! Está aí? — Nina indagou, usando um tom de voz mais alto.

            — Falou comigo? — Annelise perguntou, enquanto agora olhava para a mocinha das longas madeixas douradas, presas em duas marias-chiquinhas.

            — Falei. — Nina respondeu. — Perguntei se quer que eu feche o café hoje. — A garota refez sua pergunta.

            — Fechar? Está querendo sair mais cedo? — Annelise indagou.

            — Mais cedo?! Annelise, são nove e meia da noite! Nós fechamos geralmente às oito! — Nina rebateu.

            — Já?! Meu Deus, eu nem vi o dia passando! — Annelise pareceu alarmada, puxando o celular do bolso da calça jeans, para olhar as horas.

            — Você está muito estranha. Aconteceu alguma coisa? —  Nina agora se aproximava do balcão, olhando curiosamente para Annelise. Nunca a vira agir daquele jeito.

            — Não é nada, Nina. Eu só ando pensando demais. Acho que tenho algumas questões mal resolvidas. — Desabafou.

            — O quê, por exemplo? — Nina se sentou em um dos banquinhos giratórios, apoiando os braços sobre o balcão, enquanto olhava para a chefe.

            — Você já sentiu que o passado se tornava vivo? Como se, as lembranças fossem tão nítidas, que pareciam momentos do presente? — Annelise perguntava aquilo, em tom quase desconfortável. Afinal, toda aquela insistente nostalgia, a estava deixando perturbada.

            — Não que eu me lembre. Mas, acho que todo mundo passa por isso, em algum momento. — Nina respondeu. Talvez por ser bem mais nova, não tivesse passado por aquilo, ainda. — Sobre o que são essas lembranças? — Perguntou.

            Annelise ponderou por alguns segundos, sobre o que deveria dizer. Acreditava que Nina não fosse entender completamente. Afinal, nem ela mesma entendia. A verdade, era que jamais estivera tão confusa.

            — Deixa para lá. Está muito tarde, você tem aula amanhã cedo. Vá para casa, eu fecho o café, está bem? — Ela disse, esboçando um sorriso suave.

            — Tudo bem, eu vou só terminar de limpar as mesas, e já vou. — Nina disse, ao se levantar do banquinho onde estivera sentada. Todavia, Annelise a impediu. Ela precisava mesmo ir para casa.

            — Nada disso! Vá para casa. Eu termino de limpar as mesas. Você já fez bastante, por hoje. Não quero que esteja caindo de sono, durante a aula. — Foi firme, abandonando um pouco do ar gentil que usava. Aquela, era uma ordem.

            — Tudo bem então. Até amanhã, Annelise. — Nina começou a desamarrar o avental que estava preso em sua cintura, entregando-o a chefe. Em seguida, a garota foi saindo do estabelecimento.

            Tão logo cruzou a porta, sentindo o vento gelado da noite, soprando em sua face; seus olhos vislumbraram uma caminhonete se aproximando. A garota observou curiosamente ao veículo cor-de-chumbo, que ia parando na porta do Cosy Bear Café, mas não ficou para ver quem era o motorista. Talvez Castiel estivesse com um carro novo, e tivesse ido buscar Annelise.

            Nina preferiu não dar muita atenção, começando a caminhar para longe dali. Precisava correr, caso quisesse pegar o ônibus.

            A porta do veículo foi aberta, e Lysandre desceu. Ele olhava para a fechada do estabelecimento, sorrindo de canto. Parecia um lugar agradável. Trancou o veículo, metendo a chave no bolso da calça social preta que usava, combinando com o fraque na mesma cor, aberto sobre um colete chumbo, e uma gravata verde. Logo, começou a andar em direção ao café.

            Annelise estava de costas para a porta, quando esta foi aberta. Ela passava um pano com álcool sobre uma das mesas, quando ouviu o sininho que havia em cima da porta, tilintando.

            — Desculpe, já estamos fechados. — Respondeu, tentando usar o tom mais amável, enquanto ainda limpava a mesa. Continuava de costas, e por isso, não vira quem havia entrado ali.

            — Até mesmo se eu quiser apenas um expresso para viagem? — Soou uma voz masculina às suas costas.

            Annelise pareceu congelar, ali onde estava. Seu coração acelerou e ela empalideceu. O espanto jazia estampado em seus olhos, que se abriram desmesuradamente. Por Deus... Aquela voz! A conheceria em qualquer lugar!

            Virou-se atônita, vislumbrando a silhueta de Lysandre, parado próximo à porta. Ele sorria, a deixando ainda mais desestabilizada. Não acreditava no que estava vendo. Seria real? Ele estava mesmo ali?

            — Lysandre...? — Sua voz soou quase embargada. Ainda estava incrédula, acreditando estar sendo traída por suas lembranças. Traída, pelo anseio desesperado de algum dia vê-lo novamente.

            Ele assentiu, movendo a cabeça, ao ouvir a indagação dela. Estivera tanto tempo longe... Poderia facilmente compreender a reação da moça.

            — Eu não ganho um abraço, depois de tanto tempo? — Ele indagou, com aquele sorriso sereno, que fazia o coração de Annelise queimar. Aquele mesmo sorriso, que a derretia por completo, quando ainda era uma adolescente.

            Sem pensar duas vezes, a moça largou o pano sobre a mesa, correndo em direção ao rapaz, que já havia aberto os braços. Ela o abraçou com força, esboçando o sorriso mais radiante possível. E ele, por sua vez, a aninhou junto a si, fechando os olhos.

            Os lábios de Lysandre, alçaram ao topo da cabeça de Annelise, beijando o local, com carinho. Era bom sentir seu abraço novamente, depois de tantos anos. Inúmeras vezes, ele sonhara com aquele momento. E, agora, isso se tornara real.

            Ela, por sua vez, parecia não querer soltá-lo. Sentira falta do calor daquele abraço, e de como se sentia segura ali. De como Lysandre sempre sabia como aninhá-la contra seu peito. De como era bom ouvir as batidas de seu coração.

            Ainda continuava com o rosto junto ao peito do rapaz, sentindo-o dedilhar seus cabelos. Por Deus, como sentia falta daquilo, nos últimos anos. Era como se, naquele abraço tão apertado, se sentisse completa de novo. Viva! Como jamais se sentira, desde que ele se partiu.

            Ela ergueu o rosto por alguns momentos, o olhando nos olhos. Queria ter certeza de que aquilo não era um sonho. De fato, teve de levar a mão ao rosto dele, tocando-o com as pontas dos dedos, para se certificar de que aquilo tudo era real.

            Ele ainda estava tal qual ela se lembrava. O mesmo sorriso doce, o olhar sereno, os cabelos cinzentos... Todavia, só parecia um pouco mais velho, o que era perfeitamente normal, visto que mais de sete anos haviam se passado. Ainda assim, conseguia olhar para ele, e ver o mesmo garoto por quem havia se apaixonado na adolescência.

            Quando sentiu o toque suave dos dedos de Annelise contra seu rosto, pousou a mão sobre a dela, levando a palma delicada até os lábios. Beijou a pele suave daquela mão pequena, como lhe era usual no passado.

            — Eu senti tanto a sua falta... — O rapaz confessou, ainda olhando nos olhos da moça, agora soltando-lhe a mão. Em seguida, levou ambas as mãos ao rosto dela, segurando-o carinhosamente, conforme os polegares deslizavam por suas bochechas.

            — Eu também senti a sua... — Annelise sussurrou, sentindo a carícia suave sobre sua face. Ele a inquietava! Mexia com seus sentimentos, e causava-lhe o famoso “frio na barriga”. Era como se naquele momento, tivesse certeza de que nada havia mudado. De que, ele ainda era a razão pela qual seu coração batia mais forte. De fato, sentia-se invadida por uma onda de sentimentos confusos, que a atordoavam. Todos eles, gritando em seu âmago, que Lysandre era o homem que possuía seu coração. Ainda o amava, tinha certeza absoluta. Isso, jamais mudou e jamais mudaria.

            Ele sempre seria o amor de sua vida. E ela, o amor da vida dele. Isso era algo concreto. Algo, que eles perceberam no momento exato, em que seus olhares se encontraram naquela cafeteria, após anos afastados um do outro.

            No fundo, bem no fundo, ainda eram os mesmos adolescentes apaixonados, que trocaram inúmeras juras de amor. Os sentimentos adormecidos despertavam naquele reencontro, de modo que se tornavam inegáveis. Um ainda tinha o coração do outro, mesmo que suas vidas tivessem mudado drasticamente.


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