A roseira e os espinhos. escrita por Misa Presley


Capítulo 2
Lembranças torturantes.




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            Annelise odiava quando precisava arrumar algum espaço, em seu armário. A verdade, é que ela tinha muita coisa que não usava há muito tempo.
Eram tantas caixas empoeiradas, atulhadas de inutilidades, que ela sequer sabia o que fazer com aquilo. Todavia, protelara tempo demais, para se desfazer de toda aquela tralha.

            Eram tantas roupas velhas, troféus antigos que ganhara na época da escola, fotos, bichos de pelúcia, livros... Recordações de uma vida. Traços marcantes de um passado, que julgou distante. Coisas, que por muito tempo se recusou a se desfazer. Eram sombras de uma época da qual sentia saudade. Todavia, ela sabia que algum dia teria de quebrar este ciclo, e dar adeus a tudo o que vivera.
Aquele era o momento de permitir que as memórias ficassem apenas em seu coração, enquanto os objetos daquelas caixas, encontrariam um novo destino.


            Muita coisa ali, ainda estava em bom estado. Poderia doar para quem de fato precisasse, ou até mesmo fazer um pequeno bazar na garagem. Pensaria depois no que fazer com tudo aquilo. O fato, era que Castiel há semanas a pressionava para dar um fim naquelas caixas que atulhavam ao armário, deixando pouquíssimo espaço para suas coisas. Ele tinha razão, desapegar se fazia necessário.

            Ficara sobre as pontas dos pés, em uma cadeira, tentando alcançar a parte superior do armário, onde estava a última caixa. Quase se desequilibrou, quando o peso da caixa de papelão, recaiu sobre seus braços. De fato, teve de firmar os pés com mais força sobre o assento da cadeira, conforme descia. Aquela caixa pesava mais do que as outras. Se perguntava o que teria ali dentro, visto que já não lembrava. Resolveu abri-la, para ver.

            Ao sentar-se sobre a cama, colocou a caixa sobre o colchão, enquanto dobrava as pernas parcialmente desnudas, pelos shorts jeans, que usava abaixo da camiseta branca, com a estampa da silhueta de uma sereia.
Curvou-se sobre a caixa, abrindo-a enquanto os cabelos platinados caíam sobre seu rosto delicado. Prendeu as madeixas ao topo da cabeça, em um rabo de cavalo, com um elástico que outrora estava preso no pulso fino.

            Os olhos azuis, recaíram ao interior da caixa, examinando-a tranquilamente. Ali, a moça encontrou mais uma pilha de livros, que ela certamente colocaria em uma prateleira no quarto. Eram seus livros favoritos! Lembrava de tê-los lido várias vezes, nos anos de sua adolescência. Ver aquelas obras publicadas, era reconfortante. Trazia uma nostalgia agradável.

            No entanto, além dos livros, havia mais uma coisa naquela caixa: um colar preto que lembrava a gola de uma camisa; totalmente cravejado em uma pedraria cor-de-rosa. Seus olhos se preencheram de evidente surpresa, enquanto a moça segurava a joia entre os dedos, a examinando detidamente. Foi inevitável sorrir, enquanto as pontas dos dedos deslizavam pelas pedras róseas. Se lembrava perfeitamente de quando havia ganho aquele colar: na noite em que Lysandre lhe dissera pela primeira vez que a amava.

            Era como se pudesse sentir novamente, o que sentiu naquele momento. Seu coração se agitou dentro do peito. Parecia ainda poder ouvir a voz de Lysandre ecoando em seu ouvido, aquela primeira jura de amor. Os olhos marejaram por alguns instantes, e ela os fechou com pouca força. Por mais que quisesse negar a si mesma, ainda sentia sua falta.

            Ele fora seu primeiro amor! O rapaz que revirara seu mundo, e confundira seus pensamentos. Aquele, que tomou conta de seu coração, jamais saindo de lá. Por mais que quisesse esquecê-lo, sabia que jamais conseguiria.

            Abriu ao fecho do colar, colocando-o em seu pescoço. Novamente, seus dedos deslizaram pela joia, que um dia havia jurado jamais deixar de usar. Uma promessa quebrada, mesmo que a tivesse mantido por algum tempo. Isso mudou, quando voltou à cidade, para terminar o último ano de faculdade. Se arrependia de tê-lo tirado. Mas, na época, acreditou que seria o melhor a se fazer. A lembrança de Lysandre ainda a machucava.

            Levantou-se da cama, caminhando até o enorme espelho oval, que jazia pendurado na parede do quarto. Vislumbrava seu reflexo, em um silêncio mórbido, ainda tateando o colar, como se o afagasse com as pontas dos dedos. Um sorriso suave se formou aos lábios, ainda que seus olhos permanecessem marejados. Aquela era a primeira vez em anos, que pensava nele. Como ele estaria? Teria se casado? Sua vida teria mudado? Será que ele a teria esquecido? Talvez sim, visto quanto tempo havia passado, desde o último adeus.

            Pensar que, talvez, ele já não mais lembrasse de si, fez seu coração doer. Ela o havia esperado por muito tempo, até perceber que era em vão. Foi muito doloroso, quando se deu conta de que ele não iria voltar. Esquecer o Lysandre, foi a coisa mais difícil que já fez.

            Ainda se olhava no espelho, quando Castiel entrou no quarto, retirando ao casaco de couro vermelho. — Querida, cheguei! — O rapaz gracejou, enquanto olhava a bagunça no quarto, repleto de caixas espalhadas. — Ah, finalmente resolveu dar um jeito nessas tralhas? — Ele indagou, sorrindo de canto.

            A voz de Castiel, fez com que Annelise despertasse de seu devaneio, secando rapidamente os olhos. Não poderia deixar de modo algum, que ele a visse chorando. Seria algo difícil de justificar. Virou o rosto, olhando pela direção, por onde o rapaz dos cabelos vermelhos surgia, negando com a cabeça ao ouvir o comentário dele.

            — Sim, você estava reclamando delas há muito tempo, tomatinho. Eu não aguentava mais ouvir tá tantas reclamações, então resolvi acabar logo com isso, bebê chorão. — Annelise comentou, esboçando um risinho suave.

            — Já estava na hora! Pensei que eu mesmo tivesse que dar um sumiço nessa baderna. — Castiel riu, sentando-se na cama, para retirar os coturnos.

            — Você? O rei da bagunça? Ah, não me faça rir! — Annelise comentou em tom de deboche, virando-se em direção ao namorado, ficando de frente com ele. Bem próxima, até.

            — Insinua que sou desorganizado, garotinha? — Castiel perguntou, ainda esboçando aquele sorriso cretino, arqueando a sobrancelha destra.

            — Foi tão perceptível assim? — Ela indagou, no tom mais sarcástico possível.


            — Vou te mostrar o quanto. — Ele disse em tom desafiador, a olhando de forma fixa. Num movimento rápido, Castiel agarrou a cintura da namorada, puxando-a para se sentar em seu colo. Annelise riu, ajeitando-se sobre as coxas dele, envolvendo-lhe ao pescoço com os braços. O rapaz sorriu, unindo os lábios aos dela, em um beijo breve e carinhoso.

            Enquanto isso, na fazenda, Lysandre começava a arrumar suas malas. Não levaria mais do que duas, visto que não planejava passar muito tempo na cidade. Mesmo tendo quem cuidasse da fazenda por alguns dias, sabia que não poderia se ausentar por um período muito longo. Seu único intuito, era ver Annelise. Não voltaria para casa, sem conseguir falar com a mulher amada. Precisava vê-la, para acalmar seu coração. Mesmo sabendo, que ela agora pertencia a outro.

            Dobrava uma camisa verde, colocando-a dentro de uma mala aberta sobre a cama. Faltava pouco para que a primeira mala estivesse pronta. Lá, levaria suas roupas, enquanto na outra levaria objetos de higiene pessoal, uma toalha, e mais algumas coisas que não coubessem na primeira mala.

            Colocou a camisa sobre as outras quatro que levava, fechando a mala, e prendendo as duas fivelas que a manteriam lacrada. Foi então que seus olhos pousaram sobre o porta-retrato que havia ao lado de sua cama. Apanhou-o, olhando com um sorriso terno, a fotografia.

            Era um retrato seu, com Annelise montada em suas costas. Eles sorriam! Pareciam felizes, enquanto a garota envolvia seu pescoço com os braços. Lembrava-se de terem tirado aquela foto na praia, em seu último verão juntos. Um dia quente, ensolarado, que fora imortalizado em um instantâneo tirado por Rosalya. Se pudesse, pararia o tempo, para que aquele dia fosse eterno. Pois, sabia que fora verdadeiramente feliz, naquela época.

            Ele sorriu, ainda olhando aquela fotografia. Ela era a coisa mais palpável, que restara de Annelise. Deslizou as pontas dos dedos pela face da moça no retrato, como se quisesse tocar-lhe o rosto de verdade.

            — Eu estou voltando, meu amor. Voltando para você. Por favor, me espere. — A voz dele soou baixa, antes de aproximar os lábios da fotografia, dando-lhe um beijo terno.


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