A roseira e os espinhos. escrita por Misa Presley


Capítulo 36
Aceita ser minha?




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            Conforme a semana ia passando, Lysandre encontrava mais dificuldade em esconder o anel, para que Annelise não o encontrasse. Isso se tornava ainda mais difícil, pelo fato de que moravam na mesma casa. Além disso, tinha de tomar o máximo de cuidado possível, para não demonstrar que escondia algo. Afinal, sabia quão curiosa a namorada era.

            Seu alívio, no entanto, veio na quarta-feira à noite, quando tiveram de viajar como de costume, para a fazenda. Seria mais fácil esconder o anel, até a noite de quinta-feira, quando faria o pedido. Ainda assim, precisaria continuar sendo cuidadoso. O menor deslize poderia pôr tudo a perder. Não queria de modo algum, que ela soubesse antes da hora.

            Já sabia exatamente o que fazer! Na verdade, planejara aquilo por meses. Queria que fosse perfeito! Que ela ficasse emocionada! Que percebesse o quanto ele a amava. Por isso, se esforçara para pensar em algo, que pudesse fazê-la entender, que jamais quisera tanto estar ao lado de alguém, como ao lado dela.

            Para que tudo ficasse exatamente do jeito como ele queria, teve de manter Annelise extremamente ocupada o dia todo. Sua intenção, era fazer com que ela não percebesse o que estava organizando. Precisava ficar sozinho para deixar tudo pronto, sem que ela acabasse vendo alguma coisa. Teria muito trabalho para deixá-la longe, mas valeria a pena.

            Como o celeiro já estava pronto, precisou inventar uma nova desculpa que tomaria todo o seu tempo. Não foi difícil pensar em algo, quando afirmou que precisaria reformar partes da estrebaria. Sendo assim, conseguiu ficar sumido o dia todo, enquanto a deixava com uma lista enorme de afazeres para o dia. Era de extrema importância que ela ficasse ocupada até o fim da tarde. Não via outra forma de conservar o efeito surpresa.

            Colocou-a para fazer de tudo! Mas, o ponto alto, foi que já era época de colheita. Então, ela teria de dar uma maior atenção a horta; tanto colhendo, quando plantando. Isso a manteria ocupada por mais algum tempo, de modo que ela não visse as várias idas dele, até o celeiro, ao qual mantivera fechado. E quando ele precisava passar por algum caminho onde pudesse ser visto, estava sempre carregando uma sacola que facilmente seria confundida com uma bolsa cheia de ferramentas. Afinal, ele estava teoricamente consertando a estrebaria, não estava? Precisava ser convincente na hora de transportar as coisas que usaria.

            Ela, por sua vez, não parecia estranhar. Na verdade, estava tão ocupada o dia todo, que sequer conseguiu ter algum momento para respirar. Portanto, em momento algum, Annelise desconfiou das atitudes suspeitas de seu namorado. O que, para Lysandre era um alívio. Ele considerava aquele momento, como um dos mais importantes de sua vida. Seria algo decisivo para seu futuro! Algo que mudaria tudo, de uma forma drástica e irreversível. Pensar na importância daquilo, o deixava com um incontrolável frio na barriga. Estava com medo de que alguma coisa desse errado. Mas, quando imaginava a expressão de Annelise na hora que fizesse o pedido, seus medos se dissipavam. Novamente, sentia-se determinado a fazer com que aquela noite fosse inesquecível.

            Seu intuito, era pedir Annelise em casamento, na ponte que ficava acima do pequeno lago onde os patos nadavam. Era um lugar lindo! Principalmente à noite, quando a lua e as estrelas refletiam sobre a água, em um espetáculo único, iluminando os muitos lírios de água, que boiavam sobre a superfície. De fato, não havia um lugar melhor! Era perfeito! Ainda mais, que aquela seria uma noite de lua-cheia. Nada mais romântico e propício, para um pedido de casamento.

            Por muitos anos, cada vez que ia até aquele lugar, imaginava-se pedindo a mão de Annelise ali. Até mesmo quando já tinha perdido todas as esperanças de vê-la novamente. Agora, isso se tornaria real! Teria a chance de pedir que ela fosse sua esposa! Que passasse o resto da vida com ele! Que permitisse que Lysandre lhe mostrasse todos os dias, que ela era tudo o que mais amava no mundo. Faria com que isso desse certo. Tinha certeza de que só seria capaz de ser feliz, ao lado de Annelise.

            Ele teve muito trabalho para arrumar as coisas. Afinal, a ponte estava de fato muito suja. Mas, não era nada que ele não conseguisse resolver. Apenas precisava de mais algumas horas para limpar tudo, antes de começar a decorá-la.

            Como previsto, demorou um bom tempo para que a ponte ficasse limpa, sem qualquer resquício de poeira ou barro. Não seria uma boa ideia se ajoelhar em uma superfície enlameada. Além disso, poderia acabar demonstrando algum desleixo, o que em absoluto não era a sua intenção. Então, assim que terminou de limpar a ponte, começou a decorá-la.

            Levou algum tempo para pintar em uma longa faixa de tecido, a frase: “Aceita casar comigo, Annelise?” que seria pendurada de um lado ao outro da saída da ponte. Bem, era nítido que ele não era muito habilidoso com pinturas. Ainda mais, quando era algo relacionado a cartazes ou faixas. Afinal, ficou coberto de tinta azul e vermelha, usadas para escrever a frase e desenhar um coração ao final dela. Mas, não podia negar que mesmo sem prática, fizera algo bonito.

            Enquanto a faixa secava, Lysandre tratou de enfeitar as laterais da pequena ponte, com margaridas brancas, além, é claro, de balões em formato de coração, pendurados nas extremidades, para dar um ar mais romântico. Cobriu ao piso da ponte, com pétalas de rosa, que formavam um caminho pelo qual eles deveriam passar.       

            Lysandre passou o dia tão ocupado com os preparativos, que não se deu conta de que as horas haviam passado. De fato, a noite já estava caindo, quando terminou de fazer tudo. Porém, era bem verdade que estava satisfeito com o resultado final. Tudo ficara exatamente do jeito que ele tinha imaginado. Em cada mínimo detalhe! Tudo perfeitamente executado de acordo com seus planos.
Quando terminou de arrumar tudo, posicionou por toda a ponte, velas presas em um pequeno suporte improvisado, feito com copos e algumas pedras ao interior para manter as velas em pé. As deixou ali, em uma posição onde o vento não poderia extinguir as chamas dançantes. Mas, claro, só as acenderia pouco antes de buscar Annelise.  Então, acendeu as velas, logo voltando em direção a casa, onde tomaria um banho e se trocaria.

            Jamais estivera tão ansioso em toda a sua vida! Nem mesmo um dia antes de ir procurar por Annelise! Seu coração parecia prestes a sair pela boca, enquanto o nervosismo se intensificava, conforme ele seguia pelo caminho que o levaria até sua casa.

             Quando chegou em casa, encontrou Annelise terminando de preparar o jantar. Ela desviou o olhar do ensopado que preparava, ao ver o namorado entrando. Esboçou um sorriso convidativo ao vislumbrá-lo, mesmo sujo, cansado e coberto de tinta. Por um momento, ficou compadecida. Afinal, ele passou o dia tão ocupado, que sequer viera almoçar.

            — Chegou bem na hora, querido. — Ela disse, o fitando carinhosamente. — Estou terminando de preparar o jantar. Vá se lavar, sim? Você deve estar exausto depois de passar o dia cuidando da estrebaria. — Ela afirmou, antes de notar as mãos e as roupas respingadas em tinta. — Aproveitou para pintar? Você é mesmo caprichoso. — Annelise brincou, tornando a olhar para a panela.

            Lysandre sorriu de canto, tentando disfarçar o nervosismo, por ter sido visto coberto de tinta. Porém, sentiu-se com sorte quando se deu conta de que ela imaginava que ele havia pintado a morada dos cavalos. — Sim, querida. O dia foi cheio. Mas, ao menos, agora está tudo pronto. — Ele disse, ainda tentando manter a naturalidade na voz. — Irei me banhar agora, está bem? Mas, pode me fazer um favor quando terminar? — Lysandre completou, em uma pergunta que despertou o interesse de Annelise.

            — Claro! O que é? — Ela indagou, tornando a olhá-lo.

            — Será que você se importaria em colocar aquele vestido branco? O frente-única que você trouxe, para usar quando estivéssemos voltando para a cidade. É que fica tão linda quando o coloca. Adoraria vê-la o usando, esta noite. — Ele pediu, lançando sobre ela um olhar repleto de ternura.

            Annelise estranhou um pouco o pedido de Lysandre. Mas, não sabia dizer não, para ele. Ainda mais, quando era algo tão simples. — Claro, amor. Sem problemas. Mas, por quê, exatamente? — Ela perguntou, ainda curiosa sobre o pedido que ele fizera.

            — Nada demais. Apenas quero vê-la vestida assim. Pode fazer isso por mim? — Ele perguntou, receando que tivesse deixado muito óbvio que escondia algo.

            Para sua sorte, Annelise não percebeu nada. Ao contrário, aceitou como válida a desculpa que ele havia dado. — Está bem, prometo que estarei o vestindo quando você sair do banho. — Ela afirmou.

            Lysandre sorriu satisfeito, antes de começar a caminhar em direção ao banheiro da casa. Precisaria se livrar de toda aquela tinta e sujeira o mais rápido possível.

            Quando terminou de se banhar, vestiu o terno que havia trazido. Como quando estava na cidade, sempre se vestia em trajes formais, não causou estranheza na namorada, que presumiu que aquela roupa seria para voltar para casa.

            Para que Annelise não encontrasse o anel, Lysandre precisou escondê-lo no quarto de Leigh, dentro de uma caixa no fundo de seu roupeiro. Sabia que Annelise não entraria ali, já que aquele era o quarto de seu cunhado. Então, era o lugar perfeito para manter o anel escondido. Apanhou rapidamente a caixinha com a joia, metendo-a no bolso do paletó, antes de ir procurar pela namorada. Novamente, aquele nervosismo voltava, de modo que Lysandre precisava controlá-lo.

            Como prometido, Annelise estava usando o vestido branco, quando Lysandre voltou para a cozinha. Ela tinha aproveitado para fazer uma maquiagem leve, com delineador, batom nude e uma sombra marrom clara. Além disso, prendeu os cabelos em uma trança-embutida, que descia lateralmente por seu ombro desnudo, em uma cascata prateada.

            Lysandre pareceu estupefato, ao vê-la. Era impressionante como a beleza dela era capaz de acelerar seu coração. Vê-la de branco, na noite em que pediria sua mão, o fez ficar emocionado. De fato, teve de fazer muito esforço para que seus olhos não marejassem. Não tinha dúvidas: era ela a quem queria pelos dias que lhe restavam.

            — Você está linda... — Ele disse, fascinado, enquanto se aproximava da namorada. Não conseguia acreditar na sorte que tinha, por tê-la consigo. Por saber que ela era sua. E, que, se tudo desse certo naquela noite, talvez pudesse ser para sempre.

            Annelise corou com o elogio. Ele sempre sabia como deixá-la encabulada, mesmo com um pequeno comentário. — Obrigada, amor. — Ela respondeu timidamente.

            Lysandre tomou ambas as mãos de Annelise, ainda a olhando de modo apaixonado. Via que as coisas estavam começando a acontecer, e isso fez com que seu coração disparasse novamente. — Há uma coisa que quero que veja antes de jantarmos, está bem? — Ele indagou, com um leve toque de apreensão na voz.

            — O que é? — Ela perguntou, novamente deixando a curiosidade surgir.

            — Por favor, me acompanhe. Você vai entender. — Ele respondeu, entrelaçando os dedos aos dela, enquanto a guiava para fora da casa.


            Conforme caminhavam em direção ao lago, Annelise podia sentir a mão de Lysandre transpirando, enquanto segurava a sua. Não conseguia entender por quê ele parecia tão ansioso. O que ele teria para lhe mostrar, que o deixaria daquele jeito? Estava começando a ficar um tanto quanto desconfiada, com o modo como ele estava agindo. Afinal, por mais que perguntasse o que ele queria mostrar, jamais recebia a resposta.

              Quando finalmente chegaram à ponte, Lysandre permitiu que Annelise fosse na frente. Queria deixar que ela visse tudo o que ele havia feito durante o dia todo.

            A garota olhou curiosamente para o caminho de pétalas de rosas e os balões vermelhos, que flutuavam amarrados nas ripas de madeira. Estava ficando ainda mais ressabiada do que antes. De fato, não podia negar que seu âmago se enchia de ansiedade, enquanto ela caminhava pela ponte. As velas acessas pelos cantos, traziam uma iluminação fraca, regada a romantismo. Eram apenas meramente decorativas, já que a lua iluminava tudo a sua volta.

            — O que quer me mostrar? — Ela perguntou, já com o coração acelerado, virando-se para trás afim de olhar para Lysandre.  

            — Continue andando. — Foi a única coisa que ele disse, com um sorriso de canto.

            Ela não viu outra opção, senão continuar seguindo pela ponte, coberta de margaridas, que perfumavam o ambiente. De fato, Lysandre tivera bastante trabalho para arrumar aquilo! Estava lindo! Mas, ela ainda se perguntava qual a finalidade disso tudo.

            Entretanto, a resposta para todas as suas perguntas, surgiu sozinha. Bem ali! Diante de seus olhos, quando ela chegou ao final da ponte. Os orbes azuis foram abertos de forma desmesurada. Seu coração passou a bater cada vez mais rápido, enquanto Annelise levava a mão à boca, tapando-a. Deu dois passos para trás, ainda atônita, vislumbrando a faixa que tremulava ao vento, ainda que estivesse bem presa. Aquilo era mesmo o que ela estava pensando?!

            A respiração se tornou descompassada, enquanto ela ainda observava os dizeres escritos na faixa. Por alguns momentos sua visão embaçou, por conta das lágrimas que preenchiam seus olhos.

            — L-Lysandre? Isso é sério? — Ela indagou, virando-se para trás, vislumbrando o rapaz ainda de pé.

            Ele nada disse. Apenas meteu a mão ao bolso do paletó, retirando a caixinha revestida em veludo. Aquilo fez o coração de Annelise bater tão rápido, que parecia capaz de rasgar seu peito, enquanto observava Lysandre apoiar um dos joelhos ao chão, enquanto mantinha a outra perna flexionada.

            — Annelise. — Ele começou. — Por toda a minha vida, imaginei como seria o momento em que eu encontraria alguém, a quem eu amaria perdidamente. Eu sempre fui um romântico incurável. Sempre gostei de escrever a respeito do amor e como ele é capaz de nos mudar. Vejo, que desde o dia em que a conheci, algo mudou em meu coração. De todos os poemas e canções que já escrevi, aqueles que foram pensados em ti, são os que eu mais amo. Eles carregam todo o sentimento que me invade, cada vez que penso no quão sortudo eu sou, por amá-la. Você é a minha vida! A minha musa! A minha maior inspiração. Aquela, com quem eu quero passar cada um dos dias que me restarem neste mundo. E, nada me faria mais feliz, do que poder chamá-la de minha esposa. — Agora, ele abria a caixinha, segurando a mão de Annelise em seguida, olhando-a nos olhos que transbordavam de forma incessante. — Annelise, você aceita casar comigo? — Ele perguntou, no tom mais ansioso possível. Era quase uma tortura, esperar pela resposta dela. Temia ser rejeitado. Isso partiria seu coração!

            Todavia, seus temores o abandonaram, quanto ela esboçou um sorriso largo, em meio as lágrimas que deslizavam por sua face delicada. Ela mal podia acreditar no que estava acontecendo! Nunca estivera tão feliz e tão emocionada, em toda a sua vida! — Ai, meu Deus! Sim! Sim, Lys! Mil vezes, sim! — Ela disse em meio às lágrimas, sentindo a mão trêmula de Lysandre, segurando a sua.

            Agora, era ele quem chorava de felicidade, ao retirar o anel da caixinha, colocando-o no dedo de sua noiva. Em seguida, ele se levantou, a abraçando forte, apertando-a contra si. Ele não conseguia parar de chorar de felicidade! Aliás, nenhum dos dois conseguia! Finalmente poderiam ficar juntos pelo resto de suas vidas.


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