A roseira e os espinhos. escrita por Misa Presley


Capítulo 10
Conselho de amigo.




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            No dia seguinte, Annelise parecia estar de bom-humor. De fato, estava mais sorridente do que no dia anterior, mesmo que ainda houvesse a crescente preocupação sobre como falar com Castiel.

            Ver Lysandre e saber que ele ainda a amava, revigorou seu ânimo. Apesar de sentir que era errado, estava feliz com aquilo. Tão feliz, que contava os segundos para vê-lo novamente.

            Seu coração acelerava, cada vez que ouvia a porta do café sendo aberta, esperando que fosse Lysandre vindo encontrá-la. Era inevitável esconder a expressão frustrada, quando via que não era ele.

            Consultava o relógio na parede, a todo instante. Estava mais ansiosa do que nunca. De fato, jamais apresentou a mesma ansiedade, nas vezes em que esperou por Castiel.

            O movimento no café, estava ótimo! Nunca vira as mesas e os balcões tão abarrotados de clientes. Isso era um alívio e tanto! Principalmente, levando em conta o modo como as coisas andavam ruins, nos últimos meses. Francamente? Era um alívio, ver que havia conseguido atrair uma boa clientela, naquele dia. Afinal, andava terrivelmente preocupada, com as cobranças dos credores. Havia um medo genuíno de ter de fechar as portas. Esperava que nos próximos dias, aquele movimento continuasse.

            Annelise, estava reabastecendo a vitrine com cupcakes recém decorados em chantilly azul e rosa, quando ouviu novamente o tilintar do sininho acima da porta. Ergueu-se rapidamente, olhando apreensiva para a entrada do café.

            Todavia, sentiu-se um tanto frustrada, ao ver que se tratava de Rayan, que entrava ali. Não que tivesse algo contra ele. Na verdade, eram ótimos amigos! Adorava quando seu antigo professor vinha ao café, pois conversavam por horas e horas, à fio. Porém, a frustração derivava do fato, de que ela ainda esperava pela chegada de Lysandre.    

            O professor se aproximou sorridente do balcão, onde Annelise terminava de repor os cupcakes. Todavia, ao notar o ar ansioso que ela exalava, não pôde conter uma expressão curiosa. Talvez, até preocupada.

            — Boa tarde, Annelise! — Rayan disse, sentando-se em um dos banquinhos giratórios, diante do balcão.

            — Oi, Rayan! O que vai querer hoje? — Ela indagou, sem olhar para ele. Na realidade, esticava o pescoço, olhando em direção à porta, ainda esperando pela chegada de Lysandre.

            Ele evidentemente, estranhou a postura de sua ex-aluna, a fitando com maior curiosidade, que outrora. — Está esperando o Castiel? — Rayan indagou, olhando para trás brevemente, vendo se alguém vinha. Depois, tornou a olhar para Annelise, que agora parecia começar a lhe dar atenção.

            — Na verdade não. — Ela respondeu. — Embora, eu precise conversar com ele. É um pouco complicado. — Confessou, agora parecendo um tanto desanimada.

            — Quer falar sobre? Talvez eu possa te ajudar. — Rayan era sempre muito solícito. De fato, buscava ajudar as pessoas da melhor forma possível, ainda mais quando se tratava de seus amigos.

            — Ah, Rayan... Digamos que eu tenha me metido em um problema enorme. — Annelise disse.

            — Qual problema? O que você fez? — Rayan indagou, um pouco mais sério, que antes.

            — Você já foi casado, certo? — Ela perguntou, e ele respondeu com um aceno positivo de cabeça, esperando que ela continuasse. — Quando estava casado, chegou a se perguntar se queria mesmo estar com ela? — Annelise indagou.

            — Não se sente segura sobre sua relação com o Castiel? — Rayan questionou, apoiando os braços sobre a bancada.

            — É delicado. Por todos esses anos, eu acreditei que algum dia pudesse amá-lo. Mas, percebi que nunca consegui. Eu tenho certeza de que não o amo. Ainda mais depois do que aconteceu ontem. — Agora, ela havia parado decisivamente de olhar para a porta, de modo que seu olhar buscava pelo rosto do homem a sua frente.

            O comentário de Annelise o pegou de surpresa! Sempre imaginou que ela vivia feliz com Castiel. Afinal, era o que transparecia, nas fotos que sempre surgiam nas revistas. No entanto, não pôde negar que ficara intrigado com o que ela dissera. — O que houve ontem? — Rayan perguntou.

            — Ontem, meu ex-namorado voltou para a cidade, depois de quase oito anos. Ele veio me procurar, e eu fiquei muito balançada. Percebi que ainda o amo. — A resposta de Annelise, fez com que Rayan esboçasse um ar surpreso, abrindo desmesuradamente os olhos de verde esmeraldino.

            — Espera! Seu ex-namorado? Está se referindo ao rapaz que namorou na época da escola? Aquele de quem me falou uma vez? Meu Deus, qual era o nome dele mesmo? — Rayan tentava se lembrar o nome, fazendo certo esforço para isso.

            — Lysandre. — Annelise respondeu.

            — Isso! Lysandre! Obrigado. Mas, e o que aconteceu depois? O que ele disse? — Rayan estava nitidamente curioso; interessado na história. De fato, até mesmo esquecera de pedir um café.

            —Quando eu o vi, meu coração acelerou. Era como se todos os meus sentimentos por ele, despertassem. Percebi que jamais deixei de amá-lo. Principalmente, quando nos abraçamos. Ah, Rayan, eu jamais consegui esquecer o Lysandre. Tive certeza disso no exato momento em que nossos olhares se encontraram. — Annelise dizia aquilo, em meio a suspiros, apoiando os cotovelos sobre o balcão.

            — E depois? Imagino que não tenha ficado por isso mesmo. — Rayan estava cada vez mais interessado na narrativa da moça.

            — Bom, Lysandre me convidou para sair e eu aceitei. Sei que não deveria, mas estava tão feliz em revê-lo, que não tive como recusar. O problema, está no que aconteceu depois. Digamos que foi complicado. As coisas quase desandaram. O Castiel nos viu abraçados, aqui mesmo, quando veio me buscar. — Annelise começou. — Eles quase discutiram aqui. Um ficava alfinetando o outro, foi horrível. Ainda mais, levando em consideração de que já foram amigos. Eu me senti péssima, porque de certa forma sou culpada. A pior parte, é que o Castiel insistiu em nos acompanhar, então já deve imaginar como ficou o clima, não? Por sorte, ele teve de voltar ao estúdio, então Lysandre e eu ficamos sozinhos. — Annelise ia dizendo, enquanto vislumbrava o olhar compenetrado de Rayan. Nunca imaginou que ele fosse tão bom ouvinte.

            — Vocês ficaram, digamos, próximos? — Rayan perguntou, agora em tom pouco mais sério. Claro, não imaginava que Annelise fosse capaz de trair Castiel. Todavia, imaginava o peso que seria, a volta de um amor do passado.

            — Não! Eu nunca faria isso. Mas, não posso negar que quase sucumbi, quando Lysandre disse que ainda me ama. Você não pode imaginar como meu coração está, nesse momento. Não sei o que fazer, Rayan! Amo perdidamente o Lys, mas não quero magoar o Castiel. O que faria em meu lugar? — A moça indagou, evidentemente perdida.

            Rayan, assumindo uma postura mais séria, se aprumou onde estava sentado. Era uma situação complicada! Não podia negar. Porém, bem sabia que a moça precisava tomar uma decisão.

            — Annelise, escute. Se continuar nesse relacionamento, será você quem sairá machucada. Acha mesmo que vale a pena manter uma relação unilateral? O Castiel ficará magoado, inevitavelmente, mesmo que decida levar a relação a diante. Ele certamente acabará sabendo mais cedo, ou mais tarde, que você ainda ama o Lysandre. Não vale a pena que três pessoas fiquem sofrendo, por um relacionamento fadado ao fracasso. Se não há amor, não há como continuar. O Castiel irá se machucar muito mais, se não for honesta com ele e acabar com isso. Acredito que já saiba o que fazer. — Rayan agora, pousava a mão sobre o antebraço de Annelise, sorrindo-lhe de modo acolhedor. Tinha muito carinho por ela.

            — Sim, você tem razão. Eu preciso ser honesta com o Castiel. Obrigada, Rayan. — Agora, ela pousava a mão sobre a dele, em forma de agradecimento. O professor sempre sabia o que dizer, na hora certa. Se sentia muito melhor, por ter desabafado com ele.

            Agora, ouviam novamente o sininho balançando sobre a porta, enquanto esta era aberta. Logo, Lysandre entrou no estabelecimento, procurando por Annelise.

            Nina, que servia café para um dos clientes na mesa, arregalou os olhos, embasbacada, ao ver Lysandre ali. Era como vislumbrar a imagem pálida de um fantasma, embora soubesse que este não era o caso. De fato, quase derramou o café do cliente, quando Lysandre cruzou a porta.

            Não o via há anos! Antes mesmo, de que ele tivesse se mudado. Na realidade, não conseguira o encarar mais, desde que a memória do rapaz voltou, após seu acidente. Se lembrava com enorme constrangimento, de ter mentido para ele, dizendo ser sua namorada. Agora, mais velha, se envergonhava do que tinha feito. Ainda mais, pelo fato de que com os anos conquistara a amizade de Annelise. Ainda assim, era impossível não ficar pasma ao vê-lo. De fato, a garota estava pálida, segurando a cafeteira pela asa de plástico azul escuro.

            — Lysandre?! — A garota disse estupefata.

            — Olá, Nina. Como vai? — Lysandre perguntou, em tom cordial.

            — Eu... Eu... — Ela não sabia muito bem o que dizer. Nunca se imaginou passando por aquela situação. Ainda estava envergonhada, depois de tudo o que fizera no passado.

            — Vejo que está bem. Fico feliz por isso. — O rapaz sorriu, diante o constrangimento dela. — Eu vim falar com a Annelise. Ela está? — Lysandre perguntou.

            — Ela está no balcão! — Nina respondeu, apontando a direção, em meio aquele mar de cabeças, das pessoas sentadas às mesas.

            Annelise ao ver Lysandre, ergueu a mão, acenando para ele. Assim, o rapaz finalmente conseguiu vê-la.

            — Obrigado, Nina! Foi bom vê-la de novo. — Como sempre, era muito polido em seus hábitos. Logo, se afastou da garota, caminhando por entre as mesas em direção ao balcão.

            Nina o seguiu com o olhar, ainda incrédula. Não conseguia assimilar ainda, que ele de fato havia voltado. Agora conseguia entender o que Annelise quisera dizer, com “sentir o passado se tornando vivo”.

            Annelise continuava no mesmo lugar, observando Lysandre já não tão longe. Aquela sensação de “frio na barriga” havia voltado. Ela não escondia o sorriso, ao vê-lo.

            — É ele? — Rayan perguntou, enquanto o rapaz ainda se aproximava.

            — É sim! — Annelise respondeu animada, saindo rapidamente de trás do balcão.

            Lysandre abriu um sorriso amplo, envolvendo a cintura de Annelise com os braços, assim que ela o abraçou.

            — Desculpe a demora, eu acabei me perdendo. — Lysandre disse, ao rir um tanto sem jeito.

            — Não tem problema. Agora você está aqui, e isso é o que importa. — Annelise respondeu, roçando o nariz ao de Lysandre, envolvendo o pescoço dele com os braços.

            Ryan, se limitava a observar os dois, esboçando um sorriso de canto. De fato, era nítido o sentimento entre eles. Algo, que jamais vira entre Annelise e Castiel. Conhecia a moça há anos! E em todo aquele tempo, jamais a presenciara tão sorridente, diante alguém.

            Lembrou-se de que o professor ainda estava ali, após ouvi-lo pigarrear para se fazer notado.

            — Eu quero te apresentar alguém. — Ela disse a Lysandre, que a olhou curiosamente.

            Annelise agora, se virava em direção a Rayan, ainda abraçada com Lysandre. Poderia sentir o braço do rapaz envolvendo sua cintura fina, enquanto ela agora olhava para o professor, que permanecia sentado no mesmo lugar.

            — Lys, esse aqui é o Rayan. Ele era meu professor na faculdade e hoje somos bons amigos. — Ela disse, se afastando um pouco de Lysandre.

            Rayan se levantou de onde estava sentado, estendendo a mão à Lysandre, que a apertou prontamente.

            — Então você é o Lysandre? Prazer em conhecê-lo. Ouvi muito a seu respeito. — Rayan disse, soltando a mão de Lysandre, após cumprimentá-lo.

            — Mesmo? Algo bom, eu espero. — Lysandre respondeu, de modo cortês.

            — Uma mulher apaixonada jamais dirá coisas ruins, sobre seu homem. — Rayan comentou, divertindo-se com o modo como Lysandre parecia encabulado. — Bem, agora vou indo. Preciso voltar ao trabalho, senão acabarei atrasado. Novamente, foi um prazer. — Após se despedir, o professor foi saindo da cafeteria, deixando o casal ali.

            Lysandre, agora retornava sua atenção unicamente a Annelise, deslizando o polegar sobre o queixo da moça. Já não se importava se isso geraria comentários. Afinal, presumia que os frequentadores do lugar, conheceriam Castiel. Mas, francamente? Não parecia dar a mínima importância a esse fato.

            — Pronta para sair? — Lysandre indagou, ainda afagando o queixo delicado, da mulher amada.

            — Claro! Onde vamos? — Annelise indagou, antes de ficar sobre as pontas dos pés, para alcançar a bochecha dele, beijando-a carinhosamente.

            — Só vai saber quando chegarmos lá. — Lysandre respondeu, esboçando um sorriso divertido. Queria deixá-la curiosa. E, conhecendo tão bem a moça, sabia que conseguiria sem qualquer dificuldade.  


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